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terça-feira, 5 de janeiro de 2021

aceitação

 Não tem sido fácil aceitar.

É o pensamento que vai e que volta.

Às vezes ele dá um tombo em mim.

Não tem sido fácil aceitar.

Eu quero sair daqui e chorar.

Mas quero viver amar.

Não tem sido fácil aceitar.

O medo de tudo ser sempre assim.

e de pouco em pouco machucar.

Não tem sido fácil aceitar.

O soco no estômago,

o chute nas bolas,

o rosto surrado,

o corte nas costas,

o pescoço sangrando,

as orelhas torcidas.

Não tem sido fácil aceitar

Porque a lágrima vem e rola

Porque o choro brota e engasga

Quero cair...

Mas também quero levantar.


domingo, 27 de março de 2016

ment(e)ira

meu medo é insegurança de mim
forjo desconfianças em outrem
por não saber me acreditar

êta vida leva
e só leva
leva esses lampejos dissabores
que nem fazem razão de pensar

da sabedoria que fortalece o engano
vem o pensamento sem mundo
que se revela tão absoluto insano
e se descola do real de ser

segunda-feira, 14 de março de 2016

de(mente) em tempo


às vezes um algo me come
sentimento que botaram nome
que responde por solidão
e que provoca memórias
e os machucados de tempo

meu semblante interno
com calos de espinhos
ninguém se demora
ao ver interstícios vazios
e o vão que apavora

a saída da angústia
não tem uma porta
tampouco uma rota
pra algo que importa
pra se impor novas cores

a palavra tem seu tempo
diferente das coisas
que tem própria história
porém uma corrói a minuto

e outra esmaga a gente


Uberlândia – 14/03/2016 – 22:59h

domingo, 29 de novembro de 2015

desbancarramentos


há um fio que se faz rubro
há um rastro de sangue
que se tenta sumir
que se tenta apagar

não é sangue morrido
é sangue que se mata
descontínuo na alma
interrompido em vida

é um lamento a torto e esquerdo
que se conflagrou derrotado
persistindo em gritos latentes
que se tapam mas não calam

são esses vestígios que assombram
com lembranças que assolam
que nos soterram a gente
de passado vivente e presente ausente


Uberlândia, manhã de 29/11/2015. 

domingo, 26 de julho de 2015

temporal

ah tempo
faz um favor
dispare sem eu ver
pra gente ser encontro

oh tempo
que voou recentemente
agora anda lento
e eu meio sem alento

ah tempo
seja vento
passe sem eu ver
pra ela não estar distante

oh tempo
fuja do relógio
exploda o calendário
pra ser agora nosso amor

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Giovana

É diferente amar e sentir que é de verdade.
Amar exige paciência e dedicação.
É moldar a cada instante lentes novas pra fazer ver o mundo melhor.
Amar é perdoar. É deixar pra trás o que não serve mais.
É fazer o carinho cada dia maior.
É poder ser quem você é.
É não se ver tão só no mundo.
Amar é entender a outra pessoa no tempo que tiver de ser.
E quando for o tempo de ser entendido também isso receber.

Amar para mim é ter encontrado a garota de olhos profundos e às vezes tristes
que não são vistos às vezes pelo seu sorriso ensolarado
É me sentir abraçando o universo quando estou com ela
É saber que ela vai me ouvir e me compreenderá
É crer que temos uma longa estrada a caminhar
Amar é entregar-me a ela camada por camada
É dispor-me das minhas defesas, de minhas amarras
É querer renovar-me e vencer meus medos e limites

Amar é ver o beija-flor que há muito tempo se queria ver
que veio pra anunciar duas vezes a felicidade que teremos
É compor notas e acordes novos para a vida
É sentir que caminharemos muitas vezes pela orla do mar
e que andaremos desfilando sonhos e esperanças por aí
Rir-nos de em tão pouco tempo nos imaginarmos daqui a 10 ou 20 anos juntos
e levarmos a sério que de repente isso pode mesmo ser.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

assisti-la

Precisava de ar.
Não lhe caía bem se sentir sufocada, engolida, apertada.
Mas queria um chão, um pouquinho de segurança.
Tremia às vezes por estar em meio às bagunças da superfície.
Queria mergulhar. Só que cada vez que mergulhava se perdia no fundo da piscina.
Nem fundo demais, nem no imediato demais - dizia.
Só que não encontrava o calibre certo.
Nem um bom lugar para ficar.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

