sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
behind fabrics
a propósito da recente polémica gaulesa sobre o uso da burqa e do niqab, lembrei-me do dramatismo do silêncio destas mulheres:
elas têm mãos delicadas,
olhares minúsculos
tecidos maravilhosos a cobrir-lhes a pele.
confesso que estas mulheres das mil e uma noites pintadas por Carll Cneut me deslumbram, mesmo se a sua invisibilidade me deixa apreensiva.
Um segredo para crescer
Edições Kual
sábado, 13 de fevereiro de 2010
três poetas*
COMO PINTAR UM PÁSSARO
Pinte primeiro uma gaiola
com a porta aberta.
Em seguida pinte
alguma coisa graciosa,
alguma coisa simples,alguma coisa bonita,
alguma coisa útil...
ao pássaro.
Depois, coloque a tela contra uma árvore
no jardim,
no bosque
ou na floresta
e esconda-se
atrás da árvores
em dizer nada, sem se mexer.
Às vezes o pássaro chega logo,
mas pode levar muitos, muitos anos
até se resolver.
Não desanime,
espere.
Espere, se preciso, durante anos.
A velocidade ou a lentidão da chegada
do pássaro, não tem a menor relação
com a qualidade da pintura.
Quando ele chegar
(se chegar)
mantenha o mais profundo silêncio,
espere que ele entre na gaiola.
Depois que entrar,
feche lentamente a porta com o pincel.
Aí então
apague uma por uma todas as varetas.
(Cuidado para não esbarrar em nenhuma pena
do pássaro.)
Finalmente pinte a árvore,
reservando o mais belo de seus ramos
ao pássaro.
Pinte também a verde folhagem e a doçura do
vento,
a poeira do sol,
o rumorejo dos bichinhos da relva no calor da
estação.
Depois aguarde que o pássaro se decida a
cantar.
Se ele não cantar,
mau sinal:
sinal de que o quadro não presta.
Mas bom sinal, se ele canta:
sinal de que você pode assinar o quadro.
Então retire suavemente
uma pena do pássaro
e escreva o seu nome a um canto do quadro.
Jacques Prévert, tradução de Carlos Drummond de Andrade
*(obrigada pela correcção, Miguel)
(poema encontrado aqui , ilustração de Wolf Erlbruch do livro "The King and the sea" encontrada ontem na Ilustrarte; fotografias da Lena)
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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Ilustrarte
É já amanhã pelas 21.30h que inaugura no Museu da Electricidade a 4ª edição da Ilustrarte, Bienal de Ilustração para a Infância. Em exposição estarão as 150 ilustrações seleccionadas do conjunto de trabalhos de 1400 ilustradores de 61 países.
A vencedora desta edição foi a ilustradora belga Isabelle Vanderabeele que já havia participado na Ilustrarte de 2003 e recebido menções especiais nas edições de 2005 e 2007.
A vencedora desta edição foi a ilustradora belga Isabelle Vanderabeele que já havia participado na Ilustrarte de 2003 e recebido menções especiais nas edições de 2005 e 2007.
O trabalho desta autora assenta sobretudo em ilustrações impressas a partir de gravuras minuciosamente esculpidas em madeira, as xilogravuras, e as agora premiadas, integram o livro "Voorspel va Een Gebroke Liefde", escrito por Geert Kockere e editado na Bélgica pela Medaillon; recebeu em França o título "Prélude a un amour brisé" (Éditions du Rouergue).
O júri atribuiu ainda duas menções especiais aos trabalhos do ilustrador francês Martin Jarrie (menção especial na edição de 2007) e à dupla italiana Alessandro Lecis e Alessandra Panzeri.
A lista dos ilustradores seleccionados inclui os portugueses Daniel Lima, Teresa Lima, André Letria, Ana Sofia Gonçalves, João Vaz de Carvalho e Gémeo Luís.
A Ilustrarte propõe ainda um olhar pela obra da escritora Luísa Ducla Soares e uma exposição retrospectiva do ilustrador alemão
Wolf Elbruch.
Um programa e tanto, não é?
Wolf Elbruch.
Um programa e tanto, não é?
(mais informação aqui)
Ilustrarte 2009
Museu da Electricidade
Av. de Brasília, Central Tejo
1300-598 Lisboa, Portugal
Museu da Electricidade
Av. de Brasília, Central Tejo
1300-598 Lisboa, Portugal
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Tati revisited
"L'Illusionniste"
a segunda longa-metragem do francês Sylvain Chromet (Belleville Rendez-Vous, La Vieille Dame et les Pigeons) estreia esta semana no Festival de Cinema de Berlim, envolto numa polémica com contornos de "história de um segredo".
