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15 de outubro de 2018

Missão é partir



“Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso Eu. 
É parar de dar volta ao redor de nós mesmos, como se fôssemos o centro do mundo e da vida. 
É não se deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo a que pertencemos: a humanidade é maior. 
Missão é sempre partir, mas não devorar quilómetros. 
É sobretudo abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los. 
E, se para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então Missão é partir até aos confins do mundo.” 

D. Hélder Câmara


17 de junho de 2018

[Somos apenas agricultores]

Somos apenas agricultores
Lavramos os campos
Espalhamos a semente
Mondamos e regamos
Mas a semente nasce e cresce por si
E no fim é sempre um milagre
A espiga de pão que nos é oferecida
Assim é o Reino de Deus
Semente à terra lançada
Que em nós vai crescendo
No silêncio dos dias
E no fim será sempre trigo com fruto
Ceifado
Colhido
Triturado
Farinha de pão
Assim é o Reino de Deus

D. Manuel António Santos 

16 de abril de 2018

Oração pelas Vocações



Jesus Cristo, 
amor do Pai, 
que nos chamas, hoje, 
a escutar a voz do Espírito Santo, 
na experiência quotidiana; 
ensina-nos a discernir a própria vocação, 
fruto da graça do baptismo, 
para vivermos o dom da fé, 
imensamente amados por Deus, 
e responder com confiança ao chamamento, 
para servir a alegria do evangelho, 
como a jovem Maria, 
Tua e nossa mãe. 
Amén.

23 de janeiro de 2018

Jesus é Deus que passa, ama e chama. (3º domingo comum)


Jesus é Deus que desce ao nosso mundo,
Caminha pelas nossas estradas,
Percorre as nossas praias,
Visita as nossas casas,
Vem ter connosco aos nossos lugares de trabalho.

Jesus é Deus que passa, ama e chama.
Mas não nos chama a responder a um inquérito,
A preencher uma ficha,
Responder a uma entrevista,
Fazer uma inscrição,
Pagar a matrícula,
Aprender uma doutrina.

Não é como os escribas que Jesus ensina ou examina.
Nem sequer nos entrega um projeto de vida,
Uns apontamentos, um guião, caneta, tinta, mata-borrão.
Chama-nos apenas a segui-lo no caminho:
«Vinde atrás de Mim!»,
E partilha logo connosco a sua vida toda,
Como uma boda.

Não nos põe primeiro a fazer um teste,
Não nos ama nem chama à condição,
Não tem lista de espera,
Não nos põe num estágio,
Num estado,
Num estrado,
Numa estante,
Mas num caminho!

E um dia mais tarde,
Ouvi-lo-emos dizer ainda: «Ide!».
É sempre no caminho que nos deixa.
Nunca se desleixa,
Não apresenta queixa,
Não paga ao fim do mês,
Pede e dá tudo de uma vez.

Vem, Senhor Jesus!
Vem e ama!
Vem e chama por mim outra vez!

António Couto, in Mesa de Palavras

5 de janeiro de 2018

Onde o Sol está as estrelas não têm luz


Reis que vêm por elas,
não busquem mais as estrelas,
porque onde o sol está
as estrelas não têm luz.

Olhando suas belas luzes,
não siga mais a sua,
porque onde o sol está
as estrelas não têm luz.

Parem aqui, porque aqui está
quem dá luz aos céus:
Deus é o porto mais certo,
e se encontraram o porto
já não busque mais estrelas.

Não busque a estrela agora:
que sua luz escureceu
este Sol recém-nascido
nesta Virgem Aurora.

Não encontrará mais luz nelas,
o Menino já os ilumina,
porque onde está o sol
as estrelas não têm luz.

Ainda pretende se eclipsar,
não repare em seu pranto,
porque nunca chove tanto
como quando o sol resplandece.

