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terça-feira, 7 de agosto de 2018

O glamour do cinema de rua...

Almiro Pereira, conhecido como Bilo, foi projetista do Auto Cine
Foto: Rafaela Martins / Agencia RBS

Cinerama resgata o charme dos cinemas de rua em Balneário Camboriú

Festival que reúne filme de diversos países...

Por Dagmara Spautz

O burburinho dos cinéfilos em frente ao Cine Itália resgatou, nos últimos dias, a aura dos antigos cinemas de rua em Balneário Camboriú. Durante o festival Cinerama.BC, que termina neste domingo, o espaço de 700 lugares - remanescente da sétima arte na Avenida Central, uma das principais vias de Balneário Camboriú - voltou a receber o público e a se encher com o barulho dos projetores. Uma saudosa lembrança para quem viveu os tempos áureos do cinema, quando as sessões eram mais do que diversão.

- O cinema de rua tinha glamour. Todo mundo colocava a melhor roupa, era um acontecimento social - diz Fernando Delatorre, administrador do Cine Itália e filho de Eduardo Delatorre, pioneiro das salas de cinema na cidade.

Contador por formação, Eduardo encontrou na sétima arte sua maior paixão. Tanto que fez apenas duas grandes viagens na vida: uma para conhecer os estúdios de Hollywood, nos Estados Unidos, e outra para a Europa, para passear pelos locais onde foram filmados os grandes clássicos do faroeste.

Em 1967, três anos após a emancipação de Balneário, Eduardo inaugurou o primeiro cinema do município - o Cinerama, em plena Avenida Brasil. Dotada de alta tecnologia para a época, com capacidade para transmitir películas em 70 milímetros, a sala era ponto de encontro para políticos de todo o Estado e também para beldades como Vera Fischer, que frequentava o Cinerama aos fins de semana. Foi ali, também, que Balneário recebeu a primeira visita oficial de um presidente, João Batista Figueiredo.

Empolgado com o sucesso, Eduardo construiria ainda dois outros cinemas em Balneário, o Cine Itália, aberto em 1984, e o Auto Cine, de 1973 -  um dos únicos cinemas drive-in do país, na Avenida do Estado.

Decadência

Os negócios foram bem até que a popularização das TVs e dos aparelhos de videocassete, além da chegada das primeiras salas de cinema aos shoppings, passaram a inviabilizar os cinemas de rua. Em Balneário, o primeiro a fechar foi o Cinerama, por falta de público. O prédio deu lugar a um centro de compras, que mantém o nome do antigo cinema.

Três anos depois, o Auto Cine transmitiu sua última sessão. Sobrou apenas a gigantesca tela, que tinha a altura de um prédio de seis andares e acabou demolida no ano passado.

O Cine Itália permaneceu aberto em homenagem a Eduardo Delatorre, que morreu em 2003. Hoje, funciona a maior parte do tempo como centro de eventos. Mesmo sem esperanças de ver o cinema de rua funcionando outra vez, devido à chegada de novas mídias para transmissão da sétima arte, vez ou outra Fernando faz uma sessão exclusiva, para matar a saudade.

- Como os equipamentos não podem ficar parados, reunimos de vez em quando alguns amigos e exibimos filmes, como Cinema Paradiso. Acho que a ideia de trazer o Cinerama.BC para o Cine Itália foi uma iniciativa feliz porque é uma forma de resgate disso tudo. Quando se assiste a um filme no cinema, a emoção é outra.

Museu

Para eternizar as memórias do cinema em Balneário, Fernando Delatorre pretende inaugurar, em 2014, um Museu da Imagem e do Som. O prédio, na Rua 700, está sendo construído com recursos do empresário, e vai abrigar as cerca de 400 peças que ele mantém - entre projetores de cinema, câmeras fotográficas e equipamentos de som.

Delatorre revela pelo menos uma das surpresas que o museu trará ao público: uma réplica do carro protagonista de Se Meu Fusca Falasse, de 1968. O carro está pronto, aguardando a abertura do museu.

"Tinha esperança de que ia voltar"

Aos 70 anos, Almiro Pereira, o Bilo, lembra como se fosse hoje a última sessão do Auto Cine, em Balneário Camboriú. Era ela quem cuidava das máquinas e projetava na tela os filmes, que embalaram moradores e turistas por mais de 20 anos. Naquele sábado à noite, em 1998, Bilo foi tomado pela tristeza. Durante meses, continuou voltando para trocar o óleo das máquinas de projeção - até que se convenceu de que era o fim.

