"Ora, uma noite de véspera de feriado, em que não houvera, pois, estudo; uma noite longa, de borrascoso Inverno, meu pai leu mais tempo, num livro ilustrado de gravuras e cujos cantos inexplicavelmente nós víamos roídos dos ratos. De onde a onde, a voz de meu pai, alterada, velava-se, por largo espaço; ao depois, não me recordou mais o que fora que ele nos estivera lendo; mas uma passagem, essa, não se me esvaiu nunca. Era alguém que estava relatando, não sabia eu a quem, a sua vida; e esse alguém era orgulhoso e infeliz; que maior desdita do que, com receber a vida, dar a morte a sua mãe? O desgraçado tomava soberba dessa catástrofe. Diria: «Custei a vida a minha mãe, e o meu nascimento foi a primeira das minhas desgraças.» Mas dissera: «Sinto o meu coração e conheço os homens. Não sou feito como nenhum dos que tenho visto; ouso crer não ser feito como nenhum dos que existem. Se não valho mais, pelo menos sou diverso.» E acrescentara duramente: «Se a natureza fez bem ou mal em pa
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