BEM-VINDOS A ESTE ESPAÇO

Bem-Vindos a este espaço onde a temática é variada, onde a imaginação borbulha entre o escárnio e mal dizer e o politicamente correcto. Uma verdadeira sopa de letras de A a Z num país sem futuro, pobre, paupérrimo, ... de ideias, de políticas, de educação, valores e de princípios. Um país cada vez mais adiado, um país "socretino" que tem o seu centro geodésico no ministério da educação, no cimo do qual, temos um marco trignométrico que confundindo as coordenadas geodésicas de Portugal, pensa-se o centro do mundo e a salvação da pátria.
__________________________________________________________________

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

OS PROFESSORES SÃO OS CULPADOS PELO INSUCESSO ESCOLAR?




Os professores são culpados do insucesso escolar?
- Sim. Se metade dos alunos chumbam não é porque são mais burros que os outros. A culpa é dos professores e de quem os educou. A ministra está a ser corajosa.
Inês Pedrosa (escritora)
Por incrível que pareça, quem diz isto, não é uma pessoa qualquer que à partida não deveria confundir-se com uma qualquer pessoa. É uma pessoa que se faz passar por escritora, que deveria estar mais conhecedora do Ensino e da Educação em Portugal. Ou então, deve ter alguns ajustes de contas a fazer com os professores.
É que se em Portugal metade dos portugueses não lê, não é porque são mais burros que os outros. A culpa é dos pseudo e incompetentes escritores como ela, ignorantes e ressabiadas da vida, que vendem menos livros que algumas peixeiras na praça vendem peixe e que, lá porque aparecem de vez em quando na TV ou nos jornais, fruto da solidariedade, corporativismo e amizades conseguidas entre os jornalista, se acham capazes de denegrir uma classe inteira de professores que merece muito mais respeito do que aquele que infelizmente lhes tem sido votado, graças aos enxovalhos de uma ministra que se chegou a vangloriar por ter "perdido os professores mas, ter ganho a população" onde ela está obviamente incluida.
Apoiada por um primeiro ministro, sr. José Sócrates, ex-engenheiro, que, com o sentido de OPORTUNISMO conseguiu em pouco tempo, aquilo que qualquer estudante digno e que se preze, leva anos a conseguir - uma licenciatura.
Talvez fosse interessante perguntar a esta senhora Inês Pedrosa que opinião tem sobre o sistema de equivalências do sr. Sócrates, dos exames de inglês técnico, do mesmo professor a leccionar 4 disciplinas, dos exames ao domingo, dos curriculos do curso e lista de alunos do ano da sua ... licenciatura, etc. etc. etc. E já agora, do duplicado de fotocópias rasurado que se encontram na Assembleia da República sobre as suas habilitações literárias.
Gostava de saber ainda se, sobre isto, os outros portugueses também são burros.
Ou estará esta dita escritora à espera de algum convite "job for de girls" ... no Ministério da Educação?
Vão continuar a comprar livros da Inês Pedrosa? Não sejam burros ...

terça-feira, 23 de outubro de 2007

RELATÓRIO E CONTAS DA REN - 2006

Meus amigos ... ISTO É UMA VERGONHA
Os políticos da Maioria e da "Não Maioria" estão afinal de acordo com esta ENORME POUCA VERGONHA, a fim de salvaguardarem tanto o presente como o futuro. Enfim, mais uma de um governo onde os seus "boys" se procuram GOVERNAR.
Sacrifícios para os outros é uma coisa, não custa cobrar sejam eles reformados, professores ou desempregados. Agora, sacrifícios para os "boys", deputados, governantes e toda essa camada de parasitas que nos infestam, já é MUITO MAIS difícil. Razão têm os brasileiros quando dizem que ... "pimenta no dos outros é açúcar"
Mais do que ser uma vergonha ... METEM NOJO!
PORTANTO, HÁ QUE COBRAR IMPOSTOS AOS REFORMADOS A PARTIR DE 600 € PARA SE CHEGAR AO DEFICIT DE 3%... esta é que é a verdade!
Vencimentos dos gestores da REN (Rede Eléctrica Nacional), segundo o Relatório e Contas de 2006 (dados publicados a páginas 127/8):
1 Presidente (José Penedos)
Remunerações anuais
Vencimento base: 272 658
Plano complementar de reforma: 45 443
Subsídio de alimentação. 2 238
Despesas de representação: 8 529
Total geral: 328 868
Média mensal: 27 405 (5.495 contos)

____

Vogais (Vítor Baptista, Aníbal Santos, Henrique Gomes e Soares de Pinho)
Remunerações anuais de cada um dos 4 Vogais:
Vencimento base: 172 205
Plano complementar de reforma: 28 701
Subsídio de alimentação. 2 238
Despesas de representação: 8 529
Total geral: 211 673
Média mensal: 17 639 (3.536 contos - cada um)

Complementarmente, o Presidente e os Vogais têm direito à utilização de viatura da empresa, com um "plafond" de 75 mil euros e 65 mil euros , respectivamente, em relação ao qual não beneficiam do direito de opção de compra, nos termos da Resolução do Conselho de Ministros nº 121/2005.

RECORDAÇÃO DE UM DESASTRE

Faz hoje 30 anos que perdi num dia, 27 de Maio de 1977, mais amigos do que em toda a vida. Perdi-os, mesmo, de morte.
E eles morreram não como se morre num acidente, juntos, mas como quando os homens enlouquecem, de um e de outro lado.

O Juca, o Neto, o Nado, o Zé, o China, o Gigi... Assim, com nome de miúdos, como éramos quando nos fizemos juntos.
Uns morreram por serem "nitistas", outros por serem "netistas", mas isso não os merece. Eles foram muito mais, por isso os misturo, porque foi juntos que eles foram o que foram, jovens de coragem.

Dez anos antes, éramos todos adolescentes, e não éramos exactamente como a nossa geração luandense. Em finais dos anos 60, vivíamos num país colonizado, Angola, e só dizer o nome do nosso país fazia-nos brilhar os olhos.


O Zé tinha 18 anos e ia à cadeia visitar presos políticos. O Neto distribuía livros proibidos. O Juca mandava medicamentos para os guerrilheiros que combatiam no Norte. Nessa altura estávamos juntos. Quando Marcelo Caetano foi a Luanda, em Abril de 1969, enchemos a nossa cidade de panfletos.


Dizíamos neles: "Amanhã, Angola será melhor."Dir-se-á, revolta vulgar em jovens. Não, não era. Por isso éramos poucos. Não era comum dois rapazes, um negro e outro branco, baterem à porta da cadeia colonial do Cacuaco e anunciarem que queriam ver o Escórcio, preso político. Em fins de 1969, todo o grupo teve um duro destino. Uns exilaram-se, outros foram presos (Peniche, Tarrafal, São Nicolau) - nenhum pôde ficar a viver na sua bela e querida cidade.Em 1975, Angola tornou-se independente, mas não se tornou melhor.


A prova foi o 27 de Maio de 1977 - uma explosão fratricida no interior do MPLA. Ao China, que tinha sido guerrilheiro, nitistas (apoiantes de Nito Alves, uma facção do partido) foram buscar a casa; de passagem, levaram o Garcia Neto, que o visitava.


Os corpos dos dois foram encontrados queimados. Os do outro lado, os netistas (da facção do Presidente Agostinho Neto), deram caça aos nitistas ou que assim eram tidos. O Nado, o Juca Valentim, o Zé Van-Dúnem, o Gilberto Saraiva de Carvalho, foram presos, quase sempre torturados, todos mortos.


Como centenas de outros, mas falo aqui dos meus amigos. Pergunto o que nos aconteceu e acuso-me e aos meus amigos. A nossa coragem nós emprestámo-la à ideologia e foi esta que nos matou - a alguns, fisicamente, naquele dia; a todos, por nos ter cegado. De nós, que tanto falávamos do futuro, não me lembro de nos ouvir falar da vida real.


E, no entanto, o Juca devia ter sido o engenheiro que Angola precisa, o Neto seria o professor que ia dentro dele, o Zé, o chefe do que quer que seja, natural nele, tão superior, elegante e inteligente... Mas falhámos tudo e não foi só naquele dia.




