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sábado, 27 de outubro de 2012

Meus abris




Tua vida agora tá dividido em dois. Dos vinte anos que tu já viveu. E o pouco tempo que te resta pra viver”.

É sentença dada a Tonho, da família Breves, pelo senhor Ferreira em razão da morte de seu filho, no filme Abril Despedaçado.

Abril é mês estranho para mim. É pouquinho depois do início de meu novo ciclo astrológico. Uma das possíveis origens da palavra é o latim Aprilis, que significa abrir. E, se Vênus abunda em meu mapa astral, Abril é também derivado de Apros, nome etrusco da deusa do amor e em grego antigo derivaria da denominação da espuma marinha que Afrodite teria nascido.

É, para mim, cheio de vida e sofrimento. Muitos meses de abril que vivi me impregnaram lembrança inapagável. Foi neles que minhas duas avós faleceram. Neles que decidi renascer de minhas máculas interiores. Neles que encontrei e sofri paixões.

Por falar em paixões, a sentença dada a Tonho, não se finda aí. É uma privação dessa experiência de amar, de se apaixonar: “Conheceu o amor? E nem vai conhecer...”.

O filme com sua fotografia iluminada, esconde o sombrio, que versa daquele tempo marcado, que se esvai na ampulheta, de areia feita a cor do chão semiárido: “Cada vez que o relógio contar: Mais um, mais um, mais um. Na verdade ele te diz: Menos um, menos um, menos um.”. 

É areia seca, grudada, em gretas de contração, lavada de sangue, secular, de tantos homens morridos e que parece que hão de morrer. A briga nem é de Tonho, mas há ele de ser honrado, como seu pai sempre lhe diz.

Seu pai... homem duro, dono da bolandeira, que os Ferreira deixaram sem terra, sem nada, mas que só tem essa tal honra.  A Tonho resta ao menos cobrar o sangue de seu irmão mais velho já morto, como se fosse obrigação. E, obrigação é pagar com vida, se necessário depois de acertadas as contas. Ao próximo Ferreira cabe também seguir carma-vingança, assassinar a Tonho, que assassinara seu irmão. 

Tonho usa fita preta em ombro  pra sinalizar sua morte: quando for noite de lua cheia e o sangue da camisa daquele que matou amarelar, poderá se efetivar sua sentença.

Tonho tem um irmão vivo, com nome que não se sabe, mas que é chamado de Menino.

Menino sonha com a sereia que o leve pra longe e não entende porque aquilo acontece.  Não lhe é possível entender porque dessa mortandade toda e a ganância expressa na briga de famílias por terra, como lhe diz certa feita o homem do circo. Queria ser peixe do mar, para ficar juntinho da sua sereia, mas o máximo de alcunha que conseguiu foi ser batizado Pacu. Sendo peixe de rio parece restar apenas o desejo inconsumável de cair  pelo destino na imensidão oceânica, pra poder viver amor.

Tonho é jovem de sonho. Se seu pai é homem bruto, que de tão duro faz perder o riso de toda família com a própria gargalhada. Tonho quer viver esse amor que foi sentenciado não viver. Amor que acaba sendo por essa tal sereia, que o Menino ama também em sonho. É sereia de luz na escuridão. É Clara, lampejo luminoso, que vem lhe dar graça e possível redenção. É desabrochar de alegria, de ver em círculo e ciclos rodopiando agarrada à corda, iluminada pelos raios de sol, até eles mesmos caírem. É o que não parece poder dar certo, mas que deveria pra graça da vida, mesmo ela assim escoando através do vidro desenhado.

Mas o Abril chuvoso de sangue não parece poder ter a brancura da lua. Ela é cheia, mas é despedaçada, pois ali morrem possibilidades de vida.  Feito ao ar sufocado pela bronquite que sentia Bandeira da vida inteira que poderia ter sido e que não foi”, dividido em dois ou mais, ou até em estilhaços, Abril é quando as ilusões quedam por peso da realidade. Despedaça-se para os ontens se abrirem em amanhãs, deveras incertos, mas que nutrem a esperança de que esse tal outono que caem folhas, e que mal começou se finde logo, a despeito de saber que na sequência virá inverno, com toda sua dureza...

"Feito folhas secas no chão..."


                                                                                                * Nota: este texto não pretende ser uma resenha ou algo do tipo. Apenas alguns de meus desajustados pitacos e devaneios.


Lembro-me que em algum ano do ensino médio, a professora de redação pediu que escrevêssemos um texto. Não me lembro do que se tratava, mas terminava mais ou menos assim: “(...) e ali ficaram. Feito folhas secas no chão. Como os retirantes no quadro de Portinari”.



Havia, além da referência direta à pintura, uma outra, sub-reptícia, mas também não muito difícil de identificar. A secura que eu tentava evidenciar através da imagem das folhas, era a secura de “Vidas Secas” de Graciliano Ramos. Por aqueles tempos eu teria lido pela primeira vez a obra. Acredito que não tinha dela mesma compreensão (para pior ou para melhor) que tenho hoje... Posso dizer, contudo, que me indignava a situação daquelas figuras que se emergiam nas páginas, esquálidas, que mal falavam, que grunhiam, como chega a dizer o autor. Ao mesmo tempo as palavras do livro também ásperas me exerciam algum fascínio. 

Não eram letras descompassadas, se integravam àquelas imagens de vidas duras no semiárido e a expressão que encontrava era naquela tal pintura do Portinari, mesmo que não tivesse ela propriamente alguma relação direta, mesmo tendo muito mais gente na família de retirantes do pintor e não ter nenhuma cadelinha.

