1.5.08

Há muito tempo eu vivi calado

Tenho que dizer: não agüento mais ouvir coisas sobre o caso Isabella. Mais de um mês se passou desde o terrível crime e algumas redes de televisão transformaram isso em um circo de horrores, só faltando a mulher barbada e os gêmeos siameses. Foi um crime bárbaro, sem dúvida; o que não dá mais para suportar é a overdose. Acreditem, em famílias de classe média também acontecem rompantes de estupidez e violência. Se os tão devotados repórteres de programas sensacionalistas descessem de seu confortável pedestal e vissem a crueldade dos, digamos, menso favorecidos monetaria e culturalmente, encheriam seus jornais com Isabellas mortas. Bem fazem veículos um pouco menos propensos à sanha por audiência vazia e que agora apenas noticiam se há realmente algo para se noticiar, e não encher programas com "juristas", "advogados" e destrinchar os ossos. Isso fora o pré-julgamento.
Uma coisa sou eu, um sujeito com um blog, tecer uma opinião. Outra, bem diferente, é alguém que se orgulha de ter um diploma de jornalismo se achar juiz, júri e executor. Se a lei é lenta, reporte-se essa lentidão e use o poder que a mídia dá para que algo seja feito para que essa lentidão seja abolida. Por mais perverso que isso possa parecer, uma pessoa só é culpada legalmente quando um juiz confere-lhe a culpa mediante um julgamento limpo e justo. E sim, eu acho que o casal matou a menina. Mas não sou a lei e tenho consciência disso, por mais que em alguns momentos isso me revolte. Dura lex, sed lex, é o que muitos dizem. Pois que seja assim sempre, mesmo em casos tão tristes e cruéis como esse. Palavra de alguém que teve a mãe morta degolada.




Admiro a fé. A fé pró-ativa, que movimenta o mundo através de ações que o modifiquem. Infelizmente muitos usam a fé para mascarar o fundamentalismo e a ignorância. O mundo também é feito de "milagres", mas não só deles e definitivamente esperá-los passivamente é um atestado da mais encrustada burrice.
Se uma agência séria como a de aviação civil diz que em determinado dia não há condições para determinados tipos de vôo, isso deve ser levado em consideração. Se, ainda assim, alguém insiste em voar, não deve esperar que Deus o auxilie, mesmo que teoricamente seja um servo em sua "folha de pagamento". Deve, sim, usar roupas adequadas para suportar intempéries, ter e saber utilizar equipamentos de localização via satélite e sempre, sempre ter baterias e pilhas reserva. Ah, algumas latas de spam (a carne processada em lata, e não... ah, você entendeu!) também podem fazer parte do kit.
O desapareciemto do padre Adelir não foi uma tragédia. Foi fruto da teimosia de um homem cabeça-dura e egomaníaco, que achou que Deus tem a divina obrigação de guiar e auxiliar os menos precavidos. Mais ou menos como a anedota do náufrago, que no meio do mar, recusou a ajuda de um navio e de um helicóptero, dizendo: "não, obrigado, Deus irá me salvar". Ao inevitavelmente morrer, foi ao céu e pediu uma audiência com o Todo-Poderoso, onde reclamou por não ter sido salvo pela intercessão divina. Ouviu de bate-pronto: "o que mais você queria, meu filho? Mandei um navio e um helicóptero para resgatá-lo e você recusou!".




Pessoa 1: "Alô, é do posto da mulher?"
Atendente: "Sim."
P1: "Gostaria de falar com A., por favor."
At: "Ela não está, minha senhora; A. foi embora há menos de 15 minutos."
P1: "Então acho que você vai me ajudar. Estou com uma menina grávida com dores terríveis aqui, sabe?"
At: "A senhora poderia levá-la ao hospital..."
P1: "Não, meu filho, ela quer uma avaliação com o médico que faz o pré-natal dela aí no postinho. Estou com uma carta aqui do vereador Fulano de Tal, que me garantiu que é só apresntá-la aí."
At: "Já que é assim, vou falar com uma enfermeira..."
P1: "Vê o que pode fazer rápido aí, meu filho."

Pessoa 2: "Moço, quero falar com a doutora Beltrana de Tal."
Atendente: "Sobre o que seria?"
P2: "Ela me disse para procurá-la se os exames ficassem prontos e eu preciso falar com ela agora."
At: "A senhora tem uma autorização dela por escrito?"
P2: "Como assim? Foi o doutor Sicrano de Tal que disse que eu posso vir aqui e falar com ela!"
At: "De acordo com a doutora, ela só atende pacientes que não foram previamente agendados com uma autorização por escrito."
P2: "Não, o doutor Sicrano me disse e eu preciso mostar esse exame! Não dá mais pra esperar... quer que eu ligue para ele?"

Que esse ano eleitoral acabe logo. Por favor.



Minhas idéias foram vencidas pela rotina. O projeto ambicioso que eu me propus a fazer foi solapado pelo cansaço mental que o trabalho como recepcionista me causa. Ser funcionário público é estressante, tanto pelas cobranças quanto pela acomodação de alguns de meus colegas. Não ajuda muito só ter acesso à Internet uma ou duas vezes por mês.

Ih, mas não vou utilizar esse espaço para bancar o choroso coitadinho! Estou me movimentando, lentamente e continuamente e logo terei meu computador, meu acesso à rede e um canto meu, cheio de livros bacanas, uma poltrona, uma cozinha à minha disposição e uma solidão criteriosamente controlada. Esse "logo" não tem um prazo definido, mas é um logo que vislumbro com força e determinação. Enquanto isso fico enchendo lingüiça de vez em quando aqui em meu blog. Acredite, ela fica uma delícia no churrasco.

(Escrito em pouco mais de uma hora e meia ao som de coisas como isso. E isso. Cara, adoro o Magnatune! Mais uma que devo pro grande e essencial Janio.)

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