AQUELE QUE QUER MORRER
São chegados os tempos escandalosos
da Morte e da Inocência.
Aquele que quer saber e
apodrece de fora para dentro
dança já sobre os destroços do Futuro
com voláteis pés conceituais.
O sentido de tudo faz parte de tudo,
o Mistério não pode ser ocultado nem revelado.
Tudo o que passou
está a ser passado infinitamente
e o Futuro é a eternidade de isto
e tudo é sabido em si próprio.
(Manuel António Pina, in "Poesia Reunida")
30/11/08
OS POETAS DAS "QUINTAS"/ ADÍLIA LOPES
A PROPÓSITO DE ESTRELAS
Não sei se me interessei pelo rapaz
por ele se interessar por estrelas
se me interessei por estrelas por me interessar
pelo rapaz hoje quando penso no rapaz
penso em estrelas e quando penso em estrelas
penso no rapaz como me parece
que me vou ocupar com as estrelas
até ao fim dos meus dias parece-me que
não vou deixar de me interessar pelo rapaz
até ao fim dos meus dias
nunca saberei se me interesso por estrelas
se me interesso por um rapaz que se interessa
por estrelas já não me lembro
se vi primeiro as estrelas
se vi primeiro o rapaz
se quando vi o rapaz vi as estrelas
(Adília Lopes, in "Quem Quer Casar Com a Poetisa?")
Não sei se me interessei pelo rapaz
por ele se interessar por estrelas
se me interessei por estrelas por me interessar
pelo rapaz hoje quando penso no rapaz
penso em estrelas e quando penso em estrelas
penso no rapaz como me parece
que me vou ocupar com as estrelas
até ao fim dos meus dias parece-me que
não vou deixar de me interessar pelo rapaz
até ao fim dos meus dias
nunca saberei se me interesso por estrelas
se me interesso por um rapaz que se interessa
por estrelas já não me lembro
se vi primeiro as estrelas
se vi primeiro o rapaz
se quando vi o rapaz vi as estrelas
(Adília Lopes, in "Quem Quer Casar Com a Poetisa?")
29/11/08
OS POETAS DAS "QUINTAS"/ DANIEL JONAS
COMO UM METALÚRGICO DA LUÍSNAVA
Que uma musa metálica redime
E faz dum vulcão cama e os lençóis lava,
Soldo a métrica, malho p'ra que rime.
Toco a afiada lira, tanjo o meu aço,
Na homérica bigorna chispa e liça.
Silvam sereias, chamam-me ao regaço,
Ítaca estanca a dor, Ática atiça-a.
Como operário do verso blindo a nave
Que ao leme outro almirante levará;
Levo-me a mim à vela, o argueiro é trave:
Neste solo outro mastro cantará.
E se o cálamo às vezes carpe as bulhas
Das carúnculas saem-me faúlhas.
(Daniel Jonas, in "Sonótono")
Que uma musa metálica redime
E faz dum vulcão cama e os lençóis lava,
Soldo a métrica, malho p'ra que rime.
Toco a afiada lira, tanjo o meu aço,
Na homérica bigorna chispa e liça.
Silvam sereias, chamam-me ao regaço,
Ítaca estanca a dor, Ática atiça-a.
Como operário do verso blindo a nave
Que ao leme outro almirante levará;
Levo-me a mim à vela, o argueiro é trave:
Neste solo outro mastro cantará.
E se o cálamo às vezes carpe as bulhas
Das carúnculas saem-me faúlhas.
(Daniel Jonas, in "Sonótono")
OS POETAS DAS "QUINTAS"/ FERNANDO PINTO DO AMARAL
ECO
Vagas são as promessas e ao longe,
muito longe, uma estrela.
Cruel foi sempre o seu fulgor:
sonâmbulas cidades, ruas íngremes,
passos que dei sem onde.
Era esse o meu reino, e era talvez essa
a voz da própria lua.
Aí ficou gravada a minha sede.
Aí deixei que o fogo me beijasse
pela primeira vez.
Agora tenho as mãos vazias,
regresso e sei que nada me pertence -
- nenhum gesto do céu ou da terra.
Apenas o rumor de breves sombras
e um nome já incerto que por mágoa
não consigo esquecer.
(Fernando Pinto do Amaral, in "Acédia")
Vagas são as promessas e ao longe,
muito longe, uma estrela.