Já na faculdade, resolvi certa vez fazer uma disciplina no curso de Letras. Modernismo Brasileiro. Foi uma experiência bacana. Quando fomos estudar a segunda geração modernista eis que me deparo com Vidas Secas de novo. Pude fazer uma leitura mais atenta dessa vez. Comprovei a genialidade de Ramos. Pude ver coisa que não via antes. Era realmente uma obra bonita e que tinha uma atenção com muito debate da época que foi escrita. Rebatia para bem longe a ideia de determinismo geográfico para formação física humana. Naquele momento, década de 1940, para não falar da expressão máxima da crueldade com o genocídio nazifascista, também tínhamos por nossas bandas, os integralistas e outros grupos com a ideia de eugenia, de clareamento de raça, de que o meio determina o homem e essas coisas perigosas que servem para todo tipo de preconceito e racismo. Ramos, vai por caminho diferente, e em Vidas Secas não nega que a forma física de seus personagens tenha alguma relação com o clima do sertão nordestino, mas atenta que nem todos são assim. O fazendeiro para qual Fabiano, o pai da família que se retira, vem a trabalhar, não se parece assim. Nem os policiais que vem a prender Fabiano. Comunista, militante que era, tendo sido preso inclusive, Graciliano Ramos, sabia que as formas esquálidas e miseráveis, tinham a ver mais com a desigualdade, com a exploração e com o abuso de poder. Questionando o determinismo do meio e evidenciando as profundas contradições sociais, desmistifica-se ideia de qualquer superioridade genética. Se algo determina a condição social das pessoas parece ser sua classe, a hierarquia e o histórico de opressões que se fundem ao racismo, ao preconceito e à exploração do outro.
 O patrão de Fabiano, poderia comer bem, às custas da exploração de seu trabalho. Pagando-lhe menos, em regime de servidão, como vem a perceber sua esposa, Sinhá Vitória. Mas que poder tem Fabiano, naquela condição, de reivindicar seus direitos? Aliás, tentando expandir o questionamento, havia direitos numa sociedade de privilégios (para poucos)? (A pergunta permanece atual...).

Há ainda a versão cinematográfica da obra dirigida por Nelson Pereira dos Santos, de 1963. Bela fotografia em preto e branco e, mesmo que não seja novidade o que digo, vale dizer que há muito brilhantismo na adaptação para a tela. A primeira sequência filmando de modo quase estático uma paisagem do sertão nordestino só ganha um primeiro movimento com a personagem da cachorra Baleia a frente de seus donos. É relevante esse momento. Baleia, tanto no livro, como no filme, tem notável importância. Seu próprio nome já singulariza, e nos atira a ironia que contrista, de uma cachorra magricela naquela secura toda ter nome do maior mamífero marinho. 

Baleia, contudo, não é só isso, pois é no animal, também ironicamente, que reside humanidade em sentido elevado. Compartilha a presa da caçada, mesmo faminta, com os donos e se contenta com míseros ossinhos (isso não aparece no filme). Ela que dá algum carinho ao menino mais velho, quando apanha da mãe, por perguntar “o que é o inferno?”.

Os donos mal falam e no mais das vezes grunhem e o papagaio, que pela fome dos donos acaba morrendo para servir como alimento, mal sabe falar por conta disso. Os filhos do casal sequer tinham nome. No filme em nenhum momento são chamados pela alcunha. No livro, são chamados de “menino mais velho” e “menino mais novo”.

Numa das cenas, na primeira metade do filme, a confusão que vivem os personagens é evidenciada ao falarem de Seu Tomás da Bolandeira, homem próximo a eles, que ninguém sabia pra onde havia ido, mas que sabia ler e tinha uma cama de couro. Ter uma cama de couro é o grande sonho de Sinhá Vitória. As falas se Fabiano e de Sinhá Vitória se sobrepõem uma a outra, sem comporem um diálogo, saem de forma desordenada e caótica, como se não se preocupassem com algum entendimento.

Nelson Pereira dos Santos, concebeu uma linearidade para tratar da história, que não ocorre no livro. Neste, há idas e vindas, e há a concepção de que com exceção do primeiro capítulo “Mudança” e do último “Fuga” podem ser lidos em outras ordens pelo leitor. Contudo, o início e o fim, reforçam a ideia cíclica, de que os revezes sempre retornam que podem ser atingidos pelas dificuldades da seca, pela miséria, pelo patrão, ou por quem detém algum poder (policiais, fiscais de impostos, por exemplo). Leitor, que também era, Santos fez sua leitura do livro para a película.

No filme o ciclo abre e se fecha com um som semelhante a um berrante, nas imagens estáticas, que só há o movimento da família chegando, no início, e indo, no fim. Sem saber para onde de certo. Não há menção específica sobre quais eram os locais. Sabe-se que estão no sertão nordestino e que vão para o sul. O sertão poderia ser qualquer lugar? Quais as ilusões, miragens e fantasias dessa fuga para o sul? Se Portinari já pintava, Belchior cantava em sua Fotografia 3x4:


          “Eu me lembro muito bem do dia em que eu cheguei

          Jovem que desce do norte pra cidade grande
          Os pés cansados e feridos de andar legua tirana...nana”


(Minha associação nem foi muito original. rs. Ao procurar um vídeo da música achei esta montagem abaixo)

Do “mundo coberto de penas” (capítulo do livro) de Fabiano, parece haver muitos penares, sonhos que são folhas secas no chão. Deve ser daí, em referências desorganizadas, no meu inconsciente juvenil, que também surgiu essa imagem. Talvez esta noite vendo o filme tenha reavivado um pouco disso... Proustianamente, feito à semelhança do poder ativador de madalena com chá...