Aquelas lágrimas belas
já escurecem as estrelas,
porque onde está o sol
as estrelas não têm luz. Amém.


retirado daqui

31 de dezembro de 2017

Oração para o Ano Novo [Recomeços]



«Dá-nos Senhor, a coragem dos recomeços.
Mesmo nos dias quebrados
faz-nos descobrir limiares límpidos.
Não nos deixes acomodar ao saber daquilo que foi:
dá-nos largueza de coração para abraçar aquilo que é.
Afasta-nos do repetido,
do juízo mecânico que banaliza a história,
pois a desventra de qualquer surpresa e esperança.
Torna-nos atónitos como os seres que florescem.
Torna-nos inacabados como quem precisa
e deseja e antecipa um amanhã.
Torna-nos confiantes
como os que se atrevem a olhar tudo,
e a si mesmos,
com o encanto e a disponibilidade
de uma primeira vez.»


José Tolentino de Mendonça

29 de dezembro de 2017

Oração da Família

Nós Vos bendizemos, Senhor,
que na vossa infinita misericórdia
quisestes que o vosso Filho, feito homem,
fizesse parte duma família humana,
crescendo no ambiente da intimidade doméstica
e conhecendo as suas preocupações e alegrias.
Humildemente Vos pedimos, Senhor:
guardai e protegei a nossa família
e as famílias de todo o mundo
para que, fortalecidas pela vossa graça,
gozem de prosperidade, vivam na concórdia
e, como Igreja doméstica,
sejam no mundo testemunha da vossa glória.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco, na unidade do Espírito Santo.

10 de novembro de 2017

Oração da Semana dos Seminários


Deus, nosso Pai,
que pela Vossa Palavra tudo criastes e tudo sustentais,
nós Vos damos graças
pelo dom do Vosso Filho, Jesus,
Palavra viva e reconciliadora.
N’Ele manifestais o esplendor da Vossa glória, para que, acreditando n’Ele,
vivamos segundo a Palavra que nos cria de novo.
Nós Vos bendizemos
pelo dom do ministério sacerdotal,
pelo qual associais aos primeiros discípulos,
que acreditaram em Jesus,
outros companheiros que continuam a servir à humanidade
o alimento da Palavra,
o banquete da Eucaristia
e a via da Reconciliação.
Nós Vos pedimos pelos seminaristas e seus educadores,
para que abram os corações à Palavra
e a vivam com desassombro,
dando testemunho da Vossa alegria no mundo.
Maria, mãe de Jesus e nossa mãe,
vós que conheceis as necessidades humanas
e ensinais a viver como diz o vosso Filho,
abri novos corações para a disponibilidade
de viver ao serviço da alegria.
Maria, repeti hoje aos nossos corações:
“Fazei o que Ele vos disser”.
Amen. 

14 de julho de 2017

Oração espontânea




Senhor,

quando tudo à minha volta me convida ao comodismo,
ao tédio e ao marasmo, 
à preguiça e ao conforto do mais fácil 

Dá-me a santa ousadia,
o desejado alento,
e o necessário entusiasmo 

para abraçar a missão de ser Tua transparência,
para todos, 
em qualquer lugar. 

Permite que a minha vida
se conforme só a Ti, 
e se transforme só por Ti. 

Amém. Amém.

16 de dezembro de 2016

Bênção para famílias "irregulares"



Senhor, que sondais e perscrutais 
os corações destes Vossos filhos e filhas,
Vós que conheceis e alimentais os seus sonhos,
e os amparais nos seus pesadelos:

Infundi neles a Vossa luz e sabedoria,
para iluminarem, de esperança e confiança,
as suas crises, angústias e dificuldades,
e discernirem, na verdade e na caridade,
com humildade e a ajuda da Igreja,
os caminhos possíveis de resposta a Deus 
e de crescimento, no meio dos limites.

Fortalecei-os Senhor, com a Vossa graça,
a fim de curarem, pelo perdão, as velhas feridas, 
cuidarem, todos os dias, da alegria do amor,
e assim crescerem, na caridade conjugal,
para se tornarem verdadeira igreja doméstica,
integrados na grande família, que é a Igreja.

