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sábado, 1 de julho de 2017

De Sansão a Avatar


Publicado originalmente no blog Cinema em Juiz de Fora, em 21 de maio de 2010

De Sansão a Avatar

Bons tempos aqueles lá da década de 1960. Ainda pequeno, com menos de dez anos, meu pai me levava de vez em quando ao Cine Vitória ou Cine Brasil em Santos Dumont para assistir a filmes de Hércules e muitas super ou mini produções sobre o Império Romano. Lembro de Sansão e Dalila, com Victor Mature... Mas o cinema, naquela época para mim era mais uma diversão, um brinquedo que se ganhava num domingo, depois de um almoço de frango e refrigerante. Só se bebia refrigerante aos domingos.

Bons tempos aqueles da década de 1970 quando a gente já ensaiava as primeiras paqueras e víamos as meninas mais velhas deixando as salas do Cine Pálace ou do Excelsior (há anos fechado na avenida Rio Branco) com os olhos mareados depois de assistir a um Love Story ou um Dio como Te Amo, ou emocionados após um Irmão, Sol Irmã Lua. Os colegas mais velhos – mas nem tanto – falsificavam carteiras de estudante para ver no Central o Dólar Furado ou algum Ringo ou Django, filmes com censura de 14 anos. Meu pai já não ia mais ao cinema, mas de vez em quando dava uma escapada para assistir no Cine São Luiz, na praça da estação ao 007 contra Dr. No, Goldfinger, Chantagem Atômica e Moscou. Alíás contra Dr. No fui com ele e me espantei, lá com meus 12 anos, com a beleza de Ursula Andrees, saindo do mar, numa das cenas mais marcantes do cinema.

E aqueles anos 70 também trouxeram para as telas grandes tragédias que emocionaram, assustaram e extasiaram platéias. Películas como Aeroporto, Tubarão, Inferno na Torre (Paul Newman, Steve Mac Queen, Fred Asteire...), Terremoto, O Exorcista, o Anticristo... O Último Tango em Paris, com a bela Maria Schnneider, Laranja Mecânica e... Como era Gostosa a Nossa Empregada. As pronochanchadas tinham seu lugar

As salas de cinemas, todas com portas para ruas, eram o grande programa dos sábados e domingos. Aos sábados à noite, o programa era levar a namorada ou a paquera para tirar um sarrinho no escurinho. Muitos desses filmes dali de cima foram vistos aos pedaços porque o beijo, mão no ombro ou mão na mão ou em outro lugar desviava a atenção. Muitas vezes a atenção era chamada por um mala que aparecia com uma lanterna para atrapalhar (saudades dos lanterninhas). Nos domingos à tarde era a vez da bagunça. Era a sessão da turma e à noite das famílias.

Nas portas dos cinemas – todos para a rua – estavam lá os pipoqueiros. Às vezes – e não eram poucas – a pipoca – cheia de queijinho – acabava antes de a gente entrar, porque as filas eram grandes. Lembro-me do filme Terremoto, no cine Excelcior. A fila dobrava a esquia da Floriano Peixoto e chegava lá avenida Getúlio Vargas. Essa era a fila para entrar. A do ingresso virava a esquina da rua Afonso Pinto da Mota.

Bons tempos aqueles da década de 1980, quando Ingmar Bergmann, trazia belos dramas suecos interpretados por Liv Ulmann, exibidos na pequena sala do Cine Festival. Lá cheguei a ver o Ébrio, Eqqus, O Homem Elefante e os berguinianos O Ovo da Serpente e Sonata de Outono. A sala não cabia mais de 110 pessoas, mas sobrava lugar...

FALANDO EM FILMES, agora a gente faz um fusão e entra a legenda “20 anos depois” ou 20 years after . O pipoqueiro não está mais na porta do cinema que agora não é mais para as ruas. A pipoca vendida na loja é cara, não tem queijo e tem um gosto esquisito de microondas. Os filmes perderam muito do romantismo do artesanal: não têm mais linhas cortando a imagem, nem buracos na fita. O som é perfeito – e que perfeição com a distribuição dos sons em toda a sala! As viagens são fantásticas: é como se você estivesse pilotando uma nave ou voando montados em bichos esquisitos como os avatares. É tudo quase tão perfeito que muitas vezes dá a sensação de vazio, porque a perfeição é o a ser atingido. Depois disso é o nada...