Em meio a pequenez de minhas lembranças, Graciliano Ramos e Nelson Pereira dos Santos, lembram que há muito mais fora de minha cabeça. E, se no sertão, que ao contrário do que dizia (ou dizem do) Guimarães Rosa,  não é o mundo, é ali em Vidas Secas, não um pouco, mas um muito do Brasil... em suas desigualdades, desencantos e esperança de nossa gente. O encerramento de livro e filme, assim como ambos em totalidade, sintetizam transcendência que poderia ser  mera denúncia. Por tal motivo que Santos, ciente disso, não deixou de inscrever em letras brancas antes de fechar o filme as palavras de Ramos, que poetizavam toda aquela saga, que não era só daquela família, mas de outros tantos... 

"Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos nela. E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, Sinha Vitória e os dois meninos.” (p. 128)



quarta-feira, 22 de abril de 2009

Nossa relação com o passado...

Uma cidade sem passado
Assisti neste final de semana, por acaso, um filme que me chamou bastante a atenção. Chama-se: “Uma cidade sem passado” [mais detalhes aqui]. É uma produção alemã do início dos anos 90 e que é um misto de comédia, drama e documentário.
Vou resumir a historinha dele...
Uma garota de uma pequena cidade da Alemanha Ocidental é convidada a participar de um concurso de redação. Dentre os dois temas propostos ela decide pelo seguinte: “Minha cidade durante o III Reich”. O que ela queria com isso? Provar que a igreja se manteve íntegra durante o nazismo.
Porém já nos seus primeiros esforços para fazer a pesquisa, ela verifica que não é bem assim e que as pessoas não queriam que ela ficasse revirando coisas daquele período.
O que ocorria era que muita gente esteve envolvida com o regime e essas pessoas faziam questão de não serem mais associadas àquilo. Além de tudo havia a construção de uma imagem contraditória da cidade como um foco de resistência.
Era um passado convenientemente esquecível, não só para aqueles que se envergonhavam de suas ações, mas também para seus amigos, suas famílias e todas as pessoas ligadas a ele de alguma forma... Era enfim uma ferida não só de uns e outros, mas de um povo. E remexê-la não era de nenhum modo indolor.
Agora imagine só quantas coisas permanecem ocultas e sequer sabemos? Elas não entraram nos livros de história, não são revividas nas comemorações cívicas, não fazem parte da memória popular.
Talvez por aí, dentre outras coisas, tenha se cristalizado essa concepção de que somos seres passivos e de que não podemos mudar a realidade.
Fazer-nos acreditar que é assim. É o objetivo daqueles para quem é cômoda a atual situação! Brecht, em seus poemas já ressaltava isso...
Creio, no entanto, que esse é o principal compromisso da história hoje em dia: enxergar as contradições do passado, mesmo quando nos obrigarem a usar lentes escuras e embaçadas. Mas há de se convir que quem fecha os olhos por vontade própria, sequer enxergará o óbvio, mesmo que esteja a poucos centímetros de si...

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Duas-Caras .

Lembro-me do dia que ganhei uma revista de quadrinhos que me deixou com bastante medo. Era uma edição de Batman Anual da Editora Abril. Havia três histórias, se não me engaduas-caras_msn1no, e confesso que pela idade (eu tinha uns dez anos) eu não entendi muito bem todas. Principalmente uma que falava sobre o Morcego na Rússia. Àquela época eu não tinha uma ideia do que seria aquela tal URSS que recentemente havia deixado de ser (pelo menos se dizia) um Estado comunista, aliás, é bem capaz que sequer eu soubesse o que era comunismo.

Uma delas, no entanto, havia me deixado profundamente aterrorizado durante muitas de minhas noites. Mais até do que uma capa de uma revista do Fantasma que tinha duas caveiras com diamantes no lugar onde um vivo teria os olhos.

Mas voltando ao que me propus a falar aqui, era aquela uma história que contava a origem de Duas-Caras. Este que figura no rol dos principais inimigos de Batman.

Ao ler aquelas páginas senti medos diferentes. A primeira foi ao ver a face de Harvey Dent (o promotor público que se tornaria o vilão) ser deformada por ácido.

Harvey no decorrer da história ainda não era Duas-Caras. Isso se daria quando finalmente assumisse a outra personalidade oculta dentro de si mesmo.

Quando cheguei ao ponto onde isso ocorria me senti fascinado. Não sei se entendia muito bem qual era a daquele personagem que deixava exposto da forma mais evidente o possível o contraste entre seu lado bom e seu lado mal. Mas reafirmo que achava admirável àquilo.

Hoje, quando aqui me recordo, do alto da confusão de minhas lembranças tenho um parecer que ele lidava com isso de um modo também contraditório para a luta que vivia em seu interior. Pois se para muitos, seu distúrbio poderia ser caracterizado como uma constante violência psicológica para consigo mesmo, por outro lado, ele se utilizava de uma resolução bem objetiva para esse conflito: a própria sorte.

Era lançando ao ar a moeda de duas caras com um dos lados riscados, único presente dado pelo pai, alcoólatra e violento, que decidia a vontade de qual dos seus “eus” que deveria prevalecer. Sei que não decidimos o que fazer em nossas vidas necessariamente deste modo, mas por outro lado, acho que constantemente somos obrigados a reprimir uma boa parte de nossos desejos.

E isso se revela, por exemplo, quando nos sentimos incompreendidos por todos. Afinal, num mundo onde as normas, costumes e instituições definem o que podemos ser, não é incomum se sentir desamparado por nunca se poder ser o que de fato se é.

Mas voltando ao Duas-Caras, creio ainda que ele é ainda um exagero proposital do que seria o maniqueísmo para que ao mesmo tempo este seja negado numa análise mais aprofundada.