Enviai, Senhor, sobre eles, o Vosso Espírito,
para que o seu amor cresça e se transforme, 
e eles se tornem, à Vossa imagem e semelhança,
uma só carne, um só coração, uma só alma.

Perdoai-lhes, Senhor, as suas fraquezas,
muitas das quais - Vós bem o sabeis - 
se devem à ignorância ou à inadvertência, 
ao medo ou à força de hábitos contraídos,
à imaturidade afetiva, à dureza do coração 
à violência ou a um estado de profunda angústia.

Derramai, Senhor, sobre eles a Vossa bênção,
para que possam caminhar, sem se cansar,
e alcançar, com a Vossa graça, o bem possível,
guiados pela Igreja, Mãe de coração aberto.
Ela os saiba acolher e acompanhar, 
discernir e integrar no seu seio,
para os guiar no sonho de uma família,
onde resplandeça o Vosso amor divino.

Nós Vo-lo pedimos, por Maria e José, 
que acolheram, com surpresa e confiança, 
com generosidade e amor, 
a vida e a vinda do Vosso Filho, 
que é “Deus connosco” e Deus convosco, 
na unidade do Espírito Santo. 
Ámen.


Oração de bênção para os casais e famílias ditas 'irregulares', composta pelo P. Amaro Gonçalo Lopes, inspirando-se na Exortação Amoris Laetitia, do Papa Francisco, sobre a alegria do amor em família.

17 de julho de 2015

O primeiro jubileu ... de madeira! Cinco anos de padre.


Biblicamente, vem de longe a festa do jubileu (Levítico, 25). Trata-se de um verdadeiro encontrar/achar de alegria, de júbilo, vivido como tempo de graça, tempo santo, também com fortes implicações sociais (perdão das dívidas, libertação dos escravos)…

A celebração do jubileu (yovel) era anunciada com o toque festivo com o chifre do carneiro. (Tudo a ver comigo, portanto!)

Celebro hoje cinco anos da minha ordenação sacerdotal. Um jubileu de madeira, segundo vi (http://www.iprb.org.br/Lerever/bodas_jubileus.htm).
A 18 de Julho de 2010, na cripta do Sameiro, era ordenado presbítero para o serviço do povo de Deus, depois de um ano de estágio em Águeda e arredores.
Dia feliz. Melhor, o dia mais feliz! E o diz que fez e faz com que todos os meus dias sejam mais felizes. Apesar de tudo, evidentemente…

Depois de Águeda, onde estive um ano como presbítero, fui enviado (alguns dirão que “desertei”) para a paróquia de Nossa Senhora da Glória, em Aveiro, onde ainda permaneço e estarei por mais um ano…

Dou a graças a Deus pela vida e pelo caminho. Pelas vitórias e pelas derrotas, pelas conquistas e pelos fracassos… De tudo se faz a vida!
Dou graças a Deus pela família, pelos amigos e até pelos inimigos… De tudo se faz a vida!
Dou graças a Deus pelos sonhos, pela saúde e pela doença… De tudo se faz a vida!
Dou graças a Deus pelos sorrisos e pelas lágrimas, pelo entusiasmo e pelo cansaço... De tudo se faz a vida!
Dou graças por cinco anos de “luta” e de (bom) “combate” para ser transparência de Deus para todos!

São cinco anos … jubileu de madeira! 
Que o Cajado do Bom Pastor (cf. Marcos 6,8) continue a ser o meu sustento, o meu refúgio. Que o Senhor continue a sussurrar-me: “basta-te a minha graça (cf. 2Coríntios 12,9). Basta-te o meu cajado”. 
E eu continue a dizer: "Como agradecerei ao Senhor tudo quanto Ele me deu" (Salmo 115).




Deixo aqui a entrevista que concedi ao Correio do Vouga poucos dias antes da minha ordenação.