Cruel foi sempre o seu fulgor:
sonâmbulas cidades, ruas íngremes,
passos que dei sem onde.
Era esse o meu reino, e era talvez essa
a voz da própria lua.
Aí ficou gravada a minha sede.
Aí deixei que o fogo me beijasse
pela primeira vez.
Agora tenho as mãos vazias,
regresso e sei que nada me pertence -
- nenhum gesto do céu ou da terra.
Apenas o rumor de breves sombras
e um nome já incerto que por mágoa
não consigo esquecer.
(Fernando Pinto do Amaral, in "Acédia")
OS POETAS DAS "QUINTAS"/ JORGE SOUSA BRAGA
BOLETIM METEREOLÓGICO
Céu muito nublado vento
fraco moderado de sudoeste
soprando forte nas terras
altas aguaceiros em especial
nas regiões do Norte e Centro
e que serão de neve nos
pontos mais altos da Serra
da Estrela e no teu coração.
(Jorge Sousa Braga, in "Porto de Abrigo")
Céu muito nublado vento
fraco moderado de sudoeste
soprando forte nas terras
altas aguaceiros em especial
nas regiões do Norte e Centro
e que serão de neve nos
pontos mais altos da Serra
da Estrela e no teu coração.
(Jorge Sousa Braga, in "Porto de Abrigo")
OS POETAS DAS "QUINTAS"/ PEDRO MEXIA
FADO
De quem eu gosto
as paredes estão fartas de saber.
(Pedro Mexia, in "Avalanche")
De quem eu gosto
as paredes estão fartas de saber.
(Pedro Mexia, in "Avalanche")
28/11/08
OS POETAS DAS "QUINTAS" / DANIEL MAIA-PINTO RODRIGUES
Daniel Maia-Pinto Rodrigues por Pat
HOMEM
Velho
à porta de sua casa
o pescador.
À sua frente grande
o mar.
A vida. A mulher. Os sonhos.
Subitamente a consciência toda
daquele momento carregado de frio
e de distância.
Mas o vinho ganha no copo
assim como o complicado sabor do cigarro
nos seus dedos.
A tranquilidade desce ao velho.
A imensa companhia da mulher.
Oceanos à viola outonos de lã.
(Daniel Maia-Pinto Rodrigues, in "Púrpura 77")
Velho
à porta de sua casa
o pescador.
À sua frente grande
o mar.
A vida. A mulher. Os sonhos.
Subitamente a consciência toda
daquele momento carregado de frio
e de distância.
Mas o vinho ganha no copo
assim como o complicado sabor do cigarro
nos seus dedos.
A tranquilidade desce ao velho.
A imensa companhia da mulher.
Oceanos à viola outonos de lã.
(Daniel Maia-Pinto Rodrigues, in "Púrpura 77")
OS POETAS DAS "QUINTAS" / CATARINA NUNES DE ALMEIDA
A PROSTITUTA DA RUA DA GLÓRIA
Tanges a noite sem saber que a noite
é uma cítara com cordas de ferro
onde os insectos ferem as asas.
O teu canto arranha o azul da chama
e a cidade desperta para a dança:
um labirinto de minotauros
sorvendo o odor do primeiro tango -
um ténue resquício de feno escondido na nuca.
Ainda ontem foi lua cheia no teu ventre.
Sobrou um aquário onde os cegos vêm depenicar
a caspa dos pombos.
Hoje não saias, deixa-te ficar.
Pelos corredores as fêmeas largam o pó
das florestas quentes -
ténues resquícios de feno escondido na nuca.
Hoje não saias, deixa-te ficar.
Deixa dormir o teu sexo cansado de morrer.
(Catarina Nunes de Almeida, in "Prefloração)
Tanges a noite sem saber que a noite
é uma cítara com cordas de ferro
onde os insectos ferem as asas.
O teu canto arranha o azul da chama
e a cidade desperta para a dança:
um labirinto de minotauros
sorvendo o odor do primeiro tango -
um ténue resquício de feno escondido na nuca.
Ainda ontem foi lua cheia no teu ventre.
Sobrou um aquário onde os cegos vêm depenicar
a caspa dos pombos.
Hoje não saias, deixa-te ficar.
Pelos corredores as fêmeas largam o pó
das florestas quentes -
ténues resquícios de feno escondido na nuca.
Hoje não saias, deixa-te ficar.
