Mostrar mensagens com a etiqueta Mário Cesariny. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Mário Cesariny. Mostrar todas as mensagens

07/06/10

“ISAQUETAMENTE”



uma Quinta de Leitura

O ciclo poético “Quintas de Leitura” do Teatro do Campo Alegre, organizado pela Câmara Municipal do Porto, através da Fundação Ciência e Desenvolvimento, propõe para este mês um espectáculo diferente, baseado nas escolhas poéticas de Isaque Ferreira, um dos recitadores mais aclamados no decorrer dos 9 anos de existência deste ciclo.

“Isaquetamente”- nome dado ao recital – está agendado para 17 de Junho, às 22h00, no grande auditório do TCA, com um alinhamento fértil em momentos inusitados.

Isaque Ferreira escolheu textos de Luiz Pacheco, Herberto Helder, José Sebag, Nuno Brito, Mário Cesariny e António José Forte, entre outros, e será acompanhado nas leituras por Teresa Coutinho, Margarida Carvalho e Paulo Campos dos Reis. O recital começa com um incisivo manifesto do Poeta argentino Aldo Pellegrini onde se define a Poesia como tudo aquilo que fecha a porta aos imbecis e a abre de par em par aos inocentes. Segundo Pellegrini, a Poesia só pretende cumprir uma tarefa: que este mundo não seja habitável só para os imbecil.

Em ligação com textos e leituras poder-se-á ver ao vivo e a cores a pintura do artista plástico Mário Vitória, expressa em quatro trabalhos de grande dimensão que depois do palco transitarão para o foyer deste teatro.

Pretexto ainda para a participação especial de Rui Lima (música), de Natasha Semmynova (Drag Queen performance) e de Né Barros (dança) que convida João Martinho Moura (arte digital/engageLab, UMinho).

Fecha a noite uma das bandas mais inspiradas do panorama musical português - Sean Riley & The Slowriders, num imperdível concerto (quase) acústico.

Há noites assim: lucipotentes.

Espectáculo para maiores de 16 anos.

13/01/10

AINDA CESARINY

SONETO

nada sobre esta mão nada na outra
dum lado o pé do outro a maresia
para os lados do rim a luz é pouca
e uma vez sem exemplo é que eu queria

josé sebag em hong-kong toca
um psaltério roído pela traça
dá as mãos amarelas a uma foca
que evoca uma descida até à graça

dos dois elevadores lança-se a louca
paço por paço constrói-se o tapume
deita-se o sexo à beira da tua boca

o cardeal tardini vai ao lume
o teu cabelo sobe pela praça
anunciam-se braços de garoupa



À JUSTA

vou aqui por este lado
a vistoriar o historiado

vou por aqui e vou bem
já o dizia a minha mãe

pobre morta é verdade
mas é assim a eternidade

vou depressa antes que anoiteça
e o campo de facto desapareça

e canto esta canção irregular
que é como canta quem anda a vistoriar

(poemas de Mário Cesariny)

12/01/10

AINDA A POESIA DE MÁRIO CESARINY

ENVOÛTEMENT

quem lê na infância está perdido
quem não lê na infância está salvo
andar de automóvel é um acto suspeito
não andar de automóvel não é um acto suspeito
o lisboa não anda de automóvel
o fernando não anda de automóvel
o henrique não anda de automóvel
o carlos não anda de automóvel
o carlos lê na infância
o pedro oom não anda de automóvel

há um lago de brilhantes na minha boca
a minha boca é uma passadeira branca
as bocas dos meus amigos são passadeiras brancas
a boca da maria josé é uma passadeira branca
o mário henrique é uma passadeira branca
o joão artur é uma passadeira branca
(...)

(Mário Cesariny / Primavera Autónoma das Estradas / Assírio & Alvim)

11/01/10

MÁRIO CESARINY, SEMPRE!

Fotografia de Manuel Luís Cochofel (a-trompa. net)


A sessão do próximo dia 28 de Janeiro ("BOMBA") é uma homenagem de valter hugo mãe ao Poeta Mário Cesariny. Vamos, nos próximos dias, recordar alguns poemas de Cesariny.

TOCATA

quando tu tocas Debussy
chove extraordinariamente
o sol as casas levemente doira
mas na saleta está-se bem
fazes sempre assim!

por mim
sinto um duende benigno que sorri
não bem de ti!
nada de Debussy!
mas do igual da hora
de sempre chover
de estar sempre frio lá fora
quando tu tocas Debussy



LAFCÁDIO

o que a minha mão segue
tem mais perplexidade que moral
nunca é só triste nunca é só alegre
é o instante a curva desigual
a seta desferida
pela gratuitidade acontecida

(poemas de Mário Cesariny / Manual de Prestidigitação / Assírio & Alvim)

29/12/09

O NORTE DA EUROPA

I

O Pai Natal coberto de lantejoulas ia subindo a ladeira com ar circunstancial. O cumprimento que me dirigiu, corrigido por um gesto de perfeita cortesia, era tão naturalmente rico de proteínas que se comia à mão, em fato de baile.
Os dias iam correndo pela mão daquela cujo nome se vai ocultar na Península da Gata, a norte do Carvoeiro.
«É assim que cumpres?», perguntou Júlia Bahamas. Respondi que não era ainda tempo de colher maçãs e que também as uvas estavam por amadurecer. E acrescentei, exclamativamente:
«Ó Estações!»
Mas aí já ninguém ouvia ninguém, o círculo apertava-se coberto de espuma.