Bobagem. Os filmes hoje refletem o público que vai assisti-los, absorvem as demandas psicossociais e mostram aquilo que as pessoas querem ver, assim como eles foram lá naqueles bons tempos. E para ser sincero, sem casmurrice, tem seu charme e até sessões com ingressos a dois reais. Vale a pena.

Ah, o que não vale a pena é a pipoca de cinco reais. Eu pago dois reais para ver um trabalho que custou milhões de dólares e cinco reais por um produto feito no micoondas.

Texto e imagem reproduzidos do blog: cinemaemjuizdefora.blogspot.com.br

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Memória Espaço Físico do Saudoso Cine Palace


O Cine Palace ficava na Rua João Pessoa esquina com a Travessa Benjamin Constant e Praça Fausto Cardoso, no centro da cidade de Aracaju-Sergipe. O ano era 1955, Paulo Dantas constrói o mais moderno e bonito cinema do estado, sendo o único na época a possuir ar condicionado e cortina motorizada. Para a festa de inauguração foi escolhido o filme musical, colorido e em cinemascope, “Sete Noivas Para Sete Irmãos”, uma produção de 1954. Na frente do prédio, que até hoje ainda existe, diversas fileiras de néon azuis cobriam a parte inferior da arrebitada marquise. Logo abaixo da mesma e acima da grande porta de ferro de cor cinza, com algumas aberturas com vidro - onde os cinéfilos ao passar, paravam para dar uma olhadinha e ver os cartazes que ficavam lá dentro – havia um suporte luminoso, onde era colocado em letras de plástico vermelhas e removíveis, o nome do filme em exibição. Em ambos os lados da porta de entrada, embutidos na parede, tinham dois suportes de alumínio com portinhas de vidros e fechaduras, com lâmpadas fosforescentes nas bases, cobertas por um vidro e ao fundo do suporte,  um pano verde aveludado cobria a madeira, onde eram pregadas com percevejos ou grampeador, as fotos dos filmes. Entre as fotos, tinham papeletas coloridas com os dizeres “HOJE” e outra abaixo, com escritos, “Sessões contínuas a partir da 15hs.” Mais ao lado pendurado nos dois lados da porta, existiam dois porta cartazes grandes de madeira, com portas de vidro e fechadura, com uma lâmpada fosforescente em cada, onde eram colocados os grandes pôsteres do filme. Do lado direito e acima de um destes cartazes, havia escrito em neon azul, pregado na parede, os dizeres: “Ambiente Com Ar. Condicionado”. Indo para o lado esquerdo, na esquina e no alto da parede, podia se ver o nome PALACE, que a noite acendia com luzes azuis instaladas atrás das grandes letras. Abaixo desse nome, para facilitar a venda de ingressos, quando de lançamentos de filmes de grande sucesso, foi feita uma abertura na parede com uma portinhola, para que servisse de bilheteria. Ao lado, pela Trav. Benjamin Constant, havia no alto da parede um portal para colocação do nome do filme, que tempos depois foi desativado. Abaixo dele e de uma marquise com curvas, uma porta servia para saída das pessoas que assistiam ao filme no balcão, porta esta ladeada por dois portas cartazes pequenos e mais adiante, mais três portas cartazes, sendo estes grandes, usados para colocação de pôsteres. Seguindo pelo lado, haviam duas portas de saída da sala de exibição, tempos depois foi aberta mais uma, ficando três portas. Mais adiante, mais duas portas, uma dava acesso ao fundo da tela/palco e outra para a central de ar condicionado. Voltando para a porta de entrada, na Rua João Pessoa, do lado direito, havia a bilheteria de madeira que ficava acima do piso, com uns pesinhos em forma de cone, revestida de fórmica verde, que tinha a sua frente um arco de metal inoxidável, que era pregado no piso e servia para direcionar a fila de compra de ingressos e encaminhar o espectador a sala de espera, passando pelo porteiro, que recebia os ingressos, rasgando os mesmos em pedacinhos e depositando os pedaços em uma urna de vidro. Alguns cinéfilos usavam o visor da urna para avaliar a lotação da sala e a aceitação do filme. Do lado esquerdo tinha um painel de madeira grande, com pés, onde eram afixados fotos e cartazes do filme que seria exibido “A seguir” ou “Em breve”. Atrás desse painel estava a bombonière, que em dias de grande movimento servia também de bilheteria auxiliar. Em frente à escada que levava a uma varandinha, com proteção de ferro, continuação