Ferreira Fernandes - jornalista


ferreira.fernandes@dn.pt

O SILÊNCIO QUE GRITA

Fonte: Carlos Gonçalves - Angola Digital
Wednesday, 13 June 2007
Especial Angola Digital.
Existem gritos estrondosos que ressoam e tudo estremecem à sua passagem. Existem gritos finos, secos, curtos e imediatos, brevíssimos de uma agonia fatal e eficaz. Existem gritos agudos cujos decibéis estilhaçam os vidros à volta. Existe o grito e existe o silêncio. Sobre o 27 de Maio de 1977 existem as duas coisas.
Na carta que escreve ao Semanário Angolense nº 139, Artur Pestana “Pepetela” levanta uma ponta do véu ao assumir ter feito parte de uma “Comissão criada pelo Bureau Político do MPLA com o objectivo de seleccionar, entre os depoimentos dos detidos na altura, os que seriam mais elucidativos para serem transmitidos pelos Órgãos de Informação”. Esta passagem da carta é, pelo menos, elucidativa para algumas ilações, nomeadamente que Artur Pestana terá ouvido muita coisa. Também que havia uma estratégia clara para a propaganda do facto, pelo menos para a difusão de esclarecimentos que servissem, na óptica do Estado, para marcar uma posição clara do tratamento a dar a qualquer tentativa semelhante.
O 27 de Maio, ao que se diz, marca uma tentativa de golpe de Estado, liderada por Nito Alves e José Van-Duném, contra Agostinho Neto por divergências ideológicas. O que se seguiu persiste até hoje na encruzilhada entre o imaginário e a ficção.Os que sabem não falam, os que sabem um pouco especulam, os que não sabem nada fazem que sabem. O facto é que todos sentem medo, o mesmo medo que aterroriza até os que não viveram directamente, ou eram miúdos, ou somente ouviram falar. Um medo que trespassa gerações, portanto. Mas que medo é esse? Certamente o medo que impõe o silêncio.
A questão é que esse silêncio já não se justifica no quadro de uma politica de “reconciliação nacional” entre angolanos desavindos ao longo dos anos. Em termos políticos houve “perdão” e “reconciliação” para os da FNLA. Houve “perdão” e “reconciliação” para os da UNITA. Houve “perdão” e “reconciliação” com o Zaire (RDC), ainda no tempo de Mobutu. Houve “perdão” e “reconciliação” com os “colonialistas” de Portugal. Houve “perdão” e “reconciliação” com os Estados Unidos da América. Houve “perdão” e “reconciliação” para muitos crimes económicos e civis de pessoas singulares e colectivas. Não haverá perdão para os “crimes” do 27 de Maio?
Enquanto não se sabem as razões desse “silêncio de estado” temos de convir que, do ponto de vista moral, os familiares têm direito à indignação. Fala-se que não há uma família sequer que não tenha ficado afectada com os acontecimentos de 27 de Maio, com grande incidência para as zonas de Luanda, Bengo, Kwanza-Norte, Malange, Benguela e até mesmo de angolanos que viviam e estudavam no estrangeiro. Diz-se à boca miúda que nas cadeias de Luanda a “intriga” tinha mais força que a justiça e, até que se esclarecessem alguns “equívocos”, a desgraça já havia chegado e os parentes partido para um destino até hoje incerto. É evidente que há aqui responsabilidades do Estado por cumprir.
É imperioso que se expurgue essa mácula do nosso passado (i)moral e que, verdadeiramente, façamos uma reconciliação “tout-court” entre todos, apelando à nossa imensa capacidade de “perdoar”, ou não será também infinita a bondade dos homens políticos? Á Comissão a que pertenceu Artur Pestana “Pepetela”, criada pelo Bureau Politico do MPLA, poderia certamente pedir-se que viesse fazer uma reconstituição das audições, certamente ainda num qualquer arquivo. Poderia mesmo criar-se uma nova Comissão de Conciliação para os acontecimentos do 27 de Maio. Porque não?
Hoje o medo frio que perpassa pela “espinha dorsal” da sociedade angolana, ambígua entre o “amor” e o “ódio” ao seu próprio Estado-Nação, com temor “inquisitivo” à sua Polícia de Segurança do Estado, leva-me a supor que relativamente ao 27 de Maio existe na geração que a viveu directamente um tipo de “medo” capaz de se alastrar como um desígnio e uma espécie de consciência nacional da paralisia dos sentidos. Essa etapa, que queremos saltar na história da construção da nossa Nação, faz lembrar dramas que ocorreram em diversos lugares pelo “abafamento” de “pequenos pecados?” mal expurgados em determinadas sociedades.
Os conflitos nos Balcãs e no Ruanda foram resultados directos de parciais cegueiras de um mal propalado realismo social “tropical”, surgido depois de conflitos com origem ideológica. Nós não queremos nem temos já necessidade de passar por isso. Faz parte da responsabilidade social do Estado agir imediatamente para que sobre o 27 de Maio não se faça mais drama de nenhuma espécie, nem qualquer aproveitamento político.Que se restitua às famílias, de igual modo, a dignidade dos seus entes queridos, independentemente do que tenha acontecido com eles. Na construção do nosso país, no nosso processo de maturação, quem não cometeu erros?
*Eco do Kwanza publicado em Maio de 2006

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

SOBREVIVENTES DO 27 DE MAIO DE 1977 AINDA PROCURAM EXPLICAÇÕES

Passados trinta anos dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977 em Angola, para uns uma tentativa de golpe de Estado, para outros um contra-golpe, os sobreviventes ainda procuram juntar pedaços da História, em nome das vítimas.
Vários sobreviventes contaram à Lusa as suas experiências e dizem que não procuram saber a verdade, porque essa já a conhecem, mas apenas apurar o que aconteceu aos milhares de desaparecidos após o 27 de Maio.

Há 30 anos, Nito Alves, então ministro da Administração Interna sob a presidência de Agostinho Neto, liderou uma manifestação para protestar contra o rumo que o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) estava a tomar.
Segundo José Reis, José Fuso e Jorge Fernandes, que contaram à Lusa as suas experiências depois de detidos por serem considerados "fraccionistas", Nito Alves pretendia apenas "cumprir escrupulosamente os estatutos do movimento" e seguir "a orientação marxista-leninista adoptada".
Na versão oficial, através de uma declaração do Bureau Político do MPLA, divulgada a 12 de Julho de 1977, o 27 de Maio foi uma "tentativa de golpe de Estado" por parte de "fraccionistas" do movimento, cujos principais "cérebros" foram Nito Alves e José Van-Dunem.
Nito Alves e José Van-Dúnem tinham sido formalmente acusados de fraccionismo em Outubro de 1976. Os visados propuseram a criação de uma comissão de inquérito, que foi liderada pelo actual Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, para averiguar se havia ou não fraccionismo no seio do partido.

As conclusões desta comissão nunca foram divulgadas publicamente e Nito Alves nunca terá sido ouvido. Decide então escrever "13 teses em minha defesa", que, segundo os seus apoiantes da altura, não teve oportunidade de apresentar porque foi, juntamente com José Van-Dúnem, expulso do comité central do movimento, a 21 de Maio de 1977.
Os apoiantes de Nito Alves consideravam que o golpe já estava a ser feito por uma ala maoísta do partido, liderada pelo secretário administrativo do movimento, Lúcio Lara, e que terá instrumentalizado os principais centros de decisão do partido e os media, em especial o Jornal de Angola, pelo que consideraram que a manifestação convocada por Nito Alves foi "um contra-golpe".

Golpe ou contra-golpe, a repressão que se seguiu ao 27 de Maio contra os chamados fraccionistas teve graves consequências na sociedade angolana pelo número de mortos e detidos, mas também no seio do próprio MPLA, que perdeu muitos dos seus quadros e jovens militantes.
Ninguém sabe ao certo quantas pessoas morreram. Os números são tão díspares, que vão desde 4.000 a 82.000, dependendo das fontes.

Em Abril de 1992, o governo reconhece que foram "julgados, condenados e executados" os principais "mentores e autores da intentona fraccionista", que classificou como "uma acção militar de grande envergadura" que tinha por objectivo "a tomada do poder pela força e a destituição do presidente (Agostinho) Neto".
Entre os 11 nomes dos responsáveis, divulgados pelo governo, estavam Nito Alves, José Van-Dúnem e a sua mulher Sita Valles, militante da União dos Estudantes Comunistas (UEC) em Portugal e que passou a militar no MPLA em meados de 1975. Os seus corpos, bem como os dos restantes, nunca foram entregues às famílias, nem emitidas certidões de óbito.

A Fundação 27 de Maio, criada em 2001 em Luanda, exige que o governo revele o que aconteceu aos milhares de pessoas que desapareceram para, pelo menos, "terem um enterro condigno", disse à Lusa o presidente da Fundação, Silva Mateus, que também esteve detido dois anos por acusação de envolvimento no 27 de Maio.

Esta fundação entregou há dois anos uma queixa por genocídio no Tribunal Penal Internacional (TPI) contra os Estados angolano e cubano, "mas até hoje não houve qualquer resposta".
Em declarações à Agência Lusa, um colaborador da embaixada de Portugal em Luanda na altura, que pediu para não ser identificado, afirmou que a embaixada "tentou salvar todas as pessoas implicadas" e reconheceu que "havia muitos portugueses envolvidos".
No entanto, acrescenta a fonte, a posição das autoridades angolanas de então era que "quem fosse angolano não seria libertado".

"Havia muitos que eram luso-angolanos, mas que recusaram assumir a nacionalidade portuguesa" e, por isso, sofreram as consequências.
"Demos toda a protecção possível aos portugueses. Até cheguei a ir buscar no meu carro pessoas que estavam com medo e levei-as para minha casa", disse a fonte.
Questionado sobre se houve portugueses mortos na sequência do 27 de Maio, o colaborador de então respondeu que não sabe, acrescentando, no entanto, que "morreu muita gente na altura".
Sobre a decisão de Agostinho Neto de expulsar os portugueses, a fonte disse que se tratou de "um mal menor".

"Mais valia sair do que ficar, ser preso e ser morto", disse.
A mesma fonte acrescentou que a embaixada tentou interceder por Sita Valles, mas esta "não quis reivindicar a nacionalidade portuguesa" e como tal, "foi presa".

Sobre o que realmente se passou nesta altura, o responsável afirma que "a História é muito cruel e muito dura", considerando que "não vale a pena falar em bons e maus.
"O tratamento dado às pessoas foi brutal e cruel. De ambos os lados", disse.
Foi esse tratamento cruel que José Reis, José Fuso e Jorge Fernandes contaram à Lusa, e a que foram submetidos precisamente por recusarem dizer que eram portugueses.
José Reis esteve preso mais de dois anos. Detido a 30 de Maio, tinha 22 anos. Foi espancado, torturado e todos os dias pensava que ia morrer.
Esteve com mais dez colegas, todos nus, num pátio nas instalações da polícia de segurança do Estado (DISA), prestes a ser fuzilado. Foram salvos pelo director-geral, Ludy Kissasunda, que deu ordem para que os levassem para a cadeia de São Paulo, em Luanda.
Seguiram-se mais seis meses de horror. "Ouvíamos os outros a serem torturados. Todas as noites levavam pessoas que regressavam mais mortas que vivas. Alguns não regressavam", recorda.

"Um dia chamaram-me à noite, disseram-me para assinar um documento a afirmar que era português e deixavam-me sair de Angola. Recusei", diz, com orgulho.
A mulher, portuguesa, foi expulsa de Angola e a sua casa ocupada por um chefe da DISA. "Acabei por vê-lo mais tarde com os meus sapatos calçados", recorda.
Em Janeiro de 1978 foi transferido para um "campo de recuperação". "Foi horrível porque apesar de estar ao ar livre, sem grades, a pressão psicológica era terrível", diz.
José Reis foi inicialmente condenado à pena de morte, depois comutada para 24 anos de cadeia. Nunca foi julgado e saiu ao fim de quase dois anos e meio. Deixou Angola quatro meses depois por se sentir ainda "perseguido". Nunca mais voltou.

Jorge Fernandes foi preso no mesmo dia. Na cadeia, foi torturado e espancado durante um dia e meio. Ainda hoje tem problemas no ouvido esquerdo.
O episódio que recorda com maior mágoa foi a forma como o informaram da morte do pai, que já estava em Portugal. "Esperaram pelo meu dia de anos para me darem a notícia".
José Fuso também fazia parte deste grupo. Tinha 23 anos e era estudante de Economia. Nunca foi acusado de nada e diz: "Se cometi algum crime foi o de opinião política".
Há muitas coisas de que não se lembra, "uma forma de defesa para tentar apagar certas situações que se passaram".