Deixa dormir o teu sexo cansado de morrer.
(Catarina Nunes de Almeida, in "Prefloração)
OS POETAS DAS "QUINTAS"/ JOÃO RIOS
GULOSA DE META FÍSICA
noviças de são tristão
não mirreis vossas entranhas
não percais vosso quinhão
com bordados e tisanas
sabede novas de luzia
que bem professa
nas naus do grande
gama
nas naus do grande gama
e sem laivos de tormenta
entrega soror as mamas
aos famintos de pimenta
aos famintos de pimenta
e com ares de timoneiro
a que a irmã acrescenta
as graças do seu traseiro
as graças do seu traseiro
o maná da sua fornalha
que neste amor pioneiro
à luzia nada lhe falha
à luzia nada lhe falha
nem a flauta nos beiços
e saltando como gralha
dá-lhes com força nos seixos
(João Rios, in "Livro das Legendas")
noviças de são tristão
não mirreis vossas entranhas
não percais vosso quinhão
com bordados e tisanas
sabede novas de luzia
que bem professa
nas naus do grande
gama
nas naus do grande gama
e sem laivos de tormenta
entrega soror as mamas
aos famintos de pimenta
aos famintos de pimenta
e com ares de timoneiro
a que a irmã acrescenta
as graças do seu traseiro
as graças do seu traseiro
o maná da sua fornalha
que neste amor pioneiro
à luzia nada lhe falha
à luzia nada lhe falha
nem a flauta nos beiços
e saltando como gralha
dá-lhes com força nos seixos
(João Rios, in "Livro das Legendas")
26/11/08
OS POETAS DAS "QUINTAS"/ FILIPA LEAL
ESCREVIA À MÃO A CIDADE
Habitava da cidade
os lugares mais pequenos.
Limpava-lhe o pó,
pintava-lhe os cabelos,
escondia-lhe as rugas
(chegava mesmo a deitar-se
ou a deitar areia sobre as ruas
abertas).
Às vezes chorava-lhe no centro
a ausência,
ou matava-lhe os homens
que corrompiam os homens.
Por fim,
esquecia-lhe as feridas.
Escrevia à mão a cidade
e a cidade escrevia-se
sobretudo
no cinzento
no esquecimento.
Eram tão simples as palavras
da cidade,
mas complexos os amigos
que dela habitavam
os lugares mais pequenos.
(Filipa Leal, in " A cidade líquida e outras texturas")
Habitava da cidade
os lugares mais pequenos.
Limpava-lhe o pó,
pintava-lhe os cabelos,
escondia-lhe as rugas
(chegava mesmo a deitar-se
ou a deitar areia sobre as ruas
abertas).
Às vezes chorava-lhe no centro
a ausência,
ou matava-lhe os homens
que corrompiam os homens.
Por fim,
esquecia-lhe as feridas.
Escrevia à mão a cidade
e a cidade escrevia-se
sobretudo
no cinzento
no esquecimento.
Eram tão simples as palavras
da cidade,
mas complexos os amigos
que dela habitavam
os lugares mais pequenos.
(Filipa Leal, in " A cidade líquida e outras texturas")
OS POETAS DAS "QUINTAS" / NUNO JÚDICE
VARIAÇÃO SOBRE ROSAS
Como as rosas selvagens, que nascem
em qualquer canto, o amor também pode nascer
de onde menos esperamos. O seu campo
é infinito: alma e corpo. E, para além deles,
o mundo das sensações, onde se entra sem
bater à porta, como se esta porta estivesse sempre
aberta para quem quiser entrar.
Tu, que me ensinas o que é o
amor, colheste essas rosas selvagens: a sua
púrpura brilha no teu rosto. O seu perfume
corre-te pelo peito, derrama-se no estuário
do ventre, sobe até aos cabelos que se soltam
por entre a brisa dos murmúrios. Roubo aos teus
lábios as suas pétalas.
E se essas rosas não murcham, com
o tempo, é porque o amor as alimenta.
(Nuno Júdice, in "Pedro, Lembrando Inês")
Como as rosas selvagens, que nascem
em qualquer canto, o amor também pode nascer
de onde menos esperamos. O seu campo
é infinito: alma e corpo. E, para além deles,
o mundo das sensações, onde se entra sem
bater à porta, como se esta porta estivesse sempre
aberta para quem quiser entrar.
