Fotografia de Tomar a dianteira
Estamos no verão e numa altura em que apetece passear. Estamos igualmente algum tempo após pelo menos um leitor ter manifestado a opinião segundo a qual a directora do Convento de Cristo fez bem em proibir os forcados, os fotógrafos profissionais e os casados de fresco de tirarem fotografias naquele monumento, por ser património da humanidade.
O Líbano é um país do 3º mundo, mas também tem um monumento património da humanidade -as ruínas romanas de Balbeck. Pareceu-nos por isso oportuno traduzir a pequena reportagem que segue. Para se poder apreciar e comparar como vai o mundo...
"Os libaneses podem gozar o verão com toda a tranquilidade. Não vai haver guerra com Israel. Pelo menos até ao próximo inverno. Foi o que declarou o líder do Hezbollá, Hassan Nazrallá, segundo noticiaram na passada segunda-feira, 27 do corrente, dois diários de Beirute. Tais declarações não foram confirmadas pela cadeia de rádio e televisão Al-Manar, órgão oficial daquela organização chiita. Mas os libaneses preferem acreditar, mesmo sem confirmação oficial.
Com a vinda prevista de um milhão de turistas em julho e agosto -num país com apenas 4 milhões de habitantes-, a capital libanesa vive ao ritmo das discotecas e das praias com a música de romper tímpanos a encobrir a melopeia dos apelos à oração...enquanto não chega o mês do Ramadão. Porém, uma vez deixada para trás a baía de Beirute, as discotecas e os casinos, o património histórico do país já não atrai tanto os turistas.
Em Balbeck, o mundialmente famoso templo romano de Júpiter vive um grande período de solidão. Alguns operadores turísticos denunciam, ao ouvido do repórter, não vá haver problema, "o efeito Hezbollá". Efectivamente, o Partido de Deus confirmou, na eleições de 7 de junho, o seu domínio absoluto desta cidade do norte da Beka, doravante ornamentada exclusivamente com as cores do partido chiita: bandeiras amarelas e kalachnikovs.
Logo à entrada das célebres ruínas romanas, uma exposição comemora os combates do verão de 2006, do Hezbollá contra Israel. Aí podemos ver, embalados por cânticos de guerra, fotografias de blindados e barcos de guerra israelitas, reduzidos a destroços retorcidos, mísseis Katioucha e reproduções em relevo das zonas de combate. No fim da visita, os retratos de 28 jovens dos 16 aos 25 anos, mártires locais da guerra, dispostos à volta de um caixão vazio, coberto pela bandeira do movimento.
Com sete espectáculos programados para este verão, só o habitual Festival Internacional de Balbeck se mostrou capaz de atraír pequenas multidões. O concerto do grupo rock britânico Deep Purple, sábado passado, trouxe até esta cidade austera mais de 4 mil espectadores, sobretudo adolescentes excitados.
Muitos destes jovens ostentavam barba, mas não como aquela dos tradicionalistas chiitas. Mais a dos fans de rock, quase sempre acompanhada por cabelo grande mal penteado e jeans rotas. Em vez de lançamentos de mísseis Katioucha, a soiré foi a ocasião para lançar soutiens para o palco e para tentativas, algumas com êxito, para ir beijar as estrelas britânicas. O grito de guerra foi o êxito "Smoke on the water", com dois dedos voltados para cima. Um sinal distintivo dos metálicos, que dizem representar o demónio ou a negação de Deus. O cúmulo do descaramento nesta cidade de mártires da fé, ainda para mais num templo romano outrora consagrado a Júpiter, o deus dos deuses... Certamente influência do deus Baco, divindade do vinho e das orgias, que também tem por aqui o seu templo, por acaso muito bem conservado. Sinal de respeito?
Em todo o caso, prestando certamente homenagem a Baco, a juventude não abandonou o recinto sem um renhido combate com as almofadas arrancadas das cadeiras. Meia hora após o fim do espectáculo, enquanto o silêntio voltava a invadir a paisagem, a batalha das almofadas ainda continuava no templo de Júpiter."
Cécile Hennion -Enviada especial a Balbek (Líbano) do jornal LE MONDE
Nota prévia, tradução e adaptação de A. R.