foto Luis Carlos Bill
Em Crateús, nas brenhas secas dos Inhamus cearense, primavera era uma estação de trem distante, muito distante, tão distante que nem existia. Que diria outono, que nem aparecia.
As duas estações de outras cidades a léguas tiranas do sertão, só marcavam nas folhinhas do calendário na parede... e meus olhos retirantes imaginavam o trem nas trilhas.
Na via férrea que cortava o meu fim de mundo, o trem só trazia vagões com a fumaça do verão, e do último, bem lá atrás, jorravam as águas do inverno que transbordavam meu açude no quintal, subiam o verde da roça, e banhavam meu sorriso na bica na calçada.
Abaixo da linha do equador do meu peito, a primavera sempre existiu. Seguida do inverno, a estação reflorescia os ladrilhos ainda molhados. Assim como o outono no coração do menino... e as folhas que caiam das árvores onde brincava de esconde-esconde. O tempo sempre me encontrava.