Como ele também não somos de todo bons ou maus. Acho que nossos sentimentos não se reduzem a essa perspectiva simplificada. Até porque o que tomamos como “bem” ou “mal” nada mais é que definições que foram se articulando a partir de conceituações dadas por pessoas tão humanas e imperfeitas como qualquer um de nós. E obviamente, se nos lançarmos a uma pesquisa sobre tais termos veremos que eles constantemente foram se ajustando em situações específicas, de acordo com interesses daqueles que estavam no comando de governos, religiões ou em acordo com as necessidades das diversas sociedades.

Não nego que existem atitudes consideradas “boas” ou “más”. Porém pergunto: como assim foram definidas?

Acredito que em alguns casos como necessidade da própria espécie humana, como por exemplo, a rejeição ao homicídio dentro da vida civil. Em outros, devido a identificações culturais, tais como algumas das restrições religiosas. Porém, o tipo mais questionável e muitas vezes perverso é aquele se dá por meio político e / ou ideológico e que serve como instrumento de consolidação do poder.

Isso se vê na atribuição de imagens maléficas para aqueles que manifestam algum tipo de objeção divergente. Cito neste caso, a construção do árabe como inimigo da civilização ocidental, o que é de uma arbitrariedade estúpida. Quem disse que nossa forma de compreender o que é civilização é ideal a todo o mundo? Por sua vez, se os países “civilizadores” tivessem um respeito maior pela diversidade cultural, além de não tentarem garantir a qualquer custo sua lucratividade no Oriente, o mundo não seria um lugar de mais paz?

Freud supunha que todos temos algo de perverso. Porém, não é preciso pensar muito para verificarmos que se manifestássemos essa perversidade a todo instante a vida em sociedade seria impossível. Já pensou se não resistíssemos a nossas pulsões sexuais e a saciássemos quando bem nos conviesse? Ou ainda, se sempre agredíssemos alguém quando sentimos raiva?

Enfim, se existe, prefiro pensar que a bondade resida nestes termos: a capacidade de melhor nos relacionarmos e nos solidarizarmos com os outros e na consequente compreensão de que somos integrantes de uma coletividade. Coisas que são bem difíceis numa sociedade tão individualista e que as pessoas mal compreendem a si próprias. Além do que, se assim ficamos, nos afundamos ainda mais nessa contradição e estranhamento de nossos “eus” e com o que definem como “mau” e “bom”. Sem nunca nos atentarmos que tudo isso nos compõe e nenhuma dessas facetas se cliva ou se exclui.

Talvez ter esse entendimento sirva para que não nos tornemos Duas-Caras enrustidos...

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domingo, 5 de abril de 2009

Velharia da Semana #6 (Álbum Musical: Loki - Arnaldo Baptista / Filme: Mephisto)

Pois bem. Como semana passada eu não consegui postar a "Velharia da Semana", por estar envolvido com o projeto do Lado B (novo blog que participo), hoje trarei aqui dois trabalhos que considero geniais.

O primeiro é o álbum Loki do Arnaldo Baptista, gravado em 1974. Ex-líder dos Mutantes, ex da Rita Lee e talvez o artista mais genial do rock nacional (apesar de ser geralmente bastante injustiçado e não tão reconhecido quanto deveria ser).

front

Capa de Loki. Clique para ver a imagem ampliada.

Faz um bom tempo que conheci e me tornei  fã dos Mutantes, antes mesmo de ter começado essa "ondinha de festins" sobre eles, em especial nos meios universitários. Mas, confesso, mesmo tendo sempre ouvido falar, que só fui ouvir este trabalho do Arnaldo por esses dias agora.

Também não tive a oportunidade de ouvir os trabalhos dele solo ou com a banda Patrulha do Espaço. Porém, acho que já ouvi Loki umas trinta vezes ou mais, e é uma das coisas mais lindas que já entraram pelos meus ouvidos.

Gravado meio que às pressas, por um artista cheio de problemas pessoais e parecia querer se expressar o mais urgentemente, reflete sua angústia e sua genialidade. Destaque para o piano de Arnaldo e para o fato de que quase todas as músicas não usam instrumentos de cordas (à excessão da última faixa "É fácil", que é usado um violão de 12 cordas, tocado pelo próprio Arnaldo). Além, é claro das letras que além de serem lindas, são muito pessoais e representam o momento conturbado que ele vivia, em especial devido às drogas e ao fim dos Mutantes e do casamento com Rita Lee.

Como eu sou um cara muuuuito legal vou deixar aqui as faixas do álbum para quem se interessar, além de uma amostrinha para vocês ouvirem enquanto falarei de Mephisto.

Faixas do Álbum:

1. Será Que Eu Vou Virar Bolor?

2. Uma Pessoa Só

3. Não Estou Nem Aí

4. Vou Me Afundar Na Lingerie

5. Honky Tonky

6. Cê Tá Pensando Que Eu Sou Lóki?

7. Desculpe

8. Navegar De Novo

9. Te Amo Podes Crer

10. É Fácil

Ouça: Será que Vou Virar Bolor?

 

 

Agora vamos a Mephisto. Apesar de nem considerá-lo um filme tão "velharia" assim (é de 1981), não poderia deixar de falar dele, já que é um dos melhores sobre o nazismo que pude assistir.

mephisto

Mephisto. 1981. Clique para ver ampliada.

É ainda uma crítica à alienação e ao alheamento político. A história do filme é mais ou menos assim:

Durante o período entre a Primeira e a Segunda Guerra, um ator de teatro que não tem uma grande convicção política constrói sua carreira até o momento em que o Nazismo ascende na Alemanha. Com o tempo ele se tornará o artista mais apreciado em todo o país e tidos como um dos exemplos para o regime.

O que ocorre é que com isso é constantemente obrigado a abdicar de pessoas que ama e de algumas de suas poucas convicções políticas. Sua esposa, por seu passado ligado a esquerda é obrigada a se refugiar na França. Sua amante, por ser negra, também é obrigada a sair do país, por imposição das autoridades nazistas que diziam que aquilo poderia manchar a reputação do regime e do próprio artista para com a sociedade.

