27 dezembro 2011

Os melhores filmes que vi em 2011

Contos da Lua Vaga, 1953



















































O espírito da colmeia, 1972











Páre, Escute e Olhe, Jorge Pelicano





22 dezembro 2011

Manifesto dos Historiadores Portugueses

"Porque amo o que é vivo sou um historiador, se amasse as coisas velhas e mortas seria um antiquiário" Marc Bloch (citação livre)









Os anos 60 e 70 viram muitos historiadores no espaço público, tanto no combate político como no combate de opinião. As equipas recém-chegadas aos ministérios dos negócios estrangeiros ou da defesa primavam em ter consigo historiadores. As últimas décadas assistiram a um apagamento deste grupo, convidado a opinar em debates ultra-especializados, substituídos por jornalistas, engenheiros, militares, no espaço da comunicação social, onde não só se informa como se comenta e pensa a informação. O fenómeno blogosférico veio abrir e preencher um espaço de necessidade premente, espaço político de confronto, debate e procura de posicionamento ou reforço de posicionamento(s) nas mais variadas áreas de pensamento. Com especial enfoque no espaço político e comunicação social. Nem Vasco Pulido resistiu à tentação. No seguimento deste sucesso cibernético Rui Tavares salta para as páginas do Público, por exemplo, trazendo um pensamento ancorado, tantas e felizes vezes, na sua formação enquanto Historiador. Diferente de V.P.Valente que comenta a realidade sem que a sua formação seja um instrumento inequívoco. Como contraponto a Rui Tavares, Rui Ramos. A história continua da blogosfera para os canais de tv em sinal fechado.



E parece que desde aqui ser Historiador voltou a ser algo que, como diz Marc Bloch, tem muito mais a ver com a vida e com o presente, do que com os arquivos, a porta pesada do instituto e os compromissos académicos. Isto tudo para dizer que o corajoso e belo manifesto assinado por cerca de 40 historiadores a semena passada é um documento a todos os títulos espantoso. Consegue fugir à retórica nacionalista sem descartar as responsabilidades no tratamento e passagem do património, consegue encontrar um nexo entre memória e escolha política e desta forma filiar-se naquilo que é o grande trabalho da História, e consegue implicar-se na vida dos seus contemporâneos (de que nos serve a cultura, o saber, se não temos um feriado para visitar um museu?).

Deixo aqui o link para o texto completo (que só encontrei na Esquerda.net)

20 dezembro 2011

Candidato a ministro



"Há quem defenda que a Europa está dominada por interesses neo-liberais e que o cimento da UE sempre foi a Europa social

A essas ladainhas respondo que não gosto de discutir assuntos religiosos."


Vitor Bento em entrevista ao público de dia 19.12.11

08 dezembro 2011

10 exigências do movimento ocupar wall street

The power of the people far surpasses all the repressive violence of the Babylons attacking you/us or the wealth of the 1 percent, who will stop at nothing to silence us all.



This is a protracted struggle; there will be no 90-day revolution here. Victory will require sacrifice, tenacity and competent strategic insight. The question you must ask is, Are you prepared to do what is necessary to win this struggle? If you answer in the affirmative, commit to victory and accept no other alternative. The people, as we are, are with you. Until we win or don’t lose, our love and solidarity to all those who love freedom and fear only failures.

02 dezembro 2011

Novas Resoluções da ONU sobre a Palestina

30.11.2011



"(...) Hoje cedo, a Assembleia concluiu o seu debate anual sobre a questão da Palestina, com delegações a expressar amplo apoio à aplicação da liderança palestina de setembro para a plena participação das Nações Unidas. Enquanto oradores apoiaram a troca de prisioneiros recente entre Israel e os palestinos, assim como o recente acordo intermediado pelo Egito, que tinha preparado o caminho para eleições palestinas no início do próximo ano, eles apontaram que tais ações positivas haviam sido minado pela construção de colonatos de Israel bem como a sua recente decisão de reter cerca de US $ 100 milhões em receitas fiscais da Autoridade Palestina.
O Quarteto diplomático sobre o processo de paz no Oriente Médio deve obrigar Israel a acabar com a sua intransigência, particularmente em relação à construção de assentamentos, acrescentou, enfatizando a igual importância na unidade política entre os palestinos para o progresso no processo de paz e de reconstrução na Faixa de Gaza (...)"






