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Ekaterina Abramova






Ekaterina Abramova

 
 
Ekaterina Abramova é uma artista de estilo moderno, que pratica pintura e artes gráficas em técnica mista, utilizando diferentes materiais, como óleo e aquarela. Nasceu em Hotkovo of Sergiev-Posad, distrito de Moscou, em 1979.
Seus primeiros objetivos em composição e artes foram fixados por seu pai, Alexander Abramov, artista e escultor em madeira. Ekaterina já participou de diversas exposições.
Sus obras estão em coleções particulares na Rússia, Alemanha, Finlândia, Reino Unido.

Contato:

Tel.: (254) 317-19
       (812) 323-2030
       8-903-576-1352
       8-921-751-3668

E-mail:
art@podlipki.ru

  

  

  

 

 

  


Homenagem a Cesário Verde


Aos pés do burro que olhava para o mar
depois do bolo-rei comeram-se sardinhas
com as sardinhas um pouco de goiabada
e depois do pudim, para um último cigarro
um feijão branco em sangue e rolas cozidas


Pouco depois cada qual procurou
com cada um o poente que convinha.
Chegou a noite e foram todos para casa ler Cesário Verde
que ainda há passeios ainda há poetas cá no país!



MARIO CESARINY



Ekaterina Abramova

 

  

  

  

  

  

  

Em todas as ruas te encontro
 
 
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
 
 
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
 
 
Mário Cesariny
 
 

Mário Cesariny de Vasconcelos nasceu em Lisboa, 9 de Agosto de
1923 e faleceu em  Lisboa, 26 de Novembro
de 2006. Foi um pintor e poeta, considerado o principal representante do
surrealismo português.
Frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio e estudou música com o
compositor Fernando Lopes Graça, de graça. Durante a sua estadia em Paris em
1947, frequenta a Académie de la Grande Chaumière. É em Paris que conhece André
Breton, cuja influência o leva a criar no mesmo ano o Grupo Surrealista de
Lisboa, juntamente com figuras como António Pedro, José Augusto França, Cândido
Costa Pinto, Vespeira, Moniz Pereira e Alexandre O´Neill. Este grupo surgiu
como forma de protesto contra o regime político vigente e contra o
neo-realismo. Mais tarde, funda o anti-grupo (dissidente)"Os
Surrealistas" do qual fazem parte entre outros os seguintes autores
António Maria Lisboa, Risques Pereira, Artur do Cruzeiro Seixas, Pedro Oom,
Fernando José Francisco e Mário-Henrique Leiria.
Mário Cesariny adota uma atitude estética de constante
experimentação nas suas obras e pratica uma técnica de escrita e de
(des)pintura amplamente divulgada entre os surrealistas. Introduz também a
técnica designada “cadáver esquisito”, que consiste na construção de uma obra
por três ou quatro pessoas, num trabalho em cadeia criativa em que cada um dá
continuidade, em tempo real, à criatividade do anterior, conhecendo apenas
parte do que este fez.
 
http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_Cesariny

 
http://www.astormentas.com/din/poemas.asp?autor=M%E1rio+Cesariny


Ekaterina Abramova

 

  

  

  

  


Poema
 
 
Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas do próprio seio dela
intensamente amantes   loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem
 
 
Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina   realmente   os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca
 
 
Mário Cesariny

Ekaterina Abramova

 

  

  

  

  

Estação


Esperar ou vir esperar querer ou vir querer-te vou perdendo a noção desta subtileza. Aqui chegado até eu venho ver se me apareço e o fato com que virei preocupa-me, pois chove miudinho
Muita vez
vim esperar-te e não houve chegada
De outras, esperei-me eu e não apareci
embora bem procurado entre os mais que passavam.
Se algum de nós vier hoje é já bastante
como comboio e como subtileza
Que dê o nome e espere. Talvez apareça


 MARIO CESARINY 


Ekaterina Abramova

 

  

  

  

  

 
Faz-se luz pelo processo


Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz, mas do próprio seio dela

intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem



Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca



 MARIO CESARINY


Ekaterina Abramova

 

  

  

  

  


Faz-me o favor...


Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor -- muito melhor!
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.


MARIO CESARINY

Ekaterina Abramova

 

  

  

  

 


EU, SEMPRE...


Eu sempre a Platão assisto.
Pessoalmente, porém, e creia que não
Tenho qualquer insuficiência nisto,
Sou um romano da decadência total,
Aquela do século IV depois de Cristo,
Com os bárbaros à porta e Júpiter no quintal.


MARIO CESARINY


Ekaterina Abramova



 

  

  

  


no país no país no país onde os homens
são só até ao joelho
e o joelho é só até à ilharga
conto os meus dias tangerinas brancas
e vejo a noite Cadillac obsceno
a rondar os meus dias tangerinas brancas
para um passeio na estrada Cadillac obsceno

e no país no país e no país país
onde as lindas lindas raparigas são só até ao pescoço
e o pescoço que bom é só até ao artelho
ao passo que o artelho, de proporções mais nobres,
chega a atingir o cérebro e as flores da cabeça,
recordo os meus amores liames indestrutíveis
e vejo uma panóplia cidadã do mundo
a dormir nos meus braços liames indestrutíveis
para que eu escreva com ela, só até à ilharga,
a grande história do amor só até ao pescoço

e no país no país que engraçado no país
onde o poeta o poeta é só até à plume
e a
plume que bom é só até ao fantasma
ao passo que o fantasma - ora aí está -
não é outro senão a divina criança (prometida)
uso os meus olhos grandes bons abertos
e vejo a noite (on ne passe pas)

diz que grandeza de alma. Honestos porque.
Calafetagem por motivo de obras.
É relativamente queda de água
e já agora a muito não é de outra maneira
no país onde os homens são só até ao joelho
e o joelho que bom está tão barato



Mário Cesariny
discurso sobre a reabilitação do real quotidiano
manual de prestidigitação
assírio e alvim
1981