- Minha esperança era que voltasse a funcionar - diz.

A história dele com o cinema começou na adolescência, quando trabalhou na distribuição de cartazes do Cine Rio Sul, em Rio do Sul. Um dia, pediu para ver de onde saíam as imagens que apareciam na tela e começou a aprender a projeção.

Bilo chegou a Balneário em 1978, quando começou a trabalhar no Auto Cine. Após o fechamento, ajudou nas projeções do Cine Itália, temporariamente, e trabalhou como motorista para Eduardo Delatorre, pioneiro das salas de cinema em Balneário, por mais 10 anos.

- Ainda vou no cinema às vezes, mas não é mais a mesma coisa.

Texto e imagem reproduzidos do site: osoldiario.clicrbs.com.br

Balneário Camboriú ganha Museu da Imagem e do Som







Publicado originalmente no site Lithoral News, em 13/07/2018

Balneário Camboriú ganha Museu da Imagem e do Som 

Com um acervo de aproximadamente 2.800 peças, museu começou a ser idealizado há quase 40 anos pelo empresário Fernando Delatorre

Projetores, lanternas mágicas, máquinas fotográficas, filmadoras, rádios, gramofones, vitrolas, televisores e muito mais. Uma novidade muito especial vai surpreender quem é apaixonado pela história do cinema, da fotografia e da música em Santa Catarina. Balneário Camboriú abre em 20 de julho, dia do aniversário de 54 anos da cidade, o Museu da Imagem e do Som (MIS-BC).

Instalado em uma área 1.364 metros quadrados, dividida em um prédio de seis andares especialmente construído para abrigá-lo bem no centro da cidade, o MIS-BC oportuniza um contato direto com as artes. O novo museu irá contar para moradores, turistas e estudantes o desenvolvimento da história da imagem e do som desde o século 19 ao redor do mundo.

O equipamento cultural mostra ainda aspectos curiosos do desenvolvimento da indústria do segmento. Entre as peças que fazem parte do acervo estão, por exemplo, os projetores que fizeram parte dos Cinerama, Autocine e Cine Itália – primeiros cinemas de Balneário Camboriú no século 20 –, um gramofone fabricado em 1890 em Londres (Inglaterra) e ainda um filme original de 9,5 milímetros de Charles Chaplin datado de 1917. No último andar do MIS, uma seção especial dedica-se a contar parte da história do mercado financeiro brasileiro e internacional através de cédulas e moedas de diferentes países.

Administrado pelo Instituto Delatorre, sob o comando do empresário Fernando Delatorre, o MIS-BC resgata a história da imagem e do som em seus mais variados aspectos. “Buscamos implantar uma proposta museográfica moderna, segmentada em áreas temáticas, que inclui também a filatelia e numismática, permitindo realizar uma viagem no tempo”, destaca Delatorre.

Instituto Delatorre

Criado em 12 de dezembro de 2012, o Instituto Delatorre tem o objetivo de oferecer espaços com a proposta de promover a educação através da cultura, preservando equipamentos da imagem e do som e garantindo benefícios para as futuras gerações. Com um acervo de aproximadamente 2.800 peças, o Museu da Imagem e do Som começou a ser idealizado nos anos 80 do século passado durante uma viagem de Delatorre à Europa, época em que o empresário visitou museus da França, Itália, Espanha, Portugal e Holanda. Até a concretização do MIS-BC, foram quase 40 anos coletando peças para o acervo e aprimorando conhecimentos sobre museologia em países como Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Estados Unidos e também na Europa.

Além da área de exposição permanente, a estrutura do museu conta com um auditório com capacidade para 50 pessoas, espaço para exposições itinerantes e apresentação de filmes através de projetores antigos de 8 milímetros, super 8, 16 e 35 milímetros. O museu tem ainda estacionamento privativo coberto, cafeteria aberta ao público, biblioteca, espaço para cursos e oficinas e loja de souvenirs.

