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Notas de História e estórias de Portugal = Notes about History and stories from Portugal
A Companhia de Pescarias Lisbonense (1835 - 1857)
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Almadrava: a epopeia da pesca do atum
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Outro aspecto do copejo. São necessários dois homens para colocarem dentro da embarcação um atum. (Fonte: GALVÃO, António Miguel - op. cit., p. 121)
À medida que a receita do arrendamento das almadravas aumentava, a autoridade real preocupava-se mais com a sua fiscalização. Para melhor administrar os direitos reais foi criado o cargo de Feitor das Almadravas em 1498. Os 60% de direitos reais contribuíam com importâncias cada vez maiores para o tesouro da coroa. Os tempos áureos da pesca atuneira perduram sensivelmente até 1619, com rendimentos anuais na ordem dos 10.500.000 a 20.000.000 reis.
Todavia os valores decrescem drasticamente. Nos três anos seguintes as receitas reais cifram-se em apenas 8.120 000 reis e daí em diante até 1721 a média dos rendimentos andará na ordem dos 800 reis, só havendo notícias de alguma recuperação em 1739. O Marquês de Pombal pretendendo revitalizar o sector, funda a Companhia Geral das Reaes Pescarias do Reino do Algarve (CGRPRA) em 1773. Para retirar a pesca do atum da crise foram revistos os tradicionais processos de exploração da actividade, de modo a satisfazer todas as partes envolvidas no trato; rei e armadores. Procedeu-se a uma “revolução” na gestão do negócio pela mão do Marquês de Pombal. Os direitos reais sobre o pescado diminuiu para 20% e o preço do sal das marinhas de Castro Marim e Tavira desceu para 900 réis o moio. A CGRPRA tinha por concessão real a pesca e o comércio em regime de exclusividade de todo o atum na costa do Algarve, sempre renovada até 1836, ano da extinção da empresa.
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Bibliografia:
ANDRADE, Vicente Joaquim de - Memória sobre as Pescarias Reaes do Reino do Algarve, Lisboa: Imprensa Régia, 1813.
ARIENZO, Valdo d’ – No extremo ocidental: privilégios, empreendimentos e investimentos sicilianos no Algarve in Ler História, n.º 44 (2003).
BRANDÃO, Raul- Os pescadores, s.l.: publicações Europa- América, s.d.
CABREIRA, Thomaz - O Algarve económico, Lisboa: s.n., 1918.
COSTA, Fausto- A pesca do atum nas armações da costa algarvia, Lisboa: Bizâncio, 2000.
GALVÃO, António Miguel - Um século de História da Companhia de Pescarias do Algarve: elementos para o estudo da pesca do atum no Algarve e da sua evolução histórico-jurídica, Faro: Edição de Companhia de Pescarias do Algarve, 1948.
MAGALHÃES, Joaquim Romero - Para o estudo do Algarve económico durante o século XVI, Lisboa: Edições Cosmos, 1970.
Idem - O Algarve económico 1600-1773, Lisboa: Editorial Estampa, 1993.
SANTOS, Luís Filipe Rosa - A pesca do atum no Algarve, Loulé: s.n., 1989.
S. JOSÉ, João de, Fr. - Corografia do Reino do Algarve in Duas descrições do Algarve do século XVI, apresentação, notas e glossário de Manuel Viegas e Joaquim Romero Magalhães, Lisboa: Sá da Costa, 1983.
SILVA, Baldaque da - A pesca do atum in Revista Portugueza Colonial e Marítima, A. 1, (2º Semestre, 1897/98).
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PS: Este post é uma modesta homenagem ao meu bisavô, João Prudênco de Jesus (1868 - 1954), na foto, ao meu tio-avô Francisco Prudêncio, ao meu avô António Prudêncio (1907 - 1988) e aos meus tios António Prudêncio e Casimiro Branco, todos eles antigos pescadores nas almadravas.