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
é coisa de quem leu o Torga
Fernando Alves falava assim há uns dias, de "um chão seguro e antigo", num belíssimo texto, verdadeira terapia contra a aridez.
"Aldeias Sonoras é um projecto educativo da Binaural de mapeamento sonoro de zonas rurais portuguesas, em paralelo com o seu levantamento geográfico, histórico e sócio-cultural. O projecto envolverá escolas básicas e secundárias de zonas rurais de diversas regiões de Portugal, começando uma fase-piloto no ano lectivo 2008-2009 na zona de S. Pedro do Sul e da Serra do Montemuro, pela sua proximidade ao Centro de Residências Artísticas de Nodar (S. Pedro do Sul) e pelo conhecimento profundo que os autores do projecto têm da sua diversidade paisagística e humana.
O projecto pretende evidenciar a riqueza sonora do mundo rural português e a necessidade de o registar, envolvendo crianças e jovens nessa descoberta, promovendo em paralelo o sentido de identidade, de diversidade e de orgulho em viver no campo.
“Aldeias Sonoras” envolverá uma série de módulos de aprendizagem teórico-prática, com o objectivo de dotar os alunos de conhecimentos de tecnologias de registo e edição de sons, utilização de blogs para a organização e distribuição de informação, associando cada etapa do projecto a diversas disciplinas curriculares (nas áreas da arte, história, cidadania, geografia, tecnologias de informação, etc.)."
(título do post roubado aos Sinais)
(título do post roubado aos Sinais)
domingo, 31 de janeiro de 2010
preview
as propostas da editora Orfeu Negro para este ano, na colecção Orfeu Mini, são mais uma vez muito entusiasmantes:
O Coração e a Garrafa, Oliver Jeffers
O Estranho Mundo de Jack, Tim Burton
Migrando, Mariana Chiesa Mateos
de Oliver Jeffers conheço o leitor compulsivo Henrique e deliro com ele; o Jack Skellington de Tim Burton, gosto de sentir que faz parte da casa (Nigthmare Before Christmas é "o filme" do Natal) e arrependo-me de não ter poupado o suficiente para até Abril ir ao MoMA. Quanto ao livro de Mariana Chiesa, ilustradora argentina a residir em Bolonha e que um dia referi aqui, a propósito do premiado “No hay tiempo para jugar” (Media Vaca, 2004), aguardo o seu olhar delicado sobre travessias de oceanos e estreitos.
Venham eles!
domingo, 24 de janeiro de 2010
borda d'água
Escaroupim e Valada: pelo caminho dos "ciganos do Tejo", dos outros, e da lezíria ensolarada.
(e um livro para voltar a ler)
(e um livro para voltar a ler)
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
lustro do dia
a poderosa voz de Nick Cave, nesta excelente curta-metragem do estúdio australiano The People's Republic of Animation, dirigida por Eddie White e Ary Gibson:
numa cidade de gatos músicos e cantores, um gato poeta procura salvar a sua musa do poder de uma maléfica criatura que ameaça destruir a cidade e as suas melodias.
Long ago my city’s luminous heart, beat with the song of four thousand cats.
Crooners who shone in the moonlight mimicry of the spotlight.
Jazz singers. Hip cats that went ‘Scat!’
Buskers with open-mouthed hats hungry for a feed.
Parlours paraded purring glamorous songstresses.
Smoky hookahs and smoking hookers.
Strays strummed string and sung a cocktail of cat’s tails.
A decadent party of meowing sound.
A bohemian behemoth, post-midnight soiree.
Amongst the chorale ‘o tuneful ones was one fair queen who drew me from o’er the way.
Her fur, an amorous white and a voice that made all the angels of eternity sound tone deaf.
Blind with love at first sight, touched by the taste of her sound,
I longed to be the microphone she cradled near her breast.
‘Twas our Shang-ri-la of sound,
A paradise found where nothin’ could stop us.
Or so it seemed.
Singers began to vanish like sailors lost at sea.
Snatched from stage alley way
Shanghai’d from behind scarlet curtain.
Into thin air they disappeared without a single cry.
Police study the clues.
Foot-prints from human shoes.
So you’ve heard of every instrument but?
Torn from your history books is this pianola,
This harpsichord of harm.
The cruellest instrument to spawn from man’s grey cerebral soup.
The Cat Piano.
Confined were the cats in a row of cages.
With each note struck upon it’s ivory tusks,
A sharpened nail would pierce each cat’s tail,
Forcing a note from each pitch on the scale.
I ran my cursed writer’s run to tell her beware.
She wasn’t there.
My soul capsized.
Like a fish, paralysed.