O Museu da Imagem e do Som de Balneário Camboriú (MIS-BC) será aberto ao público de terça-feira a domingo, das 13h às 18h. O espaço também será aberto a visitas escolares e de grupos, que devem ser agendadas através do telefone (47) 3363-5786.

A cidade do cinema

A trajetória da história do cinema em Balneário Camboriú está diretamente ligada à família Delatorre. Primeiro grande empreendedor de entretenimento do município, Eduardo Delatorre, pai de Fernando e patriarca da família, inaugurou três cinemas na cidade entre 1965 e 1984, sendo os maiores de Santa Catarina. Foi neste ambiente mágico do cinema que Fernando Dellatorre foi criado e onde exerceu diferentes funções dentro do cinema.

Quando inaugurado, o Cinerama de Balneário Camboriú possuía capacidade para 1,2 mil pessoas em uma cidade que, na época, tinha 10 mil habitantes. Ou seja, o cinema tinha capacidade de acomodar pouco mais de 10% da população local de uma só vez.

Situado ao lado do MIS-BC, o Cine Itália é um dos únicos cinemas de Santa Catarina que ainda projeta filmes em 35 mm em tela gigante, com poltronas e todas as características originais de quando foi inaugurado, em 1984. Fernando Delatorre pretende voltar a fazer exibições de filmes clássicos na sala de cinema, como parte integrante da experiência de contar a história da sétima arte.

Museu da Imagem e do Som de Balneário Camboriú (MIS-SC)
Endereço: Rua 700, 44, Centro, Balneário Camboriú
Horário de visitação: terça a domingo, das 13h às 18h
Valor: R$ 20 e R$ 10 (meia)
Agendamentos para grupos: (47) 3363-5786
Divulgação: Luciana Zonta

Texto e imagens reproduzidos do site: lithoralnews.com.br

Fernando Delatorre fundador do Museu da Imagem e do som...

Fernando Delatorre Fundador do Museu da Imagem e do som de Balneário Camboriú

 Publicado originalmente no site Diarinho, em 14/07/2018 
  
 “Numa época em que Balneário de Camboriú não tinha sinal de TV, a diversão de final de semana era ir ao Cinerama assistir um filme”

‘Essa ideia de construir o museu tem 30 anos. Agora, as peças, o acervo, eu estou guardando há mais de 40 anos

O advogado e empresário Fernando Delatorre praticamente viveu dentro de uma sala de cinema. Seu pai, Eduardo Delatorre, inaugurou em Balneário Camboriú três dos maiores cinemas do país: o Cinerama, o Autocine e o Cine Itália. E com equipamentos que, na época, eram considerados de ponta quando o assunto é tecnologia em exibição de filmes. Apaixonado pela sétima arte assim como o pai, Fernando foi além: durante 40 anos garimpou pelo mundo 2,8 mil peças que fazem parte do futuro Museu da Imagem e do Som de Balneário Camboriú, que será inaugurado na sexta-feira que vem ocupando totalmente um prédio de sete andares. Nesta conversa com o jornalista Sandro Silva, Fernando conta como surgiu a ideia de fazer um museu dessa magnitude e relembra a importância dos três cinemas da família. Os cliques são da jornalista Franciele Marcon

