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terça-feira, 5 de julho de 2022

No Nobres do Grid deste mês...


Bem sei que aí no Brasil não se liga muito aos ralis, pelo menos está abaixo da Formula 1, da IndyCar e da NASCAR em termos de interesse. Mas neste verão, estão a ser filmados duas peliculas sobe automobilismo em Itália. O primeiro é um projeto que se conhece desde há muito, sobre Enzo Ferrari, realizado por Michael Mann – o mesmo de Miami Vice – com Adam Driver no papel do Commendatore. Mas existe um segundo projeto, de raíz italiana em que fala sobre a temporada de 1983, e um duelo entre duas das construtoras mais importantes de então, a Audi e a Lancia. 

E dois estilos de carros bem diferentes: o primeiro, a alemã, que tinha o sistema Quattro, de quatro rodas motrizes e prestes a dominar os ralis mundiais, e a italiana, ainda agarrada nas duas rodas motrizes com o modelo 037, e sabendo das suas limitações, lute pelo título... e triunfa. E como a história é interesssante, toca a filmá-lo neste verão porque em 2023 passam 40 anos sobre esse feito e seria ótimo homeagear boa parte dessa gente, pois ainda estão vivos. Gente como Roland Gumpert, Cesare Fiorio, Markku Alen ou Walter Rohrl. (...)


(...) O projeto do Quattro veio da cabeça de Roland Gumpert, que então com 38 anos em 1983, tinha desenvolvido o sistema a partir do Volkswagen Iltis, um todo o terreno destinado para o exército alemão que depois seguiu para outras marcas – o Mercedes G-Wagen é um descendente desse sistema – e que foi montado num Audi 100 para exaustios testes numa pedreira na Alemanha. O projeto era desconhecido para a diretoria de Inglostadt, a sede da Audi, até que foi apresentado, em finais de 1978. Demonstrado sem falhas, foi aprovado, e ao mesmo tempo que o sueco Freddy Kotulinsky triunfava no Dakar de 1980, na sua segunda edição, o sistema era desenvolvido e montado em carros construidos de raíz, o Quattro, no sentido de se inscreverem no Mundial de ralis de 1981. A sua primeira aparição aconteceu no final de 1980 no Algarve, sul de Portugal, como “carro zero” – apenas para abrir a estrada, não competiu – e o sistema cumpriu sem falhas. Nessa temporada de 1981, inscreveu Mouton, Mikkola e os suecos Bjorn Waldegaard e Stig Blomqvist. Mas no final dessa temporada, quem levou a melhor foi um carro de duas rodas motrizes: o Ford Escort 1800 de Ari Vatanen.

Mas o Quattro deu certo, pois alcançou a vitória no campeonato de construtores em 1982, graças ao segundo lugar de Mouton, o terceiro posto de Mikkola e o quarto de Blomqvist. E para 1983, iria manter esses três pilotos, acrscentando o finlandês Lasse Lampi. Do lado italiano, a Rohrl, o campeão, tinham o finlandês Markku Alen, e teriam um rol de pilotos que apareceriam pontualmente, com o destaque para o italiano Attilio Bettega. Havia outras marcas nesse campeonato, como a Opel, a Toyota, a Nissan, a Renault, mas estes dois eram os que iriam andar em todos os ralis de um campeonato que começava em Janeiro, em Monte Carlo, e acabava em novembro, nas enlameadas estradas do centro de Inglaterra, o RAC, Royal Autombile Club. (...)   


Ano que vem aparecerá no cinema a história de um dos maiores duelos dos ralis: entre o Lancia 037 e o Audi Quattro, que mexeu a temporada de 1983, e o inicio dos Grupo B. Esse duelo mostrou dois tipos de carros, a tração integral e as suas rodas motrizes, mas espetaculares, mas menos eficazes. O filme será uma co-produção italiano-alemã e terá Daniel Bruhl, o homem que interpretou Niki Lauda no filme "Rush", no papel de Roland Gumpert, o diretor desportivo da Audi há quase 40 anos. 

Com as filmagens a decorrerem em Itália e Grécia, e provavelmente com a data de estreia a acontecer no ano que vêm, escrevi este mês sobre a história desse campeonato. E claro, conto isso tudo este mês no site Nobres do Grid

sexta-feira, 8 de março de 2019

A imagem do dia

Michele Mouton e Fabrizia Pons, sua navegadora, comemorando no pódio a sua vitória no Rali da Acrópole de 1982. São poucas as mulheres no automobilismo, e há categorias que respeitam mais as mulheres que outras, quando vêm que têm talento. E quando têm uma chance para brilhar... brilham. É interessante saber que a Formula E já acolheu mulheres como Katherine Legge e Simona de Silvestro, quando a Formula 1 acolheu pela última vez uma mulher-piloto em 1992.

Mas hoje quero lembrar de Michele Mouton, se calhar uma das mais bem sucedidas mulheres no automobilismo. Vencedora de quatro provas do WRC, vice-campeã do mundo de 1982, vencendo nesse ano três ralis: Portugal, Grécia e Brasil. Nenhuma delas considerada das mais fáceis do mundo. Hoje em dia, aos 67 anos, Mouton é respeitadissima, especialmente por ter andado em carros do Grupo B, desde o Audi Quattro ao Peugeot 2015 Ti16, o carro onde andava quando fez o seu último rali, o da Córsega, em 1986.

