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Se o traço der errado
não importa o culpado
Uni duni tê
solte a criança que mora em você
Horizonte a te espreitar
movimente-se não espere o deitar
Se na Aquarela Toquinho desenhou um navio de partida
pintei eu um golfinho na minha avenida
Aprender dormir com a metade do cérebo de cada vez
pés no chão , mente a flutuar...
Brindo a um futuro sem escassez
Nascer
renascer
vibrar no ritmo de cada amanhecer.
Claudiane Ferreira
Publicado originalmente em http://dankamachine.blogspot.com.br/2014/06/prenuncio.html
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O PROJETO - Capítulo 5
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EP. Gheramer
Alves fazia longas
caminhadas pela praia e naquela manhã resolvera pescar. Como apanhara muitos
peixes, parou para fritá-los numa pequena fogueira improvisada com pedras e
gravetos encontrados ali mesmo.
À noite ele saiu
para passear sem rumo. Já era noite alta quando chegou ao local onde fritara os
peixes naquela manhã. Sentado na areia com Pafúncio ao lado, ficou a ouvir o
barulho das ondas e a pensar na sua vida atual. Ele se considerava um indivíduo
à parte, não conformista do pensamento. Já então, havia aprendido que os
moradores do lugarejo o consideravam como um excêntrico, mais ou menos um
vadio. Foi um tipo de descoberta que cedo ou tarde fazem todos os solitários.
Isso contribuía para firmar sua resolução há muito latente: a de colocar alguma
distância entre ele e os moradores.
Lembrava-se do que
lhe dissera o Velho, quando lhe contou sobre o lugar onde iria morar quando
saísse do hospital: “Não vejo para você outro lugar neste mundo a não ser lá;
vá para lá, arranje uma casa e comece o grande processo de devorar-se vivo.”. A
este pensamento, não pode deixar de sorrir.
Quanto a casa em que
morava, era um lugar comum. Não havia fechaduras na porta, nem cortinas nas
janelas, e ela pertencia tanto à natureza ao redor quanto a Alves. Era grande o
bastante para uma pessoa, como o pudim de pão que costumava comprar na padaria.
Gostava de pensar nela como uma guarita, pronta a enfrentar chuva, vento e
frio. Dentro dela, Alves colocara uma cama, uma mesa, alguns utensílios e duas
cadeiras. Usava uma delas para anunciar que estava à disposição de algum
visitante, colocando-a na varanda do lado de fora. Costumava pensar: se não
estou bem certo aqui, estou menos errado que antes; e agora, vamos ver o que
vou conseguir.
Levava uma vida
prazerosa em sua liberdade, sua solidão. Raramente ia ao lugarejo buscar comida
que não fora cozinhada por suas mãos, feita em seu próprio fogão. Nunca
pretendera ser um eremita. Tinha apenas estabelecido ali um posto de escuta,
mantendo um pé nos limites da vila – de modo a poder recuar em qualquer direção,
como ditasse a sua vontade.
E nas noites em que
o céu sobre sua casa ficava iluminado - coisa considerada estranha pelos
moradores -, como num encontrado marcado, Quiriat aparecia e ficavam a
conversar, continuando do ponto em que parara anteriormente. E assim foi
naquela noite.
- Quem era aquele
ancião que falava ao grupo? – Disse Alves.
- Malak? Malak é
apenas um, dentre muitos seres não naturais, vindo das trevas mais profundas.
Não é um ser humano, pelo menos não completamente. É um ser híbrido nascido da
união entre seres sobrenaturais e a raça humana – disse Quiriat.
- O que está dizendo
se parece muito com o que é encontrado em textos escritos na antiguidade: anjos
caídos que mantiveram relações sexuais com humanos. Na verdade, é um mito
bíblico que descreve a queda de Satanás e seus anjos do céu em direção a terra.
Os estudiosos de renome não confirmam isso e muito menos os estudos
científicos, utilizando-se do Carbono 14. Eu não acredito nisso – disse Alves.
- Mas, se ele
existir, esteja certo que ele acredita e conhece você – disse Quiriat.
- Além disso, como
você sabe todas as coisas que vem me falando desde que nos conhecemos? Aliás,
foi muito estranha a maneira como você apareceu em meu portão, naquela noite de
tempestade e na qual eu tive aquela visão – Disse Alves.
- Você quer provas?
Quer provas físicas da existência do que não tem existência física na dimensão
em que você vive. Eles existem em outra dimensão. Você me faz lembrar Gideão,
que conheci na antiguidade e que me pediu um “sinal” – disse Quiriat.
- Não tens cinquenta
anos, e diz ter conhecido alguém na antiguidade? – Disse Alves.
- Pois, acredite.
Antes que ele existisse, eu já existia – respondeu Quiriat.
Durante o silêncio
que se fez após a resposta de Quiriat, uma luminosidade como a de muitos
relâmpagos juntos, clareou todo o céu e assim permaneceu enquanto durou o
silêncio entre os dois. E foi somente depois disso, que Alves voltou a falar.
- Por que me conta
tais fantasias e ainda quer que eu acredite nelas? – Disse Alves.
- Porque você possui
a capacidade de crer e isso é um dom – disse Quiriat.
- Isto é um dom?!
Mais se parece com a loucura! – Disse Alves.
- Não se espante com
isso. Porque as coisas loucas, desta dimensão em que você vive, foram
escolhidas para confundir as sábias – disse Quiriat e continuou – e você é um
dos escolhidos. Não é somente você. Muito ainda há para mostrar a todos os
homens que têm esse dom – disse Quiriat.