Mephisto foi produção conjunta entre Áustria, Hungria e Alemanha e foi dirigido por István Szabó. O nome é uma alusão ao personagem Mephistófeles, o demônio que compra a alma de Fausto no clássico de Goethe[disponibilizada on-line nesta página do site da UFSC]. No filme, interpetando Mephisto é que o personagem principal do filme iria ver sua carreira se consolidar.

E então é isso. Assistam se possível, porque é um filme excelente, tanto na sua estética, pelas brilhantes atuações e também pela belíssima fotografia.

Por hoje é só. E quem puder, dê uma passadinha amanhã no Lado B, pois é meu dia de postar. Abraços!

domingo, 15 de março de 2009

Velharia da Semana . # 4 (Easy Rider - Sem Destino)



Quem tem acompanhado aqui deve ter reparado que a tendência da sessão "Velharia.." tem sido de que em uma semana eu posto um filme e na outra algo relacionado a música.

Pois bem! Esta semana trago os dois de uma só vez!

Até porque se Easy Rider é um filmaço, sua trilha sonora não fica muito atrás. Sendo que alguns a consideram a melhor da história do cinema.


Leia ouvindo!

Já tratei brevemente deste filme numa postagem anterior que discutia a questão da liberdade. Porém, muito mais do que um hino à própria liberdade, Easy Rider é também uma brilhante crítica ao modo de vida estadunidense, ao consumismo, ao preconceito e à sociedade.

A base do roteiro é relativamente simples. Dois caras (Bill & Wiatt), após terem ganhado uma boa grana com a venda de drogas para um sujeito, saem com suas motos pelos EUA. Porém, muito mais do que narrar a viagem de dois porra-loucas motoqueiros o filme de Denis Hopper e Peter Fonda (que também fazem o papel dos dois personagens principais) se demonstra brilhante na articulação dos diálogos e na relação entre imagem e música.

Um dos melhores diálogos se dá entre os dois motoqueiros e George Hanson (interpretado por Jack Nicholson), um advogado alcoolatra que acaba seguindo viagem com eles. Transcrevo aqui:
Justificar--------------------------------------------------------------------------------------------

George: Sabem, este país já foi muito bom. Não entendo o que está acontecendo com ele.
Billy: Todos viraram covardes, é isso. Não podemos nem ficar num hotel de segunda, aliás, num motel. O cara achou que a gente fosse matá-lo. Eles têm medo.
George: Eles não têm medo de vocês, mas do que vocês representam.
Billy: Cara, para eles, só representamos alguém que deveria se cortar o cabelo!
George: Não. Vocês representam para eles a Liberdade.
Billy: E qual o problema?! Liberdade é legal!

George: É verdade, é legal mesmo. Mas falar dela e vivê-la são duas coisas diferentes. É difícil ser livre quando se é comprado e vendido no mercado.Mas nunca diga a alguém que ele não é livre… Por que ele vai tratar de matar e aleijar para provar a você que ele é. Eles falam e falam sem parar de Liberdade Individual… Mas quando vêem um Indivíduo Livre, ficam com medo.
Billy: Eu não boto ninguém pra correr de medo.
George: Não. É você quem corre perigo.

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Como já disse, a trilha sonora é um dos destaques. Se não bastasse a música Born to be Wild, da banda Steppenwolf, que se converteu num hino às motocicletas, tem ainda muita coisa boa. Passando do Folk ao Psicodélico, temos uma série de clássicos do rock tocados por Bob Dylan, The Experience Hendrix, The Band, The Byrds e Roger McGuinn. [Clique aqui para ver a lista com todas as músicas.]

Curiosidades:

- Apesar de não ter levado a Palma de Ouro, Easy Rider foi aclamado em Cannes.
- Foi o filme que converteu Jack Nicholson à condição de astro, devido a sua brilhante atuação como o advogado que encontra os dois motoqueiros e segue viagem com os mesmos.
- Diz-se (não tenho fontes confiáveis) que os atores realmente consumiram maconha durante as filmagens. Eah... (Dar realismo ao filme é importante, né? rsrs)
- A motocicleta dirigida pelo personagem interpretado por Fonda recebeu o apelido de Capitão América, devido ao fato de ter sido toda estilizada a partir da bandeira do EUA.


- Os nomes dos dois motoqueiros são uma alusão aos dois maiores foras-da-lei do Velho Oeste norte-americano: Billy, The Kid e Wiatt Earp.


Easy Rider é um clássico do cinema. Quem realmente curte não pode deixar de ver, há uma série de cenas geniais. E quem curte um bom rock também não pode deixar de conferir a trilha sonora. E eu fico por aqui, ouvindo algumas coisas dela e curtindo esse domingo morno. hahaha! Abraços !



sábado, 28 de fevereiro de 2009

Velharia da Semana . # 2 (Metropolis)



Esta semana vou colocar aqui um filme que gosto bastante: Metropolis.

Ainda me lembro a primeira vez que peguei para vê-lo. Logo vi o tempo de duração, constatei que era meio e longo e pensei: "Eah... acho que vou assistir isso parcelado em duas ou três vezes".
Afinal, estava vendo mais por obrigação, para entender um pouco melhor o que seria o tal do expressionismo alemão.

O que ocorreu é que esse filme mesmo sendo mudo, mesmo sendo em preto e branco e mesmo longo conseguiu me prender de tal forma que o vi de uma vez só (o.O) e deste então figura na minha modesta lista dos melhores filmes que já tive a oportunidade de ver. E isso tanto no que se refere ao que concebo como uma trama bem construída, tanto no que se refere ao excelente trabalho do diretor Fritz Lang em elaborar toda a áurea de uma cidade futurista que até hoje chega a impressionar quem vê.