em nós

perambulo em ônibus
e vejo faces tristes
unidas em suas solidões
trafegando em desesperanças
que as isolam entre si

pare o trânsito!
é preciso colher a flor
cessar o tempo
olhar nos entremeios de suas pétalas
no assustador dos vazios de sua beleza

a superfície acomoda
faz respirar fácil o ar
só que soterra nossos templos
faz chão o que há de nós
come nossa paixão de mundo

pare o trânsito!
não deixem que a esmaguem
é preciso tocar a flor
e beijar a flor
deixar crescer e ser

deslizo dedos em seu caule
corto-me em espinhos
e pela epiderme escorre o vinho
e a abertura que se faz pequena
se fará uma marca grande

pare o trânsito!
é preciso amar a flor
ela não está ali no asfalto
está bem dentro de nós
por que queremos ceifa-la?


Uberlândia, 15/06/2015 – 06:05h

quarta-feira, 10 de junho de 2015

ver a gente

eu vejo como bonitas as pessoas
cada uma se criando encantada
no espaço entre a crueza e o delírio da vida
trafegando no infinito desses pontos

não se adianta ser o que não é
nem presta muito ser o que não se quer
é que uma vida vai embora num instante
igual tempo que lágrima desce d’olhos

tudo o que guardo em mim nem sempre ficará
e às vezes jogo no lixo o que não serve mais
é um ritual que faço em mim para carregar
a angústia no peso que consigo as levar

já fui ao lugar onde a dor mais consome
e  aprendi a viver quando tem de viver
deixando ficar quando tem de ficar
e ir embora quando tem de ir

pras pessoas há um sofrer latente
que todo mundo quer escapar
e ninguém quer muito observar
pois é como um espelho de si só

a solidão tem horas que acalenta
e o sorriso por vezes entristece
porque somos feito  grama verdinha
que um boi no amanhecer vai pastar

tudo que se constrói um dia se desfaz
e se o que se grava de algum jeito ficará
a realidade corrói as possibilidades
mas mesmo nessa toada as pessoas continuam bonitas



Diego Leão – 07/06/2015

sábado, 30 de maio de 2015

abraçar sem prender

Hey, menina. O que está errado?
Pode a vida ter algo certo?
Eu já disse o que gostaria de ti.
Poderíamos tentar
A despeito de não sabermos o que será

Hey, menina. Esse é o jogo da vida.
Esmaga e morre, soçobra o mundo.
É inevitável o que há porvir
Toda ação desperta uma reação
Responsáveis somos por nós mesmos

Hey, menina. Eu não sei o que será.
Eu não quero tornar poema terapia
Só que é preciso marcar o que se passa no peito
Agora a lua é clara, mas se faz nova sinistra
Hoje há aperto no peito, mas podemos recomeçar

Hey, menina. Eu sei que te quero.
Só que não nasci para aprisionar
Um beija-flor morre em gaiola
E seguro nas mãos perde o ar
Venha a mim, mas só se desejar

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Ela e o Mar

Antes de dormir, cabe um poema?
Com letras maiúsculas no início dos versos
do jeito que eu nem faço mais

É que toda vez que ela vai embora
É como se eu olhasse a me despedir do mar
Admirando a vastidão e sem saber
Se um dia de novo vou poder lhe contemplar

Mesmo que partisse no horizonte
E eu ficasse triste a ver navios
Queria que enfim se descobrisse mar
E não se ativesse tanto ao seu vai e vem de marés
É que mar é como amar e é assim: instável
Dissolve o medo que nunca toma parte de sua natureza

Todo mar  vai ao longe e em profundezas
Tem o fantástico e profundo dentro de si
E deságua sempre em incomensuráveis oceanos
Assim como você vive e quer se fazer ser



domingo, 24 de maio de 2015

sem lugar - sem imagem


Você se preocupa por não saber o que quer. Eu já não me preocupo em querer. Apenas quero, apenas sou. Levo-me na levada do vento. Sofro os horrores óbvios. Vivo as alegrias do ópio momentâneo.
Percebo o milímetro e o imperceptível. Emerjo do abissal.  

Tem minutos que me canso, em outros crio ânimo. Desisto, resisto, insisto. Sou todos e todas. Meus erros são os erros do mundo. Meus acertos são insinuações do acaso.