- Mas, por que eu? –
Disse Alves.
- Não é você que faz
muitas perguntas? Você e outros sedentos que não aceitam passivamente as
injustiças praticadas contra a humanidade. Somente a esses, aos insatisfeitos,
é que são revelados os segredos, muitos deles guardados desde a fundação do
mundo – disse Quiriat a Alves que, estarrecido, permanecia calado.
Ainda tonto, diante
do que acabara de presenciar e ouvira da boca de Quiriat, Alves contou-lhe um
sonho que tivera na noite anterior.
- No sonho,
encontrava-me na mais completa escuridão e lembro que sentia medo, muito medo.
Foi quando vi surgir, duma fresta na porta, uma luz semelhante a esta que vimos
agora e dela saiu uma voz que dizia: “Gideão, você livrará este povo por minha
mão” e eu vi ao lado, ainda na escuridão, um ser parecido com um homem e logo
depois eu pude ver que ele se parecia com você Quiriat. Foi quando acordei e percebi
que fora apenas um sonho.
- E agora esta luz
no céu e você falando que conheceu um homem com este mesmo nome... Afinal, quem
é você e de onde vem? – Disse Alves, aflito.
- Há coisas que aos
seus ouvidos parecerão muito estranhas, e até mesmo impossíveis de acreditar.
Porém, se souber esperar o tempo determinado, acabará por compreender. Existem
muitos portais interdimensionais que, em períodos regulares, são abertos
permitindo a comunicação entre as várias dimensões existentes. Eu vim de uma
delas, juntamente com outros seres sobrenaturais. Mas, não sou como eles.
Quando eu tomei consciência de que fora enganado não fiz o juramento com a mão
sobre o “Livro da Lei” de seu Líder. Percebendo isso, ele me expulsou de sua
presença dizendo-me: “Não herdarás nem o poder e nem a sabedoria que estão
reservados aos da minha casa.” – disse Quiriat.
- Não me parece tão
inacreditável, pois, eu mesmo já havia pensado na possibilidade da existência
de algo semelhante! Mas, diga-me: há outros como você? – Disse Alves.
- Isso ninguém sabe.
Mas, o que sei é que há muitos portais espalhados pelo mundo, permitindo o
intercâmbio entre as diversas dimensões e pelos quais alguns já passaram e
outros podem passar, saindo ou entrando – disse Quiriat.
- Mas, quanto a
estes seres, o que querem eles aqui? – Perguntou Alves.
- Querem ganhar a
mente dos homens para que não vejam através das ilusões, dos enganos e das
mentiras e, com isso, ganhar poder econômico e político, visando interesses
ainda maiores em médio prazo e, por último, alcançar o maior de todos... –
disse Quiriat.
- Mas, por que
querem isso e que interesse maior é esse? – Disse Alves, ainda perplexo diante
de tais revelações.
- No tempo certo
você saberá. Por enquanto, fique atento ao seguinte: uma mentira repetida mil
vezes, torna-se verdade – disse Quiriat.
Continua...
EP. Gheramer
O PROJETO - Capítulo 4
Labels:
Ensaio ficcional,
EP. Gheramer
Naquele
momento, a atenção de Alves fora desviada para algo que já acontecera outras
vezes. Embaçado ou fora de foco, via ele um portão ladeado por colunas. Uma
espécie de caminho coberto, com cerca de quinze metros de largura, com fileiras
de colunas de sete metros e meio de altura cada, e uma construção que lhe
pareceu ser um santuário, do lado do sol nascente, e onde pessoas reunidas eram
ensinadas por um ancião. Alves pode
ouvir o que ele acabara de dizer: “Haja luz". Ambos viram a mesma coisa,
embora de modos diferentes, e ficaram durante um tempo, olhando aquela cena,
envolta por uma luminosidade azul. O homem, voltando-se para Alves, continuou a
falar.
- O que está vendo é
o princípio de todas as coisas, exceto o tempo, que já existia. E o ancião e os
demais seres que vê, comprovam isso. Eles já existiam antes da luz vir à
existência. E antes deles, os céus e a terra já existiam. Sem a existência do
tempo nada pode vir à existência. O tempo só existe enquanto intervalo entre eventos
– disse o homem.
- Se é como diz, que
nada pode existir sem que antes exista o tempo, como o tempo veio a existir? - Disse
Alves.
- Quando alguém faz
esta pergunta, é porque se encontra diante da situação em que deve aceitar ou
negar a existência do Incriado, isto é, daquele que existe por si mesmo – disse
o homem.
- Você quer dizer
aceitar a existência do que não pode ser provado, é isso? – Disse Alves.
- Não é bem assim.
Isto é possível quando a criatura humana descobre um senso de fascínio que
antecede e vai além do racional e passa a fazer parte dos sentimentos de quem
entra em contato com a santidade da Divindade, sem importar o nome que se dê a
ela, e descobre acerca da natureza sagrada e da santidade deste Ser – disse o
homem.
- Ou seja: quando os
teólogos acreditam muito em si mesmos ao tentarem descrever a natureza de um
Ser divino acabam descrevendo um super-homem, isto é, aquilo que o homem é
elevado a uma alta potência – disse Alves.
- É um grande
mistério ou o ”Mysterium Tremendum”,
como alguns estudiosos costumam chamar. Se a teologia pudesse nos dar uma boa descrição
sobre a natureza da Divindade, então teríamos uma humanologia, e não uma teologia – disse o homem.