Mário Cesariny/António Dacosta
Primavera Autónoma das Estradas

27/05/09

DIA 18 DE JUNHO. POEMAS DE AMOR ESCOLHIDOS POR INÊS PEDROSA

poema

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

Mário Cesariny

Este poema será lido por Isaque Ferreira.

29/04/09

25 DE ABRIL SEMPRE! FASCISMO NUNCA MAIS!

Um texto fascinante de Mário Cesariny sobre a Liberdade (livre).

Liberdade.
A liberdade conhece-se pelo seu fulgor.
Quatro homens livres não são mais liberdade do que um só. Mas são mais reverbero no mesmo fulgor.
Trocar a liberdade em liberdades é a moda corrente do libertino.
Pode prender-se um homem e pô-lo a pão e água. Pode tirar-se-lhe o pão e não se lhe dar a água. Pode-se pô-lo a morrer, pendurado no ar, ou à dentada, com cães. Mas é impossível tirar-lhe seja que parte for da liberdade que ele é.
Ser-se livre é possuir-se a capacidade de lutar contra o que nos oprime. Quanto mais perseguido mais perigoso. Quanto mais livre mais capaz.
Do cadáver dum homem que morre livre pode sair acentuado mau cheiro - nunca sairá um escravo.

21/04/09

FAZES-ME FALTA

Fotografia captada no espectáculo dedicado a Filipa Leal
«Cidade Líquida» , no TCA, em Setembro de 2007.



A Suzana Menezes, a nossa querida Naná, está grávida. Muito grávida, digo eu. Fará na próxima quinta-feira o seu último recital, antes de ter a Matilde. Lá para meados de Junho.
Dedicamos à Naná, teclado à altura do coração, um poema de Amor. Belo, como ela:

POEMA

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

(Mário Cesariny, in "Pena Capital"/ Assírio & Alvim)

19/12/08

30.000 PÁGINAS VISITADAS DO NOSSO BLOGUE

O mais belo poema do mundo para todos aqueles que nos continuam a dar força e a alimentar este ciclo poético.

ode doméstica

tudo no teu sorriso diz
que só te falta um pretexto
para seres feliz

uma querela talvez chegasse
ou um pequeno pastor que passasse
na estrada, com suas ovelhas

um riso, um pormenor
que no momento se pousasse
e o tornasse melhor

eu
vou pensando em coisas velhas
- sem sombra de desdém! -
na vida
naquele lampejo fugace
que o teu sorriso já não tem

e que é do passado
porque a nossa grande sabedoria
não soube tratar ente tão delicado

e declina, o dia

o pequeno pastor já não vem

(Mário Cesariny, manual de prestidigitação, Assírio & Alvim)

12/12/08

Mário Cesariny


Na próxima quinta-feira, dia 18, queremos oferecer aos Amigos que nos têm seguido desde 2002 uma noite mágica. Cheia de poesia, música e algumas surpresas.

Este poema de Mário Cesariny inspira-nos para prosseguirmos a nossa acção ao serviço do Sonho.

mágica

É uma estrada no céu silenciosa
um anão sem ninguém que o suspeite
é um braço pregado a uma rosa
um mamilo escorrendo leite

São edénicos anjos expulsos
sonhando quietude e distância
são homens marcados nos pulsos
é uma secreta elegância

São velhos demónios ociosos
fitando o céu bailando ao vento
são gritos rápidos, nervosos
que destroem todo o pensamento

É o frio deserto marinho
operando na escuridão
é o corpo que geme sòzinho
é a veia que é coração

São aranhas jovens, pernaltas
arrastando embrulhos para o mar
são altas colunas tão altas
que o chão ameaça estalar

São espadas voantes são vielas
passeios de todos e nenhuns
são grandes rectas paralelas
são grandes silêncios comuns

É uma edição reduzida
das aras da história sagrada
é a técnica mais proibida
da mágica mais procurada

É uma estrada no céu silenciosa
por um domingo extenso e plácido
é um anoitecer côr de rosa
um ar inocente, ácido

(Mário Cesariny, in "manual de prestidigitação"/ Assírio & Alvim)

19/06/08

78 MESES DEPOIS




Foram 3 horas de frenético espectáculo - um bife verdadeiramente bem passado.
Houve de tudo: leituras, performance, dança, imagem, música e as fumarolas do Diogo. A "nossa" GINA honrou-nos com a sua presença, sentada na 1ª fila, ao colo do Alberto Magassela. Ufana.
Há noites assim:
Ontem levámos uma tareia de Poesia, Poesia cor de gente, Poesia virada para o lado certo da Vida.
Estamos todos de parabéns - 80 espectáculos ao serviço da nossa língua, ao serviço da nossa Pátria.
Aos que fazem, aos que deixam fazer, aos navegadores solitários, cúmplices que, mês a mês, enchem o nosso auditório, o programador do ciclo dedica o mais belo exercício espiritual do mundo. Para não ter de dizer que vos amo:

exercício espiritual

É preciso dizer rosa em vez de dizer ideia
é preciso dizer azul em vez de dizer pantera
é preciso dizer febre em vez de dizer inocência
é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem


É preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano
é preciso dizer Para Sempre em vez de dizer Agora
é preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano
é preciso dizer Maria em vez de dizer aurora

(Mário Cesariny)

é preciso dizer quinta em vez de dizer horizonte