On a chopping board, its spinal cord ripped forth from its body,
Her vocals the last the thief had needed,
A rare celestial pitch that would complete his collection.
The city in unrest.
Fights broke out in its sleep.
I couldn’t dream anymore.
There was a hole in my heart and everything fell out of it.
All music forbidden.
Keep your lullabies hidden.
And your A and E minors off the street after dark.
My town grew cold and bitter.
In icy hibernation was the once thumping heart.
Now seizing up.
Freezing up.
Katzenklavier.
The torturous worm of sound burrowed deep into my ears.
Le Piano du chat
I thought of Van Gogh.
Neko Piano.
I’d put an end to this incessant, inescapable drone.
Mao Gang Qin
I enlisted an army of the brave and I their general declared war.
Poised with tooth and fire in paw.
We would finally settle this musical score.
Eyes with fierce intent that glowed.
Through tempestuous waters we rowed.
Storming the shores,
Swarming in scores,
Scaling its walls with well-sharpened claws,
We invaded the tower through all its doors.
Up the winding stairs,
To meet him with blinding stares.
There he sat.
The organ grinder.
He turned, we pounced, we scratched and bit.
He stumbled.
Fell through the window.
Screaming into the indigo waters below.
We freed the chain gang from their jail.
Cremated the piano.
And for home we set sail.
The city had reclaimed its vestal muse.
It would live again.
Beat again.
Cats would sing in the street again.
And I in anonymity as I had been long before this soliloquy,
Could sit and listen from afar.
The Cat Piano, now a healed over wound.
And this ode its fading scar.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
ponto de fusão
Alexandre Órion, começa por estudar os locais e as pessoas que neles passam. Monta depois um cenário: pinta uma imagem, uma composição grafitada. Aguarda pelas interacções que os transeuntes estabelecem ao passar e fotografa. O resultado desta união de linguagens, fotografia e pintura, deu origem a exposições por todo o mundo (esteve por cá em 2009) e a um livro - Metabióticas (2006).
fotografias de Alexandre Órion, do livro Metabiótica
"a fotografia e a pintura de Alexandre Órion são mesmo um projeto para a filosofia. Primeiro vem a espera. Depois a pintura. Depois a espera. Só aí que surge o terceiro elemento (homens, mulheres, automóveis, crianças, animais) e então a cena se completa: a pintura torna-se fotografia." Diógenes Moura,curador da Pinacoteca do Estado de São Paulo
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
efeito borboleta
Há sempre um deus fantástico nas casas
em que eu moro e em volta dos meus passos
eu sinto os grandes anjos cujas asas
contêm todos os ventos dos espaços
em que eu moro e em volta dos meus passos
eu sinto os grandes anjos cujas asas
contêm todos os ventos dos espaços
Sophia de Mello Breyner Andresen
(imgs.: Maggie Taylor, Julie Morstad e fotogramas do filme Bright Star de Jane Campion)
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
in a cinema near you
Bright star, would I were stedfast as thou art--
Not in lone splendour hung aloft the night
And watching, with eternal lids apart,
Like nature's patient, sleepless Eremite,
The moving waters at their priestlike task
Of pure ablution round earth's human shores,
Or gazing on the new soft-fallen mask
Of snow upon the mountains and the moors--
No--yet still stedfast, still unchangeable,
Pillow'd upon my fair love's ripening breast,
To feel for ever its soft fall and swell,
Awake for ever in a sweet unrest,
Still, still to hear her tender-taken breath,
And so live ever--or else swoon to death.
Not in lone splendour hung aloft the night
And watching, with eternal lids apart,
Like nature's patient, sleepless Eremite,
The moving waters at their priestlike task
Of pure ablution round earth's human shores,
Or gazing on the new soft-fallen mask
Of snow upon the mountains and the moors--
No--yet still stedfast, still unchangeable,
Pillow'd upon my fair love's ripening breast,
To feel for ever its soft fall and swell,
Awake for ever in a sweet unrest,
Still, still to hear her tender-taken breath,
And so live ever--or else swoon to death.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
o céu de Bachelard
Tire partido dos seus impostos, visite mais vezes o paraíso!
(Fernando Alves, ontem, a propósito de uma entrevista de Camila Alire, presidente da Associação das Bibliotecas Americanas (ALA), ao El Pays)
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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
pop-out fobias
não vou começar o ano com medos, mas que este é um espanta-espíritos que pode ajudar muita gente, lá isso é!
o autor é Matthew Reinhart, conhecido pelos seus trabalhos com vários autores, entre eles Maurice Sendak, com o belíssimo "Mommy?".
sábado, 2 de janeiro de 2010
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