do corrimão da escada, na parede um pequeno espaço para colocar fotos de filmes a serem exibidos e logo adiante a porta do escritório da gerência. Voltando a varandinha, mais um lance de escada para se chegar à cabine de projeção, que ficava do lado direito e no mesmo piso, do lado esquerdo um sanitário. Finalmente a porta vai e vem que dava acesso ao balcão, onde havia uma boa quantidade de cadeiras, com um corredor no meio,  com um piso em forma de grandes degraus, prenúncio do piso das  salas stadium, terminando numa balaustrada larga de alvenaria e coberta de madeira. No lugar mais alto desse espaço, existiam somente duas cadeiras, que eram as preferidas dos casais de namorados. Voltando ao térreo, encontramos a sala de espera, rodeada de porta cartazes de filmes que iam ser exibidos brevemente, iluminados ao redor com filetes de luz néon coloridas. Na parede, que era toda revestida de madeira, um relógio sem números, abaixo dois sofás e quatro poltronas. No teto da sala havia um alto-falante, que trazia o som da tela, com músicas orquestradas, que tocavam antes de iniciar-se a sessão. O mesmo era desligado, quando do início do filme, só voltando a funcionar, quando o mesmo já ia terminar, se ouvindo da sala de espera a trilha sonora da apresentação dos créditos finais, fazendo com que o espectador que estava na espera da próxima sessão, ficasse sabendo do término do filme, pois a sala era esvaziada pelas portas laterais. Embaixo da escada ficava o bebedouro, daí vinha próximo alguns lances de escada, para se chegar a uma grande porta verde de napa acolchoada, dividida em duas bandas e separada por quatro canos pretos, ficando uma banda sempre entreaberta para dar acesso aos espectadores. Daí saia um forte vento frio do ar condicionado e um cheirinho característico que alcançava a calçada da Rua João Pessoa. De volta à porta de entrada da sala de exibição, logo se via uma cortina de pano verde sempre esvoaçante, onde ao se entrar, ficava-se com as mãos a procurar a abertura da junção das duas bandas, para poder ter acesso a sala de exibição, o templo dos cinéfilos. Ao entrar, deparava-se com uma balaustre tipo balcão, feita de blocos de vidros, com luzes vermelhas dentro e para-peito acolchoado de napa verde, onde várias pessoas ficavam encostadas em pé e dalí mesmo assistiam ao filme. Do lado direito o sanitário masculino e do lado esquerdo o feminino. À frente centenas de cadeiras de madeiras com acolchoados em napa de cor azul, somente no assento, ladeado por dois corredores encostados nas parede laterais, até chegar ao pequeno palco/tela. Antes, do lado direito, o corredor era afastado da parede por uma fileira de quatro cadeiras, que depois foi desfeita. As parede até certa altura eram forradas de madeiras, encimadas com abatjus em seqüência e mais acima dos dois lados, adornadas com pinturas de galinhas, jarros, burrinhos e carrancas iguais e enfileiradas e em sequencias, ilustrações até hoje preservadas, feitas pelo artista plástico sergipano Jenner Augusto ( 1924 – 2003). No teto ondulações em forma de escadas, com lâmpadas embutidas e nas bordas uma sequência de grades redondas, de onde saia o ar condicionado. Ao pé da parede luzinhas vermelhas que serviam de guias iluminando o piso do corredor. No fim da sala um pequeno palco curvo com iluminação na frente, composta de uma fileira de lâmpadas brancas intercaladas por vermelhas e em  cada lado do palco três fachos de lâmpadas nas cores verde, azul e vermelha, que serviam para acompanhar o gongo, fazendo o jogo de luz, no ritual do início das sessões, acompanhado do prefixo musical “Maré Baixa”. Em cima do pequeno palco a grande tela cinemascope, que ia de um lado a outro da parede, coberta pela cortina motorizada de cor alaranjada e estampada. Logo atrás os grandes alto falantes e o motor da cortina e separado por uma parede, em outro compartimento, toda a aparelhagem do ar condicionado, que por jogar água na casa que ficava vizinha, aos fundos, teve que ser providenciado uma proteção de madeira, que foi colocada no telhado do prédio. Esta é a memória do espaço físico do CINEMA PALACE, onde na década de 60, os jovens não tinham dúvidas do que iam fazer aos domingos à tarde, pois a primeira sessão do Cine Palace era coisa ‘sagrada’. 

