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sábado, janeiro 1

A Esperança começa por acreditarmos nas crianças/alunos

Via referência do JMA no Terrear, trago para aqui uma parte de um relato de uma professora no Vox Nostra. E o que eu gostaria de deixar dito neste primeiro dia do Novo Ano, é dito no último parágrafo por essa professora. Porque acredito convictamente que todos os alunos são capazes de aprender, podendo é ter as aptidões escondidas ou bloqueadas, e que mesmo os que parecem não querer, lá no fundo gostariam de aprender.

(...)

Sou professora de uma turma Ninho do 8º ano, e quando o Ninho foi formado no início do ano, a professora titular forneceu-me algumas informações relativamente aos quatro alunos que iriam ficar comigo. O C. foi o aluno que me chamou mais à atenção, não só porque, segundo a colega, era um aluno com imensas dificuldades de concentração/ atenção, de aprendizagem, mas sobretudo com dificuldades de relacionamento. Logo na primeira aula, o C. isolou-se na sala (e a sala é bem pequena), mal levantava a cabeça, mal respondia às minhas solicitações, era introvertido, e quando os colegas falavam com ele, ele simplesmente ou não respondia, ou dizia qualquer coisa “entre dentes”, imperceptível. Percebi mais tarde que não gostava de aulas, e estava ali por obrigação. Sempre que eu ia para as aulas, pensava numa forma de motivar o C., mas infelizmente saia sempre com um enorme vazio, fracasso, e incapacidade de lidar com este desafio. No entanto, eu continuava a acreditar…
O primeiro conteúdo programático a ser leccionado no 8º ano, e em termos de revisão/ consolidação, foi o texto poético. Todos nós sabemos a dificuldade que existe em conquistarmos os alunos com este tipo de texto, porém, é para mim um prazer enorme “inventar” estratégias/ actividades para os cativar e levá-los a gostar de poesia. Só que nenhuma delas funcionava com o C., e ele continuava no seu canto, em silêncio, no seu mundo. Inesperadamente, e sem pensar em qualquer tipo de intenção, comecei a reparar que nalgumas aulas, o C. fazia uns “rabiscos” no seu caderno. E numa aula, aqui sim, intencionalmente, e a propósito de uma poesia de Eugénio de Andrade, “Paisagem”, perguntei ao Ninho quem sabia desenhar. O C. levantou a cabeça, os colegas responderam de imediato: “O C. stora!”. (Confesso que era esta a reacção que eu esperava). Ele olhou para mim, e eu perguntei: “Queres ir ao quadro C.? Quero desafiar-te.” Incrédula, vi o C. levantar-se, dirigir-se ao quadro, e agarrar na caneta que estava na secretária. “Que quer que eu faça, stora?”, perguntou ele. Senti uma alegria interior. O C. estava a ter um diálogo comigo! E foi aí que o desafiei: “Quero que pintes o poema que os teus colegas acabaram de ler. Vou pedir-lhes para lerem o poema devagar, e tu vais desenhando o que ouves.” E assim foi. Começou a desenhar, cada linha, cada verso, cada imagem que ia “ouvindo”. E nós, cá atrás, estávamos sem palavras. Sem reacções. Apenas olhávamos, em silêncio, cada traço, cada curva, cada figura do C.. E no final, todos aplaudimos. Eu, com uma enorme satisfação, abracei-o, e tirei uma fotografia da “pintura”. O C. sorriu, agradeceu, e manteve o mesmo sorriso até ao final da aula. A partir desta aula, a atitude do C. mudou completamente. É o primeiro a chegar à aula, quer participar, ir ao quadro, tomar apontamentos no caderno diário, e até escrever. Sim, ele escreveu um poema!
(...)
É com esta “história fantástica” e exemplificativa, que pretendo mostrar a todos (as) os (as) colegas que é possível acreditar, mesmo quando pensamos que não vamos conseguir. Não desistam. Dentro de cada aluno, há uma resposta e um sinal, mais precisamente uma chave, para chegarmos até eles. Sucesso não é só levá-los a atingir resultados, é sobretudo levá-los a ganhar confiança neles próprios, e levá-los também a acreditar que são capazes de conseguir.

sábado, setembro 29

Metodologias e dispositivos ou capital social?

