("Acerca do futuro 1984" 58/365, TwistedPrincess ' photostream)
Eu já havia escrito várias vezes sobre a relação quase doentia que acredito que nós brasileiros temos com a televisão, sobretudo em dois posts da série "Na Suécia também não tem... ". O primeiro deles sobre TV em consultório e hospital" e o segundo sobre câmeras no elevador". Por essa razão não imaginei que esse seria tema dos meus muitos estranhamentos na volta ao meu país.
Tenho pensado em escrever sobre o tema há vários dias, mas hoje vendo a constatação do Leo (morador de minha antiga cidade, Malmö), sobre o que ele ainda acha impressionante de ver na Suécia, eu quis muito falar a respeito desse meu estranhamento e adiantei o que deveria ser o número três na sequência dos posts.
Logo na primeira semana de retorno ao Brasil, com virose e dores abdominais, fui parar num hospital lá pelas cinco da matina. Para ser simpática (e porque um hospital particular tem desses luxos "necessários" à recuperação de um doente, a recepcionista nos mostrou onde sentar e esperar o médico e ligou o aparelho televisivo, meio colado ao teto. Ela e uma amiga pararam em frente para ouvir a notícia,dada em alto volume: um homem havia matado o filho da ex-amante, um menininho de uns dois ou três anos, e atirado nas vizinhas dela, porque não se conformava com a separação.
Tendo ouvido, voltaram-se para o trabalho e continuaram suas vidas. Nada havia mudado. Nem lá, nem cá. Explorar a violência parece dar até ibope, mas não transforma a realidade, apesar das emissoras e de muitos de nós afirmarmos o contrário.
Depois disso, frequentei algumas padarias deliciosas do meu bairro. A que mais gosto comprou dois televisores a mais desde o último verão. Ambas gigantes, tecnologia LCD, e as colocou assim, no meio das mesas, para que os clientes possam almoçar e ir se informando sobre tudo que acontece. A padoca caiu no meu conceito, mas não no de muitos que por ali passam.
E então eu via o pessoal, classe média, no horário do seu almoço, devorando a comida, com olhos arregalados no televisor. Se sozinho, a tevê era companhia. Se acompanhado, todos podiam partilhar da mesma notícia e soltar alguns comentários senso-comum, superficiais sobre o assunto e passar à sobremesa.
O detalhe ficava por conta do canal escolhido: outro de notícias bizarras e exploração da violência. Esse estilo mais nojento Datena de ser da vida. Ou é isso ou então algum programa onde pessoas estão trancadas, quase peladas e se esfregando num local fechado... Ou o contrário total para dizer que todos estão perdidos, menos você que está conectado naquele outro programa religioso ou naquele futebolzinho que distrai dos problemas diários.
E assim tem sido: no salão fazendo manicure e pedicure eu posso ver umas duas grandes tevês ligadas. E também na concessionária de carros, no açougue, no restaurante do shopping, no barzinho descolado da vila, na casa de todos por onde passo.
Ligada em volume bem alto ela está lá. Colorida e poderosa. Ditadora. E ela não perde para nada e ninguém, porque outro mundo, outra vida que não passe por ela com certeza nem mesmo existe. Existe? Não... só se por acaso se tratasse de gente biruta, desconectada e desantenada do mundo... gente que com certeza não entende o importantíssimo papel que nossa Deusa tem.
Ou então ETs de um país gelado, sem graça e distante... onde o povo ao invés de preferir imagens prefere as letras... no trem, no ônibus, na sala de espera do médico, no restaurante, em casa...
Gente estranha, com gostos e hábitos esquisitos...
Comentários
Beijo
Aqui a matéria do Parque da Água Branca, um pecado esse governo estadual - e parece que SP terá mais 4 anos de PSDB, infelizmente. Lembrando que o parque foi tomabado pelo Condephaat... Muito triste...
http://colunistas.ig.com.br/ricardokotscho/2010/07/26/parque-da-agua-branca-ameacado-depois-dos-bichos-as-arvores/
beijaço!
