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quarta-feira, 29 de julho de 2009

PERCEBER A CRISE - 2


Além do já referenciado, o autor apresenta outras maleitas que nos são peculiares. Uma delas baseia-a numa tese das "Conferências de Harvard", de 1958, de acordo com a qual existem dois tipos de cidadãos -"De um lado ficaram "aqueles que seguiram o caminho da individualidade, que criaram e alargaram oportunidades para se comprometerem na realização de acções livremente escolhidas..." "Do outro lado, ficaram os "homens incapazes ou indispostos a fazerem escolhas por si próprios, homens esperando que lhes dissessem o que fazer e em que acreditar, e pedindo aos governos assistência, protecção e liderança." ..."Nalguns homens esta incapacidade... apenas provocou resignação; mas noutros gerou inveja, ciúmes, ressentimento."
Para Vítor Bento, os portugueses integram o segundo grupo, o dos "colectivistas". E acrescenta mais adiante: "A inveja, o queixume e o ressentimento , com que muitos portugueses embrulham a pequenez de espírito e a incapacidde de ousar e de assumir os riscos da sua individualidade, esgrimindo-os contra os que têm sucesso ou, mais simplesmente, contra os que se atrevem a sobressair da niveladora mediocridade, são outra emanações, limitadoras, desse "carácter" [colectivista]"
Noutra passagem, assinala-se que os nossos compatriotas "sendo confrontados com qualquer erro ou má prática, quase que instintivamente respondem que "não fui eu", apontam noutra direcção, ou apresentam um rol da de desculpas justificativas."
Há igualmente uma abordagem do nosso problema educacional que nos parece valer a pena destacar. É esta: "Para além da dificuldade de compreensão da informação escrita, e da dificuldade (também apurada no estudo da OCDE) de resolução de problemas, um outro campo onde muitos portugueses expressam uma manifesta dificuldade é na expressão oral. Esta dificudade é frequentemente percebida, de uma forma incontornável, quando as televisões recolhem opiniões espontâneas, na rua ou nos estúdios. ... ...O problema é sério, porque quem não sabe verbalizar articuladamente as ideias, também não sabe pensar articuladamente. E quem não sabe pensar..."
Poderíamos continuar "a bater na ceguinha". Preferimos ater-nos à conhecida tomada de posição do marechal Beresford, aquando das invasões francesas. Quando lhe disseram que as forças portuguesas eram bandos de cobardes, bêbados, assassinos, traidores, velhacos, labregos, etc. meditou uns momentos e respondeu -"Será verdade tudo o que me dizem. Mas é com eles que vamos ter de fazer e ganhar a guerra, porque não há outros." Assim acontece agora com os eleitores que temos. Restam 15 dias para ter a coragem de arranjar e entregar listas que não nos envergonhem ou nos façam rir. (O negrito é de Tomar a dianteira)