A entrada do JMA centra-se numa pergunta aglutinadora: “O que é que se pode mudar para que os nossos alunos aprendam mais? Em torno dela, JMA coloca uma espécie de área semântica em que inclui metodologias, valorização dos saberes e dispositivos geradores de aprendizagem.
O primeiro e o terceiro (metodologias e dispositivos) estão, de forma relativamente óbvia, relacionados com a escola, o segundo, valorização dos saberes, parece colocar-se mais no âmbito dos valores e das atitudes da sociedade relativamente à educação e à instrução, se bem interpreto.
Eu não quero parecer daquelas pessoas para quem a culpa é sempre dos outros, mas creio que, se colocássemos esta mesma questão na maioria dos países europeus e ocidentais, a resposta a “o que é preciso mudar?” seria: mudar a sociedade, mudar os pais, mudar o país (o que obviamente significaria também, de algum modo, “mudar a escola”, embora esta solução ficasse muitos pontos atrás da outras, apesar do olhar cada vez mais crítico que as sociedades têm em relação à escola).
O mais curioso é que a investigação confirma, grosso modo, esta ideia dominante. Não esbocem já esse sorriso complacente de quem está a observar alguém a dizer que a culpa é sempre dos outros, porque o que vem a seguir é baseado em investigação educacional com origens bem diversas. É verdade, sim senhor, muita da investigação conclui que os grandes problemas da educação são exteriores ao contexto educativo, a saber: a comunidade, a família, os companheiros e as crenças dos jovens (Dornbusch, Herman, & Morley, 1996; Majoribanks, 2002).
Admirados? Então afinemos a lupa e continuemos: os jovens que beneficiam de contextos familiares acolhedores, harmoniosos e equilibrados beneficiam mais da escola(Juang & Silbereisen, 2002). Os jovens provenientes de famílias instruídas gozam de mais vantagens de maiores oportunidades de sucesso; mais: os pais instruídos encorajam os filhos a relacionarem-se com outros jovens provenientes de famílias com valores idênticos, particularmente em relação aos valores que se relacionam com a realização pessoal (Wentzel & Feldman, 1993; Williams & Radin, 1993).
Poderão argumentar que, de um modo geral, os pais de todas as condições sociais valorizam a instrução dos filhos, e é verdade, mas o facto provado é que os pais mais instruídos têm expectativas mais elevadas (Alspaugh & Harting, 1995; Gutman & Eccles, 1999; Juang & Silbereisen, 2002) e ainda servem de exemplo aos filhos.
Os jovens cujas famílias os acompanham de forma razoável, tranquila e sem controlos excessivos, têm percursos académicos mais prometedores; ao contrário, pais pouco envolvidos com o percurso escolar dos filhos prejudicam o seu sucesso académico (Steinberg, 1996). Ao acompanhamento parental, adicionemos as capacidades individuais e a auto-eficácia e teremos a fórmula secreta do sucesso na escola (Juang and Silbereisen, 2002).
Juntemos-lhe agora a envolvente social: há quem tenha demonstrado que uma comunidade desorganizada pode ter um efeito mais devastador no ajustamento do jovem à escola que o próprio contexto familiar (Bowen, Bowen, & Ware, 2002), o que parece justificar-se com o facto de os pais terem menos capacidade de resposta às necessidades dos filhos, no que respeita às influências negativas dos companheiros, da violência envolvente e da falta de recursos humanos e materiais desses contextos sociais. Os que, de nós, conhecem o ambiente dos bairros pobres ou dos novos guetos sociais saberão ao que me refiro.
Os companheiros e as redes de pares também influenciam o comportamento académico dos jovens – nós sabemos como os bons alunos procuram a companhia dos bons alunos dentro e fora da aula: Ryan (2001) verificou que a envolvente grupal da escola no início do ano lectivo é uma determinante da evolução escolar dos jovens e dos seus resultados no final do ano lectivo. Interessante, não é? O conservador “diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és” parece ter, afinal, algum fundamento científico.
Sem qualquer sombra de dúvida: os recursos económicos e a instrução dos pais são um indicador crítico de maiores oportunidades de aprendizagem e de um melhor desempenho escolar e a forte relação entre os recursos e a rede social são “alarmantes”, o que favorece largamente a hipótese de que as famílias de recursos limitados estão em desvantagem em termos de redes sociais fortes (Mullis, Rathge & Mullis 2003). Como é que se contorna ou, pelo menos, compensa esta evidência?
Naturalmente, com variáveis relacionadas com a escola, tais como 1) as características da escola e a sua dimensão; 2) as actividades que desenvolve; 3) o envolvimento parental, que, todos eles, promovem o envolvimento dos jovens na escola. Um primeiro, curto, mas fundamental passo em frente, porque estamos apenas a falar de envolvimento do jovem na escola, não estamos já a falar de sucesso escolar.

sexta-feira, setembro 28

O que é que é preciso MUDAR para APRENDER?

Caros companheiros,

Aceito, enfim, o desafio de lançar um novo tema. Que tema/problema nos pode unir e ser uma pedra angular da nossa profissão? E encontrei um resposta/pergunta possível: o que é se pode e deve mudar para que os nossos alunos aprendam mais? Para que os nossos alunos aprendam o que é realmente importante para a vida nos seus distintos planos (da fruição estética, do lazer, da produção, da convivência cívica)? Isto é: o que cada um dos actores educativos pode (e deve) fazer para melhorar os resultados (académicos, relacionais, sociais, de percurso pós-escolar) dos alunos? O que é que o poder político (leia-se o ME), os Serviços Centrais do ME, as "Direcções" Regionais, a Direcção das escolas e agrupamentos, os coordenadores de Departamento, os professores, os pais... podem e devem fazer para que os nossos alunos aprendam mais e sobretudo melhor? O post anterior (que felicito e integro) é bem claro: não bastam as mudanças tecnológicas, é preciso tocar no coração das metodologias. E acrescentaria: tocar no coração das pessoas, na valorização dos saberes, no reconhecimento dos dispositivos que geram aprendizagens...

É pois este o tema (talvez vasto e complexo) que proponho: o que podemos fazer para que os alunos queiram aprender? E não só nós (educadores/professores), mas todos os que são responsáveis pelas gerações mais jovens? Eis, pois, o desafio: que cada companheiro(a) puxe pelo fio que entenda mais pertinente.... . Até já.