Nunca estive muito certo do que sinto. Aprendi a não dissipar ou temer. Aprendi a não me prender demais. Aprendi coisas que julgo ter me tornado, mas as erro a todo instante. Sinto ciúme, sinto decepção, sinto raiva, mas me anestesio das feridas logo em seguida.  O desapego constituiu-se como minha regra.

Sinto repulsa da estupidez de sua dissimulação fracassada. Logo, compadeço e reconheço-me quando percebo não ter certo em que ponto não faria o mesmo. Em que medida, em que peso, vale a pena se agarrar aos prazeres? O gozo não se troca em papel moeda, mas tem seu preço caro.

Engulo o soluço de lágrima engasgada. Respiro fundo. Engulo fumaça. Sorrio. Só rio. Sou rio.

No curso das águas trafegando em sentidos diversos talvez nos encontremos. Não me desvencilho do rumo de minhas correntezas. Nunca fixo no mesmo ponto, a despeito de vive-lo em máxima voltagem. É que em minha alma nômade, nenhum lugar será em algum dia o meu lugar.

Diego Marcos Silva Leão


24/05/2015 – 21:45h

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Não-lugar

créditos pela imagem: Mathieu Bertrand Struck


Inesperado. Repentino.
Como todo bom romance deve ser.
Reapareceu numa linha do acaso de beijos de tempos que tinham ficado já longes
Num tempo que tinha que ser. Na melhor hora para abraços de braços, de pernas e de almas.
Fez-se paixão nova, quando as paixões já nem pareciam ter tanto sentido. Girou a vida, girou o mundo, girou o sol.
Fez-se menina de olhos estrelados e mulher com desejo feito mar em cheia.
Tornou-se lua que em suas fases e faces, por vezes toca-me com seu brilho, por vezes some no céu. Recriou-se em suas tempestades internas, a querer destruições para se transmutar em construções.
Entregou-se.
Sempre. A. Cada. Instante.
Sentiu. A língua e o tato. A pele. Os dentes.
Ressurgiu. Sem forma. Sem lógica. Sem medo. Querendo apenas ser.
Fez-se uma sorte grande em tempos em que nos cassinos da vida, os jogadores sofrem de azar.
Requereu-se em encanto, uma magia: em toques que tornam desnecessárias palavras para expressar a verdade em sua forma mais íntima.
Fez-se beijo permanente nos lábios. Risada que ecoa na memória tão doce.

Fez-se enfim grande e denso. Para além do vento e do tempo.  Num não-lugar, onde libertar-se é uma rotina que se chama amor.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

sobre-palavras




Diz se das palavras muitas coisas. E chego a quase me contentar em segurança que sejam apenas o veículo com o qual escrevo este texto.
É que por vezes seria bom que tivessem uma fixidez mais sólida que a dureza estrutural que se pode seccionar a langue e parole. Pois, afinal, se fossem as palavras enrijecidas como pedra não haveria temor com qualquer corte que viesse delas.
Mas é que eu gosto... eu gosto do sangue que me extrai a palavra-navalha, que se corta e recorta e nunca sai na integralidade do meu pensamento. Porque na palavra eu sempre espero a mais pérfida traição que não é senão de mim mesmo. E nesse movimento se descortina o meu desengano, o desentorpecer com doses de realidade.
Nesse sentido, cada palavra machuca e esfacela a realidade, intervêm na ordenação que se inventa como lógica das coisas. Subverte a obviedade do que se diz natural, com ou sem a intenção de ser.
A palavra é um gemido que clama o ser para fazer-se humano. É como ambição nunca morrida por uma possível redenção para a vida com similaridade de emoção à de achar doce esquecido durante larica noturna.

Gosto da expressão palavra amiga, apesar dela me deixar entristecido. Nunca tomei um porre com uma palavra ao meu lado na mesa do bar. O máximo que fizemos juntos foi elas se confabularem em sons que mediavam o diálogo entre os que se embebedavam comigo.