"Quero ser padre para Deus e para quem mais precisar"
.
José António Carneiro, 29 anos, vai ser ordenado padre no próximo domingo, na Basílica do Sameiro, em Braga, pelas 15h30. Está na Diocese de Aveiro desde Outubro de 2009 e continuará pelo menos no próximo ano pastoral. Natural de S. Torcato, Guimarães, assume-se “amante e sócio” do Vitória de Guimarães, mas afirma que há um “clube” mais importante, do qual qualquer pessoa pode fazer parte sem se “preocupar com quotas”: a Igreja de Cristo.



Entrevista realizada por correio electrónico por Jorge Pires Ferreira CORREIO DO VOUGA - O diácono José António está na Diocese de Aveiro há menos de um ano. Pode apresentar-se?
JOSÉ ANTÓNIO CARNEIRO - Chamo-me José António Ribeiro de Lima Carneiro, nasci há 29 anos, cumpridos a 16 de Janeiro. Sou natural da vila de S. Torcato, uma localidade do arciprestado de Guimarães/Vizela, da Arquidiocese de Braga. Sou o segundo de cinco irmãos, oriundo de uma família católica, empenhada em movimentos de apostolado e na vida da comunidade paroquial. Apesar disso, não há qualquer tradição de sacerdotes, religiosos ou consagrados na minha família, pelo menos que eu saiba…

Está na diocese de Aveiro desde o dia 28 de Outubro de 2009. Antes disso, que trabalhos desempenhou?
Cheguei cá como diácono, ordenado em 2006, tendo trabalhado pastoralmente em três comunidades paroquiais de Vila Nova de Famalicão e, depois disso, tendo estado dois anos como jornalista (ou a fazer de jornalista, como digo a brincar!) no jornal “Diário do Minho”, pertencente à Arquidiocese de Braga, ao mesmo tempo que colaborava numa instituição social de apoio a rapazes oriundos de famílias disfuncionais, chamada Oficina de S. José, e também em duas paróquias do arciprestado de Braga, Sé Primaz e S. João de Souto.

Como veio parar à Diocese de Aveiro?
Terminados estes dois anos, e consolidada a minha decisão de me entregar a Cristo e à Igreja como sacerdote, abriu-se a possibilidade de fazer uma experiência pastoral noutra diocese, concretamente na de Aveiro. Foram variadas as razões que levaram à minha vinda para Aveiro: a Arquidiocese de Braga, na pessoa do Arcebispo e também dos responsáveis do Seminário, viram com bons olhos a ideia; também a diocese de Aveiro, na pessoa do seu Bispo, D. António Francisco, que, como se sabe, foi bispo auxiliar de Braga - e deixou saudade - aceitou a minha vinda; e, por fim, claro está, eu mesmo quis vir. Claro que é do conhecimento geral a boa relação de permuta e partilha existente entre estas duas dioceses a este nível. Só para recordar, outras pessoas de Braga estão ou estiveram em Aveiro (actualmente o P.e Costa Leite; no passado o P.e Fonte, entre outros…).

É um minhoto aberto à beira-mar, à Bairrada, à serra?
O mais importante é que sinta que a Igreja não tem fronteiras, a nenhum nível, e também neste. Somos ordenados para Cristo, para a Igreja Universal, com expressão na Igreja Particular (diocese), claro está, mas com a abertura de coração para viver a missão onde for mais necessário. Estou incardinado na Arquidiocese de Braga, mas isso não impede, ou não pode impedir, esta abertura de coração para anunciar Cristo e o seu Evangelho onde for preciso. É com essa vontade que estou em Aveiro, mais concretamente na Unidade Pastoral Águeda, nestas nove paróquias que a compõem. Durante o próximo ano, segundo “acordo” com a Arquidiocese de Braga e a Diocese de Aveiro, e com a minha vontade, continuo por terras aveirenses. No final do ano, reunimo-nos, avaliamos, pensamos e decidimos o futuro.