Tu, que me ensinas o que é o
amor, colheste essas rosas selvagens: a sua
púrpura brilha no teu rosto. O seu perfume
corre-te pelo peito, derrama-se no estuário
do ventre, sobe até aos cabelos que se soltam
por entre a brisa dos murmúrios. Roubo aos teus
lábios as suas pétalas.
E se essas rosas não murcham, com
o tempo, é porque o amor as alimenta.
(Nuno Júdice, in "Pedro, Lembrando Inês")
25/11/08
OS NOSSOS "33 MAGNÍFICOS" POETAS DAS QUINTAS
No próximo dia 18 de Dezembro as "Quintas de Leitura" organizarão a sessão de lançamento da antologia "DIGA 33 - OS POETAS DAS QUINTAS DE LEITURA".
Lembramos hoje o nome dos Poetas que participam na antologia e que alimentaram com o seu talento e a sua disponibilidade este ciclo poético (Janeiro de 2002 até Dezembro de 2008):
Adília Lopes
Adolfo Luxúria Canibal
Aldina Duarte
Ana Deus
Ana Luísa Amaral
António Mega Ferreira
Catarina Nunes de Almeida
Daniel Jonas
Daniel Maia-Pinto Rodrigues
Fernando Pinto do Amaral
Filipa Leal
Gonçalo M. Tavares
João Habitualmente
João Rios
Jorge Reis-Sá
Jorge Sousa Braga
José Luís Peixoto
José Tolentino Mendonça
Manuel António Pina
Maria Andresen
Maria do Rosário Pedreira
Marta Bernardes
Nuno Júdice
Nuno Moura
Paulo Campos dos Reis
Paulo Condessa
Pedro Abrunhosa
Pedro Mexia
Regina Guimarães
Rui Reininho
valter hugo mãe
Vasco Gato
Yolanda Castaño
Participam ainda na antologia:
Lembramos hoje o nome dos Poetas que participam na antologia e que alimentaram com o seu talento e a sua disponibilidade este ciclo poético (Janeiro de 2002 até Dezembro de 2008):
Adília Lopes
Adolfo Luxúria Canibal
Aldina Duarte
Ana Deus
Ana Luísa Amaral
António Mega Ferreira
Catarina Nunes de Almeida
Daniel Jonas
Daniel Maia-Pinto Rodrigues
Fernando Pinto do Amaral
Filipa Leal
Gonçalo M. Tavares
João Habitualmente
João Rios
Jorge Reis-Sá
Jorge Sousa Braga
José Luís Peixoto
José Tolentino Mendonça
Manuel António Pina
Maria Andresen
Maria do Rosário Pedreira
Marta Bernardes
Nuno Júdice
Nuno Moura
Paulo Campos dos Reis
Paulo Condessa
Pedro Abrunhosa
Pedro Mexia
Regina Guimarães
Rui Reininho
valter hugo mãe
Vasco Gato
Yolanda Castaño
Participam ainda na antologia:
João Gesta - organização
Pat - retratos dos 33 poetas convidados
Susana Fernando - design gráfico
No dia 18, leve-nos para casa e guarde-nos, para sempre, no seu coração do meio.
24/11/08
Irene! Irene! Sirva o leite-creme!
Nós tínhamos prometido: um recital com jantes alargadas. Assim foi. Começou às 22h10 e terminou à 01h20. Aqui ficam alguns registos desta noite memorável. As fotografias são da Mafalda Capela. Se cá estiveram comentem. Gostamos sempre de partilhar opiniões.
Os heróis da noite (de cima para baixo)
Carlos Maza
A família Maza
Ana Carla Maza
Mariana Rocha ( performance «Curta-Mixagem»)
Pedro Lamares (membro da CGD em sentida homenagem ao poeta Joaquim Castro Caldas)
Isabel Nunes ( A «Irene» que trouxe o leite-creme)
O COPO (Paulo Condessa e Nuno Moura, festejam 10 anos de acção poética no TCA)
Daniel Maia-Pinto Rodrigues e Isaque Ferreira ( dupla exótica da CGD)
Nos agradecimentos: também Manuela Pimentel a artista plástica que deu «imagem» ao recital.