DIARINHO – A história da família Delatorre se confunde com a história da cultura de Balneário Camboriú, em especial a sétima arte. Conte um pouco essa história pra gente?
Fernando Delatorre – A história do cinema se confunde com a história da minha família porque o meu pai foi um apaixonado pela sétima arte, construiu os três maiores cinemas do estado. O Cinerama, que foi inaugurado em 1967 e tinha capacidade para 1200 pessoas, quando a população de Balneário Camboriú não chegava a 10 mil habitantes. Veja só, praticamente 12% da população dava pra ser acomodada nas dependências do Cinerama. Foi um empreendimento que teve, assim, um sucesso muito grande, uma frequência muito grande e numa época em que Balneário de Camboriú não tinha sinal de TV, a diversão de final de semana era ir ao Cinerama assistir um filme. Posteriormente, ele construiu o Autocine, em 1973. O Autocine tinha capacidade para abrigar 350 automóveis. A pessoa assistia o filme, comodamente, dentro do seu próprio automóvel e sintonizava o som do filme através do rádio do carro, porque ele montou uma miniestação de transmissão dentro do Autocine. Então também foi uma inovação na época. E outra coisa, na época só existia um outro autocine em Brasília e outro em Porto Alegre. Quer dizer, Balneário Camboriú foi o terceiro a ter um autocine. E finalmente, em 1984, ele construiu o Cine Itália na avenida Central esquina com a rua 700, onde hoje foi construído e futuramente vai ser aberto ao público o Museu da Imagem e do Som. O Cine Itália tem capacidade para 700 pessoas. Os projetores foram importados da Polônia e como houve uma diminuição na frequência de pessoas aos cinemas de rua, porque hoje o que está mais em voga são os cinemas de shopping e os cinemas menores, então o cinema continua aberto ainda, mas só para eventos, apresentação de shows, com cantores, com peças teatrais. Mas as instalações, desde 1984, elas continuam em perfeitas condições como na data da sua inauguração. [Se a gente fosse rodar um filme hoje seria possível?] Nós temos condições de rodar um filme hoje. E já vou te adiantar, até um dos filmes que nós temos lá e estamos preparando para futuramente fazer parte do projeto do Museu da Imagem e do Som, é o filme original, em 35 milímetros, é o ‘Cinema Paradiso’ [Filme italiano de 1988, que se tornou um dos clássicos do cinema mundial].

DIARINHO – Você lembra do primeiro filme exibido por seu pai, lá no Cinerama? Você estava no dia da inauguração do Cinerama Delatorre?
Fernando Delatorre – Eu tive o prazer de estar lá na inauguração. O primeiro filme exibido foi um filme de 70 milímetros e naquela época, nos anos 60, havia muita dificuldade de se conseguir os filmes de 70 milímetros, que era o tamanho do filme do cinerama [método que usa projetores simultâneos e telas gigantes e curvas]. Então ele conseguiu um filme russo, de guerra, que era a ‘Epopeia dos anos de fogo’. Então eu lembro bem da inauguração. Foi com esse filme, em 70 milímetros, cinerama, e tavam presentes na solenidade de inauguração o ex-prefeito Higino João Pio [Que morreu, assassinado, depois, pela ditadura…] É, pela ditadura, teve aquele final triste, né? E, além dele, quem fez o discurso de inauguração, foi um advogado de renome em Itajaí, o doutor Vilfredo Eugênio Curlin. O cronista social que fez toda a cerimônia de inauguração foi o Sebastião Reis. Então essa é, em rápidas palavras, a história da inauguração do Cinerama, que nos fins de semana sempre lotava as suas dependências. A população de Balneário era pequena, mas todos os veranistas de Blumenau, de Itajaí, de toda a região do Vale do Itajaí, de Camboriú, Itapema, Tijucas, todos eles, nos finais de semana vinham assistir aos filmes no Cinerama, né?

DIARINHO – O equipamento para rodar filmes 70 milímetros eram equipamentos diferenciados. Onde seu pai os conseguiu?
Fernando Delatorre – Era bem diferenciado o equipamento. Outra coisa, esse equipamento foi fabricado em Milão, na Itália. E ele fez a importação direto de Milão, numa época que era difícil fazer uma importação. Não tínhamos aqui o porto de Itajaí para importar aquele tipo de equipamento. Essa importação foi feita através do porto de Santos. E era um equipamento 70 milímetros, cinerama, fabricado na Itália, em Milão. [Havia outros iguais no Brasil?] Tinha só um igual a esse, que era o Cine Comodoro, em São Paulo. E depois o Cine Comodoro fechou e foi invadido por moradores de rua e foi incendiado. E os equipamentos foram consumidos pelo fogo. Então, hoje, no Brasil, nós só temos esse equipamento de 70 milímetros, que faz parte do futuro Museu da Imagem e do Som.

DIARINHO – Seu pai foi um empreendedor de Balneário Camboriú. Um dos primeiros a acreditar na cidade como potencial turístico e chegou a ter prédios. No entanto, por três oportunidades optou por montar cinemas na cidade. Foi possível, para sua família, ganhar dinheiro com a sétima arte ou era uma paixão que só dava prejuízo?
Fernando Delatorre – Na verdade, ele uniu as duas coisas: a grande paixão que ele tinha pela sétima arte e financeiramente era viável. Todos os três cinemas foram viáveis nas suas épocas. O cinema, 35 milímetros, o auge dele foi exatamente nas épocas em que ele construiu os cinemas. Foi nas décadas de 60, 70 e 80. Então ele ganhou dinheiro também com o negócio dos cinemas. E esse dinheiro, também, é um fato importante, ele não investiu nenhum centavo fora. Todo o investimento que ele fez foi em Balneário Camboriú. Porque ele acreditava demais na cidade.