- Realmente é isso
que acontece. Os religiosos transbordam de análises racionais, sempre expressas
na forma de pensamento que é comum a diversas crenças religiosas que atribui a
deuses, a Deus ou a seres sobrenaturais comportamentos e pensamentos
característicos do ser humano. Mas, quando o Ser supremo é sentido, embora não
possa ser descrito, então o adorador fica sabendo algo do que significa a Sua
santidade e grandiosidade – disse o homem, fixando os olhos em Alves.
- E o que dizer do
homem de idade que falou “Haja luz”? - Disse Alves.
- Na verdade – disse
o homem -, o ancião, apesar de ser uma criatura, não era um ser humano e o que
você ouviu não foi dito por ele. O que acontece, e a ciência já comprovou, é
que o som se propaga segundo ondas que, uma vez emitidas, continuam se
propagando infinitamente, como acontece com o universo que está se expandindo
infinitamente, embora esta expansão ainda seja uma teoria e não uma verdade
como quase todos são levados a acreditar. Assim, as palavras que ouviu foram
ditas num tempo incalculavelmente longínquo e impossível de ser medido pela
mente humana. Quanto à luz, foi a primeiro elemento que surgiu segundo textos
considerados sagrado.
- Vamos recapitular
– disse Alves. Em um só momento estavam presentes o ancião, o grupo ao qual ele
se dirigia e o som das duas palavras ditas, está correto? – disse Alves.
- Está correto,
exceto que não aconteceu num mesmo momento. O que você mencionou aconteceu em
momentos distintos no tempo e antes do aparecimento do primeiro homem. O que
viu foi com o olhar humano racional, pois, somente assim ele pode enxergar os
acontecimentos – disse o homem.
- Você diz isso como
se isso fosse a coisa mais simples do mundo! – Disse Alves.
- Não, não é
simples. Antes, pelo contrário, é extremamente complexo e somente poucos seres
humanos conseguem perceber como as coisas acontecem do outro lado – disse o
homem.
Não fosse a visão
que Alves acabara de ter, ele não perderia mais tempo com aquela conversa. Já
fora mais do que suficiente o tempo que perdera, antes de ficar internado
naquele manicômio como um louco qualquer. Mas, finalmente, alcançara a lucidez.
Por esta razão, estava decidido a levar aquela conversa até o final. A lucidez
lhe permitia isso, segundo pensava.
- Há um ditado entre
vocês que diz que “A paciência é amarga, mas o seu fruto é doce”. Se puder ser
paciente no ouvir e tardio no falar, talvez eu possa lhe passar algumas
informações – disse o homem, percebendo que Alves estava impaciente.
Alves voltara ao seu
estado normal, e de uma maneira que não podia explicar, sentiu-se tomado por um
sentimento de paz como nunca antes sentira. Pediu que ele continuasse a falar.
- Voltemos para a
visão que experimentou. Um ancião, que lhe pareceu ser um homem, o som das
palavras e o tempo, embora não tenha percebido este último.
- Alves, o ser que
chamou de ancião e que falava ao grupo, chama-se Malak– disse o homem.
- É curioso você
saber o meu nome e eu não saber o seu – disse Alves.
- Pode me chamar de
Kiriat – disse o homem.
- Pois bem, Kiriat. E
quem são eles? – Perguntou Alves.
- Para responder sua
pergunta, precisarei falar de outras civilizações que existiram a milênios
passados e perdidos. Civilizações mais adiantadas... - Falava Kiriat, quando
foi interrompido por Alves.
- Estamos falando de
um tempo antes ou depois de Cristo? – Disse Alves.
- Usando como
referência esta época, então falaremos de civilizações pré-adâmicas – continuou
Kiriat.
- Sim, façamos isso
– disse Alves.
EP. Gheramer
Continua...
Romeu e Julieta
Labels:
Isa Lisboa,
Prosa poética
Receita para fotografar beijo escapulido
Imagem: Flickr
Receita para fotografar beijo escapulido
Beijo escapulido
de um sonho prorrogado
sabor aventura
chiclete colado na sola do sapato
Beijo escapulido
tradução livre
dissolve a rigidez
extropola, cola no sentir
Só penso em beijar
Beijo pensamento
tua boca na minha
em todo momento
Cada beijo é um golpe
No amor, amor meu.
Que vai escapulindo
chegando e saindo
meu beijo no seu.
Ao chegar e sair
preenche a tessitura
da partilha
CarlosNNeves
Claudiane Ferreira
"... e dar de si, além do próprio gesto
e descobrir feliz que o amor esconde outro universo"
Cinquenta e cinco, oito
Labels:
Gilberto de Almeida,
Poema
Por entre essa profusão
retórica, altiva e inflamada
o que o homem valoriza
em meio às teologias?
Quais pensamentos?... - Os seus?
E está feita a confusão,
pois tudo não leva a nada!
Quisera, então, que uma brisa
lembrasse ao velho Isaías
os pensamentos... de Deus.
Gilberto de Almeida
22/10/2015
OS NÍVEIS DA HUMANIDADE.
Labels:
Adaptação de conto,
Maristela Ormond
OS NÍVEIS DA HUMANIDADE
(Adaptado por Maristela
Ormond – Autor desconhecido)
Não sei dizer a autoria do texto, tomei conhecimento
que é de “autor desconhecido”, resolvi adaptá-lo para que pudesse repassar o
conhecimento e fazer minha parte... Agradecimento aos leitores.
Um rapaz que
buscava conhecimento sobre a vida, encontrou-se com seu mestre e aproximando-se
dele perguntou-lhe:
- Mestre,
gostaria de saber por que os homens guerreiam tanto e por mais que se fale
sobre o amor não conseguem praticá-lo?
