-TRIMMMM! TRIMMM!!! TRIMMM!!!!
O telefone toca insistentemente. Eu abro os olhos, tudo escuro. “Onde é que eu estou?”, penso eu.
-TRIMMMM! TRIMMM!! TRIMMMM!!
Estico o braço em direção ao som.. “Alô?” , “Sra. Deborah? A Sra. pode vir ao berçário amamentar?”. Cinco segundos de silêncio. “Amamentar?!.. Ah é! A Duda nasceu!”
Assim foi a primeira noite em que a Duda ficou no berçário tomando banho de luz por causa da icterícia. Como eles ficam direto na luz, nós é que temos que ir até lá para amamentá-los.
Lembro que à tarde, quando estavam dando complemento ainda, meu G.O. disse que era para eu aproveitar ao máximo todas as orientações sobre amamentação das enfermeiras do Einstein, porque elas são as melhores nisso.
Pensei com meus botões: “Ok, mas amamentar não é só ter o peito, o leite e o nenê?”. A resposta veio após o toque do telefone.
No corredor, uns calafrios. Começa uma tremedeira. Eu pensei: “Eita, que ar gelado!” E a tremedeira só aumentava. Cheguei no berçário parecendo um João Bobo de tanto que tremia. Comentei com a enfermeira, e ela disse: “Ah! Já é a pojadura!”. Cara de interrogação. “Pojadura?”. Me perguntei algumas vezes se deveria ter me informado mais durante a gravidez! Rs Ela me explicou: “É quando o leite começa a descer!”. Então tá!
Elas já estavam com a Duda no colo, me puseram numa cadeira de amamentar e disseram:”Vamos lá Sra. Deborah. Deixe-me ver o bico do seu peito.”.
E então começou a sessão tortura. Puxa daqui, puxa dali.. “A Sra tem prótese?”, “Tenho”, respondi. Aí mesmo é que ela puxava pra frente, pro lado, pro outro, dava uma risadinha e dizia: “Temos que fazer o bico pra ela ter a ‘pega’ correta”.
Àquelas alturas, eu já não estava entendendo mais nada, porque achei que amamentar fosse a coisa mais simples do mundo. Foi então que comecei a me lembrar das minhas amigas me contando sobre rachaduras no bico dos seios, sangue, que era dolorido, que muitas mulheres desistiam de amamentar porque não era das tarefas mais fáceis e prazerosas.
Então, ela começa a me dar uma aula sobre como pegar a criança: pegada invertida, de cavalinho, deitada, a comum.. aff! Deu nó na cabeça... E pior..com todo aquele sono, cicatriz da cesárea doendo,ter a coordenação motora pra por a Duda no peito, colocar a boquinha dela no lugar certo,esperar a tal pegada...
Quando a enfermeira conseguiu fazer o “tal”bico e a Duda pegou... MEU DEUS! QUE DOR!!!! Achei que fosse ter um treco! Perguntei para a enfermeira se era aquilo mesmo, se aquela pega estava correta, porque estava doendo muito. Ela deu uma risadinha e disse: “A pega da sua filha está ótima! Seja forte, porque neste primeiro mês, cada mamada vai durar uns quarenta minutos e provavelmente, seu bico vai rachar, vai sangrar, mas tenha em mente que vai valer a pena”
E assim se passaram quarenta e cinco minutos. A cena é linda. Ver sua filha tão conectada a você, tão dependente, como se vocês fossem uma só é a coisa mais divina do mundo. Mas a dor é tremenda. Agora posso PENSAR em entender algumas mães que dizem não ter conseguido amamentar. Mesmo assim, vale o sacrifício. Todo o benefício que o leite materno traz para a criança, a imunidade, a saúde, não teria dor que me fizesse desistir disso.
Graças a Deus, tínhamos comprado um creminho bem milagroso nos EUA chamado LANSINOH. Foi a minha salvação, junto com a concha. Porque sim, o bico racha, sangra, faz uma crosta e quando está cicatrizando, lá vem sua rebenta com a ‘pega’, e tira toda a casquinha! Engraçado que esse tipo de coisa, ninguém conta! Só uma ,apenas uma amiga minha, durante a gravidez, ia me dizendo: “Olha, vou te contar algumas coisas que nenhuma mulher conta pra outra durante e pós gravidez!” Por isso, eu já estava semi preparada psicologicamente para algumas situações.
Hoje, um mês depois, amamentar é um prazer. Ela já tem uma velocidade de sucção muito maior, a mamada passou de quarenta e cinco minutos para trinta e cinco, às vezes trinta minutos. É muito bom você ver sua filha se satisfazer com o alimento que você dá para ela, que vem de você única e exclusivamente!