A filha nasceu enquanto esteve preso. Diz que soube o sexo da criança "através de panos cor-de-rosa" que amigos lhe mostraram de fora da cadeia.
Das torturas, recorda que foi "levado para uma sala" e "interrogado enquanto um amigo pessoal estava a ser ameaçado com choques eléctricos nos órgãos genitais". Ainda tem marcas na cabeça das pancadas que levou.
Recorda que muitos presos "eram levados à noite, em ambulâncias, que regressavam no dia seguinte, vazias, e sujas de sangue".
Foi libertado a 17 de Agosto de 1979. Guarda "religiosamente" o mandado de soltura. Veio para Portugal em 1983 e nunca mais voltou a Angola.

Estes três sobreviventes formaram há três anos a Associação 27 de Maio, com um site onde podem ser deixados testemunhos. Reconhecem que não teve grande sucesso "porque as pessoas ainda têm medo de falar".
No entanto, o site serve pelo menos para partilha de informação. "Dá para juntar uma ponta daqui, outra dali e chegar a algumas conclusões".
Todos os anos lançam iniciativas para recordar a data e até já escreveram uma carta aberta ao Presidente angolano, mas nunca obtiveram resposta.
Este ano, não vão fazer nada. Porque assinalar 29, 30 ou 31 anos é a mesma coisa.

A Lusa contactou fonte da Presidência angolana, que não fez qualquer comentário sobre o assunto e um responsável do MPLA remeteu para "mais tarde" uma posição, que não foi possível obter em tempo útil.
Numa declaração oficial, aquando dos 25 anos do 27 de Maio, o Bureau Político do MPLA não usa a expressão "golpe de Estado", mas refere-se apenas aos "acontecimentos" motivados pela "atitude de alguns dos seus militantes que (.) conduziram uma acção de contestação aos órgãos de direcção do partido e do Estado, utilizando componentes de violência com excessos visíveis".
Na altura, o MPLA considerou que estava "virada mais esta página" da História de Angola.
"Devemos assumir o compromisso, perante o povo angolano e o mundo de tudo fazermos para que Angola seja a pátria da liberdade, da tolerância, da democracia e da justiça".

Links - O dia mais negro. Associação 27 de Maio.

27 DE MAIO DE 1977 - ESTAÇÃO DAS CHUVAS

«Por estranho que pareça, as atrocidades cometidas no Chile de Pinochet, se comparadas com o que se passou, de 1977 a 1979, no país de Agostinho de Neto, assumem modestas proporções. E o mais chocante é que, no caso de Angola, nem sequer atingiram inimigos, mas sim membros da própria família política.»

«Na margem sul do Tejo, faleceu recentemente um angolano, antigo membro do MPLA, a quem por alturas do 27 de Maio foi atribuída a tarefa de coveiro. Há quem se lembre de o ouvir contar que fora obrigado a sepultar pessoas vivas. Milhares de famílias de angolanos nunca puderam enterrar os seus mortos.»

«[...] Eram presos e enviados, sem qualquer processo, para campos de concentração. Muitos dos que morreram nem sequer sabiam quem era Nito Alves. E eram muitos os que tinham menos de 18 anos. Entre os detidos encontravam-se, até, soldados que não estavam em Angola no dia 27 de Maio.»

«Houve pessoas que foram presas e até mortas, porque eram amigos ou parentes afastados. Pior, quando eram parentes próximos.»

«De modo que os soldados entravam nas casas perguntando onde estavam os intelectuais ou os estudantes. E acabaram por matar muitos.»

A chamada Comissão das Lágrimas foi criada pelo Bureau Políticos do MPLA com o objectivo de seleccionar os depoimentos dos presos do 27 de Maio. No entanto, como veremos, alguns dos seus membros interrogaram ou provocaram os detidos. Dela fizeram parte: Iko Carreira, Henrique Santos (Onambwé), Ambrósio Lukoki, Costa Andrade (Ndunduma), Paulo Teixeira Jorge, Manuel Rui, Diógenes Boavida, Artur Carlos Pestana (Pepetela), José Mateus da Graça (Luandino Vieira), Mendes de Carvalho, Henrique Abranches, Eugenio Ferreira, Rui Mingas, Beto van Dunem, Cardoso de Matos, Paulo Pena e outros não identificados.»
«O inquiridor principal foi Artur Carlos Pestana (Pepetela). Num registo particularmente agressivo, queria saber quais eram as suas actividades, se e quando tivera reuniões, quem contactava, como funcionavam as ligações entre os sectores da educação, da saúde e da função pública. [...] Foi também interrogado por Manuel Rui. [...] Maria da Luz Veloso, na altura com 47 anos, também se lembra de ter comparecido nesta Comissão, onde foi interrogada por Pepetela e por Manuel Rui. [...] Como não fazia o que pretendiam, Manuel Rui não hesita em dizer: "A minha vontade era dar-lhe um par de bofetadas. Você não colabora. Vejo-me obrigado a entregá-la aos militares." Os detidos passavam para os militares. E para as torturas.»

«Presos atirados pelas escadas e, no pátio, brutalmente espancados. Berravam e pediam clemência. Quase desfalecidos eram atirados para dentro de viaturas. Um mercenário norte-americano comentava: "Já vi muita coisa na minha vida. Mas nunca tinha visto tal coisa."»


«João Jacob Caetano, o lendário Monstro Imortal, morreu com o garrote do nguelel>. Também consta que o tinham cegado. Foi interrogado por Pedro Tonha (Pedalé), o qual, possivelmente como prémio, subirá do 10º para 4º lugar na hierarquia do MPLA. No entanto, nem coragem tinha para lhe fazer as perguntas. Os algozes deixavam na sala um gravador, para depois reproduzirem o que dizia. E iam apertando o garrote. [...] Ao que parece, atiraram o corpo de um avião.» ",



«A indicação para o seu fuzilamento [Nito Alves] terá sido do presidente da República, embora na Fortaleza, onde estava, a ordem tenha sido dada por Iko Carreira, Henrique Santos (Onambwé) e Carlos Jorge. Nito não quis que lhe tapassem os olhos, pois queria ver os que o iam matar. O corpo foi varado por umas três dezenas de balas. E um dos chefes ainda lhe foi dar o tiro de misericórdia. O seu corpo foi atirado ao mar, com um peso.»

«Carlos Jorge, Pitoco e Eduardo Veloso chicoteia-no [a Costa Martins], batem-lhe com um pau com espigão de ferro, massacram-lhe as costas com correias de uma ventoinha de camião. Ao chicote chamavam Marx e, ao espigão, Lenine. Uma das vezes puseram-no numa sala, junto a uma máquina de choques eléctricos. Ainda cheirava a carne queimada.»


«Em meados de Junho [Sita Valles] é presa com o marido [José Van Dunem]. Entra no Ministério da Defesa de mão dada com José. [...] Terá ido para a Fortaleza de S. Miguel. Terá sido torturada e violada por elementos da DISA. [...] Várias fontes, entre as quais um responsável da DISA, declaram que se encontrava novamente grávida. ",

Terão esperado que tivesse a criança para depois a fuzilar. O bebé nunca foi entregue à família.

[...] Uma presa ouviu contar que, antes de a matarem, lhe deram um tiro em cada braço e em cada perna.»

«Os cálculos sobre o número de mortos variam. Um responsável da DISA, ouvido por nós, fala em 15 000. A Amnistia Internacional fez um levantamento e avançou com 20 000 a 40 000. Adolfo Maria, militante da Revolta Activa, e José Neves, um juiz militar, falam de 30 000 mortos. O jornal Folha 8 falou de 60 000. E a chamada Fundação 27 de Maio foi até aos 80 000. [...] Quedemo-nos pelos 30 000 mortos. Dez vezes mais mortos do que no Chile de Pinochet. Na própria família política. Sem qualquer julgamento. E em muitos casos sem qualquer relação com os acontecimentos.»

«Em Malanje foram fuziladas mais de mil pessoas. No Moxico, Huambo, Lobito, Benguela, Uíje e Ndatalando aconteceu o mesmo. No Bié mataram cerca de 300 pessoas. Em Luanda, os fuzilamentos prosseguiram durante meses e meses.»

«As cadeias eram sucessivamente cheias e sucessivamente esvaziadas, desaparecendo as pessoas. [...] Um grupo de militares foi morto na periferia de Luanda, junto a uma praia. Foram abatidos um a um, com tiros na cabeça. Os vivos que assistiam à cena pediam clemência. Os verdugos divertiam-se. E continuavam a matar, com um tiro na cabeça.»

«As forças de segurança prenderam muita gente jovem que, na manhã de 27 de Maio de 1977, andava nas ruas de Luanda. Centenas deles foram levados para um Centro de Instrução Revolucionária na Frente Leste e os dirigentes locais assassinaram-nos friamente.»

«Estudantes que estavam na União Soviética, na Bulgária, na Checoslováquia e noutros países do Leste, foram mandados regressar. No aeroporto de Luanda foram presos. E muitos foram decapitados, sem saberem a razão. [...] Nas Faculdades desapareceram cursos inteiros. No Lubango, dirigentes e quadros da juventude foram atados de pés e mãos e atirados do alto da Tundavala.» "

«Onde param os fuzilados? Uns foram depositados em valas comuns. Outros lançados de avião ou de helicóptero para o mar ou para a mata. [...] Um ano depois do 27 de Maio, ainda se matava. Ademar Valles [irmão de Sita Valles] foi morto em Março de 1978.» «O juiz José Neves conclui: "Foi um verdadeiro genocídio. Em Angola devem ter morrido umas 30 000 pessoas."»
«A questão dos presos portugueses em Angola era tratada com a máxima moderação, ao contrário do que acontecia com na imprensa ocidental com casos de idêntica natureza. [...] A solidariedade com os presos políticos angolanos era, também, um tema de excepção na imprensa portuguesa, evitando-se qualquer crítica ao regime do MPLA. Apenas a poetisa Natália Correia, no Jornal Novo, se referira a um regime de sistemática repressão policial, falando mesmo no Gulag angolano.»«Muitos dos "libertadores" sonhavam com a casa, o carro, os privilégios e as posições dos colonos. Conquistaram-nas e tornaram-se piores do que estes. Desculpar-se-ão com a guerra. Só que a guerra, que tantos matou e estropiou, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas.» Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus,
Purga em Angola. Nito Alves, Sita Valles, Zé Van Dunem e o 27 de Maio de 1977

Associação 27 Maio
Edições Asa.