20/11/08
HOJE É DIA DE "QUINTAS"
Mais um poema de Joaquim Castro Caldas:
AO LADO
havia tantas coisas
que eu te queria dizer
se não fosse o abismo
de te perder num afago
de te ter do outro lado
do medo à minha beira
havia tantas coisas
que eu te queria dizer
se não fosse o amor
que há noites ao teu lado
em que me dói não sei
onde é que a distância ai
havia tantas coisas
se não fosse este fuçar
de nem fugir nem amar
AO LADO
havia tantas coisas
que eu te queria dizer
se não fosse o abismo
de te perder num afago
de te ter do outro lado
do medo à minha beira
havia tantas coisas
que eu te queria dizer
se não fosse o amor
que há noites ao teu lado
em que me dói não sei
onde é que a distância ai
havia tantas coisas
se não fosse este fuçar
de nem fugir nem amar
19/11/08
HOJE NA TV
Hoje, entre as 16:00h e as 18:00h, no programa ZONA INTERDITA da Porto Canal, a Caixa Geral de Despojos estará em estúdio, em directo na TV, convidada a propósito da sessão de Quintas de Leitura de amanhã.
Tudo por culpa do RECITAL COM JANTES ALARGADAS: "Irene!Irene! Sirva o leite-creme!"
Participem também através do blogue do programa. Basta clicar aqui.
(fotografia: pat)
18/11/08
SÓ CÁ VIM VER O SOL
Publicamos hoje mais um poema de Joaquim Castro Caldas.
PRECE
um dia hei-de
ser um escritor
se tu meu amor
estupor de mundo
quando perder
a falsa linha
que une e separa
o homem do poeta
o rosto da máscara
o sémen da seiva
farei da palavra
profecia e alma
promessa e arma
o tiro será teu
mas a bala minha
(in "Só cá vim ver o sol", Quasi Edições)
PRECE
um dia hei-de
ser um escritor
se tu meu amor
estupor de mundo
quando perder
a falsa linha
que une e separa
o homem do poeta
o rosto da máscara
o sémen da seiva
farei da palavra
profecia e alma
promessa e arma
o tiro será teu
mas a bala minha
(in "Só cá vim ver o sol", Quasi Edições)
17/11/08
Aproximem-se de José Luís Peixoto através do blogue que o escritor mantém no site da revista brasileira BRAVO.
Para acompanhar AQUI ou através da barra de blogues de poetas aqui ao lado esquerdo.
A Poesia de Joaquim Castro Caldas
O actor Pedro Lamares lerá no recital da próxima quinta-feira alguns poemas de Joaquim Castro Caldas. É a nossa forma singela e sentida de lembrar o Poeta, recentemente falecido.
DEVOLUÇÃO DOS CRAVOS
um menino uma vez
o tal que há em nós
sujo de liberdade
todo na ponta dos pés
tentou enfiar um cravo
no cano de uma G-3
hoje um homem talvez
menino velho sem voz
democrata que se farta
mete o cravo na culatra
e puxa-a de pé atrás
com medo que o seu país
PARÁBOLA DA PEQUENEZ
uma vez um portuguez à vez
tinha medo de ser alegre
e um portuguez de vez
vergonha de ser diferente
ambos tinham inveja
de um terceiro portuguez
que era burguez
ora o facto levou o primeiro
portuguez à loucura
e o segundo à estupidez
ao saber disto um quarto
portuguez que ia a passar
mandou dizer que se sentia
imensamente feliz
MATANÇA DO TEMPO
já não se mata o porco
só se parte o mealheiro
as patas são de barro
o sangue está infectado
nem o corpo é fumado
nem o amor é enchido
nem o fardo carregado
(in "Convém Avisar os Ingleses", Quasi Edições)
DEVOLUÇÃO DOS CRAVOS
um menino uma vez
o tal que há em nós
sujo de liberdade
todo na ponta dos pés
tentou enfiar um cravo
no cano de uma G-3
hoje um homem talvez
menino velho sem voz
democrata que se farta
mete o cravo na culatra
e puxa-a de pé atrás
com medo que o seu país
PARÁBOLA DA PEQUENEZ
uma vez um portuguez à vez
tinha medo de ser alegre
e um portuguez de vez
vergonha de ser diferente
ambos tinham inveja
de um terceiro portuguez
que era burguez
ora o facto levou o primeiro
portuguez à loucura
e o segundo à estupidez
ao saber disto um quarto
portuguez que ia a passar
mandou dizer que se sentia
imensamente feliz
MATANÇA DO TEMPO
já não se mata o porco
só se parte o mealheiro
as patas são de barro
o sangue está infectado
nem o corpo é fumado
nem o amor é enchido
nem o fardo carregado
(in "Convém Avisar os Ingleses", Quasi Edições)
14/11/08
HOMEM
Velho
à porta de sua casa
o pescador.