Como é o seu trabalho na Unidade Pastoral de Águeda?
É um trabalho normal: celebrações da Palavra, sacramentos, catequeses, cartórios, pastoral juvenil e vocacional, um pouco de tudo neste caminhar contínuo com o Povo de Deus que nos é confiado. Trabalhar em equipa, para além de enriquecedor, é frutuoso. Dou graças por sempre ter estado em equipas sacerdotais. A minha estadia em Aveiro tem sido extremamente positiva porque me tem permitido conhecer outras formas de trabalho pastoral, outras pessoas, outras formas de ser Igreja. Daí que o balanço é, até ao momento, muito positivo, e espero que continue a ser no próximo ano.

Como foi o seu despertar para a vocação de padre?
O meu despertar vocacional aconteceu pelos 12 anos, quando me preparava para a Profissão de Fé e fui desafiado pela catequista para acolitar à missa. A partir daí o testemunho e o exemplo do meu pároco sempre me inquietou e fez-me colocar a tradicional questão do ser padre. Mas depressa passou com o tempo, para explodir, mais tarde, já com 17 anos, e com a ajuda já de outro pároco. Terminado o 9.º ano, feita a experiência de trabalho operário, entrei no Seminário de Nossa Senhora da Conceição, em Braga, para o 10.º ano, e aí estive até ao 12.º. Depois do Secundário, entrei no Seminário Conciliar de S. Pedro e S. Paulo, e aí fiz toda a minha formação teológica e pastoral em ordem ao sacerdócio, quer na Faculdade de Teologia quer no próprio Seminário. A família sempre me apoiou e continua. Não esqueço os sacrifícios e as dificuldades dos meus pais e irmãos ao longo destes anos.

Trabalhou no “Diário do Minho”. Isso marcou-o?
Foi uma experiência que me proporcionou um contacto mais directo com a imprensa escrita e com a comunicação social em geral, âmbito e dimensão fundamental para a vida da Igreja e para a sua missão pastoral no mundo actual, que vive em constante vertigem. Já ninguém duvida da importância dos “media”, e a Igreja não lhes pode, de forma alguma, passar ao lado. Mas também apreciei o meu trabalho na Oficina de S. José. Lá encontrei rapazes que, apesar de todo um saldo negativo ao nível dos afectos e da família, me ensinaram que a vida vale sempre a pena, que há sempre luz e esperança, horizonte e meta.

Vai ser ordenado padre num momento difícil da Igreja, não só pelos escândalos recentes, mas também pela constante mudança, pela perda de sentido de Deus na sociedade...
Reconheço o tempo difícil que a Igreja vive. Não o olho com fatalismo, mas com esperança. É o exemplo de Jeremias que consegue ver o ramo de amendoeira a florir, quando tudo à volta é lama, lodo, destruição e invernia. A crise é oportunidade para pensarmos melhor, para discernirmos os melhores caminhos. Apesar de estarmos num tempo em que muita gente coloca Deus de lado porque se sente auto-suficiente e endeusada, olho-o com optimismo e como desafio. Criticada a Igreja sempre será. É a sua sina. Porque Deus, na pessoa do Filho, foi e é criticado. Não é isso que me assusta. Se algo me assusta é o comodismo das pessoas, clérigos e leigos, particularmente. Recordo as palavras do Papa a caminho de Portugal: “Os inimigos estão no interior”. É isto que temos de pensar, é isto que temos de combater. A Igreja é sempre derrotada aos olhos do mundo. Mas Deus continua a confiar e a apostar nela. Se assim não for, não faz sentido. A Igreja, aliás, nasce da derrota, do escândalo da cruz. Aos olhos do mundo, como é que a cruz pode ser vitória? Só aos olhos de Deus e da fé, podemos olhar a cruz como sinal de salvação, porque o Crucificado é o Ressuscitado. Aí está a nossa esperança, é aí que somos (estamos) salvos.

