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O meu tipo de vida

25.5.15
Então, esta semana, ou melhor, a semana que passou, tive uma pequena amostra do que poderá ser a vida de uma jornalista que troca panelas e máquinas de lavar roupa pelo trabalho no terreno e assim de repente parece-me mesmo muito bem.
É claro que não é sempre assim mas estar em Poitier num dia, a falar francês e castelhano (ou a tentar, vá), entre pratos de comida molecular, e no dia seguinte estar no Fundão a comer uma panela no forno do outro mundo, parece o meu tipo de vida.
E para já é isto que vos tenho a dizer.

Dias perfeitos

10.11.14
No sábado de manhã, uma lição de esgrima histórica para uma reportagem. Precisava de levar calças de desporto escuras e sweatshirt branca. Não tinha nenhuma e por isso transformei duas t-shirts numa sweat. Ficou apertada nas mamas e quando me vi ao espelho estava com os bicos espetados. Paciência.

No sábado à noite, seis horas numa peça de teatro.
A melhor pergunta/resposta: Qual a qualidade mais sobrevalorizada? (pergunta Vera Mantero) A iniciativa própria (responde Jorge Andrade).
No fim, mais duas horas a pesquisar personagens do Roque Santeiro e a cantar a banda sonora da novela.

Há dias perfeitos, foda-se.

No meu bairro

30.10.14
Desde que me mudei para o bairro mais multicultural de Lisboa, passei a acreditar na ilusão de que vivia numa cidade parecida com Vayorken, mas quando, hoje, saí de casa para levar as crianças à escola, percebi que não é bem assim.
Algumas pessoas viravam a cabeça e olhavam-nos com ar intrigado. Sim, o Nicolau decidiu sair de casa com a adorada touca da piscina na cabeça, e depois? Em Nova Iorque isto não teria sido considerado estranho.

Na padaria, a comer um pão de alforroba, ouço a empregada dizer que o que mais queria era ir passear, tomar o pequeno-almoço dela (suponho que ali tenha de tomar um pequeno-almoço estandardizado), ir até à praia, a seguir passear outra vez e depois jantar sushi.
Acho que era a mesma pessoa que no outro dia vociferava escandalizada com o que estavam a fazer a uma participante da Casa dos Segredos. Parece que a Teresa Guilherme "uma simples apresentadora", não tem o direito de estar a influenciar as pessoas com as suas preferências.

Numa esplanada da moda peço, a uma tia, um chá verde com limão e gengibre. Pago com uma nota de 5€ (custa 1,25€) e lá veio o belo do revirar de olhos porque não tinha troco.
No mercado, pago por um quilo de petinga 6€, entrego uma nota de 10€ e a senhora dá-me 5€ de troco: "fica-me a dever 1€, não se preocupe. Eu sei que vai voltar cá".

(gosto muito mais de escrever na primeira pessoa, mas foi um prazer escrever no outro registo sobre o meu bairro)

Profissão: blogger. A sério?

5.11.12
Não fui confirmar, mas parece-me que há um padrão nas minhas "pausas" do blog (assim para efeitos de estatística, vamos considerar cinco dias sem escrever uma pausa). E, ainda sem confirmação - há que frisá-lo -, esse padrão parece estar relacionado com a obrigatoriedade de escrever, mesmo que não saiba o quê, ou para quê. Ou seja, se por qualquer motivo eu começo a sentir que devia dizer alguma coisa é certo e sabido que opto por ficar caladinha. Aliás, as pessoas inteligentes que convivem comigo já sabem que a melhor forma de me levarem a fazer coisas é fazerem-me acreditar que sou eu que as quero fazer.
Bom, mas serve esta introdução para contar que fui convidada, enquanto blogger, para uma conferência de imprensa, o que me deixou estupefacta (e na dúvida se não seria por acharem que ainda fazia alguma espécie de jornalismo) e profundamente satisfeita, uma vez que compenso a falta de vaidade no que diz respeito à aparência com uma espécie de orgulho no resto, isto é, na minha brilhante cabeça pensante. 