Às vezes penso as palavras como se fossem um romance que se coloca ali bem distante. Pairando em mim com sua indiferença. Desenho-as e as declamo e estão no próximo instante bem fora de mim.
Todo calor que manifesta na palavra que digo num momento de prazer, jamais terá a mesma temperatura e sabor da pele. Mesmo que as palavras venham a tocar e a incendiar os desejos submergidos na mente.
Pa-la-vra (junção de sílabas, fonemas): um fragmento de fragmentos que não raro ousa tentar ser o mundo mas que nunca o será. Que nomeia o mundo. E que por vezes adjetiva-o como imundo a despeito de que para existir tenha de sugar muita coisa da beleza de mundo.
Palavra é um encanto que se joga para se cativarem paixões. A definição para paixões poderia ser: o momento quando todos os pontos lógicos da realidade parecem sumir. Contudo, as paixões são contraditórias. Pedem a todo o momento para se encarcerarem dentro de nós, mas com o tempo rebelam-se e desmantelam todas as grades que as impedem de se transbordarem em tamanho.
Palavra... soturna e às vezes gentil distorção do acontecido, do que se viveu. Esse vivido só ganha relevo para o homem ou para mulher, quando alguma coisa pode ser dita.

A neutralidade dos fatos (que são feitos existir) nada mais é que pintura descascada que tenta esconder a imanente dinamicidade da vida.

O ser humano só começa a irromper do casulo para ser libertação quando se esvai do falseamento de significados da palavra mecânica. O ato da palavra que antes era simples e até natural vai se fazendo pouco a pouco de modo a borboletear o que aparecia como a obviedade na forma de um negativo congelado do real, que agora apenas isso não pode mais ser. Pouco a pouco o ser pode dizer mais e mais que é este o seu mundo e que portanto pode mudá-lo e refazer as relações que o oprimem.


diego leão

segunda-feira, 6 de abril de 2015

questões burguesas

créditos pela imagem: Jose Maria Cuellar



você ou eu sou/somos só uma imagem
uma conveniente e fugidia ilusão festejante
atrapalhada pela chuva dos confetes de realidade
(nem toda festa é alegria)

diego leão






sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

contradições



meu desejo de não querer ter (ou ser) imagem
me conduz a ser imagem ainda mais fortemente

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

expectativa

atchim
vale lá longe
você já espirrou
o que já se quis
e estava ali tão junto
que só mais um pouco
e que lá ia
a mão apertava
e apertava também
o cardíaco bombeador
que estoirava e estourava

as batidas
explodiam
pra me espatifar
lá da minha horta
a aorta
a horta de parir os desejos
onde ficam as mudas
bem mudas
sem falatório
as mudas de querença
e de temperança
adubadas em tempero
e em esperança
ao sol germinando
do gérmen minando
as ervas danosas
daninhas
danando
comigo
com todos
com tudo

esse tudo que passa
esse tudo que voa
esse tudo que quero
esse tudo que é nada
que nunca se alcança
que ilude em sempre
deixa nas mãos
só uma marca
que logo se esquece
como um dia se fez
como se fez machucado
e fica um sempre
um ranço despedaçado
do que se quis
e jamais se será
e jamais se terá

é
em um espirro
em um só espirro

expectativa se morre

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

ruirá

                                                            Créditos pela imagem: Tanozzo

esse teto cobre céu
que pedra a lua
ruirá

por peso de lua
que estrela lamentos
ruirá

ruirá os penhores
que retêm corajosos
pra esmagar os receios
e esfumaçar extintores de medo

ruirá eu sei ruirá
as dívidas pros deuses
que pisoteiam as gentes
e envergam verdades

ruirá as paredes
dos quartos fechados
de enclausurados em si
de amores desapaixonados
em lacrimejo amarrotado
as feridas não machucadas
de cicatrizes imaginadas
de ousadias desacontecidas

ruirá eu sei ruirá
este poema
de palavras molengas
e ardor convulsionado
em explosão de lirismos
de avexo pra coração batucado
a cumprir tristes penas
por não caber por aqui
o que não caibo em mim

sábado, 21 de dezembro de 2013

imemorial

créditos pela imagem: Dan Barbosa

queria rabiscar memórias
que nunca as tive
em balcão a serem  trocadas
por uma morte a cada dose

queria pichar em vermelho
o ocre dos seios da cidade
tirar o verde lodo dessa lama
que agoniza nos banheiros

queria é passado imperfeito
e se pe(r)de em futuro incerto
um letreiro em letras mortas
um alento não afável

imiscível

créditos pela imagem: kinchloe

o amor e o capital
não se namoram
não se afagam
não se transam

não se enroscam
porque beijo de um
é morte pra outro
de volúpia descascada

as cifras da cabeça
são parvas abestadas
sem as notas do coração

papéis valoram desejos
mas não põem preço
em beijo acalentado


21/12/2013  __________________ TC, Uberlândia, 21/12/2013