Como vê o ministério do padre? É importante o sacerdócio ministerial?
A missão do padre passa por deixar ver em si mesmo Deus. O padre deve ser transparência de Deus. As pessoas devem ver Deus através do padre. Naquilo que ele é: pessoa, humano, imperfeito, limitado, frágil, vaso de barro, mas entregue, dado, oferecido a Deus, todo inteiro. O ministério sacerdotal não é importante em si mesmo. É-o na medida em que Deus é importante. Deus é que é importante e fundamental. Se assim não for invertemos as prioridades: e a prioridade é Cristo e o seu Evangelho, enquanto o sacerdócio (baptismal ou ministerial) é instrumento para que Deus seja e esteja no mundo, nas pessoas. Não quero ser padre “porquê”. Quero ser padre “para quê” e “para quem”. Quero ser padre, em primeiro, para Deus e, depois, para quem mais precisar.

Tem algum lema ou frase inspiradora?
Escolhi, com os colegas que serão ordenados comigo, como lema da ordenação uma frase inspirada em S. Paulo: “Tudo faço por causa do Evangelho”. Para a Missa Nova escolhi a frase dos Actos dos Apóstolos: “Recebereis a força do Espírito Santo e sereis minhas testemunhas até aos confins do mundo”.
Uma e outra têm como pano de fundo uma das minhas citações preferidas de Santa Teresinha do Menino Jesus: “Queria percorrer a terra, pregar Teu nome, implantar no solo infiel a Tua cruz gloriosa, mas, ó meu Bem Amado, uma missão só não me bastaria. Quereria, ao mesmo tempo, anunciar o Evangelho nas cinco partes do mundo, e até nas ilhas mais longínquas. Quereria ser missionário, não apenas durante alguns anos, mas quereria tê-lo sido desde a Criação do mundo até à consumação dos séculos”.

Para terminar, fale-nos dos seus gostos pessoais.
São muitos os meus gostos pessoais. Gosto de ler e escrever. Leio de tudo um pouco: desde o jornal à revista, ao livro de teologia ou ao romance. Ou poesia, que é um dos meus amores. Gosto de ler simultaneamente vários livros e procuro retirar deles aroma e seiva para a minha vida. Também gosto de escrever. Poesia em particular. Procuro partilhar o que escrevo, não pela qualidade que veja nisso, mas porque o que eu acho que não tem valor nenhum pode ajudar outras pessoas, uma vez que gosto de escrever sobre as minhas situações e circunstâncias de vida e a forma como eu as encaro e procuro superar. Aproveito este meu gosto ao nível dos blogues e das redes sociais. Escrevo frequentemente no meu blogue pessoal (www.caritasdei.blogspot.com). Dos meus rabiscos poéticos, fizeram uma pequena publicação que serviu para assinalar os onze anos da elevação da minha terra natal a vila. O opúsculo chama-se “Meu Deus”. Está esgotado. Primeiro, porque se produziram poucos, segundo, porque ofereci muitos, mas, principalmente, porque não houve procura que justificasse nova edição… Também gosto de música. De ouvir, particularmente portuguesa, de todos os estilos e tempos, mas também de me aventurar, na viola ou no piano, a compor, rudimentarmente, algumas coisas. A estas chamo-lhes os meus devaneios… Gosto, por efeito (ou defeito!) de formação, de música clássica, claro está! Gosto de desporto. De todo. De ver e de jogar. Aprecio mais o desporto-rei. E porque sou natural da cidade-berço de Portugal não é preciso dizer qual é o meu clube… Amante e sócio! Mas há uma outra equipa, clube, ou associação, o que se quiser dizer, que é de quem quiser fazer parte e não se quer preocupar com quotas: a Igreja de Cristo. Nesta milito todos os dias.



