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Porque estou cercado de amor

Oceano profundo

Porque estou cercado de amor,
Falo de amor.
Um mergulho nas águas rápidas
e cristalinas do seu rio
e de lá não mais saí.

Noites se sucedem.
Marés vêm e vão...
E ali permaneço
estático feito a pedra
que não pensa nem sente.

O arrepio que sinto
Cada vez que a vejo ao longe,
não minto,
Não chega mais ao coração,
Que protegi, cansado de sofrer
Por esperanças vãs.

É por um sentimento
que há muito perdi
Que nem pisco mais, agora.
Para não arriscar perder
Um só instante de você,
sol da aurora.

Agüento firme as ondas,
Sorrindo até o entardecer.
Desta vez fico alerta
a espera do sol mergulhar sua luz
Em algum ponto além do horizonte.

No instante seguinte
a lua chega mansinha
e me pergunta
se com ela quero casar,
Tremo
E sem responder, sorrio

Sei que para essa pergunta de criança
Não há resposta séria,
Nem pode haver esperança.
Porque estou cercado de amor,
Falo de amor.

Helio Jenné

Diga alguma coisa!

Imagem - Acis e Galatea, de Auguste-Louis-Marie Ottin


Mas dizer o quê?
que amo e quero
e sonho acordado com você?
Isso já disse. Que ainda espero
mas não sei bem o quê, nem porquê?

Que a respiração pode ser quente
mas meu olhar, distante e frio
como aquela tarde de inverno...
Que minhas mãos errantes, tateiam no vazio,
em busca da sua rosa, de uma pétala ao menos,
mas a flor caiu no rio que leva os amores plenos

Que a minha inspiração vazou,
os pensamentos fugiram,
os neurônios, desmaiaram
mas meus demônios não dormiram?

Que enquanto minha saudade
fita o distante presente
como um pesadelo silente,
minha língua, o sabor doce do seu beijo, ainda sente?

Que o vento gelado me contou,
me assoprou no ouvido uma lenda
ao cortar minha carne macia,
de mim, de você, da gente

Não quero mais parte,
nem a metade aceito.
Se o todo é impossível, ai de mim,
como pode meia chama arder no peito?

Deixo assim, em desespero profundo,
no velho vento, a saudade
de tudo neste mundo
que não chegou a ser,
pra certamente, mais tarde,
voltar a me arrepender.

Amo, quero, preciso, espero.


Madrugada Maldita



A madrugada maldita
levou meu sono embora
e junto com a lua redonda e pálida
trouxe lembranças

que embaralham meus pensamentos
e me empurram mar a dentro,
sem expectativa de encontrar
terra firme novamente.

A maldita madrugada
que traz ruídos distantes
e lembranças gigantes,
para me assombrar e me cobrir de tristeza.

Ah noite longa, noite lenta, noite tensa
tantas palavras não ditas
e tantas outras malditas
redemoinham ao meu redor...

Madrugada de dor e de saudade.
Quanto tempo para eu encontrar o alívio
que vem com o amanhecer,
trazido pelos primeiros raios de sol?

Por mais quantas vidas ainda vou ter que superar
a dor da sua ausência?
Quantas madrugadas de pesadelos
acordado conseguirei suportar?

Quero o sono dos infelizes, dos machucados e dos abandonados.
Só peço que esta noite acabe logo
pois então poderei torcer meu coração
e pendurá-lo no varal pra secar.

Corredor de ventania

Symphony, de Simon Bull


Certa vez você disse que fez
e mandou pela net, para mim,
Linda poesia escrita em inglês,
Cujo final era assim:
“And I realize that you'll always love me!“

Estava certa, madame…
Na hora não percebi o quanto
De encantamento havia nas palavras
Que cativaram o meu canto.

Tanto, que dia a dia leio e releio,
Tentando descobrir o quê, de fato
Provocou tamanho efeito,
No meu espírito insensato.

Seu amor bateu como brisa fresca,
Acalmou meu coração escaldado,
Arejou meu pensamento conturbado
E passou por mim, de passagem,
Sem parar, seguiu viagem...
Deixando para trás um desejo abafado.

E eu...
-- que um dia, cheguei a sonhar
Ser seu oásis, seu nirvana,
Seu palco iluminado,
Em quem você mataria a sede,
A sua fome e a minha solidão insana --

Eu,
descobri tarde demais,
Ser apenas uma passagem,
Corredor de ventania,
Um prelúdio para a sua sinfonia.

Você ensaiou em mim
Seu Concerto de Aranjuez,
Um arranjo para quarteto de cordas,
Melodia inacabada,
Mas foi fazer seu show em outros palcos.

Deixou para trás um maluco ferido,
Que dias e noites, ensandecido,
Canta pro céu, olhando as nuvens,
Enxergando seu rosto até nas estrelas,
Esperando ver o seu olhar colorido...

Em terra de gigantes poderosos,
O que um Quixote rouco e deserto
Pode fazer, mas sangrar seus azuis
Contra os moinhos do tempo,
Se você nem está por perto?

O que um menestrel sem maldade,
Amoroso, mas pouco esperto,
(Como explicou Zimmerman)
costuma fazer a essa hora da manhã?
Eu, tento inventar um acorde,
Que adormeça depressa
A dor da minha saudade.

Ode ao meu sonho

morcego voa

Da toca em que me asilo
avisto teu vôo lindo
de bicho que voa triste
e não sabe onde parar.

Um vôo desesperado. Disrítmico.
Percebo teu dorso liso e o desejo para mim.
O meu desejo... já não te importa.

Deslizas pouco sóbria pela abóbada noturna
e eu caio ferozmente
sobre teu voar, a tua arte.

Mas, vampiro de noites claras,
não quero te sangrar muito...
não posso interromper esse vôo tão teu

Que me omite desse mundo,
desse saco sem fundo,
desse transe, desse doce, dessa cor...

E prefiro mil vezes mil, mais mil
despencar tonto e torto até as profundezas abissais
onde, no fogo mágico e embalante da saudade
contorcer meus ossos até as cinzas.

Aí então, cautelosamente,
renascer como um fênix vagabundo
e me arrastar sem pressa, voando baixo,
pra esses sóis, dois faróis,
que se aninham nos teus olhos.

É como um ímã...
Não aprendo nunca...