Então é Natal... E como é Natal, eu gostaria de compartilhar com vocês da história de Ana Beatriz.
Vocês sabem quem é Ana Beatriz? Não?! Pois eu sei e vou contar a história dela para vocês, aproveitando que é Natal e essa história tem muito a ver com o que deveria ser revisto e reflexionado por nós, inicialmente dentro do espírito natalino, e de aí, por toda uma vida.
Eu já a havia visto muitas vezes nas aulas de atletismo do clube onde levo minha filha também para o atletismo e natação.
Além das aulas de atletismo normais como as de Carmencita, o clube também oferece aulas para pessoas com incapacidades físicas ou mentais, com um professor especializado e é lindo ver como Ana Beatriz corre, faz estiramentos, salta, tenta cruzar barreiras, obviamente dentro de suas limitações.
Juntamente a Ana Beatriz, estão Carlitos, Luciana, Andrés, Mariita e Júlia, sendo que Ana Beatriz é a única dentre eles que não é portadora de Síndrome de Down. Então, se não tem Síndrome de Down, qual seria o problema de Ana Beatriz, uma menina de olhar penetrante, sorriso lindo e uma alegria contagiante?
Vejam só... somente há poucos dias soube que Ana Beatriz foi gerada com muita alegria, dentro de uma gravidez absolutamente normal, em uma família rica, muito esperada e desejada por seus pais.
Até aí a história não tem nada de diferente da maioria das histórias que conhecemos. As diferenças, no entanto, começam a partir do momento do seu nascimento. Por complicações que não saberia dizer quais foram, há 20 anos, na hora em que Ana Beatriz nasceu, ela, que era "normal" até aquele instante, sofreu alguma complicação séria e pela demora na atenção médica, sofreu uma paralisia cerebral em 90%, de caráter irreversível.
A partir daquele momento, Ana Beatriz que tinha tudo para viver um conto de fadas em sua vida, teve seu destino traçado da forma mais triste para um ser humano: o desprezo e o abandono.
Ao vê-la "deficiente mental" o pai, um homem de alta sociedade para quem o padrão de "beleza e normalidade" é o que há de mais importante na vida, revelou, imediatamente, o seu desejo em se divorciar da mãe de Ana Beatriz, que não pode dar-lhe uma filha saudável.
Embora nunca tenha deixado, durante estes 20 anos, de ajudar a Ana Beatriz financeiramente, o pai nunca voltou a vê-la, nem sequer deseja saber como está. Triste, não? Pois é! Mas o pior ainda estava por vir.
Junto com o desprezo do pai, veio o desprezo da família paterna, que igualmente nunca voltou a ver esta menina tão linda, dona do sorriso mais lindo que já tive a oportunidade de ver em toda minha vida. E com isso Ana Beatriz se criou ao lado da mãe e um irmão dois anos mais velho que ela.
Tudo na vida de Ana Beatriz ia supostamente bem, dentro de suas limitações, até que há 6 anos a mãe foi diagnosticada com câncer, já em estado avançado. Chamaram para cuidá-la a Maria, uma enfermeira que, coincidentemente (aliás, coincidências deste tipo não existem na realidade) era especialista não somente no cuidado de adultos, mas também, e principalmente, no cuidado de crianças com necessidades especiais.
Maria cuidou da mãe de Ana Beatriz durante um ano e para a tristeza de todos, um ano depois a mãe de Ana Beatriz não pode suportar e lutar contra a doença e faleceu. Não antes de pedir a Maria que "por amor a Deus" nunca abandonasse a sua filha.
Com a morte da mãe, o pai se responsabilizou pela criação do irmão mais velho de Ana Beatriz (já que este filho era normal), afastando-o de uma vez por todas da vida deste ser humano que desde seu nascimento conheceu unicamente o abandono por parte dos que a deveriam amar. Também com a ausência da mãe, veio a ausência (desta vez definitiva) da família materna.
A família, símbolo principal de união. A família, criada por Deus para ser o apoio em nossas vidas, nosso pilar e nosso norte. Essa mesma família, foi a responsável pela maior tristeza na vida de um ser humano que nada fez para ser tão desprezado, a não ser o fato de não estar dentro dos padrões de "normalidade" impostos pela sociedade.
E é assim que desde os 15 anos, essa pobre menina rica vive, por assim dizer, sozinha no mundo. Abandonada pelo pai, pelo irmão e pela família, afastada de sua mãe pelas mãos do Criador, vivendo em uma casa bonita, mobiliada exclusivamente para suas necessidades, uma conta bancária invejável; no entanto, acompanhada unicamente de Maria, a enfermeira a quem ela ama como se fosse sua própria mãe, a profissional que deixou de sê-lo para se transformar na companhia inseparável de Ana Beatriz, chorando com suas tristezas, sorrindo com suas alegrias, dedicando-se a ela como a uma verdadeira filha, dando a Ana Beatriz o que todo o seu dinheiro nunca conseguiu comprar, AMOR.
Essa é Ana Beatriz. Deficiente mental, 20 anos (e idade mental de 4), linda (por dentro e por fora), alegre, ladra de corações (sim, porque temos nosso coração roubado por seu carinho no momento imediato a conhecê-la), rica e solitária.
E essa é Maria. Enfermeira, solteira, 45 anos, sem filhos biológicos, expressão máxima do AMOR INCONDICIONAL. Um exemplo de vida e amor ao próximo!
Então, como é Natal, época dedicada ao AMOR, deixo esta mensagem para que possamos refletir no que realmente deve ter valor em nossas vidas.
Essa é uma história verídica, vivida e ouvida por mim, Carmem L Vilanova, que as conheço e por quem tenho um carinho e um respeito imenso.
Que o espírito de AMOR de D. Maria seja o que impere em nossas vidas a partir de hoje e que a alegria e vontade de viver de Ana Beatriz sejam nossas companheiras inseparáveis.
FELIZ NATAL A TODOS!
Beijos, flores e muitos sorrisos!
PS: Esta postagem é parte do Concurso Literário: "Então é Natal", promovido pelo nosso querido Espaço Aberto, do qual participo com enorme carinho e gratidão.
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