Parte anterior: Diego se vê diante da escolha: Contar para Lani que a traiu com Michele ou terminar tudo com Lani sem dizer a verdade. E ele escolhe ocultar o que aconteceu, deixando Lani sem escolha quando termina com ela sem dizer o verdadeiro motivo. Lani fica arrasada, pois percebe que é apaixonada por ele. Para ler, clique AQUI!
Segunda-feira.
Emanuelle
entrou na biblioteca pensativa, tinha passado o domingo na casa de Lani e não
conseguia entender o que havia acontecido com Diego.
Quem
poderia entender os homens?
Ver
como Lani estava péssima fez com que ela percebesse que também não estava bem.
Todos
aqueles acontecimentos, aquela atitude inexplicável de Diego fez com que se
sentisse vulnerável, insegura quanto ao amor. Tudo tão arriscado, tão inseguro,
nada garantido... O amor parecia ser algo que podia te fazer feliz num minuto e
extremamente infeliz no seguinte.
Percorreu
pensativa a biblioteca quando esbarrou em alguém, assustada levantou os olhos.
_É,
parece que só nos encontramos na biblioteca. – Ela disse sorrindo.
Matheus
sorriu também:
_Resolvi
finalmente estudar... – Ele riu nervoso e então relaxou. – Mentira, vi você
entrando e te segui.
Emanuelle
riu e então se lembrou de Lani, talvez Matheus pudesse ajudar a entender o que
havia acontecido, afinal ele era amigo de Diego.
_Acho
que te devo desculpas né? – Ele disse um pouco envergonhado. – Prometi um
encontro já faz algum tempo e não fiz nada.
Emanuelle
sorriu:
_Você
mudou de ideia, tudo bem, eu não vejo problema nenhum nisso. Talvez tenha sido
melhor assim.
_Mudei
de ideia? Claro que não! Como pode pensar isso? Na verdade só está tudo muito
corrido pra mim, e também precisava de tempo, colocar as coisas no lugar.
Emanuelle
revirou os olhos e sorriu rapidamente.
Que
ótima desculpa! Todos os homens pareciam tão iguais. Por que tudo devia acontecer
no tempo deles? Pensava revoltada quando ouviu Matheus dizer receoso.
_Que
tal jantar comigo hoje?
Ela
olhou pra ele e decidiu não se render tão fácil.
_Você
tinha prometido um primeiro encontro incrível... – Não terminou a frase, mas
esperou que ele entendesse o que ela queria dizer.
Ele
entendeu.
_Eu
tive algumas ideias, mas não vejo nada demais elas ficarem para um segundo
encontro.
Emanuelle
pensou por alguns segundos e então lembrou-se de Lani. Aquele jantar seria
perfeito para tentar entender a atitude idiota de Diego.
_Tudo
bem, eu preciso mesmo conversar com você. Aceito o jantar.
Ele
sorriu satisfeito.
Já
era fim de tarde e a escola estava quase completamente vazia.
Lani
entrou no auditório e caminhou devagar até o palco.
Como
aquele lugar mudara, antes era menor, e não tão bonito. Mas apesar das
mudanças, continuava impregnado de lembranças, momentos vividos quando Lani e
Samantha eram boas amigas.
Samantha correu rápido e pulou para o palco.
Gabriel veio logo atrás e Lani chegou por último tentando manter a respiração,
nunca fora muito boa com exercícios físicos.
O auditório estava vazio. Somente os
três.
_Anda, Lani, toca pra gente!
Lani sentou e tocou os dedos no
teclado.
_Acho que deveríamos cantar algo bem
sexy hoje. – Gabriel disse rindo.
Lani o olhou surpresa e Samantha
pulou nas costas dele rindo:
_Quem vê assim até pensa que você
canta.
Gabriel riu.
_Certo, então acho que vocês
deveriam cantar algo bem sexy hoje.
_Para, ele nem canta tão mal assim,
Sam!
Samantha gargalhou alto:
_E você é uma péssima mentirosa,
Lani. Mas conta pra gente, Nino, por que algo sexy? Conheceu alguma garota é?
Pode contar tudo pra gente.
Gabriel agarrou Samantha pela
cintura e a fez sentar se no mesmo banquinho de Lani.
