Desde que a Formula 1 passou a aceitar os patrocínios, em 1968, e a Lotus conseguiu a sua "sorte grande", com o apoio da Imperial Tobacco - 100 mil libras era um valor bem grande nesse ano! - a Formula 1 nunca deixou de precisar de dinheiro de outros lados para manter as suas equipas a flutuar perante os custos que sempre acrescentaram e alimentaram a competitividade.
O tabaco foi, durante mais de 20 anos, o sangue que fez alimentar essas equipas. A Marlboro, através de gente como John Hogan, financiou equipas e pilotos, como a McLaren, Ferrari, Alfa Romeo e outras mais pequenas. Ela e a John Player Special, faziam parte da Imperial Tobacco, com esta última a apoiar a Lotus até 1986, quando trocou com a R.J. Reynolds, que tinha a marca Camel, que depois apoiou Tyrrell e Williams até 1993. E também a Rothmans, que depois de uma passagem fugaz pela March, apoiou a Williams de 1994 e 1997.
E nem se fala de outras marcas: a Embassy, para a Hill, ou o apoio crónico da Gitanes, a marca francesa que colou os seus adesivos na Ligier até à entrada da Lei Evian, em 1993, que proibiu a publicidade ao tabaco em eventos desportivos. No virar do século, as tabaqueiras "renderam-se" e foram embora, agora regressando com publicidades subliminares, como "Mission Winnow" que está na Ferrari, por exemplo.
Mas depois do tabaco, outras marcas, de outras áreas, apareceram, tentando preencher o vazio. Bancos, operadoras telefónicas, marcas de bebidas, financiadoras, todas tentaram a sua sorte, mas nunca ficaram por muito tempo. Agora, nestes tempos, surgiram as criptomoedas, fenómeno que apareceu no final da primeira década do século XXI, depois da crise de 2008, com o surgimento do Bitcoin, e depois de outras criptomoedas, como a Etherium e outras, que surgiram como cogumelos, mas dos quais tudo que é finança dita "séria" considera um "esquema Ponzi", mas mais elaborado.
Um pequeno parêntesis histórico: Ponzi era o nome de um charlatão italo-americano de Boston que, 80 anos antes de Bernie Madoff, enganou imensa gente com o seu esquema piramidal que caiu com estrondo em 1925, e do qual foi preso por muito tempo.
Mas, charlatanice ou não, milhares de pessoas com capacidade para apostar nas cripromoedas enriqueceram com elas, e por causa do síndroma FOMO (
Fear of Missing Out, em português, Medo de ficar de Fora), elas tiveram uma subida dramática. E bem ricas, as firmas criadas com essa febre das criptomoedas apostaram forte e feio na Formula 1. Falei sobre elas
e os acordos bem gordos, no passado mês de fevereiro. Ainda por cima, em dois dias seguidos, pois no segundo,
referi os 150 milhões que a Red Bull recebeu este ano, com o contrato que fez com a Bybit e a Tezos.
E para terem uma ideia, o GP de Miami e a própria Formula 1 tem a crypto.com como patrocinadora. E apostaram pesado, cerca de 50 milhões de dólares... por ano.
Desde há umas semanas que os órgãos noticiosos financeiros falam da queda do preço das criptomoedas, ao ponto da crypto.com estar a rever os seus acordos de patrocínio. Para terem uma ideia, tinham feito um acordo com a Champions League no valor de... 495 milhões de euros para as cinco temporadas de validade desse contrato. Agora, esse acordo foi revisto, e eles receberão menos dinheiro nos anos seguintes, simplesmente porque não tem capacidade de receber nos valores que tinham atualmente.
E esta terça-feira, a Binance comprou a FTX com desconto, por causa de uma "crise de liquidez", depois desta ter tido um saque - retirada de dinheiro - na ordem dos seis mil milhões de dólares - ou euros, que neste momento estão paralelos em termos de cotação.
E o que tem a ver com a Formula 1? A FTX é uma parceira da Mercedes desde 2019, e teve de rever o seu acordo às pressas, incorporando a nova parceira. E se calhar, com contrato revisto. E se a um foi isso, imaginemos os outros, dependentes de uma "commodity" que é... virtual. E do qual a velha finança não tem confiança alguma. Existirão cenas dos próximos capítulos, é certo e sabido.
Claro, a Formula 1 sobrevive a tudo isto. Agora com o teto orçamental implementado e as finanças escrutinadas fortemente, para evitar abusos - lembremos da Red Bull, que ultrapassou em pouco mais de cinco por cento e como consequência, foi penalizado com menos tempo no túnel de vento em 2023 - as equipas terão de procurar mais longe para terem os seus orçamentos mais equilibrados. E se calhar, quando o mercado estiver mais estabilizado, eles poderão regressar em força.
Mas até lá, se calhar, os tempos de prosperidade podem ter acabado.