- Você me
perguntou algo difícil de explicar jovem rapaz, pois não conseguiria somente
dando-te conceitos do que seria o amor para a humanidade. Digo-lhe que os
homens são separados em níveis. Alguns no nível 1, outros no nível 2 e a
maioria no nível 3, podendo chegar até o nível 7 o que é raríssimo pois
acontece de milênios em milênios...
- Mas mestre,
que níveis seriam esses? Explique-me.
- Como já lhe
falei não adiantaria explicar-te, então vou dar alguns exemplos a você
levando-o a uma viagem mental e realizaremos alguns experimentos que o fará
vivenciar todos os níveis podendo então compreendê-los. E dizendo isto colocou
a ponta dos dedos na testa do rapaz e logo estavam em outra dimensão, um lugar
incrível cheio de bosques.
Um homem se
aproximava deles e o mestre pediu:
-Faça-o parar e dê-lhe
um tapa no rosto.
-Mas por que
mestre? Ele não me fez nada...
-Faz parte de
nosso experimento, vamos dê-lhe um tapa!
O rapaz fez o
que o mestre pediu e logo foi atacado pelo homem com golpes violentos.
-Agora você já
sabe como reage um homem no nível 1. Logo em seguida estavam em outro lugar e
apareceu outro homem e o mestre fez-lhe o mesmo pedido. Ao parar o senhor que
passava, deu-lhe um tapa no rosto e o homem olhou bem para o rapaz medindo-o
sem nada dizer deu-lhe também um tapa.
-Agora você aprendeu
como reage um homem no nível 2. Analisa a situação verificando se o oponente é
mais forte ou mais fraco e então reage.
Logo estavam em
outro local e o mestre pediu que fizesse o mesmo com outro passante. O rapaz
pediu que este parasse e deu-lhe um tapa que estalou de imediato, ao que o
desconhecido perguntou-lhe:
-O que é isso
rapaz? Não mereço uma explicação sobre isso? O que foi que lhe fiz?
-Eu e o mestre
estamos realizando um experimento e isto faz parte de nosso experimento, bater
nas pessoas para ver como reagem. O senhor não vai me bater?
- Nem sei,
depois desta resposta acredito que são loucos e que não vale a pena continuar
discutindo com vocês dois, pois vocês são loucos e eu tenho muito a fazer para
ficar jogando conversa fora com duas pessoas como vocês... Que alguém faça isso
por mim. Então o mestre comentou:
-Agora você já
sabe como reage um homem no nível 3. Deixa tudo pra lá e espera que outro
resolva o caso por ele, não apresentando nenhuma solução, mas acredita ser o
dono da verdade, faz críticas, reclama. Tem um pouco mais de percepção das
coisas, mas se sente o maioral por agir desta forma.
E assim foi.
Mudando novamente de ambiente o mestre fez o mesmo pedido e a cena repetiu-se.
O senhor agredido perguntou:
Por que você fez
isso rapaz? Fiz-lhe alguma coisa? Posso saber? Eu lhe ofendi?
-Não senhor, é
que eu o mestre estamos realizando um experimento para saber a reação das
pessoas ao serem agredidas sem motivo...
-Ah... Então
devem ter feito várias vezes e aprenderam muito a respeito disso...
-Mas qual será a
sua reação senhor? Preciso saber...
-Hoje aprendi
com vocês uma nova lição e agradeço-os por isso. Somente tomem cuidado, pois
poderão encontrar alguém que não tenha piedade e revide de maneira muito agressiva.
O mestre então
comentou:
-O homem no
nível 4 já está bem desligado das mazelas humanas. Já compreendeu que existem
níveis mais baixos e outros mais elevados, busca então aprender para evoluir
mais e procura aprender por ser curioso e ter sede de conhecimento. Mas vamos
continuar meu rapaz e repetir para aprendermos como reage um homem no nível 5.
E assim a cena repetiu-se. O tapa foi dado e o homem disse ao rapaz:
-Meu filho...
Sei que sou merecedor deste tapa pois não percebi o quanto estás precisando do
auxilio. Como eu poderia te ajudar?
-Não entendi
senhor, dei-lhe um tapa e o senhor não vai reagir?
-É que na
verdade cada agressão simboliza um pedido de ajuda...
-Mas senhor,
estamos realizando um experimento para conhecermos as reações das pessoas que
são agredidas sem motivo e o senhor não vai fazer nada?
-Vou sim. Vou te
pedir perdão por não ter percebido logo que desejas aprender, pois por meio do
saber é que o homem se eleva e se está querendo aprender só tenho que
parabeniza-lo e tentar auxilia-lo em seu aprendizado.
Logo estavam
mestre e aprendiz em outro local e o mestre deu seu parecer:
-Quando um homem
atinge o nível 5 começa a compreender que a humanidade é como um adolescente,
muito inseguro e não sabe como pedir ajuda, atenção e por isso agride as
pessoas indistintamente e então procura ajudar as pessoas sem pensar em si
mesmo.
-Agora proceda
da mesma maneira com o homem que vem aí. O rapaz então foi dar o tapa no senhor
e este recuou de tal forma que não o acertou e disse ao rapaz:
-Mas por que
você queria ferir-se? Então não sabe que todos nós pertencemos a um organismo
único e que me agredindo estará agredindo a si mesmo de tal forma que lhe
causará um sofrimento inútil e de cicatrização demorada? Não faça isso com você
mesmo. Doerá mais em você do que em mim...
