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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Crítica: «Persépolis»

«Mais de uma década depois da publicação original, em francês, chega às livrarias portuguesas uma daquelas obras que só não está no cânone das leituras essenciais porque não se trata de prosa, mas sim de banda desenhada. Na primeira pessoa, Persépolis conta a história de Marjane desde o momento em que a revolução iraniana cede lugar ao regime dos ayatollahs, em 1979-80, até ao momento em que a narradora decide sair do Irão e instalar-se, definitivamente, em França. Não se trata de um percurso linear, ou de um registo filtrado dos vários momentos de mudança do regime iraniano, mas antes de uma sucessão de pequenos episódios que compõem uma autobiografia ficcionada, muito marcada pelas descobertas, pelas dúvidas e pelos dilemas individuais de Marjane, não só em relação ao que se passa no Irão, mas igualmente perante tudo o que muda diariamente, sobretudo no seu processo de crescimento e no modo como se relaciona com os outros. E os outros, nesta história, tanto podem ser os pais que não a deixam participar nas manifestações por ser demasiado pequena, como as professoras que esperam dela uma obediência cega ou as amigas que anseiam por um marido. Os outros são os europeus que não conseguem vê-la sem um filtro de exotismo ou um alerta de terrorismo, mas são igualmente os seus compatriotas quando a crêem demasiado ocidentalizada, sem vontade de um casamento de conveniência ou de seguir a vida reservada às mulheres na Teerão da sharia.

A obra que consagrou Satrapi (e que teve adaptação cinematográfica em 2007) estrutura-se num registo gráfico onde se cruzam os momentos biográficos dos primeiros anos com as inevitáveis intrusões fantasiosas (como as conversas com Deus, em vinhetas que o representam com assumidas parecenças com Marx, ou as imagens das torturas políticas, demasiado duras, mesmo no imaginário de uma criança). Nas pranchas onde os factos históricos são fulcrais para o edifício narrativo, Satrapi recorre a representações esquemáticas da história do Irão que emanam da iconografia artística da Pérsia, assim incorporada no preto-e-branco das pranchas. Mas ao longo de todo o livro, o que define a narrativa é a auto-representação, da infância de todas as descobertas à primeira estadia europeia de Marjane (em Viena, na fase mais decisiva da adolescência), do início da guerra Irão-Iraque à decisão de trocar Teerão por Paris. Mais do que uma graphic novel de pendor histórico, Persépolis é um monumental registo da memória, consciente do passado, mas mais consciente ainda da inevitabilidade de o ficcionar.»
Sara Figueiredo Costa, Cadeirão Voltaire


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Imprensa: «Persépolis»

«Viagens e regressos

Mais do que uma fábula moderna sobre o Irão, Persépolis é uma obra sobre desencontros, com a violência em pano de fundo e a memória a servir de luz

Doze anos depois da edição do primeiro volume de Persépolis pela L’Association, a obra de Marjane Satrapi já integrou o imaginário colectivo de muitos ocidentais e sobretudo o imaginário que muitos ocidentais construíram do Irão. Não será despropositado colocá-la na companhia dos filmes de Abbas Kiarostami e Jafar Panahi: também a sua representação de um país se construiu à margem da propaganda dos poderes políticos e das imagens difundidas pelos mass media. Os paralelismos podiam terminar aqui. Persépolis é banda desenhada (pese embora a adaptação cinematográfica realizada em 2007) e, com a chancela da Contraponto, conhece agora, em versão integral, a sua primeira edição portuguesa. Pede, portanto, um leitor, tipos de fruição específicos, respirações entre o folhear, pausas. O livro narra a vida de Satrapi entre a década de 1980 e o ano de 1994: da sua infância em Teerão até à adolescência na Áustria e, de novo, na capital iraniana. E constrói-se, até pelo intervalo temporal que o determinou (foi iniciado em 1999, no estúdio Atelier des Vosges, em Paris), enquanto revisitação de uma família, de uma sociedade e de um país, a partir de uma memória individual. “Podemos perdoar, mas não devemos nunca esquecer”, escreve Satrapi na introdução.
E Satrapi não esquece; não esquece as vítimas da violência política, do fanatismo, da guerra. Inscreve-as nas suas vinhetas: o tio Anoosh, que será executado pela polícia política de Khomeini (p. 78), amigos da família torturados e desaparecidos, os jovens mártires da guerra Irão-Iraque. Ou ela própria, na condição de exilada. História e autobiografia, discurso público e privado, Irão e Ocidente convergem na criação de uma narrativa feita de partidas e regressos. Na primeira parte, A História de Uma Infância, acompanhamos o dia-a-dia “traumático” de uma criança. Dos adultos, a pequena Satrapi ouve relatos da violência da ditadura do Xá e da República Islâmica: tortura, prisões, massacres que mostra aos leitores. É talvez o momento visualmente mais ousado de Persépolis. Como representar, muitos anos depois (em plena idade adulta), a morte e os mortos segundo a consciência e a imaginação de uma criança que já não existe? Os recursos estilísticos usados por Satrapi (que chegou à banda desenhada após o encontro com Maus, de Art Spiegelman) protegem a ousadia sem sacrificar a complexidade: desenho minimal (quase infantil), limitação da perspectiva a pequenas passagens, domínio do preto e branco, com as suas sombras e silhuetas (a autora admite a influência de Nosferatu, de Murnau), mas sem tonalidades ou texturas. Só uma vez Satrapi interrompe este registo, quando é testemunha directa do horror da guerra: sob as ruínas de uma casa pousa o corpo de uma jovem vizinha que ela nunca chega desenhar, mas sabemos que viu (p. 150).
É entre mortos e vivos, momentos de alegria e de luto, festa e medo que constrói Persépolis; oposições que, mais de uma vez, partilham a mesma prancha. Na página 110, por exemplo, jovens soldados rebentam sobre as minas iraquianas; logo abaixo, noutra vinheta, vemos Satrapi a dançar numa festa com amigos. Uns e outros são corpos que partilham, finalmente, o mesmo lugar: o da memória.
Satrapi assume de onde vem: de uma família secular, liberal e letrada, de simpatias marxistas. Estuda no liceu francês de Teerão, tem sentimentos de culpa devido à sua privilegiada condição económica e facilmente se incompatibiliza com o fundamentalismo islâmico (enfrenta-o, engana-o). O seu olhar não tem tempo para “desenhar” soldados ou guardas como os de Offside, de Panahi: em Persépolis são, fundamentalmente, avatares de uma opressão.
É esta Marjane Satrapi que no segundo capitulo, A História de Um Regresso, chega à Áustria para estudar num colégio de freiras, com o apoio financeiro da família. No entanto, a primeira experiência europeia salda-se num fracasso. Agradam-lhe a liberdade de movimentos, o convívio com os outros, a música punk e até o haxixe. Em contrapartida, não compreende a promiscuidade sexual, reprova o desrespeito pelos mais velhos (que descreve quase sempre com simpatia) e critica a crescente desconfiança face ao outro (muçulmano, iraniano, de tez escura). As conclusões desta “etnografia” (que lembra a ensaiada por Jean Rouch em Petit à Petit) ensombram o (frustrante) desenlace amoroso e a consequente crise de identidade. Regressa ao Irão, mas um casamento falhado, as ruínas e o sufoco das tradições são-lhe insuportáveis e aceita o exilio final na Europa (Paris). Por isso, mais do que um livro sobre o Irão, Persépolis é um livro sobre as tensões entre a sociedade e a família e as escolhas a que os indivíduos são forçados perante a repressão: exílio, emigração, aculturação, desenraizamento. O que explica o seu apelo poético e político, 12 anos depois.»
José Marmeleiro, Ípsilon, Público