Armando Maynard

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Os Painéis de Jenner Augusto no Cine Palace

Foi com grande emoção, que hoje pela manhã, depois de passados mais de doze anos, pude voltar ao prédio do antigo CINE PALACE. Acompanhado gentilmente pelo seu novo proprietário, que me levou ao mezanino da futura instalação de sua nova loja - cuja inauguração está prevista para o próximo mês - para que eu pudesse rever no mesmo espaço onde funcionava a sala de exibição do extinto cinema, as pinturas que adornam suas duas paredes laterais, que agora poderão ser vistas bem de perto, pois as pinturas ficaram na altura do andar, separada por um vão aberto e protegidas por um corrimão. São pinturas do artista plástico sergipano Jenner Augusto (1924 - 2003), até hoje preservadas. Obra considerada patrimônio de todos os sergipanos.
Armando Maynard

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Cine Rex de Aracaju-Se. na Década de 50

O Cine Rex ficava no centro da cidade de Aracaju-SE., na Rua Itabaianinha, onde hoje funciona uma agência do Banco do Nordeste. O prédio do Rex tinha umas partes de alvenaria e outras de madeira, como as paredes dos lados da sala de exibição. Era um cinema muito quente, pois ficava do lado do sol. Suas matinês eram um forno. Lembro que ainda criança, levado por meu pai, fui assistir a um filme de faroeste no Rex. O cinema logo ficou lotado. Começado o filme, o calor era insuportável, a maioria das crianças já sem camisas, muitas tiradas pelos próprios pais - o meu, quis tirar a minha eu não deixei - gritavam, batiam palmas, os pés, torciam enlouquecidas pelo mocinho, era como se chamavam os artistas dos filmes de ação e aventuras naquela época. Eu ali, bem comportado, suor escorrendo pelo rosto e as costas, junto com a camisa, já ensopadas de suor, comecei a me sentir mal e, relutando, sem querer dizer ao meu pai, pois perder o filme nem pensar. Foi quando meu pai pressentiu que alguma coisa estava errada, pois eu não indagava nada do filme, perguntou se eu estava sentindo alguma coisa, e eu disse que estava sufocado com o calor. Acho que essa foi à única vez que saí de um cinema sem que o filme tivesse acabado. O Rex passava muitos filmes de faroeste e seriados, quase todos em preto e branco. Havia também sessões duplas, quando eram exibidos dois filmes de aventuras. Dos cinemas do centro que eu freqüentei, o Rex foi o primeiro a ser fechado. Passado muitos anos, fecharam-se os Cinemas Vitória, Aracaju, Palace e por último o Cine Rio Branco.  No final da década de 90 o estado constrói a Rua 24 Horas e lá instala junto com um empresário do ramo, o Cinema Vitória. Era um cinema pequenininho, que não durou muito tempo. No momento não temos mais nenhum cinema de rua muito menos nos calçadões do centro. Mas existe uma promessa de reativar o cinema da Rua 24 Horas, hoje chamada de Rua do Turista. Os cinéfilos aguardam.