DIARINHO – O seu pai teve alguma relação com o fato de Balneário Camboriú se emancipar?
Fernando Delatorre – O meu pai teve participação muito ativa na emancipação do município de Balneário Camboriú. Antes da emancipação, no ano de 1963, eram feitas reuniões seguidas entre os políticos e as pessoas envolvidas na emancipação e o meu pai foi um deles. E, nessas reuniões, participavam ele, o primeiro presidente municipal da câmara de Vereadores de Balneário, o senhor Álvaro Silva, o Domingos Fonseca e o ex-prefeito Higino João Pio. E todos esses aí coordenados pelo chefe político deles, que era o deputado na época, Nilton Kucker, itajaiense.

DIARINHO – Dos três cinemas da sua família, o Cinerama Delatorre, o Autocine e o Cine Itália, qual realmente marcou a cidade e foi um diferencial não só em Balneário Camboriú, mas para o sul do país?
Fernando Delatorre – Olha, o cinema que foi o grande diferencial no sul do país e que me marcou muito e que marcou a cidade também foi o Cinerama. Porque o Cinerama, nos fins de semana, era o ponto de encontro das personalidades de toda a região, dos prefeitos da região. Foi muito frequentado por ex-governadores, dois deles, o Ivo Silveira e o Antônio Carlos Konder Reis frequentemente estavam lá no Cinerama. A ex-miss Brasil, a Vera Fischer, também era uma frequentadora assídua do Cinerama. E outro fato muito importante é que o único presidente que até hoje fez uma visita oficial a Balneário Camboriú, foi recepcionado lá no Cinerama, que foi o João Figueiredo. Isso foi nos anos 80, mais ou menos nessa época. E os grandes congressos de Lions, de Rotary, na época, eram realizados todos nas dependências do Cinerama. As transmissões de cargos públicos, de prefeitos, de vereadores, já que na época as dependências da câmara de Vereadores e da prefeitura eram muito pequenas, eram realizadas também nas dependências do Cinerama.

DIARINHO – Você chegou a ser vereador quando Balneário Camboriú ainda era uma criança. Como é que foi essa experiência de ser uma parlamentar de uma cidade que acabara de nascer?
Fernando Delatorre – Eu recém tinha me formado em direito. Então, pra mim, foi uma experiência muita válida. Fui por três anos vereador. Naquela época, a gestão era por três anos e foi durante a segunda legislatura. Então eu fui eleito em 1969. Só pra você ter ideia do número de eleitores, fui na época o vereador mais votado do município, com 204 votos. O município tinha na época quantos habitantes? Devia ter aproximadamente uns seis mil habitantes e tinha 1,7 mil, 1,8 mil eleitores. Foi mais de 10% dos eleitores. [O que fez você ser aquele fenômeno de voto?] Porque eu estava recém-formado e tinha o único escritório de advocacia fixo na cidade, né? Acho que isso pesou muito na minha eleição. [O sobrenome Delatorre ajudou?] Ajudou bastante o sobrenome Delatorre e o próprio Cinerama, né? O candidato Fernando do Cinerama. Isso ajudou muito.

DIARINHO – E por que você não continuou na política?
Fernando Delatorre – Olha, eu não tomei muito gosto pela política. Não. Pela política, não. Só que posteriormente eu exerci o cargo de assessor jurídico na administração do senhor Armando César Ghislandi. Mas aí na política eu meio que perdi o gosto por ela. [O que é que não lhe agradou?] É porque eu tinha, assim, mais um pensamento empresarial. E eu queria ver as coisas acontecerem rapidamente. E, na política, não é assim não. Então eu preferi partir para essa área do empresariado, onde você projeta uma coisa e executa, faz e ela acontece.