PURGA EM ANGOLA

Nº págs.: 208 ISBN: 978-972-41-5372-8
Preço: 18,00 € (com IVA 5%)

Estamos perante um livro de denúncia de um crime político de espantosas dimensões e que jamais se apagará na memória do povo angolano: o falso golpe de Estado atribuído, pelo Presidente Agostinho Neto, a três destacadas figuras do MPLA – Nito Alves, Sita Valles e José Van Dunem, todos eles fisicamente eliminados na sequência directa dos acontecimentos do 27 de Maio de 1977.
Em termos de vítimas, assumiu proporções superiores às dos actos criminosos de Pinochet no Chile.
Todavia, trata-se de um livro de carácter histórico, resultante de mais uma investigação – rigorosa e corajosa – de Dalila Cabrita Mateus, com a colaboração de Álvaro Mateus.

DIREITO À INDIGNAÇÃO

Em Portugal a interrupção voluntária da gravidez dá direito a 30 dias de licença com 100% do ordenado!
Mas uma mulher que esteja grávida e que se veja forçada a ficar de baixa antes do parto, sem este ser de risco, recebe um subsídio de 65% do seu ordenado; e uma mãe que tenha de assistir na doença um seu filho menor recebe apenas 65% do seu ordenado...

domingo, 21 de outubro de 2007

O «PROFESSOR TITULAR» VISTO PELO JORNAL "A BOLA"

"As nossas escolas lançam-se, definitivamente, na arrojada experiência do mundo da bola. Com uma Ministra apostada em ser um género de Scolari da educação, o Ministério investe na divisão sectarista entre (professores) titulares e suplentes.
Os titulares serão, então, convocados à luz de uma escolha surpreendente. Mais importante do que saber dar aulas e ter sucesso na relação educativa com os alunos, interessará saber como pisar a alcatifa dos gabinetes, ter prática de carreira burocrática fora da sala de aulas e, acima de tudo, não ter tido lesões que obriguem a paragens mais ou menos longas no Campeonato, mesmo que por culpa de qualquer sarrafada alheia .
A táctica é, pois, não ter vida para além do dever. O destino é entregar a titularidade professoral aos mais dignos ratos de sacristia. Por isso, não bastará saber marcar golos. E, tal como em alguns clubes de futebol manhosos, é preciso não esquecer de elogiar o presidente e ser de uma fidelidade canina ao treinador."

A MATEMÁTICA DE MIGUEL SOUSA TAVARES


"Habitualmente, gosto de ler as crónicas de Miguel Sousa Tavares e aprecio a forma como ataca muitos dos problemas nacionais.
O pior é que, cada vez que fala de assuntos que conheço mais profundamente, encontro alguns erros e incorrecções.
Na sua última crónica a respeito dos professores fala do pouco que eles trabalham.
Eis como ele faz as contas: 90 dias de férias de Verão, 15 de Páscoa, 15 de Natal, 7 de Carnaval,7 de feriados, 104 fins de semana
Total: 131 dias de aulas e 234 de folgas.
Por acaso há aqui um erro na soma: são 238 de folga e 127 de aulas
Seguindo nesta linha de raciocínio, poderíamos continuar.
Eu, normalmente, durmo 8 horas por dia. Portanto, passo um terço do tempo a dormir, o que, num ano, corresponde a 121 dias.
Ou seja, o tempo de folga passa a ser afinal de 238+121 ou 359.
Como ainda por cima no ano passado tive 5 dias de formação e não dei aulas, o meu total de folgas é de 364.
Conclusão: dei apenas um dia de aulas. Já não consigo é lembrar-me em que data foi.
Algo se passa com a matemática de Miguel Sousa Tavares"
Por José Paulo Viana

sábado, 20 de outubro de 2007

EXCELENTE RECEITA

Como se cria um deputado, presidente câmara ou vereador:
1 nota de euro

1 colher de sopa de corrupção


1 dose de falta de carácter 1 dose de ganância

1 pedaço médio de cara de pau 1 pitada de merda

Coze tudo para tirar qualquer restinho de ética, acrescente fermento à vontade

Obs. Não exagere na merda senão você cria um primeiro-ministro.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

EDUCAÇÃO: O DISCURSO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

António Nóvoa, reputado estudioso em matéria de Educação (autor, por exemplo, do livro Evidente mente, Histórias da Educação), considerou, no Telejornal das 22h da RTP2, o gesto do Presidente da República (PR), no discurso de 5 de Outubro, «muito interessante» e «muito republicano.» E acrescentou: «A República teve um discurso muito retórico sobre a Educação desde o princípio.»
«Aliás, este gesto do PR faz lembrar um pouco o gesto de Manuel de Arriaga, que começou por citar o discurso [em que se dirigia] a um congresso de professores, dizendo que saudava os professores comovidamente e que a "pátria confia em vós", a "minha soberania é vossa" [em 1912].
«O PR retoma e renova este gesto. Curiosamente, tal como Nicolas Sarkozy em França, no mês passado, escreveu uma carta aos professores, retomando um gesto de 1883 de Jules Ferri. Nota-se, hoje em dia, e isso é muito interessante, na Europa, uma necessidade dos principais responsáveis políticos renovarem o contrato de confiança com os professores
«Temos professores de muita qualidade no sistema de educação português. Mas, curiosamente, e isso é uma coisa que dói um bocadinho a quem gosta do trabalho escolar, são muitas vezes os melhores professores e as melhores escolas que se sentem, hoje em dia, mais atacados e desmoralizados com certas críticas sociais sistemáticas
A jornalista Cecília Carmo questionou António Nóvoa se o discurso do PR não terá sido um aviso ao Governo e às políticas de educação.
«Certamente que sim. Há aqui por parte do PR a vontade de construir algumas pontes políticas. E de construir políticas que tenham a maior estabilidade no tempo. Julgo que é muito importante que se reconstruam as pontes de confiança entre os professores, a sociedade, o Governo . Nós podemos ter muitas opiniões, e é bom que as tenhamos, e perspectivas diferentes mas não podemos viver num clima permanente de suspeição e de crítica permanente.
«O relatório da OCDE 2005 tem como título "Teachers Matter", os professores contam, são importantes, fazem a diferença. «É preciso dar-lhes mais condições de trabalho e é preciso dar-lhes mais prestígio como diz o PR.
«Não é possível viver cinco, 10, 15, 20 anos em condições muito difíceis dentro das escolas e submetidos a uma permanente crítica social: crítica na Comunicação Social, crítica dos pais, da sociedade inteira. É preciso recuperar aqui um contrato de confiança .
«O professor Cavaco Silva diz que isto não é apenas um problema da escola, não é certamente apenas um problema dos professores, é um problema da sociedade portuguesa e, em primeiro lugar, dos pais e das comunidades [educativas].
«Portugal tem décadas e décadas de uma relativa indiferença em relação à escola . A sociedade portuguesa, desde sempre, nunca foi uma sociedade muito fundada na cultura escolar. [...] Esta resignação da sociedade portuguesa está-nos a custar muito caro. [...] Mas é preciso fazer um esforço muito maior.»
Há o «problema do desinvestimento que está a haver hoje em dia na Educação , tanto na educação básica e secundária, como na educação superior. [Lançou-se] a ideia para a sociedade portuguesa que se gastava demais na Educação para ter fracos resultados. Os fracos resultados é verdade.
O investir demais em educação nunca foi verdade em Portugal.
Foi verdade durante dois ou três anos. Em 1998, 1999 e 2000 nós aproximámo-nos da média europeia. Em dois séculos Portugal investiu dois ou três anos .«Estamos sempre aos solavancos. A sociedade portuguesa tem tido uma grande dificuldade em fazer aquele esforço inicial quase de lançar o comboio para que ele atinja uma velocidade de cruzeiro. Parece que estamos sempre num permanente solavanco e que fazermos um pequeno esforço, como estava a dizer, para nos aproximarmos do investimento e a sociedade parece que ficou cansada.
«Nos últimos cinco ou seis anos nós ouvimos milhares de pessoas sucederem-se nos écrans de televisão e nos jornais a dizer que Portugal gastava demais em educação. Não foram um, dois ou três. As nossas elites todas, os nossos colunistas todos, toda a gente veio dizer isso. Essas elites podem estar sossegadas porque no momento em que estão a falar nós estamos outra vez, depois de termos estado dois ou três anos na média, abaixo da média [europeia].
«Não é possível transformar uma situação de atraso de dois séculos sem termos um esforço de alguma continuidade . Nesse sentido, estou inteiramente de acordo com o comentário do Engenheiro José Sócrates, citando aliás uma frase famosa do presidente da Harvard University, quando diz que se pensam que a educação é cara, experimentem quanto é que custa a ignorância. Mas, isto não pode ser só discurso, tem que ser práticas políticas

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

SABE LÁ A TIA LURDES O QUE ESTÁ A FAZER ...