À sua frente grande
o mar.
A vida. A mulher. Os sonhos.
Subitamente a consciência toda
daquele momento carregado de frio
e de distância.
Mas o vinho ganha no copo
assim como o complicado sabor do cigarro
nos seus dedos.
A tranquilidade desce ao velho.
A imensa companhia da mulher.
Oceanos à viola outonos de lã.
(Daniel Maia-Pinto Rodrigues, in "Dióspiro", Quasi Edições)
à porta de sua casa
o pescador.
À sua frente grande
o mar.
A vida. A mulher. Os sonhos.
Subitamente a consciência toda
daquele momento carregado de frio
e de distância.
Mas o vinho ganha no copo
assim como o complicado sabor do cigarro
nos seus dedos.
A tranquilidade desce ao velho.
A imensa companhia da mulher.
Oceanos à viola outonos de lã.
(Daniel Maia-Pinto Rodrigues, in "Dióspiro", Quasi Edições)
13/11/08
O programador em acção
João Gesta, o programador das QUINTAS DE LEITURA e alguns dos elementos assíduos nos nossos recitais vão participar num conjunto de performances que têm a particularidade de acontecerem às escuras. Programa na imagem - clicar para ler.
O Daniel
O Daniel Maia-Pinto Rodrigues tem um blogue criado e alimentado por alguém que tem um apreço especial pela sua escrita. A ligação do blogue O DANIEL - http://odanielmaia.blogspot.com/ - ao blogue das Quintas de Leitura é permanente. Vão lá dar uma espreitadela. Para um ser tão afastado das realidades "cibernáuticas" como o Daniel, o blogue em sua honra foi uma grande surpresa.
O LAGARTO DE GILA
Adquiri numa loja o sui generis lagarto de Gila.
Em casa observava amiúde o bicho.
Um dia lembrei-me de convidar amigos impressionáveis
para se boquiabrirem e assustarem o lagarto.
Já com os convidados a chegar
pareceu-me sentir nos olhos do animal
o querer dizer-me que não pretendia ver ninguém.
Correspondendo, escondi-o à pressa
no quarto de banho de serviço.
Os convidados, que suspeitavam ir haver uma surpresa
surpreenderam-se por não ter havido surpresa nenhuma.
Creio, porém, que consideraram o serão animado.
Eu, apesar de não o deixar transparecer
achei o convívio aborrecido.
(Daniel Maia-Pinto Rodrigues, in "Dióspiro", Quasi Edições)
Em casa observava amiúde o bicho.
Um dia lembrei-me de convidar amigos impressionáveis
para se boquiabrirem e assustarem o lagarto.
Já com os convidados a chegar
pareceu-me sentir nos olhos do animal
o querer dizer-me que não pretendia ver ninguém.
Correspondendo, escondi-o à pressa
no quarto de banho de serviço.
Os convidados, que suspeitavam ir haver uma surpresa
surpreenderam-se por não ter havido surpresa nenhuma.
Creio, porém, que consideraram o serão animado.
Eu, apesar de não o deixar transparecer
achei o convívio aborrecido.
(Daniel Maia-Pinto Rodrigues, in "Dióspiro", Quasi Edições)
12/11/08
DANIEL, O GRANDE DESAFIADOR
Alguns momentos mais com a poesia de Daniel Maia-Pinto Rodrigues.
MARRECO
Ainda hoje me recordo
olha que foi mesmo engraçado
quando tu, Lagardère, naquela festa de arromba
de rompante me mostras a lomba.
x
De certo modo também eu, em tempos
fui infiel ao príncipe Charles.
x
Papagaia loira
de bico doirado
leva-me este corno
ao teu namorado.
x
VISITA DA CASA
"Afinal, o que é que vem cá fazer a Gabriela?!"
"Ó querida, não te virá mostrar as mamas dela?"
x
Houve uma coisa que veio do céu e disse:
- Sou a Celeste. Não te lembras!? A Celeste!
- Ah, sim! Olá, Celeste. Assim de repente
não estava a contar contigo.
x
LA NATURE AU PIMBA
Foram vistas duas palomas in the sky.