A pesca do coral em Portugal
Pescadores coraleiros em plena actividade. Os submersos manipulam os instrumentos de extração do coral (coraleiras), enquanto os que estão à superfície puxam as coraleiras com os cestos carregados de coral. Gravura do século XIX. (Fonte: Drassana: revista del Museu Maritim, n.º 2 (1994). Barcelona: Consorci de les Drassanes de Barcelona, p. 22
.Pormenor de uma arte coraleira segundo o Diccionário Histórico de las Artes de la Pesca Nacional (1791-1795), de A. Sáñrz Reguart. Fonte: Drassana: revista del Museu Maritim, n.º 2 (1994). Barcelona: Consorci de les Drassanes de Barcelona, p. 18
Bibliografia:
LOBO, Constantino Botelho de Lacerda (1991 [2.ª ed.]) - Memória sobre a decadência das pescarias de Portugal in Memórias Económicas da Academia Real das Ciências de Lisboa (1789-1815). Lisboa: Banco de Portugal, tomo IV
A pesca em Portugal no final do século XVIII
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Lancha de pesca do alto. Imagem dos finais do século XVIII inserida no 4.º vol. da obra Algemeines Worterbuch der Marine de Jhoam Hinrich Roding, publicada por Nabais. (Fonte: NABAIS, António J. - Barcos, 2.ª ed., Seixal: Câmara Municipal do Seixal, 1984, p. 69)
A decadência das pescas: as causas
Segundo Constantino B. L. Lobo, as causas da crise da pesca eram as seguintes:
1 - A ausência de capital para um desempenho positivo da pesca, «porque qualquer pescador, que houver de ser ocupado nela na maior parte dos lugares da nossa costa, deverá de ter ao menos seis redes de pescada, e outras tantas mugigangas, ou redes sardinheiras, três mengoeiras, oito rascas, um espinhel, um barco, e quantidade de casca de salgueiro que for precisa para tingir as redes. As despesas de todos estes aparelhos são incompatíveis com a grande pobreza, em que vivem nossos pescadores» (Ibidem, pp. 271, 272).
2 - Desiquílibrio na distribuição do lucro. Estando a maioria dos pescadores descapitalizados para investirem na aquisição de embarcações e aparelhos de pesca próprios, grande parte exerciam a actividade sob arrendamento desses equipamentos, situação que deixava ao pescador reduzida margem de lucro, porque uma parte substancial do pescado destinava-se ao pagamento da renda de utilização da embarcação e/ou redes. Sobre o reduzido lucro incidiam os direitos fiscais, agravando ainda mais as condições de rendimento do pescador. «Por isso muitos pescadores andam mendigando de porta em porta no tempo de Inverno, quando não podem ir ao mar» (Ibidem, p. 272).
3 - A falta de formação especializada para um exacto conhecimento hidrográfico do fundo marinho, dos locais mais propícios à pesca, das espécies e seus movimentos migratórios, era outro dos factores concorrentes para a ruína das pescas. Na opinião de Constantino B. L. Lobo os filhos dos pescadores reuniam os requisitos para aprenderem todos os segredos da profissão. Contudo, estes preferiam emigrar ou aprender algum oficio mecânico (Ibidem, pp. 273, 274). 4 - O abuso das prerrogativas dos rendeiros dos direitos, das autoridades municipais, eclesiásticas, militares e de pessoas poderosas sobre as comunidades piscatórias. Recolha indevida de direitos, proibições de pescar durante os dias santos e domingos, recrutamento compulsivo para o exército e interdições de vária ordem, constituíam abusos e violências praticados contra os pescadores desde há muito, incentivando a emigração dos pescadores para Espanha e o Brasil (Ibidem, pp. 275 - 282).
4 - Problemas técnicos, nomeadamente a malha demasiado pequena das redes que contribuia para a captura de peixe demasiado pequeno para a salga e posterior comercialização, e a acção dos caneiros nos rios que provocava a excassez de peixe (Ibidem, pp. 283, 284).
5 - O assoreamento das barras, prejudicial à navegação das embarcações de pesca de maior tonelagem (Ibidem, pp. 287, 288).
6 - A falta de tanques de água doce junto da linha de costa para lavagem das redes (Ibidem, p. 288).
Bibliografia:
LOBO (a), Constantino Botelho de Lacerda (1991) - Memória sobre a decadência das pescarias de Portugal, in Memórias Económicas da Academia das Ciências de Lisboa, 2.º ed., Lisboa: Banco de Portugal, tomo IV, pp. 241 - 288
Idem (b), (1991) - Memória sobre algumas observações feitas no ano de 1789 relativas ao estado da pescaria da província de Entre Douro e Minho, in Memórias Económicas da Academia da Ciências de Lisboa, 2.ª ed., Lisboa: Banco de Portugal, tomo IV, pp. 289 - 314
Idem (c), (1991) - Memória sobre o estado das pescarias da costa do Algarve no ano de 1790, in Memórias Económicas da Academia das Ciências de Lisboa, 2.ª ed., Lisboa: Banco de Portugal, tomo V, pp. 69 - 102