É claro que se fosse verdadeiramente inteligente teria noção que a minha cabeça, apesar de grande, precisa de muito óleo, que é o mesmo que dizer que deveria ser usada mais frequentemente, o que dá  algum trabalho, portanto o ideal seria apostar na aparência, mais aí teria de voltar à inteligência, porque não há paciência para ser bonita quando não se é naturalmente bela.

Mas, voltando ao convite para a conferência de imprensa posso dizê-lo, sem compromissos comerciais, porque ninguém me pagou para o dizer, que foi a IKEA que gentilmente achou por bem apresentar-me a campanha de peluches que toda a gente conhece, porque toda a gente vai, ou já foi, à IKEA. A questão que se poderá colocar, ou não, é porque é que eu aceitei o convite. 

Pois bem, eu explico:

1) Não tinha mais nada que fazer e, acreditem, a sensação de dizer em voz alta, na conjuntura da minha vida actual, "tenho uma conferência no dia 31" é quase parecida com um orgasmo;

2) O evento foi no Porto e disponibilizaram uma camioneta para levar as pessoas de Lisboa que quiseram/puderam participar. Não há como recusar tal coisa;

3) O padrinho do projecto é o Sobrinho Simões e toda a gente sabe que o Sobrinho Simões é o melhor  médico/cientista do mundo (não tenho provas, pelo que terão de confiar na minha palavra, mas posso só dizer que é o responsável por este centro, apesar de pouquíssimas pessoas falarem disso?)

De resto, olhem, se quiserem uma cusquice, porque nestas coisas tem de haver cusquices, digo eu, a Ana Borges é uma mulher bonita. É uma mulher muito bonita, porque não precisa de maquilhagens e roupas extravagantes para parecer uma gaja gira. Mesmo muito gira. Ou muito bonita, para quem faz a distinção entre gira e bonita. E se calhar estou a quebrar todas as regras das conferências de imprensa para bloggers + mais pessoas da socialite, mas, como devem calcular, estou-me a marimbar (mais ou menos, porque acabei de censurar o estou-me a cagar).

Das coisas sérias

19.5.12
De cada vez que envio uma crónica apetece-me, logo a seguir, pedir para não a publicarem. Às vezes peço para fazerem uma ou outra alteração, outras faço por esquecer que a escrevi. Mas elas lá estão, à vista de toda a gente. É assim tão diferente de escrever no blogue, perguntaram-me? É. Aqui sou eu, e eu não me levo muito a sério.  sou a cronista e nada me parece tão sério como isso.

O futuro, o medo e etc.

27.3.12
Não é que tenha dito tudo aqui, mas quase.
De resto, ando um bocado atordoada com tanto sol (também pode ser da diarreia): a Natureza, parece-me, insiste em continuar a fazer o que faz há biliões de anos, apesar de tudo.
Também encontrei uma carteira cheia de dinheiro, no chão, eu que andei anos a procurar moedas de cem escudos, e ninguém a vem reclamar (sim, tentei chegar ao dono da dita).
E estou com medo, não sei de quê, mas como costumo dizer aos pequenos ter medo é bom, desde que saibamos o que fazer com ele.

Olha eu

4.3.12
Estou no p3 outra vez.

Ao que isto chegou

17.2.12
Ainda por cima, veja lá, Sr. Cardeal, em vez de ficar caladinha a cuidar dos filhos e do marido, ponho-me a dizer coisas nos órgãos de informação.

