Começo o dia com uma valente poda e com leituras, e encontro este texto que não resisto a trazer aqui:
de André Barata
Etimologia
Ir à procura de um étimo é como saborear a textura mineral de uma palavra. Descer escada abaixo na história dos seus usos e encontrar um fundo vivo como uma fonte. No grego antigo, etimon está pelo advérbio “verdadeiramente” ou “realmente”, e quem procura a etimologia de uma palavra pode ir no encalço de uma autoridade, mas melhor seria se fosse ao encontro do pulsar do sentido nessa origem.
Nas primeiras décadas do século sexto, Santo Isidoro de Sevilha escreveu uma obra precursora do saber enciclopédico a que chamou Etymologiae e que dedicou a um rei visigodo. A pretensão de autoridade estava lá, mas o que ficou foi um fascinante jogo de sentidos que só por acaso acertava. Por exemplo, “corpulento”, em latim corpulentus, significava, para o Doutor da Igreja, forte no corpo e lento nas pernas. E “oração” (oratio) era a razão falada (oris ratio). Nenhuma delas era verdadeira, mas a ressonância era vibrante, como se as palavras fossem pedaços de matéria a experimentarem-se juntos. Não é diferente com versos da poesia de Luiza Neto Jorge — “a divisibilidade: a visibilidade a dois”, “a sublimação: a sublime acção” — e com outros, como estes que reuniu no que chamou Revoluções da Matéria.
As palavras significam também a sua história de significados, usos e revoluções. Camadas de sentido que se depositam umas sobre as outras como minerais e assim se alimentam, ou passam testemunho, no dizer, no escrever, no ouvir. As falsas etimologias tapam as verdadeiras, mas nem por isso deixam de valer. A floresta nada tinha que ver com flores e sim com o domínio exterior, de fora (foris). Mas um “r” interpôs-se e deu-lhe uma graça que ficou no português e no espanhol, mas não no inglês ou no francês. E outro “r”, dos astros, intrometeu-se na nossa palavra “estrela”.
As palavras não têm uma essência límpida que a etimologia demonstrasse. Por isso, mobilizar a etimologia para invalidar usos de palavras não é caminho. Ainda há pouco, no Brasil, se discutia a expressão “criado-mudo” que significa mesa-de-cabeceira e se presumiu, erradamente, conter uma referência à escravatura. É referência à condição servil e à objectivação que toma pessoas por coisas. Mas o prisma deve ser outro. Mesmo se a etimologia fosse certa, a crítica deve resultar quando as palavras significam agressão e o seu uso é de violência. Se perseguirmos as etimologias para invalidar usos estaremos a essencializá-los. Façamos a crítica às palavras que realmente exercem violência e deixemos as etimologias ao encanto da viagem pela espessura das palavras, muitas com a idade de Matusalém.
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"Um sopro e recuperaria o verso, as palavras no silêncio. Que belas são assim livres, conscientes da sua fugacidade, despreocupadas com a sua qualidade, de alguém que as julgue."
Um livro de um peregrino nas palavras e no silêncio que é o tempo onde as abandonamos ou recuperamos.
4 locais em vias de deixar de o ser onde a memória é passado e futuro.
As palavras, o seu enquadramento e significado, o seu significante, os signos, o insignificante, foi por aqui que este blog começou, por esgravatar debaixo das palavras , o que se esconde, o que nelas mente, a verdade e que verdade, a manipulação e as falsidades, tudo anda à roda do livro o "Zero e Infinito", na tradução feita pela extinta Europa-América de Arthur Koestler, sobre qual a verdade aceitável na mentira....
um livro EXCEPCIONAL!que se aplica hoje à demagogia desenfreada dos paladinos da guerra, tudo acima a eles se aplica. E continua a não se ouvir o discurso contra a guerra, sendo que o do PCP é, obviamente o discurso, outro discurso de um dos lados da guerra, como quando defendia a mais execrável ditadura do mundo, responsável pelo obscurantismo mais perigoso (Lysenko) e pelo maior número de mortes de qualquer totalitarismo, mesmo o Holocausto que foi direccionado a uma religião e etnia, mas mesmo assim ficou muito aquém nos mortos.
Pois este livrinho fez-me voltar a isto tudo, A maneira e forma como as expressões foram talhadas na nossa lógica social e política, e quando apareceram, e como evoluiram, até sobre essa matéria há divergências., eu e muitos outros acho que a haver antropoceno (termo que continua em discussão e sobre o qual encontro cada vez mais reservas políticas) esse devia ter ponto de partida em 1944 com as 1ªs experiência nucleares que introduzem novos elementos geológicos que irão marcar a terra para milhões de anos....
e claro o coinceito de transição, fluído e pouco consistente, para disfarçar o que temos que fazer que é de facto uma ruptura radical com o sistema produtivista e consumista ou....Labels: Insignificante, Livros, palavras, Zero e Infinito
Um dia a encher chouriços, em sentido figurado, e liquidar umas revistas e alguns afazeres. Mais outros textos que irão "descontribuir" para a tal popularidade do "moi", sempre ao arrepio do pensamento justo.
E ao final da tarde um livrinho, 45 escassas páginas, letra gorda como a Madame. De Georges Bataille, um personagem estranho entre Freud e Sade um opúsculo entre o sexo e a morte, o sexo como morte de Deuas, Deus que na verdade é um porco ou uma puta ou tudo, para o autor. Claro que foi seminarista ou não nos revelava estes segredos. E amava a mãe, filho de pai siflítico.
O perigo das palavras...
Resiliência, no actual enquadramento não é mais que a ideologia da adaptação e tecnologia do consentimento a uma realidade que nos ultrapassa, e para a qual a resiliência é uma das numerosas imposturas solucionistas, para voltarmos a mais do mesmo.
Sustentabilidade energética é outro dos embustes, para nos enfiarem os seus truques e discursos, de crescimento. Temos que lhe opôr a sobriedade energética, e nada mais.
Deparamo-nos com um problema crucial para a ecologia política em Portugal. Falta de estratégia, falta de método, lógicas de protagonismos balofos e semeadura de ilusões. E vivemos sepultados em palavras ocas.
Os problemas estão identificados, mas continuamos a correr atrás da vertigem noticiosa, que só está interessada em fogachos e títulos, que vive a chafurdar num pântano de mentiras e de falsidades e só dá atenção ao que pensa, quando pensa ser o politicamente certo, ou o do interesse público que são os próprios média que constróiem e manipulam.
O discurso científico tem que ser sobreposto por um enquadramento político e a realidade tem que ser direccionada em relação a efectividades práticas e funcionais.
Cada vez mais nos sentimos cercados, por discursos e discursos etéreos e sem um mínimo de praticidade.
Pensar e agir é cada vez mais difícil e romper o bloqueio requer muita argúcia e envolvimento.
E depois....
é duro, muito duro.
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