Fará ela a mínima ideia do que está a fazer?
De facto ela não passa de uma lacaia da U.E.
O sistema educativo não estava famoso, mas não precisava, Senhora Ministra da Educação, de aparecer para estragar o resto!
Vem, Vexa., perguntar agora o que estão 30 professores a fazer numa sala de professores? Sabe que também me coloco (e coloquei aqui) essa questão muitas vezes? E sabe o que estão lá a fazer? O que Vexa. mandou: a cumprir horário!
Não aumentou a carga horária dos docentes? Esqueceu-se, foi?
Tal como as utilíssimas «aulas de substituição» em que V. Ex.ª coloca um professor de Matemática a substituir um de Educação Física e vice-versa. Vexa Manda e os professores obedecem! Não têm alternativa, não é verdade?
Pode, portanto, V/ Vexa. orgulhar-se dos resultados obtidos! Eles são a consequência da sua «reforma»!Mas não se preocupe pois vão piorar! Com o escabroso Estatuto da Carreira Docente que Vexa inventou, os resultados só podem evidentemente piorar!
Nenhuma reforma, nunca, se conseguirá impor por decreto-lei nem contra a vontade da maioria dos envolvidos!
Os professores, obedientemente, cumprem e cumprirão sempre as suas ordens! Contrariados… muito contrariados… mas cumprirão! Não lhes pode é pedir que, apesar de tudo, as cumpram de sorriso nos lábios, felizes, contentes e totalmente envolvidos com as suas orientações!
Não há milagres! Cumprirão e ponto final!
Que é o que Vexa quer?Não se pode, portanto, queixar. Continue a mandar assim e verá a tal curva de crescimento em queda absoluta. É que não pode Vexa exigir que se cumpram 35 horas de serviço na escola e se venha para casa preparar fichas de trabalho… apontamentos… actividades…estratégias… visitas de estudo… grelhas… avaliações… relatórios… currículos alternativos…programas adaptados… trabalhos em equipa… etc.… etc.… etc.
Vexa tem família? Saberá, porventura, o que é a dor de um pai que se vê obrigado a negligenciar a educação e o crescimento do seu próprio filho para acompanhar os filhos dos outros?
Esquece Vexa Que os professores também são pais? Também são pais, Senhora Ministra! Pais!
Que estabilidade emocional pode um professor ter se Vexa resolve, 30 anos depois de Abril, impedir os professores de acompanharem os seus próprios filhos ao médico … à escola… aos ATLs? Não têm os pais que são professores os mesmos direitos dos outros pais?
Conhecerá Vexa a dor de uma mãe que se vê obrigada a abandonar o seu filho, prometendo-lhe voltar dali a uma semana? E quer Vexa motivação natural? Com a vida familiar desfeita?
Não é do conhecimento público que os professores são os maiores clientes dos psiquiatras? E que é entre os professores que se encontra a maior taxa de divórcios?
Porque será, Senhora Ministra?
Motivação? Motivação, como?
Se Vexa obriga os professores a fazerem de auxiliares de acção Educativa?
Motivação, como?
Se Vexa obriga os professores a estarem na escola mesmo sem alunos? Motivação como se Vexa obriga a cumprir 35 horas na Escola mesmo não tendo esta os meios essenciais para que se possa trabalhar.
Motivação, como?
Se temos que pagar fotocópias, tinteiros para as impressoras da Escola…canetas… papel?
Motivação, como?
Se o clima é de punição e de caça aos mais frágeis?
Motivação, como?
Se lava as mãos como Pilatos e deixa tudo à deriva passando toda a responsabilidade para as escolas?
Não é função de Vexa resolver os problemas?
Não seria mais produtivo trabalhar ao lado dos professores?
Motivação, como?
Se de cada vez que abre a boca para as televisões fá-lo para tentar virar toda a sociedade portuguesa contra a classe?
Motivação, como?
Se toda a gente percebe que o seu objectivo é dividir para esfrangalhar a classe e poupar uns cobres?
Quer lá Vexa saber da qualidade do Ensino para alguma coisa!....
Quer é poupar!
que vale é que por todo o país a opinião pública – e principalmente os Pais – já se estão a aperceber disso.
Motivação, como?
Se Vexa tem feito de tudo para isolar os professores dos alunos, dos pais, dos Sindicatos, da sociedade em geral? E fica Vexa admirada com os resultados? Não eram estes os resultados que esperava obter quando tomou posse e iniciou a sua cruzada contra os professores? A sua estratégia é a mesma daqueles professores que Vexa acusa de não estarem preocupados com os resultados escolares dos seus alunos.
Sabe, Senhora Ministra da Educação? O sucesso não depende do manual… como não depende de decretos---lei!
O sucesso depende do envolvimento que o professor consegue com os seus alunos!
Depende da capacidade de motivar!
Depende da capacidade de o professor ir ao encontro dos interesses dos seus alunos.
Depende da relação professor-aluno! - a tal que Vexa queria que fosse avaliada por alguém de fora da escola!
A mesma que, se fosse feita a Vexa, daria nota zero.
E, já agora, Sra. ministra, já que a esmagadora maioria (quase totalidade) dos seus colegas de governo são reformados – alguns 2 vezes – siga-lhes, por favor, o exemplo.
Eu não me importo de trabalhar até aos setenta se Vexa se reformar já - mas da política!
Pode ser?
Desapareça ... Desapareça ...

domingo, 7 de outubro de 2007

A CASA DE OLIVEIRA SALAZAR

António de Oliveira Salazar, foi de facto um ditador.
Foi um brilhante Ministro das Finanças.
Como Primeiro Ministro governou Portugal querendo sempre o melhor para o seu país. Se em muitas coisas foi brilhante, noutras cometeu erros históricos. A questão das colónias é talvez o maior exemplo do seu orgulho e da sua teimosia.
Isto para já não falar na ausência de Democracia e Liberdade, própria, aliás, de qualquer ditadura, muito embora a esquerda goste de a apontar e nunca de a reconhecer quando cohabita com elas.
Neste caso, foram 40 anos de Estado Novo onde Salazar governou a seu bel prazer. Em ditadura.
Poderia ter ficado riquíssimo como qualquer político hoje o faz em meia dúzia de anos de poder.
Não é preciso ir muito longe, basta olhar para Portugal.
Veja-se Mário Soares, não foram precisos muitos anos. Socialista quando lhe interessa!!
Mas não, a vida de António de Oliveira Salazar, foi vasculhada de cima abaixo e para tristeza de muitos, não lhe encontraram ponta de riqueza, pelo contrário, morreu na pobreza depois de 40 anos de autoridade ABSOLUTA. Eu quero, posso e mando!!
As solas de sapato rotas em fotos que se conhecem, mostram bem o quanto ele era avarento ... por Portugal.
A casa dele em Santa Comba, é um exemplo disso. Uma casa modesta, pobre, com o essencial para viver uma vida normal de quem detesta o fausto e a riqueza, ainda que a tivesse "à mão de semear".
Pena que ele não tivesse politicamente sido melhor.
Pena que estes políticos de hoje, nem política nem socialmente melhores. Não são exemplo de NADA.
Entram POBRES e saem RIQUÍSSIMOS.
E depois de sairem ainda arranjam TACHOS para capitalizar a RIQUEZA adquirida à custa dos portugueses. Nem sapatos rotos (também não é isso que se lhes pede) nem casas modestas.
Contas bancárias que lhes permitem um resto de vida ... de luxo.
Nem mais!
A Rua