Uma era a filha, a outra era o pai.
(in "Dióspiro", Quasi Edições)
MARRECO
Ainda hoje me recordo
olha que foi mesmo engraçado
quando tu, Lagardère, naquela festa de arromba
de rompante me mostras a lomba.
x
De certo modo também eu, em tempos
fui infiel ao príncipe Charles.
x
Papagaia loira
de bico doirado
leva-me este corno
ao teu namorado.
x
VISITA DA CASA
"Afinal, o que é que vem cá fazer a Gabriela?!"
"Ó querida, não te virá mostrar as mamas dela?"
x
Houve uma coisa que veio do céu e disse:
- Sou a Celeste. Não te lembras!? A Celeste!
- Ah, sim! Olá, Celeste. Assim de repente
não estava a contar contigo.
x
LA NATURE AU PIMBA
Foram vistas duas palomas in the sky.
Uma era a filha, a outra era o pai.
(in "Dióspiro", Quasi Edições)
11/11/08
Daniel Maia-Pinto Rodrigues nas "Quintas de Leitura"
A sessão "Irene! Irene! Sirva o leite-creme!" servirá também para marcar o regresso do poeta Daniel Maia-Pinto Rodrigues às "Quintas de Leitura". Lerá, na companhia de Isaque Ferreira, alguns poemas de sua autoria e também de Alberto Pimenta.
Publicamos hoje um dos poemas que será lido na sessão:
ENQUADRADINHOS MÉTODOS DE TRABALHO
Ultimamente têm-me maçado
com enjoativos trechos de lamúrias.
Ele são cinco mil mulheres mal tratadas
não sei quantas raparigas mal amanhadas
sete mil e quinhentas gaivotas assassinadas
um sem número de situações assaz desesperadas.
Eu tenho os meus próprios problemas:
ir à missa das doze, adiantar os estudos,
levar o cão à rua, assim não dá, não dá.
Desisto deste vilancete. É uma pena
eu não ter método de trabalho na escrita.
(Daniel Maia-Pinto Rodrigues, in "Dióspiro/poesia reunida 1977-2007", Quasi Edições)
10/11/08
Miami Vice
A mansão foi encontrada
junto à piscina da mansão
a piscina não se encontrou
a si própria
(Adília Lopes in "Obra", Mariposa Azual)
junto à piscina da mansão
a piscina não se encontrou
a si própria
(Adília Lopes in "Obra", Mariposa Azual)
07/11/08
Notícia publicada hoje no site da revista VIVA - o Porto em revista on-line - sobre a próxima Quinta de Leitura. Para ler clicar aqui.
SETE RIOS ENTRE CAMPOS de ADÍLIA LOPES
O Chão optimista
Cair do cavalo
cair da escada
cair em mim
o rés-do-chão é tão bonito
o chão é tão bom
as violetas são macias
e não têm picos
ao contrário das rosas
o chão está cheio de ouro
por dentro
por fora um besouro
Dale Carnegie tem razão
o meu cavalo lambe-me a cara
não parti nada
não é o alcatrão
ou o passeio
do defenestrado
nem o útero da mãe
agora morta
é a libertação da queda
de Adão e Eva
é Adão que me estende a mão
x
O chão pessimista
Escuro
como breu
o chão
me comeu
(in "Obra", Mariposa Azual)
Cair do cavalo
cair da escada
cair em mim
o rés-do-chão é tão bonito
o chão é tão bom
as violetas são macias
e não têm picos
ao contrário das rosas
o chão está cheio de ouro
por dentro
por fora um besouro
Dale Carnegie tem razão
o meu cavalo lambe-me a cara
não parti nada
não é o alcatrão
ou o passeio
do defenestrado
nem o útero da mãe
agora morta
é a libertação da queda
de Adão e Eva
é Adão que me estende a mão
x
O chão pessimista
Escuro
como breu
o chão
me comeu
(in "Obra", Mariposa Azual)
06/11/08
Quem vem tocar?
Carlos Mazza vai apresentar na próxima Quinta de Leitura o seu projecto
TROTAMUNDO. Para saber mais deste músico chileno a viver em Cuba, clicar aqui.
Mais poesia de Adília Lopes
A mala da senhora cai ao chão.
O cavalheiro apanha-a.
- Merci beaucoup.
- Pas de quoi.
Mete-a no cu.
Não cabe cá.