Tetris

11.1.12
Há uns posts atrás falava de como é difícil encaixar-me numa pessoa de quase 40 anos, mas começo a achar que decerto tenho é um problema de encaixe generalizado, sobretudo com esta coisa de me ver de cima como se sobrevoasse os espaços por onde circulo.
Por exemplo, mãe-que-fica-em-casa de três filhos a viver na lapa não sou eu (apesar das grandes semelhanças com o meu cabelo e a vestimenta adrajosa). 
Gaja que rói as unhas enquanto planeia o fim-de-semana em Londres sozinha e a road trip a Bordéus com a família, entre o compungida pelos que não têm de dar de comer aos filhos e o estar a marimbar-se, à la senhor dos pentelhos, mas decidida a voluntariar-se em alguma coisa para se sentir melhor consigo própria, sou eu. 
Doméstica que planeia fazer rissóis de camarão (fazê-los mesmo e não fritá-los), lasanha e outras receitas que possam ser congeladas e depois de algumas horas na cozinha tem o assunto arrumado, não sou eu. 
Doméstica que faz os mesmo planos e que desiste a meio do processo, ou que decide que a lista de ementas é efectivamente útil e portanto há que levá-la a cabo, mas nunca a faz, sou eu. 
Designer, ilustradora, arquitecta, ou outro tipo de artista com gosto/talento especial para fazer coisas à mão e com máquinas de costura e fotografá-las de forma espectacular, obviamente não sou eu. 
Semi-jornalista com algum interesse por tecidos e artesanatos em geral (lembras-te, Dora?), que decide fazer umas coisas, porque é giro (e sempre é melhor que pôr loiça na máquina) e porque gosta de ver os filhos com mantas, meias, caneleiras e outras coisas que lhe saíram das mãos e não se cansa de ficar, imodestamente, embasbacada com o resultado de algumas delas, mas que de repente, e por nada de especial, já acha que é uma perda de tempo, sou eu. 
Acho que o grande desafio para 2012 é tentar encaixar os eus todos nos sítios certos para passar ao nível seguinte.


(P.S uma semana depois do início da creche, o Isaac acorda às 6h30, cheio de pressa, que tem de ir para a escola: "Vamos, vamos, quero ir pá escola".)

Às vezes consegue-se ver o tempo passar

13.11.11
Há alguns anos atrás fiz uma reportagem sobre o aloé vera. Nessa altura ainda não sabia fazer reportagens, nem que nunca chegaria a aprender verdadeiramente, mas decidi ser original (todos nós achamos, uns mais que outros, claro, que somos muito originais de vez em quando) e usar nos intertítulos frases de um livro.
Para fazer o trabalho fomos, eu e o Filipe, o fotógrafo, de transportes públicos para Braga, porque nenhum de nós conduzia. Eu estava grávida de pouco tempo e o Filipe, pareceu-me, estava interessado na Andrea.

Passaram onze anos.

A Beatriz está no quinto ano. O Filipe e a Andrea têm dois filhos. O livro de José Riço Direitinho vai ser reeditado e eu ainda não conduzo.

Coincidência

23.9.11
Ia abrir a porta do frigorífico e fixei o íman com os caixotes da reciclagem, da Valorsul, e ocorreu-me que devia trabalhar com lixo, e não, não estou a falar de respigar, refiro-me mesmo às coisas nojentas. Sempre me fascinou o que a humanidade deita fora (as séries policias ajudam, eu sei, mas no meu caso foi mesmo o jornalismo ambiental) e até as ETARs me parecem mais obras de engenharia fascinantes do que depósitos de merda mal cheirosos. É claro que é mais bonito pontes e barragens, mas já estou a divagar. O que eu vinha dizer é que no minuto a seguir a estar a pensar que devia trabalhar com lixo, vejo um anúncio no p3 a um DVD a dizer "Conheça as vidas a quem o lixo mudou a vida". E esta, hein?

Assim, sim

19.6.11
Quando leio artigos destes e a soberba entrevista do Luís Miguel Queirós ao mais recente Prémio Camões, Manuel António Pina, no ípsilon, volto a acreditar no jornalismo.

Esclarecimento

19.4.11
Por causa de alguns e-mails simpáticos que tenho recebido sinto-me na obrigação de esclarecer que apesar de ter sido jornalista durante dez anos nunca fui uma profissional de sucesso. Poderia acrescentar que o mesmo se aplica à maternidade, mas isso já ficou claro em algumas coisas que têm sido ditas por aqui.