Então o mestre
explicou ao rapaz que este é um dos níveis mais evoluídos na senda humana, pois
já descobriu a verdade, mas ainda não está em sua plenitude até conseguir
chegar ao nível 7.
Continuando a
experiência, mudaram de ambiente como um passe de mágica.
Ao pedir que o
homem parasse o olhar do homem e do rapaz se cruzaram e algo percorreu seu
corpo como um choque. Então o mestre pediu: Bata nele!
-Não posso
mestre, não posso!
-Vamos bata
nele!
-Não mestre, não
consigo, só de olhá-lo já sinto que seria inútil diante da futilidade que
praticaria... Prefiro dar um tapa em mim mesmo, não nele!
Bata-me disse o
homem ao rapaz, só assim poderá aprender sua lição e saberá por que existem
guerras na humanidade.
-Não posso, não
posso, respondeu o rapaz.
-Então qual das
pessoas de teu experimento que te ensinaram alguma coisa? Vamos responde-me!
-Os três
primeiros homens porque percebi o quão atrasados estão. E eu aprendi que existe
a ignorância, mas aprendi mais algumas coisas: que devo ajuda-los e que a vida
está mais além daquilo que acreditamos que necessitamos, como por exemplo, os
bens materiais, status social, busca pelo poder, etc.
O mestre então
tomou a palavra, dizendo que a humanidade ainda é uma criança que precisa
aprender a caminhar por conta própria e que queremos fazer tudo às pressas e
medir todas as coisas pela duração de nossas vidas individuais, quando temos
que compreender que o Universo é um organismo imenso, ainda novo para nós e que
está fazendo seu conhecimento e aprendizado através de nós, seres vivos e
inteligentes que habitamos esse planeta. “Somos todos uma imensa equipe energética atuando nos mais diversos níveis energéticos daquilo que é
conhecido como Vida e Universo, que no final das contas, é tudo a mesma coisa”.
Mas para que eu aprenda tudo que preciso ensinar é necessário mais que uma vida...
Bem, disse o
mestre: Você aprendeu que existem 7 níveis evolutivos e não será preciso mais
de uma vida para transmitir esse conhecimento aos homens que estão nos níveis
evolutivos 1, 2 e 3. Os que estão tomando conhecimento desse aprendizado estarão
cumprindo sua parte e para isso são livres. Possuem o discernimento e o
livre-arbítrio para fazer as escolhas necessárias e fazendo você sua parte,
contribuirá para que a humanidade cresça e saiba fazer suas escolhas...
Entendeste?
Os cuidadores do mundo
Crônica ainda inédita escrita para a Olimpíada de Redação de Jundiaí.
JGCosta
Imagem DAQUI!
Nunca fiz
nada pelo Meio Ambiente!
Não
publicamente, pois você não vai ver nas manchetes dos jornais uma imagem minha
postada ao lado de uma campanha referente ao tema.
Eu sei que muitos
levantam a bandeira todo o santo dia sobre a preservação da vida na Terra,
participam de passeatas, fazem parte do Greenpeace, arrecadam fundos e mundos,
mas será mesmo que de fato eles fazem mais do que eu?
Para se
responder essa questão é necessário que eu faça algumas conjecturas: O que é
fazer algo pelo Meio Ambiente?
Essa resposta
parece um tanto óbvia, mas não é!
Para mim é
bem mais do que participar de campanhas exaustivas propagando a ideia de se
salvar o planeta, tem que se dar o exemplo a cada ação executada diariamente:
reservando o óleo usado, separando o lixo e colocando os recicláveis em pontos
de coleta, usando transporte público ou indo a pé para o trabalho em alguns
dias da semana ou participando de caronas solidárias, plantando e cuidando de
árvores, evitando gasto com copinhos plásticos no trabalho ao usar um copo de
vidro permanentemente, etc.
As
propagandas e campanhas são muito bem vindas sim, principalmente para tentar
sensibilizar os corações endurecidos dos ricos empresários mundiais e para
demonstrar aos poderes públicos, que têm o dever de fiscalizar condutas
ilegais, de que estamos atentos aos problemas relacionados ao Meio em que
vivemos, mas fazer a nossa parte é o que de fato mudará a realidade do planeta,
dando o exemplo principalmente para os nossos filhos é que criaremos uma
geração de pessoas realmente comprometidas com o tema, que não tomam atitudes
por obrigação e sim por um costume sadio adquirido, usufruindo todos de uma
cultura sustentável, ecologicamente falando.
Outro aspecto
que abordo é ainda mais simples: o planeta está doente, o remédio está na
própria Mãe Natureza e nós somos os cuidadores!
Veja um
exemplo para que compreenda o meu ponto de vista: um fumante faz um check up médico anualmente e constata
que seu pulmão está a cada ano mais comprometido. Ele escuta atenciosamente
todas as orientações do especialista, faz uso de todos os medicamentos
indicados, mas o seu problema de saúde nunca tem uma evolução satisfatória.
Onde está o
erro?
Está na
aplicação correta do procedimento médico!
Então o
especialista é um incompetente?
Não, é o
paciente que deve chegar à conclusão que a aplicação correta do medicamento e
da sua real eficácia está intimamente ligada ao ato de parar de fumar.
Nesse rápido
exemplo vemos algo que acontece a todo o momento: alguém querendo que outra
pessoa resolva um problema que é nosso.
Como somos os
responsáveis por cuidar do planeta e o medicamento está correto, onde é que
estamos falhando?
Novamente uma
resposta óbvia: não estamos cuidando direito do Meio Ambiente ou simplesmente
estamos delegando essa função para outro ser, apesar do problema ser de todos
nós.