Mas é verdade!
Estamos sob a dominação da Deusa e de mídias manipuladoras e o povo parece que gosta, mas está mesmo é anestesiado, adora ver sangue, notícia dantesca, mães chorando o filho perdido, como a audiência que vem lotando a peça da atriz Cissa Guimarães no RJ, talvez para ver se ela está sorrindo ainda ou vai chorar a qualquer momento.
O povo gosta disso, infelizmente.
No meu bairro, toda e qualquer birosca, barzinho fashion, padaria, supermercado, consultórios médicos e até nas barcas tem Tv de plasma, grandes e que faz o povo ficar olhando com aquele olhar bovino.
Que tal formar um Clube de Leitura?
Tenho um que frequento de 15 em 15 dias com 5 amigas e é uma delícia, faz com que eu tenha sempre um livro em minha bolsa para as esperas nestes consultórios chatinhos.
E, Sonildes querida, vi também este crescimento de Tvs ligadas em estabelecimentos públicos em Portugal, influência nossa, talvez, para enfiarem goela abaixo dos portugas as novelinhas brasucas.
Um nojo isso tudo! blergh
beijos cariocas
Gosto de escrever como me vem na cabeça e enviar.
Desculpa aê!
bjs
Não me isento de culpa, porque sendo brasuca, também tenho esta ligação com a Deusa, mas juro que me policio para ter um olhar mais crítico e principalmente para cultivar o gosto pela leitura.
Li este seu post para meu marido (que acho que tem alma sueca neste quesito tv) e ele adorou!
Beijos!
cheguei agora de um exame de curva glicemica, o coisa horrivel! porque to refazendo exames que havia feito na suecia...
entao, na saleta minuscula horrorosa do laboratorio particular tinha eu e mais 5 pessoas, sentadas todas colocadas direcionadamente para uma televisao pequenininha, mas barulhenta que so! o som tava taoooo alto que parecia que eu tinha ido para festejar algo nao para fazer exame, de jejum e ainda ficar 3 horas ali trancada sem poder sair...
entao eu dei so uns exemplinhos, mas tem tv para tudo quanto e lado messsssmo... e para mim tem sido quase sufocante!
minha reacao foi pedir: pelo amor de deus abaixem o som dessa televisao....
Saudades, muita saudades de você!!!! Fui viajar e vi que perdi muita coisa.
Volto para te ler com calma.
Abraço bem apertado em todos vocês!
Mas não, não vou me render a essa deusa brasileira, continuo com o meu livro pocket embaixo do braco onde quer que eu vá!!! rsrs Depois que se aprende o que é bom, não se troca mais assim facinho, não...
Olha, depois que se vive noe xterior, a adaptacao demora e muito...
Também acho um exagero TV ligada em todo lugar que se vai. Meu açougue perto de casa tinha uma!
Depois que o rapaz se casou, acho que a mulher dele levou-a pra casa, ou pra que raio de lugar for, mas ela sumiu do açougue.
Não entendo coisas desse nosso país, onde há tanta pobreza, tanto contraste, uma ostentação inesgotável.
Tenho amiga que tem TV em todos os cõmodos da casa, menos nos banheiros e na cozinha. No resto, em tudo: cada quarto, sala de estar, sala de visita, sala de refeições.
Ficam ligads, ela precisa ouvir o som, enquanto trabalha pela casa...
O brasileiro gosta muito de TV por falta de $$$ e falta de programas culturais, divertimento fora de casa, etc.
Gosto muito,mas quando viajei por 17 dias, mesmos nos quartos de hotéis não ligávamos a TV. Acho que o hábito já se instalou tanto, que assistimos sem sentir.
Marina, Ângelo, marido, você, mamis, irmãos, sobrinhos, tudo na paz?
beijos!
Como estás?
Será que nossa garotinha Marina já está no planetinha?
Morrendo de saudades e curiosidade, apareça, please!
beijos mil