Uma gravidez poderá reflectir o carácter da pessoa pequena que vai nascer?

8.3.11
Grávida do Isaac criei o MUV e convenci-me que era um projecto com pernas para andar. Cheguei a ter um tema de capa, ia falar das Alterações Climáticas uma vez que se aproximava a Cimeira de Copenhaga (os timings são tiques que se apanham) e cheguei a fazer contactos com a Quinta da Aveleda, a Agência Abreu e a Lanidor (queria mostrar casos práticos e a agricultura, as viagens e a moda pareceram-me uma boa amostra de trabalhos que sofrem a influência do clima. Além disso, as três empresas estão no mercado há mais de 50 anos, o que me parece um espaço de tempo considerável para estabelecer comparações). Até sabia como ia começar a reportagem: "Quando era criança, o dia de todos os santos, que como se sabe é o dia em que a maioria das paróquias festeja os fieis defuntos, era o dia em que se usavam pela primeira vez meias-calças, um sinal de que o frio do Inverno estava a chegar. Agora, é difícil determinar quando começa, ou acaba uma estação..." e por aí fora.
Enfim, tanto a Quinta da Aveleda, como a Abreu (a Lanidor ignorou-me) revelaram que sim, muita coisa tinha mudado, mas nenhuma delas me podia garantir que a causa era o clima. O Alberto Machado, assessor de comunicação da Agência Abreu, chegou a dizer qualquer coisa como: "Acho que é uma mulher à frente do seu tempo, porque me parece que vamos chegar a essa conclusão mais cedo ou mais tarde, mas para já não lhe podemos garantir isso". Portanto, foi bonito enquanto durou e se algum editor/jornalista quiser pegar na ideia está à vontade, mas agora está aqui a prova que a ideia é minha. Adiante, que eu juro que não vinha falar de jornalismo.

Grávida do Nicolau desenvolvo uma quase obsessão pela Virginia Woolf e mergulho em workshops de patchwork, costura e tricot para sentir que produzo, que faço, que posso, que...Quererá isto dizer que o Isaac será um activista e o Nicolau um introspectivo?

Na gravidez da Bea vivia obcecada com ela, portanto isso deveria fazer dela uma narcisista. O que por acaso...

Bom, isto é um exercício demasiado rebuscado até para mim. Vou antes comer.

Entretanto

13.9.10

Vou experimentar fazer uma sopa com as beldroegas que cresceram no vaso da salsa.
Não identifiquei a planta, quando a vi, mas percebi que só podia ser uma infestante. Imediatamente lembrei-me de um trabalho que fiz para a revista Forum Ambiente com o botânico João Gonçalves da Costa, antigo colector do Instituto de Botânica Dr. Gonçalo Sampaio, e que me marcou profundamente.
Além do conhecimento que transbordava de tudo o que dizia, ele falava das plantas como se fossem pessoas que conhecia daqui e dali. Mas o que me espantou verdadeiramente foi ele referir-se a duendes, a propósito de na Escócia as casas terem heras para os esconder, como se fossem criaturas reais. Primeiro fiquei surpreendida, depois à medida que o fui ouvindo pareceu-me perfeitamente natural que existissem seres que tentam proteger a Natureza.
E lembrei-me dele ao ver as beldroegas (Portulaca oleracea), porque notava-se que tinha uma certa simpatia pelas infestantes. Dizia ele que as austrálias (Acácia melanoxylon) e os eucaliptos (Eucalyptus globulos e E. obtusa), por exemplo, são árvores que continuam a lutar pela sobrevivência, depois de verem o continente que as acolhia partir-se: o velho continente lemuriano que se transformou na várias ilhas que hoje constituem o continente australiano, a Nova Zelândia e a Tasmânia.
Resumindo, além de uma bela sopa, as beldroegas serviram para me lembrar a magia do jornalismo.