Armando Maynard

domingo, 27 de dezembro de 2009

Paixão Pelo Cinema





O cinema  começou a perder sua magia com a chegada da televisão. Depois veio o vídeo K-7 a tevê de assinatura, internet e o celular, desmistificando de vez e acabando com todo aquele ritual e expectativa que se constituía em se ir a um cinema. Era algo especial e místico, que se revertia em grande prazer para todo jovem da década de 50/60. Tanto que nessa época - ainda sem tevê - o sonho de consumo de toda garotada, era possuir um projetor. Com o fechamento dos cinemas de rua, houve mais uma perda. Os antigos cinemas eram prédios portentosos, verdadeiros palácios. Lembro quando levado por meu saudoso pai, entrei pela primeira vez em um cinema. Queria saber como tudo aquilo funcionava. A sala estava ainda vazia. Como demorou a começar o filme naquele dia. Acho que tínhamos chegado cedo demais. Ficava eu a olhar para os desenhos nas paredes e insistentemente para trás, pois meu pai tinha me dito que era pelos buraquinhos da parede lá do fundo, que saia uma forte luz e esta trazia as imagens até a grande tela branca, com fotografias em movimento. Era grande a expectativa e ansiedade da espera. Ao iniciar a projeção, eu ali de olhos bem abertos e coração batendo forte, tudo ia se confirmando. Na minha frente, a grande imagem era acompanhada de uma música marcante que indicava perigo. O som de cavalos em disparada invadia toda a sala, podia ver na tela um cavaleiro em desembalada carreira, que fugia de um bando de índios apaches. Era o meu primeiro faroeste. Começava assim a minha paixão pelo cinema, esta arte que reúnem todas as outras e nos faz embarcar em uma grande viagem. O cinema diverte, emociona, informa e nos trás conhecimentos. Alguns dias depois, meu pai precisou ir ao centro pela tarde, para fazer um pagamento no banco e me chamou para ir com ele, pois depois iríamos mais uma vez ao cinema. O filme e o cinema já estavam escolhidos, pois nessa época, além do “carro de propaganda” que saia anunciando o filme pelas ruas da cidade, também era comum as emissoras de rádio divulgar os filmes em exibição dos cinemas do centro. O filme era “O Homem Que Sabia Demais”. Ao passar pela porta do cinema, lembro de meu pai a me puxar pelo braço, pois já estava atrasado. E eu ali parado, hipnotizado com os cartazes. Pronto, ao sairmos do banco, era hora de nos dirigirmos ao cinema. Ao chegar ao mesmo, dois problemas. Além da sessão já ter começado, o filme era impróprio para menores. Meu pai conhecia o porteiro e o mesmo me deixou entrar, pois eu estava acompanhado. Pronto, agora era escolher: ou entrar com a sessão já começada e ficar para a segunda sessão a fim de completar o filme, ou aguardar na sala de espera até terminar a primeira sessão. Optamos por esperar na sala, pois meu pai não gostava de entrar com filme começado. Ao vermos as primeiras pessoas saindo da sala de projeção, era sinal que a sessão estava terminando. Fomos logo entrando para pegar um bom lugar e tendo oportunidade de assistirmos aos créditos finais da sessão anterior. Às vezes havia um pequeno intervalo de uma sessão para outra, dependendo da duração do filme, quando esse era longo, não tinha intervalo de uma sessão para a outra, e sim começava emendando os finais dos créditos, com o cine jornal da sessão seguinte. Nesse caso, o operador deixava as luzes mais fracas acesas, para que os espectadores que ainda estavam entrando, se acomodassem em seus lugares. Mais uma tarde de felicidade e emoção. Hoje fica difícil até você se concentrar no filme, tamanho a balbúrdia em que viraram as salas de cinemas nos Shoppings. O cheiro forte da pipoca, os pés do espectador de trás batendo em sua poltrona, os celulares a tocarem, conversas e piadinhas a toda hora. É uma anarquia generalizada, fruto da falta de educação e de limites. Muitos pensam que estão em suas casas, na sala vendo tevê. Como dizia minha saudosa mãe: “costume de casa vai à praça”. É o que está acontecendo com esses jovens. Infelizmente faltam bons exemplos, educação, respeito e amor ao cinema, que hoje é mais uma diversão dentre tantas outras.

