Federico Lombardi admite dificuldades da Igreja na relação com imprensa
Porta-voz do Vaticano expressa
desejo do Papa visitar Fátima
O padre Federico Lombardi, director da sala de imprensa da Santa Sé, confirmou ontem que Bento XVI «deseja» visitar Fátima, mas ainda não há nenhuma data prevista para a eventual viagem. Em conferência de imprensa, antes do início das Jornadas Nacionais das Comunicações Sociais, o porta-voz do Vaticano afirmou que o Papa já foi convidado e «sabe muito bem qual é a importância de Fátima para o mundo e deseja vir, mas ainda não há data marcada».
A agenda do Papa para 2010 deverá ser conhecida dentro de «pouco tempo», dado que este é um dos temas em que o mesmo está a trabalhar, estabelecendo quais serão as viagens ao estrangeiro. A informação será comunicada, em primeiro lugar, às autoridades eclesiais e civis. «Estas autoridades, quando informadas pela Secretaria de Estado do Vaticano, são as que dizem ao seu povo que o Papa visitará o país», referiu.
O padre Lombardi afirmou que Bento XVI «ama os santuários marianos», lembrando alguns dos que já visitou nas suas viagens, com passagens muito importantes por Aparecida e Lourdes.
Este responsável precisou que na sua missão não se insere «o anúncio das viagens do Papa». Em Fátima, o padre Lombardi limitou-se a assegurar que, no próximo ano, Bento XVI não irá à Alemanha nem ao Vietname.
Dificuldades
na comunicação
O porta-voz do Vaticano falou dos «meses mais agitados» na comunicação do Vaticano e do Papa, no início deste ano, em particular nas questões relacionadas com os lefebvrianos e na declaração sobre o preservativo, no voo para África, em Março.
Segundo o padre Lombardi, a situação melhorou após a viagem à Terra Santa e a publicação da “Caritas in veritate”, que gerou «um novo interesse». O clima mais positivo foi confirmado também nas audiências do mês de Julho, em especial a visita de Barack Obama, presidente dos EUA, classificada como um «momento muito positivo para as relações internacionais da Santa Sé».
Federico Lombardi lembrou a queda de Bento XVI, em Les Combes, durante as suas férias, assegurando que o problema no punho direito já foi superado, estando em fase de reabilitação. O Papa retomou o trabalho na segunda parte do livro sobre Jesus, «pelo que podemos esperar a publicação na próxima Primavera, no início do próximo ano».
Na agenda próxima está a viagem à República Checa, em finais deste mês, «viagem breve, mas importante ao centro da Europa, num país muito secularizado que celebra 20 anos da queda do regime comunista». Em Outubro, tem lugar «o acontecimento mais importante do ano, o II Sínodo para África», que contará com a presença do Arcebispo de Braga e presidente de Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga.
Lombardi destacou o encontro do Papa com os artistas do mundo, marcado para o próximo dia 21 de Novembro, na Capela Sistina. Por agendar está ainda uma desejada visita à Sinagoga de Roma.
Relação com a imprensa é difícil
Questionado sobre uma suposta «má imprensa» que acompanha Bento XVI, o director da sala de imprensa da Santa Sé convidou «a ver as coisas com uma perspectiva mais ampla». «Nos primeiros anos de João Paulo II sempre ouvi falar mal de um Papa polaco que não percebia nada do mundo ocidental. Após 20 anos, tudo mudou. Não é que ele tenha nascido com o apreço e o amor de todos, teve 26 anos e meio de pontificado, viajou por todo o mundo, sofreu um atentado, tornou-se uma grande autoridade para a humanidade do seu tempo», relatou.
Nestes anos de pontificado, o Papa teve «momentos de sucesso e de fortes discussões». Para o padre Lombardi, Bento XVI tem má imprensa, mas em 2008, nos EUA, teve uma imprensa «extraordinariamente boa», na Austrália foi «muito boa», tal como na «França laica e anticlerical».
Depois do “caso Williamson”, cuja excomunhão foi levantada com outros três bispos ordenados por Monsenhor Lefebvre, o ano que passou «foi esquecido em dois dias». «O Papa tem uma grande coragem, como demonstrou na viagem à Terra Santa ou com a publicação da sua terceira encíclica, num mundo em crise», assegurou o porta-voz.
Na comparação dos dois últimos Papas, o padre Lombardi disse que o «amor popular» está ligado à forma de apresentar-se. Bento XVI tem uma «grande capacidade de comunicação conceptual, até superior à de João Paulo II» e distingue-se também na «relação mais próxima», manifestando «gentileza e humildade», «uma pessoa que escuta verdadeiramente».
O director da sala de imprensa da Santa Sé, que é também director-geral da Rádio Vaticano e do Centro Televisivo Vaticano admite que «é difícil captar estas dimensões através de instrumentos comunicativos ou no diálogo com as massas, através de grandes gestos. Bento XVI não tem o mesmo carisma, tem outros, que também são carismas de comunicação».
No que diz respeito às instituições comunicativas da Santa Sé, neste pontificado, o padre Lombardi lembrou que o jornal “L’Osservatore Romano” mudou muitíssimo no último ano e meio, embora admita que «as grandes novidades são a mudança da realidade, dos próprios instrumentos de comunicações, com o desenvolvimento da rede, dos sites, dos blogues, e que são novos para todos».
O porta-voz do Vaticano admite a necessidade de «desenvolver uma capacidade, seja de presença, seja de resposta às perguntas que chegam», referindo, entre outras, a nova página do Vaticano no youtube.
Diário do Minho/Ecclesia/Lusa