terça-feira, 28 de julho de 2009

PERCEBER A CRISE - 1


Em Tomar a dianteira, talvez por ser uma actividade de amadores, procuramos nunca deixar as coisas mal acabadas. Do tipo "próquié serve", "não vale a pena gastar mais cera com ruins defuntos", "játábomdemais", "pra quem é bacalhau basta", "vão lá fazendo que eu já venho dar uma ajuda". Após o artigo "Entalados e ofendidos", do passado Domingo, no essencial reproduzido do EXPRESSO, fomos procurar, comprar, ler e comentar o livro nele calorosamente
recomendado: Perceber a crise para encontrar o caminho, Vítor Bento, Deplano Network, colecção binomics, 190 páginas, 17 € na book.it (Modelo).
O que segue são apontamentos de leitura, elaborados com a intenção de posterior publicação aqui.
Quem ler o livro, concluirá que há nele muitos posições praticamente homólogas de outras anteriormente publicadas neste blogue. Convém por isso esclarecer (não vá o diabo tecê-las...) que não conhecemos pessoalmente Vítor Bento, nunca com ele tivemos qualquer contacto anterior à leitura do livro, que apesar de editado em Abril, só agora foi apresentado nos jornais e posto à venda aqui nas berças. Simples coincidência, portanto, a tal convergência analítica? Julgamos que nem tanto. Apenas consequência de ambas as partes viverem no mesmo meio sociológico, escreverem na mesma língua e terem estudado a mesma disciplina. Mas caberá aos leitores a última palavra.
Logo a iniciar a obra, Vítor Bento cita autores conhecidos, entre os quais Camilo Castelo Branco, em Memórias do cárcere, 1862: "Em Portugal nada nem ninguém pode ser grande, nem sequer ladrão. Quando alguém sai da mediania que a sociedade consente, logo se erguem contra ele forças conjugadas dos vários poderes ameaçados, reduzindo-o à insignificância do descrédito ou da prisão. Não se admirem, portanto, que em Portugal não haja grandes crimes nem grandes obras. A grandeza tem fortes inimigos entre nós." Está assim dado um dos tons gerais da obra.
Bem mais adiante, após uma primeira parte de 117 páginas, cuja leitura é por vezes árdua, o autor continua a pôr o dedo na ferida: "Mas uma das maiores dificuldades que Portugal cria a si próprio é a de ser demasiado pequeno. Não por causa dos 89 mil quilómetros quadrados que nos confinam, mas porque se habituou a pensar pequenino, mesmo quando, em lugar do realismo realizador, propende para a provinciana megalomania "aspiracional", que o leva a gastar em grande com objectivos menores." E acontece assim porquê? Porque "...Temos uma elite que, além de pouco culta, é pouco cosmopolita e tem uma visão demasiado provinciana do nosso papel no mundo. Não é que não viaje, mas mesmo conhecendo (algum) mundo, continua a "ter pouco mundo", a demonstrar uma postura provinciana e, sobretudo, a promover interesses tacanhos, a que não será indiferente o seu frágil "background" cultural. E que se habituou demasiadamente a encostar-se ao estado, a dele depender..."
Antes, logo no início, já Vítor Bento alertara detalhadamente para o atoleiro em que nos procuramos mover devagarinho: "Para resolver um problema é preciso, antes de mais, percebê-lo. Por isso, e antes de pensar em soluções, é necessário identificar-se muito bem o problema económico com que nos confrontamos. Só a partir daí se podem procurar as soluções adequadas. Imagine-se o que seria estar no alto mar e tentar definir uma rota, sem saber onde se está. O resultado, praticamente seguro, é continuar perdido e nunca conseguir chegar ao destino desejado." E logo mais adiante: "Quem acompanhe, [ou acompanhou], a série televisiva Dr. House, mesmo descontando as fantasias e exageros que deixam os médicos enfurecidos, já terá percebido pelo menos três coisas -a) enquanto não se acertar com o diagnóstico, não é possível prescrever a terapêutica adequada para curar a doença; b) um diagnóstico errado pode conduzir a uma terapêutica fatal; c) para tratar eficazmente uma doença, é preciso começar por identificar, e cessar, os comportamentos que a causaram e agravam."
É nossa opinião que os candidados e os políticos locais, bem como os respectivo conselheiros (de circunstância ou não), teriam todo o interesse em mandar ampliar e colar, nas paredes dos gabinetes que ocupam, as citações que antecedem. Evitar-se-iam assim situações (para os mais entendidos) hilariantes, em que, ignorando quase tudo das causas da doença a tratar, vão propondo como terapêutica exactamente aquilo que a causou. Até já ocorreu, numa manifestação recente, que por cortesia não vamos especificar, o principal interveniente dizer, sem disso se dar conta, que o ideal para apagar o nosso grave incêndio económico é regá-lo com bastante petróleo ou gasolina. (En sentido figurado) Estamos a falar de Tomar. Em Julho de 2009. Vinte anos após a queda do Muro de Berlim... (continua) O negrito é de Tomar a dianteira.