Enfim, não vou chateá-los me alongando ainda mais sobre minhas impressões pessoais. Vou deixar aqui algumas imagens, uma breve sinopse, a ficha técnica e algumas curiosidades. E assistam se possível. Pois vale muito a pena para quem gosta de cinema de verdadeira qualidade.


Ficha Técnica

Título Original: Metropolis
Mudo / Preto e Branco
Gênero: Ficção Científica
Tempo de Duração: 100 minutos
Ano de Lançamento (Alemanha): 1927
Site Oficial: www.kino.com/metropolis
Estúdio: Universum Film S.A.
Distribuição: Paramount Pictures / Kino International
Direção: Fritz Lang
Roteiro: Fritz Lang e Thea von Harbou - baseado em livro de Thea von Harbou
Produção: Erich Pommer
Música: Gottfried Huppertz
Fotografia: Karl Freund e Günther Rittau
Direção de Arte: Otto Hunte, Erich Kettelhut e Karl Vollbrecht
Figurino: Aenne Willkomm

Elenco
Alfred Abel (Johhah "Joh" Fredersen)
Gustav Fröhlich (Freder Fredersen)
Brigitte Helm (Maria / Robô)
Rudolf Klein-Rogge (C.A. Rotwang)
Fritz Rasp (Slim)
Theodor Loos (Josaphat)
Heinrich George (Grot)
Erwin Biswanger (Georg)

Sinopse:

Enquanto os mais ricos vivem em magníficos arranha-céus numa cidade futurista do ano de 2026, os demais são obrigados a trabalhar isolados em seus subterrâneos. Esses operários veneram uma jovem, chamada Maria, e a seguem fervorosamente.
Um cientista cria um robô capaz de imitar perfeitamente um ser humano. Joh Fredersen, governante maior da cidade, ao descobrir a influência de Maria junto aos operários ordena que seja escondida e que tal robô fique no lugar dela e com isso faça com que os trabalhadores sigam o que ele bem entender.
O que não esperava no entanto é que seu filho, Freder, ao se aventurar pela Cidade dos Operários fosse se apaixonar pela verdadeira Maria.



Curiosidades

- Metropolis paradoxalmente costuma ser tido como expoente máximo do expressionismo alemão e ao mesmo tempo como momento derradeiro do movimento. Outros filmes expressionistas: O Gabinete do Dr. Caligari, Nosferatu, M - O Vampiro de Dusseldorf, Fausto, Nosferatu.

- O filme impressionou tanto a Hitler que este chegou a pedir que Goebbels, seu ministro do Povo e da Propaganda, fosse atrás do diretor Lang para que fizesse filmes para o Partido Nazista. Lang então saiu do país, onde chegou a criar filmes contra o próprio nazismo. No entanto, sua esposa The von Harbou, que simpatizava com os nazistas acabou aceitando a proposta e trabalhando para eles.

- À época, devido principalmente aos custos com cenários e a o grande número de figurantes, Metropolis foi a produção mais cara produzida na Europa.

- Fritz Lang não gostava da solução "conciliatória" que a esposa, que escreveu o roteiro, deu ao filme e à luta de classes. Chegava inclusive a afirmar que o final era falso. A mensagem contida no final se tornou célebre: "O mediador entre o cérebro e as mãos é o coração".

Bem... por hoje é só. Até a próxima.

P.S.: Eu não me esqueci dos selos recebidos esses dias. Vou dar um jeito de postá-los amanhã no máximo.


Abraços
.

Fontes
- Guia de DVD - 2002. Ed. Nova Cultural.
- Adoro Cinema
- Wikipedia
- Cinematógrafo

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Mídia, poder, manipulação da informação.

Créditos pela Imagem: Daia_alala

Como a mídia tem desempenhado seu papel nas últimas décadas?
Terá agido de uma forma mais especulativa e manipuladora ou terá realmente cumprido aquilo que geralmente as pessoas esperam dela (fornecer informações com isenção e profissionalismo)?
O estudioso francês Michel de Certeau ao analisar o ofício do historiador, destaca que este não é um ser isolado de um contexto social específico. A instituição de ensino, os estudantes, os companheiros de trabalho, as metodologias aceitas dentro do campo profissional e a produção intelectual difundida vão todos intervir na própria produção de qualquer que seja o historiador. Logo, um trabalho que venha a elaborar jamais poderia se caracterizar como neutro, mesmo que queira, afinal é um ser que fala de um lugar social com interesses e motivações próprias.
O próprio estabelecimento de um ponto intermediário seria arbitrário, pois levaria em conta uma concepção pessoal do que seria um meio termo e posições extremas. Afinal, não é o próprio profissional que traça esses pontos? Oras, os critérios que foram usados para estabelecê-los não são particulares e afetados pelo lugar social de onde ele fala?
Além disso, uma questão em análise sempre é muito mais ampla do que nosso costumeiro maniqueísmo pode admitir (não seria de bom senso reduzir algo a uma perspectiva de bom ou mal simplesmente).
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Voltando às questões chaves do texto, creio que, mesmo se tratando especificamente do ofício do historiador, esta é uma perspectiva que muito bem serve para se indagar o quanto a imprensa e a mídia podem assumir um papel crucial na vida social de uma população.

Vejamos. Todos os dias vemos nos telejornais uma série de notícias escolhidas previamente pelos redatores, diretores, jornalistas e executivos das emissoras. Logicamente, a maioria dessas empresas são privadas e seu principal objetivo é lucrar. Afinal, qualquer empreendimento capitalista funciona dessa forma. Certo?

Pois bem... Agora lhes pergunto: será que essas organizações irão difundir informações que prejudiquem a si mesmas ou àqueles que lhes geram renda?

