Se a cultura se fechar a si própria dentro de um gueto, acaba fatalmente (e com apenas raras e felizes excepções) por deixar de ser cultura, para se tornar apenas numa idiossincrasia. Uma mania. Um tique nacionalista, patrioteiro, ou apenas bairrista. A cultura precisa da seiva do contacto e da abertura aos outros, para melhor manter vivas e saudáveis as suas raízes e identidade.
Dada esta singela opinião, acho não só muito bem, como fundamental, que a programação cultural de Guimarães Capital Europeia da Cultura (ou qualquer outra programação cultural), seja fortemente povoada por aquilo que de melhor a Europa e o mundo tiverem para dar, caminhando ombro a ombro com as nossas próprias propostas culturais. Seja em agigantados (talvez demais) projetos como este “Guimarães 2012”, ou na vereação da cultura de uma pequena autarquia local.
Dada esta segunda singela opinião, tenho, ainda assim, as maiores dúvidas de que uma programação de Paris, Londres, ou Madrid, ou Frankfurt, ou Veneza capitais da cultura... abrisse com um espetáculo estrangeiro.
Seja como for, não era da programação de espetáculos que ia falar, mas sim da cerimónia de abertura.
Na verdade, estava combinado que fosse eu a fazer o discurso de encerramento, dissertando sobre mecânica quântica, o que me foi impossível por incontornáveis motivos de agenda pessoal. Como, ao que parece, o distinto público presente estava firmemente decidido a divertir-se por um bom pedaço, ouvindo alguém falar longamente sobre um assunto de que não entendesse nem a ponta de um chavelho... substituíram-me por Cavaco Silva a falar de cultura. Foi exaltante!