Armando Maynard

domingo, 13 de dezembro de 2009

Mudou o Cinema ou mudei eu?




Setaro, primeiramente obrigado pelo comentário/depoimento, na postagem: “Fetiche (4) Sala de Projeção”. Meu caro, mudaram os dois, o cinema e você. No seu caso mudou sua sensibilidade que fica cada dia mais apurada e exigente, juntamente com sua cultura cinematográfica que, com o passar do tempo, só tende a aumentar. Quanto ao modo de ver o cinema como a sétima arte, ah, isso aí não mudou nem mudará. Setaro, como você bem diz, somos de uma época em que ir ao cinema era um evento importante em nossas vidas. Os preparativos eram um verdadeiro ritual. Já começávamos a sentir prazer só no trocar de roupa. E ao sairmos de casa para ir ao cinema, já sabíamos qual o cinema e o filme que iríamos assistir, pois tínhamos nos informado antes pelas críticas e reportagens dos jornais. Lembro que ao chegar ao cinema, verdadeiros templos, com bela decoração e iluminação, tinha todo um caminho a seguir. Primeiramente, olhar todos os cartazes que ficavam na porta do prédio, pois quando acabasse a projeção do filme, na saída do cinema, voltaria a olhá-los, para confirmar se tinha faltado na exibição alguma cena das fotos. Nessa época existiam fotos coloridas e em preto e branco, que enchiam os suportes para cartazes, sem falar dos grandes pôsteres, que eram o desejo de consumo dos cinéfilos da época. Alguns funcionários chegavam a vendê-los. Voltando à entrada do cinema, ao passar pela bilheteria, me dirigia à sala de espera para olhar os cartazes dos filmes que ainda seriam exibidos. Depois de uma passagem pela bombonière, aí sim entrava na sala de projeção, isso quando não conhecia o operador (projecionista) do cinema, pois nesse caso, com certeza daria uma passadinha pela cabine de projeção, para bater aquele papo rápido. Descia então para a sala de projeção, onde a grande tela cinemascope estaria coberta com uma cortina que em alguns cinemas era vermelha. Sentava sempre no mesmo lugar, e ficava aguardando o início da projeção, ouvindo a música ambiente, onde desfilavam os LPs das melhores orquestras da época. Pronto a sessão ia começar, a ansiedade e a emoção disparavam. Algumas luzes começavam a se apagar ao som da música característica, que todo cinema tinha. Era o seu prefixo, acompanhado das três badalas do gongo, para aos poucos abrirem-se as cortinas... Hoje meu caro Setaro, frio e sem emoção, tudo é tão automático. Como você costuma dizer, não se vai mais ao Cinema e sim ao Shopping. O filme é escolhido na hora, sem saber direito o que se vai assistir, para depois ser logo esquecido. Mudou sim, Setaro, o comportamento das pessoas, por lhes faltarem uma cultura cinematográfica, e por verem no cinema mais um passa tempo e diversão, dentre tantas outras oferecidas pela tecnologia. Hoje, assiste-se ao filme pelo celular, na palma da mão. É, meu amigo, mais importante que o filme é a pipoca e a curtição da turma.