DIARINHO – Você é advogado, tem seus próprios negócios, mas montou o instituto Cultural Delatorre. No próximo dia 20, abre as portas do Museu da Imagem e do Som de Balneário Camboriú. Como é que nasceu essa ideia?
Fernando Delatorre – Essa ideia nasceu há mais ou menos uns 30 anos, quando eu fui fazer uma viagem para o exterior. Eu estava na companhia da esposa e da minha mãe. E fazendo essa viagem para o exterior eu comecei a visitar alguns museus. E aí me despertou o interesse. Aí na viagem de volta, naquela viagem monótona do avião, eu peguei um caderno e comecei a rascunhar todos os projetos do museu, o que é que eu podia fazer, o que eu não podia. E como o meu pai já tinha uma quantidade de equipamentos de cinema antigos, eu pensei em fazer. Então, essa ideia não é uma ideia recente. Essa ideia de construir o museu tem 30 anos. Agora, as peças, o acervo, eu estou guardando há mais de 40 anos. [Seu pai também era colecionador?] Não. Meu pai nunca foi colecionador. Ele só tinha algumas peças. Tinha uns gravadores antigos, umas filmadoras antigas. Tudo ligado a cinema.

DIARINHO – Qual é o acervo do museu e como você está conseguindo as peças? Quem é o curador dele e quem faz o trabalho de garimpar o acervo?
Fernando Delatorre – Olha, não é fácil. E sabe, quando a gente toma gosto por uma coisa e quer atingir um objetivo, a gente consegue. E eu tive esse sonho de construir o museu e agora vai se concretizar esse sonho no dia 20. E quem garimpava e quem garimpou fui eu. E quem montou todo o museu fui eu. O que tem no museu, a maneira que foi feito o museu, o acerto que se conseguiu, foi visitando feiras de antiguidades, antiquários. Em feiras de antiguidades, por exemplo, aqui no Brasil a cada dois, três meses, eu ia fazer uma viagem de final de semana, de passeio a São Paulo, e naquelas feiras de antiguidade do Masp [Museu de Arte de São Paulo], da praça Benedito Calixto, lá do bairro italiano do Bexiga, conseguia muitas peças. Na feira da praça XV, do Rio de Janeiro. Em Curitiba mesmo, ali no Largo da Ordem, e na praça Espanha. Em Porto Alegre, no brique da Redenção. Isso no Brasil. E no exterior, então, eu estive em feiras de antiguidades, em antiquários em Nova Iorque, em Miami. Aqui na América do Sul eu tive na feira de Santelmo diversas vezes, lá em Buenos Aires. Na feira da rua Tristão Narvaja, em Montevidéu. E na Europa, então, estive em diversas feiras também. Em Lisboa, na feira da Ladra. [De todas você trouxe equipamentos?] De todas essas feiras eu sempre conseguia alguma coisa. Fazia um trabalho de garimpagem e sempre trazia alguma.

DIARINHO – Hoje o acervo do museu está com quantas peças que serão expostas ao público?
Fernando Delatorre – Olha, expostas, hoje, o total acho que passa de 2,8 mil peças. Porque o museu foi idealizado com sete andares, o projeto. Ele foi executado os sete andares e o projeto é para uso exclusivo do museu. Então cada andar tem uma temática do museu. Então nós temos o térreo, com uma exposição ali de projetores do Cinerama, do Autocine e do Cine Itália. No primeiro andar nós temos os projetores e as lanternas mágicas, que eram os antigos projetores de slides metálicos. Isso dos anos de 1800. Essas peças todas compõem outro andar. Depois, em outro andar, nós temos só rádios antigos e vitrolas antigas. E em todos esses andares nós temos uma pequena mostra de projetores. Temos duas salas de projeção, dentro do museu, funcionando. São salas pequenas. Uma deles para grupos de 25 pessoas. Nessa sala de projeção para 25 pessoas nós exibimos os filmes do tempo do cinema mudo, preto e branco, exclusivo, do Charles Chaplin. Enquanto os visitantes passeiam pelo museu, eles vão ter a oportunidade de assistir esses filmes do Charles Chaplin. E num outro andar nós temos um outro com capacidade para 50 pessoas, para realizar alguns eventos e também sala de projeção com exposição de projetores antigos em funcionamento. [E aquelas sessões da obra de Charles Chaplin são os velhos filmes 35 milímetros exigidos através de um projeto antigo ou já é uma tecnologia de projeção moderna?] Já é uma tecnologia moderna, mas estão expostos lá os projetores de época, né? Os projetores de 1920, que era a época do cinema mudo. Porque o cinema falado, com som, só surgiu em 1927. Os projetores que nós temos lá são de 1920, da época do cinema mudo.