Sim! Querendo
que o resto do mundo tome atitudes sensatas, que polua menos, que preserve a
natureza, enquanto nós assistimos de camarote o esperado resultado.
Lamentável
conclusão: ninguém faz melhor por nós do que nós mesmos!
Então o fim é
inevitável?
Não! Ainda dá
tempo de salvar o planeta!
Faça de suas
tarefas diárias o melhor complemento para que o mais precioso medicamento entre
em ação imediatamente, fazendo com que o equilíbrio necessário possa ser
restaurado. Aproveite-se dos meios tecnológicos de comunicação para divulgar
essas suas ações, coloque fotos, vídeos, se vista de árvore se for necessário
para que alguém curta e compartilhe a sua ação, seja o exemplo em pessoa,
plante a cada dia uma nova semente.
E se não for
ao menos fazer por você, meu caro humano, FAÇA mesmo assim, FAÇA enquanto ainda
não é tarde demais, FAÇA por aqueles que virão depois, FAÇA, pois é muito
provável que entre aqueles que irão habitar o planeta no futuro se encontrarão
os seus próprios descendentes.
Automedicação
O médico é um fingidor!
Finge tão completamente
Que chega a sentir que a dor
Do outro é a dor que ele sente.
E aquele que, então, recebe
O remédio desejado
Nem de longe se apercebe
Que quem ficará curado
É o próprio facultativo,
Que, ao fazer a prescrição,
Mantém-se, a si mesmo, vivo,
Por doar seu coração.
Gilberto de Almeida
19/10/2015
Paródia de "Autopsicografia", de Fernando Pessoa.
Em resposta a desafio da amiga Claudiane Ferreira de Souza
Sabedoria das horas
T udo passa -
I ndica a vida! -
C omo num relógio.
A través dela,
C omo num relógio.
T ambém as dores
I mitam o ritmo
C adenciado da vida.
T enhamos paciência...
A aprendamos,
C ontinuemos caminhando.
T udo passa -
I ndica a vida! -
C omo num relógio.
T ambém passaremos,
A través dela,
C iclicamente.
Gilberto de Almeida
19/10/2015
FUNDO DE TELA
Labels:
Marco Tisi,
Poema
FUNDO DE
TELA
Mudei no meu
P.C. o Fundo de Tela,
coloquei lá
uma Coruja, tão Bela,
Avoando tão
Solitária,
naquele seu
jeito tão Suntuária,
altaneira
sem ser temerária,
acrescentando
o que lhe é corolário.
Gosto muito
de Corujas,
acho Elas
tão Solitárias,
por isso que
me identifico com Elas,
Elas tem um
jeito tão independente,
Elas avoam
tão esplendorosamente,
naquela
calma tão suavemente,
sem parecer
irreverente.
Muito já
não vale a pena,
a não ser
ver o Voo da Coruja esplendoramente,
porque
sinceramente, tirando as coisas da Natureza,
tudo tem
seguido incoerentemente,
tudo esta
dum jeito superficialmente,
dificilmente
acontecera algo inesperadamente,
tem muito de
sorrateiramente,
talvez, um
fiozinho de algo de bom aconteça inesperadamente.
Pois é,
essa descrença de tudo,
tá um
verdadeiro absurdo,
acho melhor
ficar “ cego, surdo & mudo “,
enquanto
esta tudo tão obscuro.
Mas agora a
Coruja linda é o Fundo De Tela,
e por Ela
ser tão Bela,
a gente
sonha em Avoar como Ela,
e se livra
de qualquer mazela .
( 18/10/2015
)
Cada olhar tem uma história para contar...
"O olhar do outro é que te faz viver e descansar em paz "
Hebert José de Souza
Dentro de um olhar / uma revelação para contar
Dentro de um olhar / um universo a desvendar.
Essência transfigurar
Dentro de um olhar / um sentimento a transbordar.
Amor compartilhar
Dentro de um olhar / o poder de vivificar ou matar.
Encontre olhares, faça a diferença, transforme vidas...
Dentro de um olhar / Deus captar.
Gratidão espalhar
Claudiane Ferreira
Imagens do evento " Entre olhares - Saquarema"
ESTRANHO
Labels:
Marco Tisi,
Poema
ESTRANHO
O Tempo é
tão Estranho,
quanto se
esperou por uma situação,
e quando
esta surge,
já não há
mais ânimo,
pois a
crueza da razão,
fez da
esperança não ser mais magnânimo.
Agora no
Oceano da Existência,
já não há
mais urgência,
ficou só
algumas reminiscências,
mas que já
não tem influências ,
importa
agora viver com transparência,
ficar longe
de qualquer falsa opulência.
Neste “
Oceano “ que se quer navegar tranquilo,
que se apure
a fugir dos próprios torvelinhos,
pra seguir
sem burburinhos,
afim de
evitar descaminhos.
Mas nada é
tão fácil,
pois com
disse o Dileto Poeta
Fernando “
Ótima “ Pessoa,
“ Navegar
é Preciso, Viver Não é Preciso “
sendo assim,
que não se perca o “ Sorriso “.
( 16/10/2015
)
SER CRIANÇA
Labels:
Maristela Ormond,
Poema
SER CRIANÇA
(Por
Maristela Ormond)
Ser
criança é o início de todos nós.
Ser
criança e ser inocente e permanecer assim para sempre.
É
aquele botão de rosa fechado,
Que
se abre aos poucos para receber a luz do Sol,
E
que ao envelhecer perde aos poucos cada pétala,
Fazendo
delas o sal da terra.