A CASA ... ...... prestes a cair

O Quintal ...... e os anexos

sábado, 6 de outubro de 2007

A REVOLUÇÃO PERDIDA DE SITA VALLES


Sita Valles

Felícia Cabrita
Quem a conheceu em Lisboa, militando pelo comunismo, guarda dela a imagem de uma «passionária» empenhada com todas as forças na causa revolucionária. Quando o PCP começou a perder terreno em Portugal, Sita Valles decidiu voltara Luanda, terra onde a «vamp» da década anterior seria agora a dinamizadora da ala mais radical do MPLA. Para deter tanto activismo, foi preciso um pelotão de fuzilamento, mas, passados quase 15 anos, as autoridades de Luanda ainda recusam revelar o que se passou.
Sexta-feira, 27 de Maio de 1977, os sinos dobram em Luanda. De madrugada, populares e militares cercam o centro da cidade, ocupam prisões e quartéis, e exigem a Agostinho Neto que cumpra os estatutos do MPLA e afaste alguns ministros corruptos. Acreditam ainda que podem ganhar para a sua causa o Presidente da República. Mas a resposta não tarda, as tropas cubanas entram a matar e em poucas horas a casa fica arrumada. Sita Valles, que se celebrizara no movimento estudantil em Portugal, e aprendera as primeiras lições de marxismo-leninismo nas fileiras do Partido Comunista Português, tem a cabeça a prémio. É uma das cabecilhas do «golpe de estado». Por uns, é acusada de estar ao serviço do imperialismo, por outros, de ser agente secreto da KGB. Uma versão de Mata-Hari que entre lençóis decidia o destino do povo angolano. É fuzilada três meses depois, sentença assinada por Agostinho Neto, o poeta.
Sita Maria Dias Valles, nasce em Angola em 1951. O pai, Francisco Valles, de origem goesa, acabara de se licenciar em Portugal e partira rumo à colónia para fazer carreira. A família instala-se em Cabinda. O futuro sorri ao jovem engenheiro-agrónomo, enquanto na Europa o anti colonialismo ganha forma e António Salazar continua surdo aos apelos descolonizadores. Sita cresce sem contradições no meio da burguesia colonial. Desde pequena que abraça grandes causas, quer desempenhar um papel belo e nobre. Faz a sua primeira aliança com Deus, coloca pedras nos sapatos para se martirizar, não perde uma missa, é devota.
Sábado, 4 de Fevereiro de 1961, um grupo nacionalista, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), ataca em simultâneo duas cadeias e um quartel da polícia para libertar presos políticos. Os colonos pela primeira vez sentem-se em perigo. Sita vive agora em Luanda, num parque florestal onde o pai trabalha para os Serviços de Agricultura. A cidade está em estado de choque. As tropas portuguesas, acabadas de chegar, invadem musseques, e milícias civis incitam os soldados ao massacre. É a caça ao «turra». Os boatos crescem na capital, é anunciado um ataque em massa a Luanda. Sita conhece pela primeira vez o medo. Apela a Deus, espalha santos pelas portas e janelas. No terraço da casa colonial, coloca estrategicamente uma fila de soldados canonizados, que defendem a família dos «terroristas».
Mas o pânico inicial esmorece, e a adolescência traz a Sita novos modelos e referências. A moda dos anos 60 pega, ela usa mini-saias e botas altas, a sua beleza toma-se lenda, dá a volta à cabeça dos rapazes e desnorteia as famílias. Na Faculdade de Medicina, logo no primeiro ano, arrecada o título de Miss Caloira. Um colega, Luís Nolasco, toma-se de amores por ela, e a chama é tão intensa que o jovem vê os exames de fim de curso a andarem para trás. A mãe do rapaz procura-a e pede-lhe que se afaste de Luanda até as provas terminarem. Francisco Valles degreda-a com o irmão, Edmar, para uma missão no Quéssua, perto de Malange. Mas a rapariga não se habitua à alimentação frugal dos missionários americanos e envia uma carta ao pai clamando misericórdia. Os religiosos, que têm por hábito ler a correspondência alheia, não gostam da mensagem, e o estágio dos irmãos acaba mal.
Nos finais dos anos 60, chegam a Angola os ecos da revolta francesa de Maio de 68. Sita descobre as contradições da sociedade em que vive. Pertence ao grupo dos «cor-de-rosa», cor do seu jornal preferido, o «Comércio do Funchal» de Vicente Jorge Silva, que galvaniza estudantes da universidade luandense e desperta simpatias pela República Popular da China. No entanto, a luta pela independência de Angola marcha a lume brando. No próprio MPLA, anos antes, em 1963, nasciam dissensões. Viriato da Cruz, um dos seus fundadores, propõe a união com a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), mas Agostinho Neto discorda. Viriato é expulso e refugia-se na China.
Matias Migueis, vice-presidente do MPLA, que também defende a união dos movimentos, é abatido meses depois. O reforço militar português em Angola e as divergências entre os grupos nacionalistas faz com que percam terreno. Em 1971, Sita e um grupo de estudantes angolanos de origem portuguesa decidem-se. Partem para a metrópole para engrossar as fileiras dos grupos antifascistas que lutam contra o regime e a favor da descolonização. Em Lisboa, reencontra o irmão mais novo, Edgar, que partira um ano antes de Angola e se tornara militante do PCP. Em poucos meses, sacode as primeiras pinceladas maoístas, é recrutada pelo PCP e apregoa um novo evangelho. Os seus profetas são Marx e Lenine e a sua causa a revolução e a ditadura do proletariado. Participa de imediato no movimento estudantil, e é membro da associação estudantil da Faculdade de Medicina, de 1971 a 1974. «Ela não sabia viver com dúvidas, tinha certezas. Era uma prática, queria concretizar-se na acção», recorda o médico José Manuel Jara, então dirigente da célula comunista de Medicina. Alguns estudantes caem nas mãos da PIDE. O silêncio é regra de ouro, quem não resiste à tortura e denuncia é marginalizado pelos colegas. «Para a Sita, era pessoa a quem nunca mais se falava», diz Jara.
É uma época de fervor ideológico, o movimento estudantil digladia-se, fazem-se «julgamentos populares» de estudantes, estala a pancadaria. Nas Reuniões Inter associativas saltam para a arena as várias correntes políticas, e as acusações chovem: «revisionistas», «sectários» e «sociais-imperialistas» são os piropos recíprocos. Abatem-se as velhas amizades. Jofre Justino, colega de Sita em natação, no Clube Nun'Alvares, desde os sete anos, está agora num campo oposto: «Na altura eu era maoísta, e estava convencido de que era ela que orquestrava os golpes vindos da União dos Estudantes Comunistas (UEC) contra nós».
Sita celebriza-se no movimento estudantil, é uma activista política e destaca-se na UEC. Mas viver com ela é um inferno. José Camisão, hoje médico, cometera o erro da sua vida: largara Angola e o curso de Medicina a meio, e seguira-a para a metrópole. Ele não tem ideais nem acredita em revoluções. Filho da alta burguesia colonial, apenas alimenta uma fidelidade: Sita Valles. Vivem maritalmente num apartamento em Campo Grande, e ele quer a todo o custo não se ver envolvido nas actividades partidárias da companheira: «Não me metas nas tuas histórias, porque se um dia sou preso pela PIDE não tenho estofo e digo tudo.»
Conselhos que ela nunca seguiu. Transforma-o no motorista dos clandestinos do Partido, e a mala do seu carro é usada vezes sem conta para esconder panfletos, o que lhe vale uma vez um mandado de captura. Mas o pai, uma figura do regime, salva-o a tempo. O 25 de Abril apanha Sita em Moscovo, é a representante da UEC no congresso do Kom-sommol (organização soviética da juventude). «Regressou completamente fascinada por Brejnev», lembra Edgar Valles. E desconfia da revolução dos cravos. Dias mais tarde, reúne-se com alguns militantes da UEC num apartamento da Avenida de Berna. «Estávamos a discutir se o golpe era positivo ou negativo», recorda Jara, um dos presentes. Sita é das mais desiludidas, o desfecho não correspondia às lições aprendidas na cartilha marxista-leninista, a dita revolução não passava de golpe militar. Mas, rapidamente, o PCP recupera: afinal tinha havido apoio popular, logo, o golpe era positivo.
Um ano mais tarde, o socialismo parece levado por maus ventos. O PCP tenta segurar o barco, mas o país desfere-lhe um golpe profundo. Nas eleições de 1975 para a Constituinte, o PS obtém a maior votação, seguido de perto pelo PPD. Um dia, Jara dá uma boleia a Sita e ela confessa-se desiludida: «A revolução aqui já deu o que tinha a dar, já não há hipótese de o país se encaminhar para o socialismo.»
Em Angola, entretanto, a desgraça adi vinha-se. A Lisboa chegam rumores de que o MPLA se encontra desfeito. A guerra civil rebenta, os movimentos nacionalistas - MPLA, UNITA e FNLA - combatem-se. Tinham aprendido na escola colonial a intolerância política. Sita, que faz parte da Comissão Central da UEC, sendo considerada a número 2, depois de Zita Seabra, arruma as malas, acena a bandeira de «Che» Guevara e vai fazer a revolução para Angola. Zita e Álvaro Cunhal tentam dissuadi-la. «O PCP estava muito interessado nas relações com Angola, » mas achava que não devia mandar para lá estudantes, porque estes tendem sempre para o desvio ideológico», lembra a então líder da UEC. «Os quadros que enviámos para lá não eram estudantes». Porém, cegos e surdos às orientações do partido, estudantes comunistas partem para Angola. Mas não vão sozinhos. Jovens dos vários quadrantes da extrema-esquerda portuguesa seguem-lhes os passos, convictos de que vão puxar os fios do destino africano.
Cruza-se com os colonos que tinham perdido o lugar ao sol e corriam para a metrópole em pânico. A família Valles chegara na remessa. Maria Lúcia, a mãe, tentara convencer Sita a ficar: «Olha que te vão cortar em postas». A filha, como resposta, oferecera-lhe um livro e resumira-o: «Mãe, esta mulher perdeu um filho. Enquanto ele era vivo, não concordava com as posições dele. Quando ele morreu, começou a lutar pelos ideais dele.» Era A Mãe, de Gorki.
Sita Valles aterra em Luanda (no Verão de 1975. Agostinho Neto recusa-se a dialogar com Holden Roberto e Jonas Savimbi. Os Acordos de Alvor, onde os três movimentos tinham negociado, em Janeiro, um governo de coligação que preparasse o país para eleições gerais, caem por terra. Neto recebe apoios da Jugoslávia, armamento entra nos portos de Luanda e tropas cubanas ajudam-no a correr com os adversários. É a luta pelo poder total. A11 de Novembro, proclama a independência e reivindica o reconhecimento internacional. Mas o Presidente da República não está contente.
Era preciso consolidar a unidade do país, uniformizar, esmagar a divisão. E o MPLA, movimento constituído por várias tendências políticas, tem de arrumar a casa. Nito Alves, um dos heróis da guerrilha, agora ministro do Interior, é o homem de mão de Neto para combater as minorias. Começam as perseguições à Organização Comunista de Angola (OCA), com ligações à extrema-esquerda portuguesa, acusada de esquerdismo; e à Revolta Activa, liderada por Joaquim Pinto de Andrade, um dos presidentes de honra do MPLA até 1973, considerado agora um pequeno-burguês.
A Direcção de Informação e Segurança de Angola (DISA) instala-se e estende as suas malhas. Vicente Pinto de Andrade, da Revolta Activa, um dos muitos presos, recorda: «Agostinho Neto era um ditador, queria eliminar todos os grupos que lhe fizessem sombra, era incapaz de dialogar». Haverá uma só voz neste país, dizia o poeta-presidente.
Nas prisões, a tortura é sistemática. A história de Angola começa mal: em nome da revolução, a vida deixa de ter sentido. Sita sobe depressa nas estruturas do MPLA, apoiada por Nito Alves, que se deixa fascinar pelo dinamismo da «Passionária» angolana. Assume importantes funções no departamento de Organização de Massas, mas depressa cria ódios entre os velhos dirigentes do MPLA. Nas reuniões do Bureau Político, acusam-na de ser uma infiltrada do PCP para controlar Angola. E o MPLA expulsa todos aqueles que militaram anteriormente noutras organizações políticas, mesmo aliadas. Sita não escapa à exclusão, mas nem isso diminui o seu fervor revolucionário. A 4 de Janeiro de 1976, escreve aos pais e, para tranquilizar a família católica, anuncia o casamento com o angolano José Van Dunem, comissário político do Estado-Maior Geral. No entanto avisa-os: «Não interessa politicamente que divulguem o casamento, porque eu fui do PCP e ele é dirigente do MPLA. Isso compromete-o politicamente. O MPLA não é comunista.»
Em Moscovo, nesse ano, Nito e Van Dunem assistem com Cunhal e Fidel Castro ao 25º aniversário do PCUS. Passados meses, Nito perde o lugar de ministro do Interior. No MPLA cava-se novo fosso: de um lado, Neto e alguns velhos dirigentes, adeptos de uma via «terceiro-mundista», de características semelhantes à argelina e com aproximações à Jugoslávia; do outro, Nito, Van Dunem e Sita, fiéis à ortodoxia soviética.
A 8 de Fevereiro de 1977, nasce Ernesto, o primeiro filho de Sita e de Van Dunem. «Demos-lhe o nome de 'Che' em homenagem a Guevara», escreve aos pais. Continua defensora da causa do proletariado. E desconhece que a história revolucionária é de todas a mais sangrenta. «Nós, na altura, desconhecíamos o que se passava na URSS, pensávamos que o que se dizia era obra da propaganda», recorda Amadeu Neves, angolano, militante do MPLA, seu «compagnon de route» e hoje no Partido Renovador Democrático angolano. Em 21 de Maio, uma comissão de inquérito, nomeada pelo Bureau Político e dirigida por José Eduardo dos Santos, chega à conclusão de que há «fraccionismo» dentro do próprio MPLA. Nito e Van Dunem são expulsos do Comité Central nesse mesmo dia. À noite, José Mingas - irmão do actual embaixador angolano em Portugal, Rui Mingas -, chefe de operações da DISA, avisa a família Van Dunem de que vai haver muitas prisões e que Sita e o companheiro têm a cabeça a prémio. Começa a girândola que de novo mancha de sangue a história de Angola.
Nos dias seguintes, o grupo reúne-se e prepara a ofensiva. Mas nem todos estão de acordo quanto aos métodos a utilizar. Responsáveis das FAPLA (o exército angolano) pertencentes ao Comissariado Político são a favor de um golpe militar. Amadeu Neves encabeça essa linha: «Tínhamos os militares todos do nosso lado. Se fosse um golpe militar, teríamos tomado o poder em meia hora.» Mas Sita e José Van Dunem, fiéis ao espírito bolchevique, não concordam: «Tem de ser uma insurreição popular. Os militares irão na retaguarda para defender o povo». Têm um osso duro de roer pela frente: as tropas estrangeiras. «Os cubanos sabiam muito bem que havia um grande descontentamento em Angola, e nos contactos que mantivemos tinham prometido que não iam interferir nos assuntos internos do país», garante Amadeu Neves. Num encontro na casa da família Kitumba, o conselheiro da embaixada da URSS repete sete vezes: «Só vos apoiamos se não for um golpe militar».
Na madrugada de sexta-feira 27 de Maio, populares e militares enchem as ruas de Luanda e tomam quartéis e prisões para libertarem presos políticos. Enquanto Sita, nos musseques, incita os operários à revolta, duas mulheres, Virinha e Nandy, dirigentes do destacamento feminino das FAPLA, dirigem o assalto à cadeia de S. Paulo. Hélder Neto, chefe da INFANAL - serviço de Informação e Análise - órgão paralelo à DISA, encontra-se desde as seis da manhã na prisão e é apanhado de surpresa. O feitiço virava-se contra o feiticeiro. Vítor Jeitoeira, um colono português recuperado pela DISA, hoje reformado e negociante de terrenos em Portugal, conta: «Hélder Neto tinha ordens para, nesse dia, começar a prender os adeptos de Nito. Estava lá a preparar a prisão para receber uma nova vaga de gente.»
Quando Hélder Neto percebe que está a perder o controlo da situação, liberta alguns presos e entrega-lhes armas para defenderem a cadeia. É um deles, Sambala, um cantor popular detido por delito comum, que o prende pelos braços, quando ele abre as portas da cadeia para negociar com os populares. Nandy, grávida de oito meses, toma a cadeia, e Hélder suicida-se. Já não se sabe quem é quem. Sambala, ávido de acção, encosta os presos da OCA e da Revolta Activa à parede e carrega a arma. Vicente Pinto de Andrade vê a vida a andar para trás. «Foi a Nandy que o impediu de nos matar. Abriu-nos as celas, deu-nos comida. Era uma espécie de 25 de Abril».
O actual secretário-geral do PRD angolano, Luís dos Passos, num jipe com seis militares, dirigia a tomada da Rádio Nacional, enquanto os populares que saíam dos musseques engrossavam a coluna. Mantém-se em contacto com Sita e Van Dunem, que têm por missão a mobilização popular: «Ela estava optimista, as pessoas dos musseques estavam todas a responder ao apelo.»
Às oito da manhã, ouve-se um locutor na Rádio: «Dizem que o major Nito Alves é fraccionista, mas os verdadeiros fraccionistas são os que estão no poder e querem fechar os olhos ao nosso mais velho camarada, Agostinho Neto. São os camponeses e os operários que devem guiar o pais.» Quando Saidy Mingas, o outro irmão de Rui Mingas, fiel a Neto, entra no quartel da Nona Brigada para tentar ganhar as tropas, é preso pelos soldados. Ele e outros militares contrários à revolta são levados por populares para o musseque Sambizanga.
O Governo leva tempo a reagir, Neto está sem tropas. Mas, de repente, a situação muda. Na rádio, entre o choro de mulheres, ouvem-se gritos cubanos. O Presidente tinha ganho o exército de Fidel, e, com Henrique dos Santos, nome de guerra Onambwe, director-adjunto da DISA, punha cobro à insurreição. «Conduzi a única tropa organizada do MPLA que restava para controlar o golpe», conta o ex-responsável pela polícia secreta. Os soldados abrem fogo e os manifestantes dispersam, ficando pelo caminho muitos mortos e feridos. Para Sita, que se encontra num Comando de Operações, a notícia do esmagamento da revolução chega como um dobre de finados. E prepara a fuga.
Pelas 16h00, a cidade está controlada, e os manifestantes procuram refúgio. Mas no Sambizanga ouvem-se tiros. Saidy Mingas e Eugênio Costa estão entre os comandantes mortos. No começo da tarde, reina o silêncio na cidade. Na Rádio Nacional ouve-se uma voz vacilante. Neto resume os acontecimentos que por poucas horas abalaram Luanda. Ele próprio está confuso: «Hoje de manhã, pretendeu-se demonstrar que já não há revolução em Angola. Será assim? Eu penso que não... Alguns camaradas desnortearam-se e pensaram que a nossa opção era contra eles. (...) Temos países amigos que não compreendem bem a nossa opção.» Era o recado à URSS. No dia seguinte já o seu discurso mudara. Publicamente, anuncia que alguns comandantes do MPLA tinham sido mortos pelos «nitistas». Entre eles, cita Hélder Neto. Jeitoeira, um operacional da DISA, varia na versão. Assiste ao enterro do chefe da INFANAL, vê o corpo, não tem dúvidas de quem partiu o tiro. A própria viúva de Helder confidencia-lhe: «Ele suicidou-se, mas o MPLA não quer que se saiba.» Criam-se vítimas para justificar o massacre.
Para Rui Mingas, que perde dois irmãos nos dois lados da barricada, a história está por resolver. «O Saidy era uma pessoa muito odiada no MPLA. Sabia demais...» A presença de Eugénio Costa entre as vítimas também causa embaraços. Jeitoeira diz de sua justiça: «É estranho, porque nós sabemos que na noite anterior ele tinha estado com alguns fraccionistas a preparar o golpe.» Nesse mesmo dia, centenas de pessoas são presas, e fuziladas. É a caça às bruxas. Nos jornais de Angola lê-se: «Os criminosos serão fuzilados.»
E Agostinho Neto, publicamente, pronuncia a sentença: não haverá perdão.
No dia seguinte, às 19h00, o responsável do cemitério de Calema está a jantar com a família quando recebe um telefonema estranho.
O seu chefe de repartição ordena-lhe que volte ao cemitério e aguarde. O cacimbo ensopava-lhe a roupa quando, de madrugada, param no portão dez carrinhas celulares. Carlos Jorge e Nelson Pinheiro (Pitoco), elementos da DISA, chefiam a expedição, que estaciona junto a uma vala comum de 200 metros. Mal os prisioneiros se apeiam, soam as rajadas das «kalachnikov». Alguns ainda têm tempo de gritar: «Salvem-me que eu não fiz nada». Pitoco, chefe do pelotão de fuzilamento, atende rápido ao apelo das vítimas: «Esse é perigoso, fica para mim.» Um dos coveiros aplana a terra da vala com um tractor.
Ainda se ouvem gemidos. O chefe do cemitério está aterrorizado e Pitoco avisa-o: «Em Angola não pode haver contra-revolução, por isso, se falares, vais fazer companhia a estes.» A própria DISA abate elementos das suas fileiras. Não há julgamentos nem advogados presentes. José Mingas, com 33 anos, é um dos 52 nomes que fazem parte da lista dos condenados à morte. Acusação: «Aproveitando-se do cargo de chefia que ocupava, desviou documentos classificados que entregou aos cabecilhas fraccionistas. Manteve contactos conspirativos com Zé Van Dunem.» Outros morriam apenas porque confessaram ter lido e divulgado as Treze Teses de Nito Alves, panfleto em que o autor acusa o MPLA de não cumprir os estatutos e denuncia ministros corruptos.
Felícia Cabrita

