Por serem mães, nem viram aquilo que parecia
um raio de sol interrompendo o mundo – e
levam os meninos mortos ao colo no fio dos
caminhos, confundindo sempre a lã do xaile
com o calor do sangue que lhes ensopa as mãos.
Seguem sem poder acreditar – ou então acreditam
que não seriam capazes de amar tanto uma coisa
parada no tempo, e por isso vão, imperturbáveis,
ouvindo bater dentro do próprio peito os corações
vermelhos pequeníssimos. Mais adiante, deter-se-ão
para descobrir um seio redondo e cheio à minúscula
boca prometido – não vá ela abrir-se de repente e,
milagrosamente, começar a chorar.
Maria do Rosário Pedreira
Outubro de 2008
Inédito
(Poema para Dia da Mãe - parceria Quintas de Leitura / Antena 1)