Ser
criança é não deixar de brotar sempre,
De
desabrochar sempre e fertilizar para sempre o mundo,
Fazendo
dele a sementeira do amor ao próximo.
Ser
criança é estar sempre perto do Criador e receber seu afago,
É
poder abraçá-Lo porque Ele permite isso a todas as crianças.
Vamos
então cultivar nossas crianças a cada dia
E
estaremos a cada dia mais perto Dele e seremos
Recebidos
sempre com muito, muito amor...
Capítulo 3
Labels:
EP. Gheramer
Raramente Alves saia
de casa, exceto quando ia para a praia. Em uma dessas vezes que saiu, foi para
comprar cigarros. Passando pela única estrada que cortava o lugarejo - e que
era o próprio lugarejo –, chegando ao bar, fora abordado por um de seus frequentadores
que, curioso por vê-lo por ali, perguntou por que ele morava naquela casa que
ficava tão distante e de difícil acesso. Ainda bem que tal encontro se dera no
bar e aquele homem estava em total embriaguez, de modo que não precisou
responder.
No caminho de volta a
casa, Alves estava pensando no porquê de tal pergunta e na resposta que teria
dado. Fora morar ali porque queria conhecer somente os fatos essenciais da vida,
longe de tudo que fosse supérfluo. Queria encarar a vida de frente e sem medo.
Contrariando o que se pode pensar, ele não estava fugindo ou querendo
transformar o mundo num bom lugar para viver. Viveria nele, quer se mostrasse
bom ou mau. Sugar sua seiva é o que ele pretendia. Já tendo estudado os livros,
agora pretendia estudar a natureza e os homens.
Pafúncio caminhava
ao seu lado com a língua de fora, demonstrando cansaço, enquanto subiam pelo
estreito caminho que deixava a estrada e que os levaria de volta a casa, depois
que atravessassem, mais adiante, uma nesga de mata que ocultava a praia dos
olhares turísticos.
O que Alves só mais
tarde viria saber, era a mistura de curiosidade e mistério que envolvia aquele
lugar, muito antes dele ali chegar. Curiosidade que veio aumentar, quando ele
mudou-se para aquela casa há muito abandonada. Os moradores da região diziam
que, de vez em quando, aparecia vindo não se sabe de onde, uma claridade que
iluminava intensamente o céu por instantes e logo em seguida desaparecia. Fosse
noite ou fosse dia, a intensidade da luz era a mesma, e sempre azulada.
Sem saber, fora numa
noite dessas que Alves recebeu a visita de um homem com o qual ficou
conversando até um pouco antes do dia raiar. A conversa começara depois que
aquele homem aparecera no portão, pedindo um copo d’água, que Alves serviu-lhe e
em seguida sentaram nas únicas cadeiras, na pequena varanda da casa. Chovia
naquela noite e o visitante comentara sobre o clima.
- Se os homens
conhecessem mais sobre a história, saberiam mais sobre o tempo – disse o homem.
Sem entender, Alves olhou
para o céu e a chuva que caia e nada viu que justificasse tal observação. Era
por estas outras coisas fúteis, que se afastara da multidão. Mas, já que
estavam ali e chovia ele não queria ser rude e mandá-lo embora. Porém, resolveu
prosseguir a conversa.
- Por que diz isso?
– Disse Alves, sem nada esperar daquela conversa.
- Os homens não se
guiam pela prática de observações tiradas da história – falou o homem, quase
repetindo as mesmas palavras.
- Isto o senhor já
disse – falou Alves, sem poder disfarçar sua impaciência.
- Olha, seu moço, os
homens se guiam pela rotina teórica, que não leva a qualquer resultado real.
Acreditam cegamente nas leis científicas que lhes são inculcadas. São meras
teorias – disse o homem.
Alves não esperava
aquele tipo de resposta rebuscada vindo daquele homem de aparência simples. Ainda
sem entender, mas agora demonstrando interesse pelo que o homem dissera e mais
ainda, pelo modo como dissera, Alves continuou calado à espera que ele
continuasse.
- Os intelectuais
ficam cheios de orgulho com esses conhecimentos, e sem os examinar para saber o
que é verdadeiro ou não, põem em ação todos os dados da ciência, sem saberem
como foram reunidos, para guiar seu espírito pelo rumo que esses desconhecidos
querem – disse o homem.
- É curioso o senhor
falar estas coisas, porque esta é uma das razões que me fizeram deixar muitas
coisas para trás e tentar ultrapassar essas barreiras invisíveis e que me
impediam um modo de viver mais amplo – disse Alves.
- O senhor quer
simplificar a vida? – Disse o homem.
- Sim, quero
entender o Universo de forma menos complexa – disse Alves.
- Se entendi o que está
por detrás dessas palavras, o senhor quer renegar todo o conhecimento que
adquiriu até aqui, durante toda a sua vida. Se fizer isso, o que lhe sobrará? –
Perguntou o homem.
- Somente eu e tudo
o que me rodeia. Mas, tudo que vejo já foi nomeado e pelo sentido dado a elas.
Por exemplo, a cadeira na qual estou sentado. “Cadeira” é uma palavra que tem
seu conceito estabelecido. Serve para sentar, em qualquer lugar do mundo –
disse Alves.
- Mas, que outro
nome daria a ela? – Disse o homem, enquanto respingos de chuva salpicavam o
casaco de couro marrom que vestia.
- Poderia chamar de
“mesa”, ou “pedra”... – disse Alves.