AS NOVAS TENDÊNCIAS

Vizite u Salão de Béléza MALU
Ai uê mana Felismina ...
Quantu qui custa?
Num tem os probrêma ... quarquer mesmo qui quer, vais ficar muinto bonita. Quarquer hora qui você queres, tem os profissionar qui sabi muinto i ti compões
Você vais no baile com muinta banga, mi cridita
Num ti vais mais aripender
Cumparesse mazé, ... mázintão num estás a ver essi mano bangoso qui tem os carça caté quazi nus piscoço?



sexta-feira, 5 de outubro de 2007

AINDA ... A LEI DE MURPHY

LEI DA ADMINISTRAÇÃO DO TEMPO
Tudo leva mais tempo do que todo o tempo que você tem disponível.

LEI DA PROCURA INDIRECTA
1. O modo mais rápido de se encontrar uma coisa, é procurar outra.
2. Você sempre encontra aquilo que não está procurando.

LEI DA RELATIVIDADE DOCUMENTADA
Nada é tão fácil quanto parece, nem tão difícil quanto a explicação do manual.

LEI DO TELEFONE
- Quando te ligam:
Se você tem caneta, não tem papel...
Se tiver papel, não tem caneta...
Se tiver ambos, ninguém liga.
- Quando você liga para números errados de telefone, eles nunca estarão ocupados.
Parágrafo único: Todo corpo mergulhado numa banheira faz tocar o telefone.

REGULAMENTAÇÃO DO ESPECIALISTA
1. Especialista é aquele cara que sabe, cada vez mais, sobre cada vez menos.
2. Super especialista é aquele que sabe absolutamente tudo, sobre absolutamente nada.

LEI DAS UNIDADES DE MEDIDA
Se estiver escrito "Tamanho único", é porque não serve em ninguém.

LEI DA GRAVIDADE
Se você consegue manter a cabeça enquanto à sua volta todos estão perdendo, provavelmente você não está entendendo a gravidade da situação.

LEI DOS CURSOS, PROVAS E AFINS
1. Se o curso que você mais desejava fazer só tem 'n' vagas, pode ter certeza de que você será o aluno "n+1" a tentar se matricular.
2. Oitenta por cento do exame final será baseado na única aula que você perdeu, baseada no único livro que você não leu.
3. Cada professor parte do pressuposto de que você não tem mais o que fazer senão estudar a matéria dele.
Parágrafo único:A citação mais valiosa para a sua redacção, será aquela da qual você não consegue lembrar o nome do autor.

LEI DA QUEDA LIVRE
Qualquer esforço para se agarrar um objecto em queda, provoca mais destruição do que se o deixássemos cair naturalmente.
1. A probabilidade de o pão cair com o lado da manteiga virado para baixo, é proporcional ao valor do carpete.
2. O gato sempre cai em pé.
3. Não adianta amarrar o pão com manteiga nas costas do gato e o jogar no carpete. O gato comerá o pão antes de cair... Em pé.

GUIA PRÁTICO PARA A CIÊNCIA MODERNA:
- Se mexer pertence a biologia.
- Se feder pertence a química.
- Se não funciona pertence a física.
- Se ninguém entende, é matemática.
- Se não faz sentido, é economia ou psicologia.
- Se mexer, feder, não funcionar, ninguém entender e não fizer sentido... é INFORMÁTICA!

LEI DAS FILAS E DOS ENGARRAFAMENTOS
A fila ao lado sempre anda mais rápida.
Parágrafo único: Não adianta mudar de fila. A outra é sempre mais rápida.

LEI DO ESPARADRAPO
Existem dois tipos de esparadrapo: o que não gruda e o que não sai.

LEI DA VIDA
1. Uma pessoa saudável é aquela que não foi suficientemente examinada.
2. Tudo que é bom na vida é ilegal, imoral ou engorda.