(anedota contada pela tia Paulina)
x
O grilo come
a gaiola de plástico
e volta
para o campo
onde está
o pirilampo
x
Na estufa
a planta carnívora
abocanha as chaves
da minha mãe
uma barreira de água
impede as formigas
de entrar
(in "Obra", Mariposa Azual)
O cavalheiro apanha-a.
- Merci beaucoup.
- Pas de quoi.
Mete-a no cu.
Não cabe cá.
(anedota contada pela tia Paulina)
x
O grilo come
a gaiola de plástico
e volta
para o campo
onde está
o pirilampo
x
Na estufa
a planta carnívora
abocanha as chaves
da minha mãe
uma barreira de água
impede as formigas
de entrar
(in "Obra", Mariposa Azual)
05/11/08
JÁ RESTAM POUCOS BILHETES PARA A PRÓXIMA SESSÃO DAS "QUINTAS".
A sessão "Irene!Irene!Sirva o leite-creme!" está quase a esgotar. Anuncia-se um recital de poesia cheio de emoção, com as presenças imaculadas dos colectivos "Caixa Geral de Despojos" e
"O Copo".
Hoje continuamos a divulgar poemas da grande Adília Lopes, que serão e não serão lidos na sessão por Nuno Moura e Paulo Condessa.
HARDCORE
Dez para as duas
Sapatos a mais para Cinderela
Não há orquídeas para Miss Blandish
x
Ela era boa rapariga - Sãozinha
ela era uma rapariga boa - Samantha
ela não era uma rapariga - Lassie
x
Saiu das suas tamanquinhas
para calçar escarpins de verniz
mas ficou descalça
depois tiveram de lhe cortar os pés
podres de ricos
(in "Obra", Mariposa Azual)
"O Copo".
Hoje continuamos a divulgar poemas da grande Adília Lopes, que serão e não serão lidos na sessão por Nuno Moura e Paulo Condessa.
HARDCORE
Dez para as duas
Sapatos a mais para Cinderela
Não há orquídeas para Miss Blandish
x
Ela era boa rapariga - Sãozinha
ela era uma rapariga boa - Samantha
ela não era uma rapariga - Lassie
x
Saiu das suas tamanquinhas
para calçar escarpins de verniz
mas ficou descalça
depois tiveram de lhe cortar os pés
podres de ricos
(in "Obra", Mariposa Azual)
04/11/08
AUTOBIOGRAFIA SUMÁRIA DE ADÍLIA LOPES 2
03/11/08
PROGRAMADOR "MAGALHÃES" ÀS VOSSAS ORDENS
O Teatro do Campo Alegre do Porto é o primeiro espaço cultural do mundo a ter um programador "Magalhães". Sou eu. João MAGALHÃES Coutinho Gesta. 55 anos, careca reluzente, quase solteiro, próteses a brilhar.
O TCA e a sua programação editorial e de leituras está, portanto, na moda, está na vanguarda, está virada para o futuro, em suma, está muito à frente. Em breve, exportaremos programação para o Brasil, Venezuela, Mali e, quem sabe, para lá de Marraquexe.
A todos os que acreditam no programador "Magalhães", dedico, do fundo do coração, um poema quase normal de Adília Lopes, uma das nossas próximas convidadas:
Clarisse Lispector,
a senhora não devia
ter-se esquecido
de dar de comer aos peixes
andar entretida
a escrever um texto
não é desculpa
entre um peixe vivo
e um texto
escolhe-se sempre o peixe
vão-se os textos
fiquem os peixes
como disse Santo António
aos textos
(in "Obra", Mariposa Azual)
O TCA e a sua programação editorial e de leituras está, portanto, na moda, está na vanguarda, está virada para o futuro, em suma, está muito à frente. Em breve, exportaremos programação para o Brasil, Venezuela, Mali e, quem sabe, para lá de Marraquexe.
A todos os que acreditam no programador "Magalhães", dedico, do fundo do coração, um poema quase normal de Adília Lopes, uma das nossas próximas convidadas:
Clarisse Lispector,
a senhora não devia
ter-se esquecido
de dar de comer aos peixes
andar entretida
a escrever um texto
não é desculpa
entre um peixe vivo
e um texto
escolhe-se sempre o peixe
vão-se os textos
fiquem os peixes
como disse Santo António
aos textos
(in "Obra", Mariposa Azual)
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