_Vamos cantar, Sam! Isso é o que
importa!
_Gabriel! – Lani quase gritou. – O
que você pensa que pode esconder da gente heim?
Gabriel riu.
_Para, meninas. Não tem nenhuma
garota, ta? Pelo menos não ainda.
_Ainda? – Samantha e Lani gritaram
em coro.
_Gabriel, eu sempre te conto dos
meus relacionamentos, não pode esconder os seus da gente!
Lani disse sem segurar a risada:
_E olha que os dela não são poucos!
Samantha deu uma tapa de leve em
Lani e olhou para Gabriel.
_Tudo bem, Gabe. Te damos uma semana
pra contar pra gente, combinado?
Gabriel riu e então Lani começou a
tocar.
Agora,
ali, depois de tanto tempo, ela ainda podia ouvir a voz de Gabriel desafinada
tentando acompanhar as duas garotas, que cantavam uma música animada. Era sempre
assim o fim de tarde, a alegria era rotina.
Tudo
parecia tão simples, sincero, inocente e perfeito. Quando foi que tudo aquilo
se perdera?
Uma
lágrima correu dos olhos de Lani quando ela subiu até o palco e passou
lentamente a mão sobre o piano.
Ninguém
podia imaginar... Se pelo menos alguém pudesse prever o futuro. Se pelo menos
alguém tivesse avisado que o destino lhes pregariam uma peça, que a amizade
seria testada, talvez tivessem sido mais fortes. Talvez tivessem sobrevivido.
Sentou
perto do piano e deixou seu dedo percorrer lentamente cada tecla. Fazia tanto
tempo que não tocava e sentia tanta saudade.
Lá
estava ela de novo, de frente ao mesmo piano. Mas nada era igual.
Não
tinha mais Gabriel.
E
também não tinha mais Samantha.
Mas
tinha ela, com a dor, com o medo e com a raiva.
Deixou
que seus dedos começassem a tocar uma música. Começou com algo nostálgico,
melancólico e sem vida. Notas arrastadas que saiam do coração dela, notas
acompanhadas pelas lágrimas que molhavam sua face e exprimia tudo que estava
guardado ali há tanto tempo e que nunca fora dito.
Todas
aquelas notas eram para Gabriel. Queria dizer que sentia muito, que estava com
saudades e que o amava ainda. Queria que ele soubesse o quanto estava
arrependida, poder dizer que tinha tomado a decisão errada e que por conta
disso tudo tinha acabado, mas que nunca fora sua intenção.
Quando
por fim a tristeza foi expressa, as lágrimas secaram e então começou a tocar
algo mais forte, seus dedos batiam com força nas teclas do piano. Era a raiva,
raiva de Diego, raiva de toda aquela situação. Raiva por sua vida ser tão
difícil.
Os
seus dedos se moviam com precisão e força, assim como o seu rosto expressava o
mesmo sentimento emitido pelo som. Seu cabelo mexia com os movimentos da sua
cabeça, que acompanhava a música cheia de revolta.
Até
que tudo finalmente acabou, e ela sentiu o seu peito se apertar numa dor ainda
maior, a dor do vazio, de olhar e não ver um futuro, de não ver nada. Os dedos
foram parando lentamente e quando não mais se moveram sua cabeça também caiu
sobre o piano e dos seus olhos lágrimas se negaram a correr.
No
entanto, embora houvesse parado de tocar, o silêncio não havia chegado. Ela
podia ouvir um barulho, aplausos fortes que se aproximavam dela.
Alguém
estava no auditório e a ouvira tocar.
Cansada
e surpresa, Lani levantou a cabeça e então viu, parado na sua frente, ainda
batendo palmas, o professor de música, Henrique.
_Quem
é você? E por que não está nas minhas aulas de música?
Lani
engoliu em seco.
Pegou
sua bolsa que estava no chão e ficou de pé, estava disposta a sair rápido dali.
_Espera!
– Ele pediu segurando o seu braço. – Estou falando sério aqui, mocinha.
_É
Lani. – Ela disse seca. – E não estou nas suas aulas de música porque não toco
mais, nem canto. Não existe mais música na minha vida.
_Então
o que foi isso se não foi música?