Clipping da minha ordenação


3 de julho de 2015

Laudato Si'. Duas orações do Papa Francisco



Oração pela nossa terra

Deus Omnipotente,
que estais presente em todo o universo
e na mais pequenina das vossas criaturas,
Vós que envolveis com a vossa ternura
tudo o que existe,
derramai em nós a força do vosso amor
para cuidarmos da vida e da beleza.
Inundai-nos de paz,
para que vivamos como irmãos e irmãs
sem prejudicar ninguém.
Ó Deus dos pobres,
ajudai-nos a resgatar
os abandonados e esquecidos desta terra
que valem tanto aos vossos olhos.
Curai a nossa vida,
para que protejamos o mundo
e não o depredemos,
para que semeemos beleza
e não poluição nem destruição.
Tocai os corações
daqueles que buscam apenas benefícios
à custa dos pobres e da terra.
Ensinai-nos a descobrir o valor de cada coisa,
a contemplar com encanto,
a reconhecer que estamos profundamente unidos
com todas as criaturas
no nosso caminho para a vossa luz infinita.
Obrigado porque estais connosco todos os dias.
Sustentai-nos, por favor, na nossa luta
pela justiça, o amor e a paz.



Oração cristã com a criação

Nós Vos louvamos, Pai,
com todas as vossas criaturas,
que saíram da vossa mão poderosa.
São vossas e estão repletas da vossa presença
e da vossa ternura.
Louvado sejais!

Filho de Deus, Jesus,
por Vós foram criadas todas as coisas.
Fostes formado no seio materno de Maria,
fizestes-Vos parte desta terra,
e contemplastes este mundo
com olhos humanos.
Hoje estais vivo em cada criatura
com a vossa glória de ressuscitado.
Louvado sejais!

Espírito Santo, que, com a vossa luz,
guiais este mundo para o amor do Pai
e acompanhais o gemido da criação,
Vós viveis também nos nossos corações
a fim de nos impelir para o bem.
Louvado sejais!

Senhor Deus, Uno e Trino,
comunidade estupenda de amor infinito,
ensinai-nos a contemplar-Vos
na beleza do universo,
onde tudo nos fala de Vós.
Despertai o nosso louvor e a nossa gratidão
por cada ser que criastes.
Dai-nos a graça de nos sentirmos
intimamente unidos
a tudo o que existe.
Deus de amor,
mostrai-nos o nosso lugar neste mundo
como instrumentos do vosso carinho
por todos os seres desta terra,
porque nem um deles sequer
é esquecido por Vós.
Iluminai os donos do poder e do dinheiro
para que não caiam no pecado da indiferença,
amem o bem comum, promovam os fracos,
e cuidem deste mundo que habitamos.
Os pobres e a terra estão bradando:
Senhor, tomai-nos
sob o vosso poder e a vossa luz,
para proteger cada vida,
para preparar um futuro melhor,
para que venha o vosso Reino
de justiça, paz, amor e beleza.
Louvado sejais!
Amen.

16 de janeiro de 2015

Mais um ano consumado! Deo gratias!

A minha alma rejubila no Senhor 
porque me dá a graça de celebrar 34 anos!
Deus seja louvado!



Percorro na noite calada
buscando memórias vividas
encontro na história passada
páginas suadas, sentidas.

Vagueio, pensante, sozinho
oiço o silêncio a falar
qual brisa, qual burburinho,
do vento nocturno a soprar.

E eis que na hora batida
- aquela que traz novo dia - 
percorro o sonho pensado...

E olho a existência vivida
e sinto em mim a alegria
de mais um dia [ano] consumado.



Última foto dos 33!



A 1ª foto dos 34, à chegada à sacristia, para Eucaristia matinal!

15 de outubro de 2014

Nada te perturbe (Santa Teresa de Ávila)



Nada te perturbe, 
Nada te espante,
Tudo passa, 
Deus não muda,
A paciência tudo alcança;
Quem a Deus tem, 
Nada lhe falta:
Só Deus basta.

Eleva o pensamento, 
Ao céu sobe,
Por nada te angusties, 
Nada te perturbe.
A Jesus Cristo segue, 
Com grande entrega,
E, venha o que vier, 
Nada te espante.
Vês a glória do mundo? 
É glória vã;
Nada tem de estável, 
Tudo passa.