Por sua vez, essas mesmas empresas que nos levam informação (emissoras, editoras, etc) estão geralmente em articulação com setores predeterminados. Partidos e seus políticos, outras empresas privadas, anunciantes e uma série de outros grupos coligados. Como esperar que elas possam ir à contramão dos interesses desses setores?
Pode se concluir através disso que qualquer informação divulgada é seletiva. Se chega a público é porque foi aprovada por um grupo que detém o poder de propagá-la e logicamente não a disponibilizará se ela contradisser seus projetos.

Vou lançar aqui alguns exemplos, reais e ficcionais, sobre o quanto a mídia pode ter poder sobre a vida das pessoas e maneira em que se pensa coletivamente.

Orson Welles já fazia uma severa crítica à imprensa em Cidadão Kane (Citzen Kane, 1929). Neste filme, demonstra a ascensão de um empresário do ramo jornalístico que começa como dono de um pequeno periódico e acaba se tornando dono de um império das comunicações, chegando a se candidatar para a presidência dos EUA.
Para Kane o que importa é a vendagem de seus jornais e de própria imagem através deles próprios. A partir disso consegue forjar informações como bem entende e manipular como bem queria a opinião pública a seu favor.

Com inspiração neste filme a BBC de Londres lançou nos anos 1990 um documentário sobre a televisão brasileira e a forma como age junto a seus telespectadores. O próprio título, “Muito Além do Cidadão Kane” (Beyond Citzen Kane, 1993), é uma alusão ao poderio do empresário Roberto Marinho, falecido dono das Organizações Globo. Destrinchando desde a forma com que foram se estabelecendo as relações das redes de TV brasileiras e o governo ditatorial (pós-64) e o seu próprio papel junto à sociedade, muito mais centrado no entretenimento de pouco conteúdo do que na informação e programação de qualidade, esse documentário nos mostra uma série de casos que permanecem escondidos junto à boa parte do povo brasileiro.

Não por acaso, os interessados em que essas informações não chegassem aqui tentaram de várias maneiras impedir que o documentário fosse distribuído no Brasil. Sendo que até hoje a exibição do documentário é proibida, ocorrendo apenas por meio de cópias piratas ou em sites como o Youtube.

Esses dois filmes sintetizam os próximos pontos que quero lançar mão: A relação entre o poder, a manipulação da informação e o modo como isso pode ser prejudicial a alguns, muitas vezes inocentes.

Um filme que nos oferece uma visão interessante disso é “Bruxas de Salém” (The Crucible, 1996) que mostra como uma informação manipulada pode trazer sérios danos a algumas pessoas ou grupos, mesmo que muitas sejam inocentes de acusações que lhe são atribuídas.

No filme um grupo de garotas de uma pequena cidade muito conservadora do interior dos EUA é pego praticando bruxaria. Uma das garotas entra em choque e fica numa espécie de coma por um longo tempo.

Créditos pela imagem: romulusnr


A garota que as lidera, então faz uma série de acusações infundadas contra pessoas que moram na cidade. Pouco a pouco, as mesmas pessoas com que tinham boas relações a pouco começam a atacá-las e se inicia uma cruzada contra os supostos feiticeiros. Qualquer pessoa que tiver alguma atitude suspeita pode ser acusada e o critério é apenas o julgamento unilateral dos que estão no poder. Quem detém ou pode usar a informação tem poder. E este deve ser usado de maneira responsável evidentemente.

Crítica sagaz e alusiva ao período do macarthismo estadunidense, nos mostra como uma informação veiculada junto a sociedade sem critérios ou com interesses específicos pode ser extremamente prejudicial. Casos semelhantes ocorrem dia após dia. E o pior é que parece haver pouco aprendizado diante disso. A especulação e a pouca responsabilidade de alguns profissionais da imprensa (claro, é bom ressaltar que não são todos), ainda é uma constante...

No Brasil, um dos casos mais notórios foi o da Escola Base, uma escola infantil em que os profissionais que ali trabalhavam sofreram uma série de acusações de abusar sexualmente das crianças que estavam sob sua responsabilidade. Depois de um longo processo, os funcionários foram inocentados por falta de provas. Além do caso ter sido objeto de uma série de trabalhos na área da psicologia e psiquiatria sobre temas como "transe e histeria coletiva" e "cultura da delação".


Os funcionários da escola foram inocentados. Mas será que depois de tudo aquilo adiantaria muita coisa? Depois de tudo o que fora mostrado pela imprensa, a escola já não teria como se restabelecer. Além de tudo, os suspeitos dos crimes já haviam sido vítimas de uma série de represálias da sociedade. Sabidamente, este tipo de crime não é perdoado pela moral social, e assim sendo as pessoas são capazes de cometer grandes atrocidades contra pessoas acusadas de crimes semelhantes e isso mesmo quando não há provas suficientes. Um apelo de um pai confuso diante de algo contado pelo filho é suficiente para que um sem número de pessoas se manifestem contrárias e dispostas crucificar os supostos envolvidos.

Fica evidente que uma informação pode destruir vidas, pode eleger o próximo presidente, pode enfim mudar o rumo como nós mesmos tomamos a vida. E nada se diz sem alguma intenção...

Obviamente não sou paranóico a ponto de dizer que tudo que é divulgado por aí é mentira, mas posso afirmar que existe uma clara intenção em se ocultar determinadas informações e outras vezes uma série de outras é transmitida sem que haja uma investigação minuciosa que objetive a apuração séria dos fatos.

Porém é necessário que aquele que recebe entretenimento e informação comece a questionar o que é oferecido por aqueles que os fornecem, em especial os grandes jornais e emissoras de rádio e de televisão.
Enquanto isso não ocorre continuamos como meros absorvedores daquilo que nos jogam e perdemos a capacidade de pensar por nós próprios... E quem recebe informação, mas não é capaz de racionalizá-la não é muito mais genial que uma máquina que armazena dados.