_Foi
sentimento, foi raiva, tristeza, dor. – Ela disse lentamente.
Ele
soltou seu braço devagar e disse emocionado:
_Nunca
vi nada mais perfeito em toda minha vida. Não de alunos.
_Tenho
que ir.
_Por
favor, não vá. Você canta também?
_Não
mais, já disse que não existe mais música na minha vida.
Ele
balançou a cabeça incrédulo.
_Não
acredito. Não pode mentir desse jeito para mim, eu vi como você tocou! Garota,
você tem o talento que eu estava procurando. Você tem emoção na sua música, tem
vida! Eu preciso de você nas minhas aulas! Aliás, eu não sei como você pode
estar em outro lugar... O seu lugar é aqui nesse auditório!
_Já
me inscrevi nas aulas de desenho, não posso mudar.
_Isso
não é problema. Eu posso fazer sua transferência num segundo.
_Mas
eu não quero. Será que você não entende?
_O
que? Não, eu não entendo por que uma garota tão talentosa está enterrando seu
talento. Não entendo!
Lani
caminhou devagar até a cadeira do auditório e se sentou. Henrique fez o mesmo.
_Antes
a música era alegria, era amizade, dias de sol... A música era tudo! E... Eu
não podia me imaginar sem ela, era como se faltasse o ar, a vida. Mas agora?
Agora... –Ela respirou fundo os olhos cheios de lágrimas. – Agora... Agora a
música é dor! É nostalgia, melancolia, aperto... Eu não posso mais! Porque não
existe mais alegria, amizade ou dias de sol, não existe mais nada disso.
Ele
tocou com carinho na mão dela:
_Pois
então vou te apresentar um lado da música que talvez ainda não conheça. A
música é refúgio, é terapia, ela alcança os lugares da nossa vida que mais nada alcança. Você só precisa saber colocar todo esse sentimento na música, na
melodia... E então você vai ver como tudo vai ficar mais fácil!
_Não
é tão simples assim, não quando a música te causa dor! É diferente!
_Escuta,
Lani. Você não pode colocar a culpa na música, não foi ela que provocou os
problemas da sua vida. Você não pode impedir que pessoas se emocionem ouvindo
a sua música. Sabe por quê? Porque a música te escolheu. Não é qualquer pessoa
que consegue colocar em simples notas todos os sentimentos que passam no
profundo da alma. Não é qualquer pessoa! E você consegue! Lani, você
consegue emocionar com a sua música, consegue atingir a alma de outra pessoa
apenas tocando num piano!
Lani
respirou fundo tentando digerir tudo o que ouvia.
Não
queria se render, tinha medo. Mas também não podia deixar de se sentir
emocionada diante das palavras do professor.
_Por
mais que no começo doa, depois você vai ver como a música vai tornar as coisas
mais fáceis pra você, ela vai ser a porta.
_E
se eu não conseguir? Eu não sou tão boa assim. Tenho medo de só abrir mais
feridas, mais mágoas.
_Eu
prometo de ajudar. Sim, no que for preciso, Lani. Eu estarei aqui.
Lani
respirou fundo e fechou os olhos por alguns segundos. Sentia-se tentada a
participar das aulas de música, mas tinha tanto medo de fracassar. Tinha medo
da dor, do passado e de todo mal que poderia lhe acontecer.
_Vamos,
Lani. Por favor, aceite.
_Você
só me viu tocar uma vez, nem sabe se sou boa de verdade.
_Te
ouvir tocar uma vez foi suficiente pra mim. Mas já que você prefere, cante uma
música pra mim. Quero ouvir sua voz.
Lani
subiu novamente no palco, pegou um violão guardado na sala de instrumentos e
alguns segundos depois começou a tocar e cantar.
_
“Invernos. Impérios. Mistérios. Lembranças.
Cobranças. Vinganças. Assim como a dor que fere o peito, isso vai passar
também. E todo o medo, o desespero e a alegria, e a tempestade, a falsidade e a
calmaria, e os teus espinhos e o frio que eu sinto, isso vai passar também.” ¹
Henrique
aplaudiu empolgado.
_Perfeito!
Quarta-feira te vejo na minha aula!
¹ Tempo - Sandy