Mensagens

A mostrar mensagens com a etiqueta POESIA

...

Imagem
Por outro lado A ruína é grande e a planície como antes das estradas; tudo escombros e falta de vento. A derrocada é total a aparentar um genial princípio, primordial génio; o mar recua a acrescentar terra salgada, novos animais em final debate e cascos de navios sem uso. A remir velhos escritos, como um pressentimento permanente, o dia seria ímpar sem os espaços de janelas abertas,                 [desprevenidas, perfeitamente intactos. David Fernandes

E depois, tu

Imagem
Por uma força qualquer no arco das ramadas, aprendi a iludir a insónia com voltas muito certas de massa folhada ou bilros e a não deixar a fruta sucumbir. Por uma força qualquer no rigor da sombra, habituei-me ao desenho das rotundas e ao papel do vento nos relógios. Aceitei por fim uma certa forma de medir o sal, de pesar o medo, de não desconfiar do silêncio das portas ou da firmeza dos cabides. Havia uma regra, uma força qualquer no arco das ramadas e no rigor da sombra. E depois, tu. David Fernandes

For You...

Imagem

Leituras - Manuel Alegre

Imagem
De Momentos "(Os anos passarão. Os canteiros hão-de gerar um outro buxo. Outros pássaros virão cantar nos ramos altos do pinheiro manso e dos plátanos. A tia morrerá. E a casa e o jardim, a própria vila, suas rotinas, seus ritmos e seus ecos. Não ficará senão a tua voz na tarde calma. Olá, disseste. E a terra começou a tremer.)" MANUEL ALEGRE, A Terceira Rosa Publicações Dom Quixote, 1998

As palavras

Imagem
"(...) descobrimos que as palavras não começaram por ser abstractas, antes por serem concretas - e suponho que neste caso "concreto" significa quase a mesma coisa que "poético". Consideremos uma palavra como "dreary" [triste]: a palavra "dreary" significava "manchado de sangue". Do mesmo modo, a palavra "glad" [alegre] significava "polido" e a palavra "threat" [ameaça] significava "multidão ameaçadora". Essas palavras que agora são abstractas tiveram outrora um significado forte. Poderiamos prosseguir com outros exemplos: Tomemos a palavra "thunder" [trovão] e contemplemos o deus Thunor, o homólogo saxónico do norueguês Thor. A palavra unor valia para trovão e para deus; mas se tivéssemos perguntado aos homens que vieram para Inglaterra com Hengist se a palavra servia para o ribombar no céu e para o irado deus, não me parece que eles fossem suficientemente subtis para compreenderem...

George Oppen - 100 anos

Imagem
Faria amanhã, 24 de Abril, 100 anos. Chama-se George Oppen e é um homem e um poeta extraordinário. Filho de um muuuuito abastado comerciante de diamantes, nunca precisou da massa do papá. A mãe suicidou-se tinha ele 4 anos, o pai casou segunda vez e pelos vistos a madrasta não era flor que se cheirasse. Isto marcou-o para sempre. Foi expulso do liceu e na universidade, apaixonou-se (para toda a vida) por Mary Colby mas logo na primeira saidinha à noite chegaram tarde demais. Ela foi expulsa, ele suspenso. Casam, abandonam a universidade e a cidade (Oregon) e correm os Estados Unidos à boleia, fazendo ao longo do caminho pequenos trabalhos temporários aqui e ali. É nesta época que escreve os primeiros poemas e, com a ajuda de uma pequena herança, fundam uma editora que pouco tempo depois falia não sem antes publicar obras de William Carlos Williams e Ezra Pound. Início da década de 1930 e da grande depressão. Em face dos problemas sociais e do crescimento do fascismo, tornam-se cada vez...

Do engenho

Imagem
Rua do Alecrim - Lisboa; fotografia de Tereza Del Pilar Do engenho na esquadria dos edifícios em ruas como a sua própria sombra nas estremas do dia ou as manchas de urina nas paredes; na forma da vizinhança, nos soalhos parados como a água das vasilhas que não são homotetias do rio; na luta surda que por ali não há... David Augusto Fernandes