Armando Maynard

sábado, 22 de novembro de 2008

Matinée dos Anos 60



Na década de 60, uma apresentação da logomarca de uma distribuidora de filmes, fazia grande sucesso junto a gurizada e a alguns marmanjos, quando da exibição nos cinemas da época. Era a vinheta da CONDOR FILMES, que aparecia antes de qualquer película distribuída pela mesma. Quando isso acontecia, grande parte da platéia entoava em coro xô, xô, xô, xô, como se estivessem a espantar o pássaro (que obviamente era um condor), cuja imagem projetada na tela aparecia pousado em uma rocha e logo alçando vôo, fazendo uma curva no ar e desmanchando-se, graficamente, no céu, acabando por se transformar automaticamente na palavra “apresenta”, e finalmente, formando na tela um fotograma com a frase CONDOR FILMES apresenta. Vivíamos o período da ditadura com grandes restrições à liberdade de expressão, fazendo com que alguns intelectuais da época dissessem que a única manifestação livre de contestação do povo brasileiro era dentro do cinema, na hora da vinheta da Condor. Hoje esta vinheta desperta saudades e muitas lembranças como: a do primeiro flerte com o olhar rápido e tímido para a bela moreninha sentada logo ali na fila de trás; o cheiro de perfume Lancaster; a primeira vez que ao entrar na sala de exibição encontrou um lugar reservado ao lado da garota paquerada que fazia disparar o coração (a senha em resposta ao diálogo mantido pela manhã via telefone); a primeira vez que pegou na mão da amada e o primeiro beijo roubado no escurinho do cinema; os primeiros cigarros Continental, Hollywood ou Minister, fumados escondido dos pais; a época em que a criançada trazia para o cinema um monte de revistas nos braços, todas já lidas para trocar por outras (lembro de uma que trazia as fotos em seqüência de filmes de faroestes, dos gibis de aventura, que começavam a ser negociados desde a porta do cinema continuando lá dentro até a hora do início da sessão); a mudança de lugar por motivo de um adulto ter sentado à frente ou um casal de namorados que não estava nem um pouco interessado no filme, empatando quem estava atrás de ver a tela, o que piorava ainda mais a situação quando se tratava de filme em cinemascope; do baleiro - para cima e para baixo - com sua cestinha de palha com chocolates Sonhos de Valsa e Diamante Negro, balas de hortelã , Drops Dulcora e Chicletes Adams, que depois de mascados eram colados de baixo dos braços ou assentos das cadeiras (na sua maioria de madeiras, tanto no encosto quanto no assento, eram arriadas com força pelos anarquistas para provocar o bate/volta fazendo grande barulho principalmente quando o filme já estava sendo exibido); a Carteira de Estudante com idade aumentada para poder ver filmes impróprios, o que causava grande emoção, principalmente quando, no início do filme, aparecia o Certificado de Censura que era obrigatório na época e lá o carimbo estampado com os dizeres: “impróprio para menores de 18 anos”. Começava o fechamento das dezenas de portas, acendiam-se as luzes da sala. Eram os últimos preparativos para o início da sessão da tarde - a matinée – uma correria para sentar-se e, por fim, o silêncio. O calor era insuportável, alguns garotos mais desinibidos tiravam as camisas e gritavam, assobiavam batendo palmas e pés, torcendo pelo mocinho, que em disparada, corria com seu belo cavalo levantando poeira, para, entre tiros, muitos tiros, sopapos chutes e safanões, salvar a mocinha que se encontrava em apuros nas mãos dos malvados, sujos, feios, barbudos e mal encarados, bandidos ou ferozes e selvagens índios apaches com seus cavalos brancos com grandes manchas pretas e seus arcos e flechas que o vento providencial do diretor desviava do mocinho e da mocinha. Hoje tudo mudou no cinema. Não se namora mais na matinée e sim em motel; não se troca mais revista e sim números de celular, e-mails; bala, só se for perdida; hoje lá se vai para comer pipoca; não se torce mais pelo mocinho, e sim pelo bandido, pois este é mais esperto e sabe ganhar mais dinheiro; o barulho no cinema não mais é provocado pelos ventiladores e pelos grilos e sim do mastigar e mexer no saco da pipoca, além dos toques dos celulares que tem para todo gosto (gritinhos, miados e por aí vai), juntamente com muitas conversas fiadas numa falta de educação e respeito; muitos pensam que estão na sala de sua casa e colocam os pés na poltrona da frente. Os bons tempos não voltam mais, quando o silêncio imperava nas salas de exibição, junto com aquele ar de glamour dos cinemas de rua que aos poucos foram se transformando em Igrejas Evangélicas, estacionamentos, quando não implodidos, fazendo com que restasse somente a poeira e em alguns casos a fotografia, em outros nem isso. A modernidade e o progresso têm dessas coisas e ainda nos deixa o esteriótipo de saudosistas, mas, o que somos mesmo é incorrigíveis românticos.

Armando Maynard