- E acaso estes
nomes já não existem com seus conceitos inerentes? – Perguntou o homem.
- Poderia embaralhar
as letras e reordená-las. Seria um nome novo, não seria? – Disse Alves, sem dar
importância às palavras que usara.
- Mas, as letras
continuariam a existir, isto é, as letras seriam as mesmas – disse o homem.
- E se não lhe desse
nenhum nome? – Disse Alves, sem saída.
- Se conseguir fazer
isso com os nomes de todas as coisas já existentes, podemos dizer que limparia
sua mente. Ela ficaria tão vazia, que talvez nem pensar seria possível – disse
o homem, cujo casaco, agora todo molhado, rebrilhava.
- Seria recomeçar do
zero, qual novo Adão. Pois, foi ele que deu nome a cada uma de todas as coisas
que existiam, segundo a Bíblia – disse Alves.
- E o Alcorão – completou
o homem.
- Juntamente com
Eva, foram os primeiros que tiveram acesso ao conhecimento. Não é isto que os
homens dizem? Não é esta a causa da infelicidade em que vive o ser humano? –
Disse o homem.
- Dizem também que é
a quinta-essência do universo; seja lá o que isso queira significar... – Disse
Alves.
- Quem criou o
primeiro ser vivo? – Disse Alves.
- Aquilo que existe
sem ter sido criado, sem ter tido princípio, e não tem representação física e
representá-lo seria um sacrilégio, uma vez que ele não tem forma – disse o
homem.
- E onde viviam
estes seres, o criado e o incriado? – Disse Alves.
- Dizem os
Sacerdotes que “no princípio ele criou os céus e a terra” – disse o homem.
- O ser incriado é chamado
de Deus, Energia Cósmica ou outro nome equivalente que criou o mundo do nada. O
ser humano precisa de alguma referência. Mas qual? – Disse Alves.
- Alguns estudiosos
supõem que o Universo teria sido criado pelo mundo imaterial ou espiritual,
como queira chamar. Quando é dito que o Incriado criou o Universo, isso não é
nada mais do que uma expressão majestática, concebida pelo homem devido às múltiplas
e ilimitadas manifestações desse ser. A intenção é dar ao homem a consciência
de que tudo se deve à Criação Divina – disse o homem.
- Por outro lado, os
antigos atribuem a existência do mundo ao resultado das lutas dos múltiplos
Deuses, ou como nascido da casualidade e por vontade repentina, sem
justificativa; por capricho – disse Alves.
- Dizem os monoteístas
que quando o Incriado criou a Terra, viu que ela era “vã”. A palavra “vã”
significa assombro e consternação pela vacuidade em que ela se encontrava,
então, aparentemente por misericórdia, através do alento exalado por Sua boca,
sobre a face das águas, deu o alento da vida à matéria inanimada – disse o
homem.
- A terra já estava
criada quando o homem, como é conhecido hoje, foi criado. Mas, como era
antes? Digo, antes do surgimento do
homem? O que causa surpresa, é que se eu responder a esta pergunta, estarei repetindo
um conhecimento aprendido, que me foi passado pelos que vieram antes de mim.
Talvez geneticamente, desde o princípio, se quisermos considerar o momento logo
após a criação do primeiro homem – disse Alves.
- Então, podemos
dizer que Deus criou outros iguais a si e o mundo foi povoado por Deuses –
disse o homem.
- Desde que cheguei
a este lugar, tem me ocorrido pensamentos que podem ser chamados, no mínimo, de
diferentes dos usuais. Por exemplo, tenho pensado se houvesse uma porta? Um
portão que separasse mundos diferentes, mas que existem aqui mesmo, paralelamente
a este mundo em que estamos agora a conversar? Um portal dimensional? – Disse
Alves.
- Quer dizer uma
entrada ou saída - depende do lado em se
está -, para outro mundo? – Disse o homem.
- Sim, um portão
numa muralha invisível aos nossos olhos – disse Alves.
- Que tipo de mundos
essa muralha estaria separando? A morte da vida, o bem do mal ou um mundo de
seres diferentes do homem? – Disse o homem.
- Tenho sonhado muito
com isso, isto é, com um muro muito alto. Aliás, na verdade, não posso afirmar que
é sonho, pois, mesmo quando estou acordado tenho esta mesma sensação. Sinto que
há algo mais. Desde a minha juventude,
quando estive aqui pela primeira vez, algo diferente e que não sei o que era me
atraiu neste lugar – disse Alves.
- Talvez possamos
pensar que a abertura de um portal pode indicar a abertura da mente ou da
consciência, a fim de serem descobertas os segredos ou as informações valiosas
ali contidas. Pode indicar o acesso a algo grandemente desejado – disse o
homem, que puxara sua cadeira para junto de Alves e que, olhava fixamente nos
olhos, continuou a falando.
- Pessoas que passaram
pela experiência após a morte e voltaram a seus corpos, relataram que pouco
antes de morrerem, tiveram a impressão que o espírito queria facilitar a
entrada para uma nova fase da existência – disse o homem.
Neste momento, a
atenção de Alves foi desviada para algo que já acontecera outras vezes, embaçado
ou fora de foco, via ele um portão ladeado por colunas. Uma espécie de caminho
coberto, com cerca de quinze metros de largura, com fileiras de colunas de sete
metros e meio de altura cada, ao longo do lado oriental e uma construção que
lhe pareceu ser um santuário, onde pessoas reunidas eram ensinadas por um ancião.
Alves pode ouvir o que ele acabara de
dizer: “Haja luz e houve luz”.
Continua...
EP. Gheramer
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