Vou deixar dois vídeos que achei interessantes sobre os temas:


"A massa discute a manipulação da mí­dia?" O documentário é um ensaio experimental sobre opiniões populares a respeito do poder de influência dos grandes meios de comunicação" - Vídeo interessante que trata do tema. Confira!




Primeira Parte de "Além do Cidadão Kane" no Youtube.




Até a próxima.

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* Os vídeos e imagens são propriedades intelectuais de seus devidos criadores.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Liberdade .




créditos imagem: freedom toast



O que é liberdade?

Difícil defini-la...

Sei que nos é cara e para quase todo mundo como algo inerente a uma boa vida. Mas sendo bem franco: nunca vi um tema que assumisse um caráter tão contraditório quanto ela.

Não que esteja dizendo que ela tenha um sentido que não o de “desprender-se” de algo. Mas esse “algo” é que chama a atenção.

A busca pela liberdade já sinalizou lutas muito caras para a humanidade no decorrer da história. Seja a luta por uma “liberdade burguesa”, proveniente das revoluções francesa e estadunidense, que liberta um grupo (burguesia), deixa tantos outros setores com uma liberdade bem mais restrita.

Seja nas revoluções comunistas / socialistas que se pretendiam libertar seu povo, mas que na realidade se revelaram tão ou mais opressoras que as daqueles que combatiam. E seja ainda nos outros diversos sentidos que a palavra “libertação” assume um significado que motiva as pessoas a buscá-la (espiritual, financeira, emocional, moral, etc.).

Essa diversidade de modos de pensar assume algumas conotações bastante interessantes. Gostaria então de expor duas delas que me fizeram refletir um bocado e por isso achei que seria legal compartilhá-las com quem tiver alguma paciência.

Créditos Imagem: emdot.

O filme Easy Rider – Sem Destino (1969), por exemplo, para mim é uma metáfora de um dos significados da liberdade. A principal idéia é que as pessoas temem a liberdade.

A sociedade repugna todo aquele que não adere aos moralismos, às regras, às formas de agir e a quaisquer outras formas consolidadas pelo senso comum.

Neste filme, em praticamente todas as cidades em que param dois motoqueiros, interpretados por Dennis Hopper e Peter Fonda, estes são vistos como uma espécie de ameaça.

Os cabelos grandes, as roupas, as motos e todo seu visual passam para as pessoas um certo medo. Medo que um terceiro personagem, interpretado por Jack Nicholson, expõe que não advém das características físicas dos personagens, mas daquilo que representam: a própria liberdade.Ele inda conclui que as pessoas vivem falando daquilo que ela significa individualmente, mas quando veem um indivíduo verdadeiramente livre o rechaçam. E quem corre perigo, na verdade, é o próprio tipo de pessoa que os “homens comuns” temem, afinal farão de tudo para excluí-la. E ainda diz mais: “Mas nunca diga a alguém que ele não é livre. Ele o aleijará e matará para provar que é”.

Outra visão interessante é expressa no documentário “Metal – A Headbanger’s Journey” (2005) que trata do estilo de música Metal e também da forma como o encaram seus fãs. De um modo geral, neste filme, há uma ideia de que esse estilo é uma verdadeira expressão de uma postura libertária perante a sociedade.


créditos imagem: Vrede Van Utrech


A música, o visual, a maneira de agir, é encarada por muitos dos fãs como uma maneira de chutar o mundo e suas regras para escanteio. Você não precisa curtir Malu Magalhães, Back Street Boys, Britney Spears, funk e axé apenas porque a maioria das pessoas diz que é legal. Mesmo que não gostem e o excluam por causa disso, é uma decisão sua ouvir e agir da maneira que bem entender. Da mesma forma, se as pessoas entendem que esse tipo de música é agradável, também não cabe a qualquer um interferir nessa escolha.

De um modo geral mesmo tratando de headbangers especificamente, creio que este filme demonstra de forma muito eficaz o que representa assumir uma postura social que não condiz com o que a maioria pensa. A sociedade sempre cuidou de marginalizar o diferente: seja gay, punk, oriental, latino, nordestino, negro ou qualquer tipo que não integre o círculo padrão das relações sociais.

E à medida que se repreende alguém pelo que é, também se reprime a maneira do outro agir como bem entender. E a própria liberdade pessoal de se tomar um rumo semelhante num momento posterior, já que se não aceito o outro como ele bem é, também não posso adotar semelhante postura. Ao delimitar as rotas que alguém deve seguir, também delimito as trilhas pelas quais eu próprio posso caminhar.

Que liberdade é essa então? Uma liberdade ilusória e restrita e que não se baseia na compreensão da liberdade do outro? Se for esse o sentido de liberdade individual, creio então que as pessoas jamais deveriam fazer uso dela.

Somos também seres dentro de uma coletividade e como tais, devemos pensar também numa libertação da sociedade como um todo.

Uma liberdade que não seja libertina e que não ocorra o desrespeito ao outro. Uma liberdade em que talvez esteja delimitada a algumas regras e restrições (claro, não seria legal se você saísse matando indivíduos e os desrespeitando por considerar isso uma forma de expressar que é livre), mas onde também exista o espaço para que cada um possa se expressar e agir da maneira como lhe convier sem ser alvo de preconceitos e moralismos impostos pela sociedade.

Enquanto isso, seguimos fantasiando uma liberdade delimitada por enormes muros de hipocrisia. Afinal, não é este um mundo de aparências? E se assim é, parece ser muito mais cômodo passar para os outros que se é livre, do que verdadeiramente ser.






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