Destaque: «Persépolis»


Uma apreciação muito bem-vinda do autor J. Rentes de Carvalho. Aqui.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Imprensa: «Persépolis»

«Viagens e regressos

Mais do que uma fábula moderna sobre o Irão, Persépolis é uma obra sobre desencontros, com a violência em pano de fundo e a memória a servir de luz.
José Marmeleira

Doze anos depois da edição do primeiro volume de Persépolis pela L’Association, a obra de Marjane Satrapi já integrou o imaginário colectivo de muitos ocidentais e sobretudo o imaginário que muitos ocidentais construíram do Irão. Não será despropositado colocá-la na companhia dos filmes de Abbas Kiarostami e Jafar Panahi: também a sua representação de um país se construiu à margem da propaganda dos poderes políticos e das imagens difundidas pelos mass media.
Os paralelismos podiam terminar aqui. Persépolis é banda desenhada (pese embora a adaptação cinematográfica realizada em 2007) e, com a chancela da Contraponto, conhece agora, em versão integral, a sua primeira edição portuguesa. Pede, portanto, um leitor, tipos de fruição específicos, respirações tem sentimentos de culpa devido à sua privilegiada condição económica e facilmente se incompatibiliza com o fundamentalismo islâmico (enfrenta-o, engana-o). O seu olhar não tem tempo para “desenhar” soldados ou guardas como os de Offside, de Panahi: em Persépolis são, fundamentalmente, avatares de uma opressão.
É esta Marjane Satrapi que no segundo capitulo, A História de Um Regresso, chega à Áustria para estudar num colégio de freiras, com o apoio financeiro da família.
No entanto, a primeira experiência europeia salda-se num fracasso. Agradam-lhe a liberdade de movimentos, o convívio com os outros, a música punk e até o haxixe. Em contrapartida, não compreende a promiscuidade sexual, reprova o desrespeito pelos mais velhos (que descreve quase sempre com simpatia) e critica a crescente desconfiança face ao outro (muçulmano, iraniano, de tez escura). As conclusões desta “etnografia” (que lembra a ensaiada por Jean Rouch em Petit à Petit) ensombram o (frustrante) desenlace amoroso e a consequente crise de identidade.
Regressa ao Irão, mas um casamento falhado, as ruínas e o sufoco das tradições são-lhe insuportáveis e aceita o exilio final na Europa (Paris). Por isso, mais do que um livro sobre o Irão, Persépolis é um livro sobre as tensões entre a sociedade e a família e as escolhas a que os indivíduos são forçados perante a repressão: exílio, emigração, aculturação, desenraizamento. O que explica o seu apelo poético e político, 12 anos depois.»
Ípsilon, Público

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Persépolis no TOP


Persépolis teve uma estreia em grande nas livrarias e já está no TOP Bertrand num fantástico 5º lugar!

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Elogios que não acabam!

O livro «Persépolis» que saiu na semana passada já tem grande atenção mediática e os elogios não são poucos!

«Além da expressividade das suas pranchas a preto e branco, o que torna irresistível a arte narrativa de Satrapi é a forma como a vida da autora nos surge de forma realista e verosímil, umas vezes grandiosa, quase sempre banal, conseguindo-se através dela, vislumbrar os grandes movimentos e contradições da sociedade iraniana, muito mais complexa do que sugerem quase todos os discursos ocidentais sobre a antiga Pérsia.»
José Mário Silva, Atual, Expresso

«O melhor romance gráfico de sempre.»
Filipa Melo, Sol


«Uma memória gráfica brilhante e invulgar, contada num tom franco e cativante, que ilustra de forma dramática a maneira como os regimes repressivos deformam a vida dos cidadãos.»
Vogue