DIARINHO – Quem vai bancar a sobrevivência do museu? Você tem verbas públicas ou algum projeto nesse sentido?
Fernando Delatorre – Olha, nós construímos lá o prédio de sete andares e adquirimos todo o acervo, montamos todo o prédio e aqui eu quero até expor um detalhe, a maneira com que foi construído e que estão expostas as peças é nos padrões dos museus internacionais. E a mão de obra utilizada foi toda nossa do Vale do Itajaí e da região. Nós não trouxemos ninguém de fora. Todos locais. De Balneário Camboriú, de Camboriú, Itapema, Tijucas, aqui de Itajaí, de Blumenau. E tudo isso foi feito com recursos próprios. Nós não pegamos, assim, nenhuma importância a título de incentivo, de dinheiro público. Não pegamos. Só que agora para manter o museu nós estamos estudando um projeto para levar as escolas ao museu. Então, cada município poderá participar com uma pequena importância só para manter. Nós só queremos manter, porque é um instituto. Não tem fins lucrativos. [A personalidade jurídica que toca o museu é mesmo o instituto?]É o instituto, o instituto Delatorre. [Não é a sua empresa, então…] Não, não é a empresa. A única coisa é que a empresa tem uma participação financeira na execução das obras. Teve uma participação e ainda continua tendo.

DIARINHO – Quem vai ser o público do museu?
Fernando Delatorre – Balneário Camboriú é uma cidade cosmopolita e nós temos ali muitas pessoas com curso superior e que vão ter interesse em visitar o museu. Mas o nosso projeto principal é que nós queremos ver se conseguimos fazer um convênio com as prefeituras para levar os estudantes, os alunos ao museu. Porque o museu, além da imagem e do som, nós temos mais um andar que é totalmente sobre o sistema monetário nacional. Então nós temos todas as moedas e cédulas emitidas pelo Banco Central, desde a época de Dom Pedro. [Além de numismata você é filatelista também?] Sim, numismata e filatelista. E na filatelia nós temos um pequeno espaço, lá, onde nós temos expostos os três primeiros selos emitidos pelo Brasil, os Olho-de-boi, que foram emitidos por decreto de Dom Pedro II. E temos o primeiro selo emitido no mundo. O primeiro selo emitido no mundo foi pela Inglaterra, o Penny Black. E depois fomos o segundo, né? Esses alunos vão ter, assim, uma aula sobre o sistema monetário nacional. Com a filatelia também tem essa parte do tema geográfico, porque as economias dos países são retratadas nos selos. Isso aí tudo vem a ser cultura e uma aula prática para os alunos.

DIARINHO - O museu vai ficar aberto de quando a quando, durante a semana? Vai ter o padrão internacional de abrir aos finais de semana e só fechar na segunda-feira?
Fernando Delatorre – Exatamente. Está seguindo todos os padrões internacionais. Então o museu vai ficar aberto a partir do dia 20, de terça-feira a domingo. Segunda é fechado para manutenção e descanso para o pessoal que vai trabalhar no museu. [Qual o custo de entrada?] O custo de entrada, o ingresso inteiro é R$ 20 e meio ingresso para idosos, professores e estudantes R$ 10. Aproveito a oportunidade para convidar toda a população para visitar o museu a partir do dia 20 e tenho certeza que as pessoas irão ficar impressionadas e verão um museu com qualidade internacional.

“A história do cinema se confunde com a história da minha família porque o meu pai foi um apaixonado pela sétima arte, construiu os três maiores cinemas do estado”

PERFIL
Nome completo: Fernando Humberto Delatorre
Local de nascimento: Tangará/SC
Idade: 72
Estado civil: Casado
Filhos: Uma
Formação: Direito
Experiências profissionais e na vida pública: Advogado, empresário, vereador na segunda legislatura de Balneário Camboriú, já atuou como assessor jurídico da prefeitura de Balneário Camboriú, numismata, filatelista e criador do instituto Delatorre.

Texto e imagem reproduzidos do site: diarinho.com.br