Mas no seu tempo de corredora, não havia esse respeito. Nascida em Nice a 23 de junho de 1951, filha de um jardineiro, chamavam-na de "vulcão negro" devido ao seu temperamento. Começou a guiar aos 14 anos no Citroen 2 CV do seu pai, e cedo meteu-se no automobilismo, o meio mais masculino possível, onde as mulheres pouco passavam de... objetos. Andou primeiro num Alpine, onde deu uns pulos nas pistas. Em 1975, ao lado de mais duas mulheres - Christine Dacremont e Marianne Hoepfner - venceu na categoria de dois litros nas 24 Horas de Le Mans... e não foram as mulheres mais bem classificadas!

Dedicou-se aos ralis, primeiro num Alpine, depois num Fiat, com o 131 Abarth, até ir para a Audi, que tinha o seu modelo Quattro, com quatro rodas motrizes, bem mais eficazes e menos espectaculares que as duas rodas motrizes. O seu primeiro resultado de relevo foi no Rali de Portugal de 1981, onde foi quarta classificada, mas em Sanremo, mais tarde no ano, chocou toda a gente ao ser a vencedora. A primeira mulher a vencer na história do Mundial WRC.

Mas ninguém queria acreditar. Ari Vatanen, antes desse rali, tinha até dito: "Estou confiante, nunca perdi, nem perderei, contra uma mulher".

Em 2008, Mouton, numa entrevista para a Rallysport Magazine, lembrou-se dessa vitória, absolutamente inesperada e chocante para o "establishment" de então.

"Eu me lembro não apenas porque foi uma vitória, mas também porque foi uma grande luta até ao último dia. Fabrizia [a italiana Fabrizia Pons, sua nevagadora] me lembrou na outra noite que tínhamos um problema com as pastilhas de travão, então perdemos muito tempo. Terminamos a um dia para o final, 32 segundos na frente de Ari Vatanen. Nós dirigimos para a última especial, [que seria] de noite. Voltamos para o hotel e eu não consegui dormir, quatro horas pela frente e sem dormir. Então chego ao inicio da etapa, tem cerca de 42 km de comprimento, olho para Fabrizia e disse: 'Tudo bem, esquecemos tudo e fingimos que estamos de novo na primeira especial do rali, porque um de nós vai perder'. E assim, Ari bateu numa pedra e nós vencemos o rali."

Mas a sua grande temporada foi a de 1982. O Audi Quattro era o carro a bater, contra os cada vez mais obsoletos Ford Escort RS2000 e os Opel Ascona 400 ou os Talbot Lotus. Bateu forte em Monte Carlo, mas depois voltou a vencer em Portugal, na Grécia e no Brasil. Depois de um quarto lugar em Sanremo, o WRC partia para a Costa do Marfim, onde lutava com Walter Rohrl pelo título. Foi um rali difícil: cinco mil quilómetros de extensão, ao longo de cinco dias, as temperaturas andavam constantemente nos 30ºC e cem por cento de humidade, as estradas eram difíceis, e ainda antes da prova, teve a noticia de que o seu pai - e seu primeiro fã - tinha sucumbido a um cancro.

O rali foi uma luta entre Rohrl, Mouton e o finlandês Hannu Mikkola. As temperaturas dentro do carro chegavam "a uns meros" 70º Celsius, do qual só os mais fortes sobreviviam. No final do dia, ela era terceira, e era mais que suficiente para ser campeã, mesmo se o alemão vencesse. A meio do rali, tinha uma vantagem de 25 minutos sobre o alemão, mas problemas na sua transmissão fizeram que essa diferença diminuísse para dezoito minutos. A 700 quilómetros da meta, Mouton cometeu um erro e capotou. Totalmente danificado, a francesa tentou andar adiante, mas tiudo acabou cinco quilómetros depois.

Rohrl venceu o rali e acabou por ser o campeão. E sentia-se aliviado, pois perder o título ter-lhe-ia sido cruel. "Teria aceite a derrota perante Mikkola, mas não perante Mouton. Não porque duvide das suas capacidades como piloto, mas porque é mulher". No final do ano, foi vice-campeã e eleita como a Piloto do Ano pela Autosport britânica.

Mouton retirou-se em 1986, depois de acabar com o Grupo B, fundou a Corrida dos Campeões e agora é comissária da FIA, procurando por novos talentos femininos no automobilismo. Mas neste Dia Internacional da Mulher, bom saber que este desporto, um dos mais masculinos - e mais machistas - teve já mulheres que andaram ao lado de homens e os ganharam. 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Youtube Motorsport Electric: De relutante a convertido

Walter Rohrl, bicampeão do mundo de ralis em 1980 e 1982, mítico piloto dos Audi Quattro, era até há pouco tempo um cético dos carros elétricos. Não gostava e não tinha problemas em afirmá-lo. Contudo, há relativamente pouco tempo, a Porsche convidou-o a experimentar o Taycan, o novo carro elétrico da marca alemã. E parece que gostou tanto que experimentou de novo, mas numa pista de automóveis.

Convertido? Parece que sim. Pelo menos aos carros da marca que representa... 

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Youtube Onboard: A apresentadora que não quis gritar

Não sei se foi por orgulho ou se foi por outra coisa, mas a pensar que a senhora não gritou enquanto que era guiada num circuito algures na Alemanha, é algo invulgar...

Já agora, o piloto em questão é a lenda dos ralis, Walter Rohrl (campeão do mundo em 1980 e 1982) e a senhora é uma das apresentadoras da Auto Bild, Barbara Schöneberger.