Os tops dos super-pops

Não tenho muitas certezas sobre este assunto. Parece-me contudo que a poesia nunca terá o mercado da prosa (oh grande novidade - esta cabeça....). E, a meu ver, o problema não está na educação; aliás a educação não incentiva nenhum tipo de leitura, e nisso a prosa é tão mal amada quanto a poesia. Há mitos que nunca se hão-de eliminar como por exemplo, acreditar que se chama um miúdo para a poesia através dos Lusíadas. Não pode ser. Mercado é retorno (valorizado) de investimento. Mercado é falsidade, engodo, engano. O mercado chegou à prosa há muito tempo: veja-se a quantidade lamentável de sucedâneos do lamentável "Código"!!! Expliquem-me porque se vendem aos milhares coisas como "Os pilares da terra" do Ken Follett (que eu também li sim senhor e que diverte muito, ok) mas não se vendam ao menos umas centenas de, por exemplo, "A casa do pó" e demais notáveis romances do Fernando Campos. Dou este exemplo apenas porque, podemos dizer que são "do mesmo t...

Antes de nós

Imagem
A rotação do pulso no virar do tempo para uma aferição aproximada do longe antes do metódico aconchego dos óculos a aclarar a voz; o passo diferente sobre a sombra pastel ao abrigo da aresta entre o passeio e a soleira: cimento e mármore, linha real de uma mudança de estado depois imaginado. David Augusto Fernandes

Os Lusíadas em números

Imagem
Os substantivos mais utilizados n' Os Lusíadas são: gente (220) terra (216) rei (194) mar (187) mundo (103) céu (81) reino (77) Há 1750 inícios de verso distintos e os mais frequentes são: Que (779) E (439) A (347) De (334) O (292) Mas (221) Por (181) Com (177) Os (155) Não (149) Gente , é o substantivo mais frequentemente usado como início de verso. Há 9 versos começados com Gente . Camões utiliza um vocabulário de 8786 palavras sendo que a obra é composta por um total de 52917 palavras. A palavra não aparece 556 vezes enquanto a palavra sim não aparece nenhuma. Quem quiser saber mais coisas, pergunte.

Louise Gluck sobre George Oppen

Adenda: Parece que não dá. "Prontos", quem quiser pode vê-lo aqui , por enquanto.

Do forno, quentinho, quentinho

Imagem
Para quem não sabe ainda o que me oferecer no natal, eis uma boa ideia acabadinha de existir: Descrição na Amazom: Regard for George Oppen's poetry has been growing steadily over the last decade. Peter Nicholls's study offers a timely opportunity to engage with a body of work which can be both luminously simple and intriguingly opaque. Nicholls charts Oppen's commitment to Marxism and his later explorations of a 'poetics of being' inspired by Heidegger and Existentialism, providing detailed accounts of each of the poet's books. He is the first critic to draw extensively on the Oppen archive, with its thousands of pages of largely unpublished notes and drafts for poems; in doing so, he is able to map the distinctive contours of Oppen's poetic thinking and to investigate the complex origins of many of his poems. Oppen emerges from this study as a writer of mercurial intensities for whom every poem constitutes a 'beginning again', a freeing of the mind ...

A poesia

Imagem
David Augusto Fernandes
Imagem
Se um poema existe apenas na leitura, então, devo dizer que há poemas sem sentido. Nada. Não apontam nada, sítio nenhum. Uma coisa inútil. Uma lástima. Claro que ao poeta (o autor, o criador) não se lhe podem assacar responsabilidades. Não acho que seja questão de ter ou não ter respeito pelo poeta. Como em poucas actividades, não é fácil (pelo menos a mim) descobrir um falsário. Aí talvez fizesse sentido a questão do respeito ou desrespeito. Não é o caso. Não é fácil, mas também não é impossível. A poesia é liberdade, arrisco: do poeta e do leitor; estão muito bem assim cada um no seu fazer e se o acaso aparece de permeio, seja bem vindo. Cito George Oppen que numa entrevista, falando de Ezra Pound (que dizia que a poesia devia ser tão boa como a prosa) disse mais ou menos o seguinte: "a poesia deve ser tão boa como a prosa, etc." Esta era a frase de Pound à qual Oppen acrescenta: "deve aliás ser tão boa quanto o silêncio absoluto". Acrescento que George Oppen fale...
Imagem
Morreu Kurt Vonnegut . Nunca tinha ouvido falar nele, e agora estou com vontade de saber coisas. O seu último livro “A Man Without a Country” de 2005 (" Um homem sem pátria ", Tinta da China, 2006) termina com o seguinte poema. Requiem When the last living thing has died on account of us, how poetical it would be if Earth could say, in a voice floating up perhaps from the floor of the Grand Canyon, “It is done.” People did not like it here. Tenho mesmo muita vontade de conhecer melhor o senhor.