Deseje às coisas celestes, 
Que sempre duram;
Fiel e rico em promessas, 
Deus não muda.
Ama-o como merece, 
Bondade Imensa;
Quem a Deus tem, 
Mesmo que passe por momentos difíceis;
Sendo Deus o seu tesouro, 
Nada lhe falta.
SÓ DEUS BASTA!

23 de setembro de 2012

Diário da Missão. Coração agradecido que reza a Deus




Diário da Missão Jubilar 3

Porque hoje é domingo, neste caminho rumo ao início da Missão Jubilar, convido os corações agradecidos a rezar:
Senhor, nosso Deus,
nós Te confiamos a Igreja de Aveiro
e a nossa Missão Jubilar.

De Ti, Senhor, recebemos o convite
e partimos para anunciar
o evangelho das bem-aventuranças
e ser Teu rosto vivo junto de cada pessoa.

Que a Missão Jubilar seja
momento de renovação para a Igreja,
aurora de alento para o Mundo
e certeza de Páscoa perene para a Humanidade.

A Maria, nossa Mãe,
pedimos a força da fé e a alegria da confiança
para amar a Deus e servir os nossos irmãos.

Que Santa Joana, nossa Padroeira,
nos proteja e ajude
a «viver esta hora» de Missão Jubilar.

Amen.

(D. António Francisco, bispo de Aveiro)


Pe. JAC

6 de abril de 2012

Sexta-Feira Santa: Silêncio!

Silêncio! 
Jesus morreu!
Calem-se todas as vozes,
Calem-se todos os gritos!

A Palavra das palavras, que é Jesus falou.
Diante da Palavra feita vida,
Diante da Vida feita entrega e doação 
Também eu me calo.
Apenas contemplo. 
Busco a luz de Deus, pela Escritura,
Para olhar o sucedido.

O Filho de Deus feito homem,
Pregado no madeiro,
Por amor até ao fim.

Calo-me para que fale a contemplação.
Calo-me para que fale o silêncio,
Feito oração, feito súplica. 
Calo-me porque faltam as palavras.
Calo-me olhando para a Cruz:
"Eis o homem!"
Eis o nosso Rei.

Ei-lo no algo da Cruz,
Abraçando de uma vez toda a humanidade.

A Tua imagem, Senhor Jesus, morto na Cruz
Por amor a mim
Abarca-me e abraça-me por inteiro.

Agora espero e confio!
Sei que triunfarás
Porque o amor é forte,
Mais forte que a própria morte.

"Tudo está consumado!"
A salvação está operada na Cruz.
Dela, somos todos recebedores.

No escândalo e na loucura da Cruz
Se espelha, por inteiro, a glória de Deus
Sem poder, só podendo amar.

Terminaste a obra, Jesus.
Na manhã do terceiro dia, o Pai fará o resto
E cumprirá a promessa.

Senhor Jesus, já expiraste!
Nós suspiramos pela ressurreição.

Seja como Deus quer!

5 de abril de 2012

Quinta-Feira Santa: Na tua mesa!

Convidados por Ti, Senhor,
Estamos sentados à tua mesa,
Somos teus discípulos;
Cada um na sua individualidade
Porém, todos importantes para Ti.

Tu, Jesus, conheces todos,
Sabes quem Te seguirá e quem Te renunciará e negará,
Quem Te vai vender e quem se vai esquecer depressa...

Não, não permitas, Senhor...

Não permitas que desfrutemos da tua amizade
Para, logo depois, a pormos de lado...
Não permitas que Te abandonemos,
Que Te esqueçamos ou ignoremos...

Precisamos de Ti!

A nossa vida sem Ti fica ressequida,
Insatisfeita e vazia.

E não Te afastes de nós, por amor,
fica para sempre, assim bem perto,
Sentados na mesma mesa,
Juntos, conviviais e comensais,
Fundidos num único Amor!

Adaptado de Juan Jáuregu

[A propósito da solenidade de Cristo Rei]

  “Talvez eu não me tenha explicado bem. Ou não entendestes.” Não penseis no futuro. No último dia já estará tudo decidido. Tudo se joga nes...