Foi recentemente anunciado, com o habitual aparato publicitário, o concurso para adjudicação da obra de requalificação do "Caminho de atravessamento da Mata dos Sete Montes". Tal caminho existe desde pelo menos o século XVI e só deixou de cumprir a sua missão de ligação quando, por motivos nunca explicados, deixou de haver quem abrisse a porta da Torre da Condessa (B, na foto).
Sobre a citada requalificação, inicialmente previa-se uma parceria ICN-IGESPAR-CMT, com limpeza e melhoramento da Mata, incluindo actividades de educação ambiental e tudo. Como era realmente uma falsa parceria, uma vez que as três entidades funcionam com dinheiro do mesmo saco (bolsos dos contribuintes via orçamento de estado), quando perceberam que era para pagar e não para receber, ICN e IGESPAR logo tiraram os cavalinhos da chuva (não fossem os animais constipar-se...), alegando "falta de cabimento orçamental". Ainda assim, a autarquia de António Paiva decidiu avançar, dado não ter qualquer plano alternativo e dever cumprir compromissos anteriormente assumidos. Tendo em conta as duas desistências, a verba inicialmente prevista para a iniciativa, cerca de 750 mil euros, passou para cerca de 225 mil.
Ainda assim, o que se pretende sobretudo não é requalificar o antigo caminho, mas instalar um emissário para uma parte dos esgotos do Convento, que até agora despejam na Mata, o qual fará a ligação com o colector da Rua da Graça. O que não impediu os técnicos de incluir no projecto agora a concurso uma série de melhoramentos no trajecto, como por exemplo bancos e iluminação pública. Sabendo-se que tanto o Convento como a Mata fecham às 18 no verão e às 17 no inverno, a prevista iluminação só poderá servir, eventualmente, para os visitantes "ficarem com umas luzes da Mata e do Castelo", mesmo sem guias.
Escrevemos visitantes, mas a triste realidade é que os autores da brilhante ideia de requalificação, ou nunca julgaram necessário definir previamente a quem se destina o futuro caminho melhorado, ou simplesmente nem sequer pensaram no assunto. Caminho só para turistas? Só para residentes em Tomar? Para uns e outros? Em que condições? Com que fins?
Ainda por cima, conforme mosta a vista aérea, em vez de aproveitarem para reabilitar a Porta Tutelar Templária da Almedina, primitiva entrada principal em Tomar (letra A, na foto), e o caminho nitidamente mais curto e acessível, aquela questão do emissário de esgotos levou os técnicos a optarem pela Torre da Condessa (letra B, na foto), o caminho mais longo e com uma convidativa escadaria de acesso...Há coisas que não se entendem e outras que estão mesmo à vista... Resta acrescentar que Corvêlo de Sousa foi alertado oportunamente sobre o assunto, mas declinou o convite para visitar o local e relegou para melhor oportunidade o questão da Porta da Almedina. Tudo para se manter fiel ao "Tomar 2o15", a verdadeira bíblia legada por António Paiva à actual maioria PSD, com a implícita bênção da oposição que temos tido. E depois queixam-se que a cidade vai definhando...