LEI DA ATRACÇÃO DE PARTÍCULAS
Toda partícula que voa sempre encontra um olho aberto.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

A CONVICÇÃO MESSIÂNICA DE NITO ALVES

Orlando Ferraz

Em 27 de Maio de 1977, apenas 19 meses depois da independência, teve lugar em Angola uma denominada pelo então regime de Agostinho Neto de "intentona golpista" comandada por Alves Bernardo Baptista, vulgo Nito Alves, membro do Comité Central do MPLA. O golpe é abortado deixando um saldo de mais de 28 mil mortos.
Henriques Teles Carreira, vulgo Iko, então Ministro da Defesa, joga papel importante e decisivo no julgamento extra-judicial e posterior fuzilamento do cabecilha da rebelião armada, feito por um pelotão de fuzileiros no Grafanil, arredores de Luanda.
Para as milhares de famílias, que perderam seus entes queridos durante e depois da repressão dos insurrectos, o trauma causado por esse pesadelo ainda é 28 anos depois, a pura realidade. Mas o segredo por parte do regime em volta desta questão é considerado Segredo de Estado, ou melhor, e para citar o historiador angolano Carlos Pacheco, "o silêncio tem funcionado tal e qual uma espécie de arca fechada a sete chaves, que se exita em abrir".
Mas seja como for, o 27 de Maio constitui a página mais negra que a história de Angola já conheceu, considerado o facto da atrocidade registar-se numa altura fora do domínio colonial português, aí a gravidade acrescida da mesma.
Mas o labirinto de segredos em volta do 27 de Maio, não é o único mistério que marca a existência da história pré e mesmo colonial de Angola. Verdades sobre os verdadeiros motivos e assassínios de Matias Miguéis, José Miguel Francisco irmão do conhecido cantor angolano "Calabeto" braços direito de Viriato da Cruz, alegadamente mortos por ordens expressas de Agostinho Neto em 1965 no regresso de uma Conferência em Jacarta, na Indonésia de Sukharno, são apenas alguns de muitos outros casos por se esclarecer, tal como as verdadeiras razões que levaram o assassínio de Deolinda Rodrigues, heroína do MPLA. Terá sido em retaliação de Holden Roberto pela morte de Matias Miguéis e José Miguel Francisco? Quem e porquê mataram um tal "camarada" Ferro e Aço? Para não revelar as execuções de Matias Miguéis e Miguel Francisco?
Quais foram as verdadeiras razões que levaram Nito Alves sob conivência do Comité Director do MPLA, a executar o conhecido Comandante Lourenço Casimiro, ou simplesmente "Miro", na chamada Primeira Região político-militar?
Voltando ao tema central, afinal o que esteve por detrás do cenário do 27 de Maio? Tinha necessariamente que existir um 27 de Maio, e a repressão teria que ser tão violenta tal como ela se deu? Que relação histórica teve o 27 de Maio com outras rebeliões e Movimentos contestatários no seio do MPLA, tais como as conhecidas "Revolta do Leste" comandada por Daniel Chipenda e a "Revolta Activa" de Gentil Viana? Por mais retóricas que pareçam estas perguntas em certos círculos do Movimento nacionalista angolano, certo é, entretanto, que elas merecem necessariamente respostas, estudos e reflexão adequadas. Nesta modéstia contribuição o meu objectivo não é por isso confrontar-me com tais perguntas, mas sim, sensibilizar aqueles que detêm o talismã das verdades sobre este complexo e controverso dossier, muitos deles espalhados pela diáspora, para que se pronunciem ou que se calem para sempre.
Não restam dúvidas de que a falta de debate interno, a falta de contestação externamente visível nas lideranças partidárias no seio do MPLA e também da UNITA e mesmo da FNLA, excluía e exclui a possibilidade de se sararem feridas com base na aplicação de melhores métodos para aperfeiçoamento de normas político-morais no seio destes Partidos políticos, antigos Movimentos nacionalistas angolanos.
Ao longo da história da existência do MPLA, UPA/FNLA e da UNITA, todas contestações e dissidências foram repelidas com a maior violência possível por parte das respectivas lideranças, e muito particularmente por parte dos líderes "incontestáveis", Agostinho Neto, Holden Roberto e Jonas Savimbi, respectivamente. Desta forma estava excluído qualquer campo para o debate franco e aberto bem como para crítica e muito menos auto-crítica.
Já o histórico Viriato da Cruz, cuja figura e nome foram publicamente apagados pela poderosa máquina de Informação, o D.I.P do MPLA, não levou da melhor com o seu antagónico, Neto. A ambos eram reconhecidas qualidades como: intelectualidade, disciplina, robustez e perfil políticos e outros adjectivos. Em termos comparativos, entretanto, Viariato da Cruz era, segundo seus contemporâneos, o homem que detinha o poder e influência sobre as massas populares aderentes ao MPLA.
Tal como Viriato, no MPLA também existiu um homem, pese embora e em termos de idade não fazer parte da geração dos fundadores do MPLA, conseguiu a dada altura ganhar vários extractos das massas populares e círculos influentes no seio do Movimento. O politólogo e historiador congolês Jean-Michel Mabeko Tali, resumiu assim a pessoa política de Nito Alves, bem como sua inserção e carreira no MPLA: "Ele, como outros da Primeira Região, tinha claramente feito entender a sua diferença quanto a visão que tinham, não só da forma como a luta foi dirigida, mas muito rapidamente, de questões como a gestão da questão racial da sociedade e as questões sociais".
Nito Alves, que aproveitando a soberba chance de organizar o MPLA em Luanda até antes da chegada de Neto a Luanda em Fevereiro de 1975, ganhou naturalmente nome e popularidade e era já conotado como sendo líder de uma tendência pró-soviética, mais tarde provada devido sua assiduidade em Moscovo.
Com a chegada de Neto e seu círculo restrito em Luanda, começam as intrigas com o objectivo de o afastar do círculo restrito do Partido e consequentemente do Presidente Agostinho Neto. As divergências internas foram crescendo, ao ponto de mais uma vez chegarem a existir pelo menos três fracções no seio do Partido: os Netistas (de Agostinho Neto), entre eles também o ideológico Lúcio Lara e Iko Carreira; Os Nitistas (de Nito Alves) apoiado por José Van-Dúnen, Bakalov, Sita Vales e outros; os chamados Tugas, conotados com o Partido Comunista Português-P.C.P. alegadamente mais próximos a Nito Alves.
Este cenário é praticamente parte ou sequência de uma norma que no passado longínquo marcaram as Dissidências no seio do MPLA, quase sempre em forma de Trindade: Facção Neto; Facção Chipenda - também chamada de Revolta do Leste e a Revolta Activa.
Ao se aperceber de que as rebeliões no seio do Movimento visavam reduzir o seu protagonismo e carisma, Agostinho Neto aborta a realização de uma Conferência Nacional do Movimento proposta por dirigentes contestatários da sua liderança, entre eles evidentemente Nito Alves. A partir desta altura, as suspeitas de uma rebelião por parte de Nito Alves e sua forte ala, basicamente militar, estava preto no branco, isto é, era mais do que evidente. Aliás os movimentos preparativos de Nito Alves e sua equipa, nunca passaram despercebidos pela liderança do MPLA, foram sim é menosprezados. Este status quo ganha novos e sérios contornos, uma semana antes da tentativa do golpe de estado, com a agudização da situação para os revoltosos.
A Repressão sobre os insurrectos
O Comité Central do MPLA reúne-se nos dias 20 e 21 de Maio, seis dias antes da intentona golpista, e decide expulsar do grémio central do partido, Comité Central, os dois que viriam mais tarde a ser identificados como sendo os "cabecilhas" do Golpe de Estado, a saber: Nito Alves e Zé Van-Dúnen.
Em consequência deste e outros factos, Neto autoriza a temível máquina repressora da DISA, moldada ao estilo e eficácia da PIDE e com métodos repressivos comparados aos da GESTAPO de Adolfo Hitler e da STASI da antiga RDA, para que fizesse um acompanhamento literalmente severo e consequente da preparação de uma provável insurreição.
Resultado da intentona golpista: mais de 28 mil mortos; mais de 3 mil desaparecidos; mais de metade dos oficiais superiores do Exército no activo (Majores e Comandantes na sua maioria) foram abatidos da forma mais selvagem.
Nito Alves, o homem mais falado e procurado em Angola nos meses de Maio e Junho de 1977, viria a ser alegadamente preso dias depois, tendo sido submetido a um longo e rigoroso interrogatório. Para legitimar a sua própria excussão, foi finalmente forçado a redigir a seguinte sentença de morte, que se supõe ter sido redigida pelo seu próprio punho:

"A decisão da eliminação física dos responsáveis eliminados no dia 27 de Maio de 1977 foi tomada por mim, Zé Van Dúnen e Sita Vales.
Mas é de notar que tal decisão visava apenas os responsáveis de que tínhamos conhecimento correcto da sua prisão: Major Said Mingas, os Comandantes Bula, Dangereaux e Nzaji.
Os outros detidos eram desconhecidos por nós".
Nota de realce, é o facto de, o Comité Central do MPLA admitir na sua nota de informação do Bureau Político do MPLA de 12 de Julho de 1977, Pág.15 (Edições Avante!) uma certa "passividade dos órgãos dirigentes, assoberbados com a complexidade da situação, que exigia soluções para os graves problemas de ordem militar", facto que não terá permitido ter calculado com exactidão, o estado avançado em que a preparação do golpe havia alcançado.
Para o MPLA, e segundo se pôde ler do mesmo documento, tanto Nito Alves como o seu braço direito Van-Dúnen, enveredaram o caminho do fraccionismo, pois a sua "acção deixara de se inspirar nas leituras de Mao Tsé-tung para passar a inspirar-se nas leituras superficiais de alguns textos de Lénine e de outros autores marxistas, que nem sempre eram compreendidos dentro do seu verdadeiro contexto".
Com o aborto da rebelião armada de 27 de Maio de 1977, acabava um sonho recém iniciado como bem o descreve Jean-Michel Tali
"Nito [Alves] queria uma revolução pura e dura, do tipo bolchevique, o seu discurso pró soviético não deixara dúvidas sobre isso. [...]
O importante na minha opinião, é entender a dinâmica sócio-política que desemboca nesta tragédia.
Parece-me importante colocar a questão em termos das lutas sociais que sustentam o discurso político de Nito e sua convicção quase messiânica, de que a história tinha colocado nos seus ombros um papel fundamental neste processo revolucionário angolano".

Extractos do 7º capítulo da obra "Angola: Depois da Tempestade a Bonança" com 240 páginas a ser lançado brevemente pelo articulista.