23 novembro 2011

24 Nov. parte2

Amanhã as ruas são nossas de novo, amanhã, um ano depois, trabalhadores, desempregados, reformados, a multidão inconformada volta a reunir-se. Na Greve Geral ocupamos o nosso lugar na barricada. Amanhã não há lugares intermédios, apesar de todos aqueles que não podem fazer greve. Apesar de tantos que, como dizia uma vizinha octogenária, preferem ser pobres a que haja guerra. Amanhã não pode haver mais nada a não ser a guerra.
Um comentador habitual dizia-nos esta semana que na Grécia e na Itália os governos perderam a legitimidade democrática do voto, apesar das assembleias legislativas dos respectivos países estarem mandatadas pelas respectivas constituições para elegerem um novo governo. Esses e outros governos, como o nosso, perderam a legitimidade a partir do momento em que o programa eleitoral com que enfrentaram as eleições foi radicalmente alterado. A partir do momento em que mentem. Há dúvidas sobre a estreita relação entre o aumento da abstenção e as mentiras dos governos sucessivos que temos tido?
Amanhã, munidos das nossas palavras de ordem vária, mais pessoal mais universal, enquadrados ou não pelas palavras de ordem de uma central sindical, de um partido, de uma associação recreativa ou comissão de trabalhadores, não pode estar na rua outra coisa que não o fim de todos os governos que servem o interesse daqueles que nos EUA foram rebaptizados como 1%.
Com a falta de poder político da multidão (esta sensação de que todas as decisões são tomadas à revelia, as guerras, a redistribuição da riqueza, a escandalosa compra e venda do BPN, o poder do banco na concessão de um empréstimo, a justiça ao serviço de uma minoria) ela só pode procurar a forma de recuperar o que lhe foi espoliado. Amanhã é no local do trabalho e na rua. Já começou. É uma luta desigual, sempre foi. Mas a certeza de que a nossa vida nos pertence não nos deve fazer vacilar.

18 novembro 2011

Governo em sintonia com os piores patrões

Hoje o governo anuncia que a antiguidade não devia conferir direitos especiais a um trabalhador na altura do despedimento. Já o tinham vindo afirmar, juntamente com o governo de Sócrates, quando mudaram as regras e os valores de indeminização em caso de despedimento. Agora, avançam mais um pouco nesta ideia (peregrina?) do trabalho enquanto actividade sem qualquer valor social ou cultural, sem benefício para o próprio e para a comunidade, em que a vida de um ser-humano, medida em tempo, não conta na mesma medida quando entrega parte dela numa empresa ou serviço, como se esse posto de trabalho fosse um lugar anónimo de um carrossel de feira. Como se esse local de trabalho e o trabalhador não estabelecessem um vínculo, onde se trocam valores, onde a pessoa, para além de ganhar o seu pão, participa no processo produtivo, é um elemento na engrenagem que em última análise faz tudo isto funcionar.







Depois lê-se no Público de terça-feira




"Ecco impede funcionários de reassumir posto"
(...) A sentença do Tribunal da Relação do Porto sustenta que os operários devem ser reintegrados, sem prejuízo da categoria profissional e antiguidade, e que a Ecco tem de pagar as retribuições desde o dia do despedimento. Os nove funcionários, um entretanto emigrou, apresentaram-se ontem ao serviço. A empresa não os readmitiu , alegando que iria recorrer da decisão judicial. (...) O processo deu entrada no tribunal em Janeiro de 2006, altura em que a Ecco despediu 369 trabalhadores e deslocalizou parte substancial da produção para a Eslováquia, Indonésia e Tailândia. "Não aceitámos os acordos de rescisão por múto acordo porque considerámos que a empresa não estava a cumprir as normas, mandou embora trabalhadores com mais de 20 anos de casa, ficaram ao serviço pessoas com menos tempo e continuava a contratar pessoal". (...) Maria Manuela é outra das funcionárias em causa. Tem 45 anos, trabalhou 21 anos na Ecco, foi despedida, juntou-se aos colegas, recorreu ao tribunal. Tem dois filhos, foi paciente de um psiquiatra, e todos os meses tenta esticar o ordenado do marido. "Este processo afectou-nos financeira e psicologicamente. A empresa não está a ser correcta connosco porque continua a meter pessoas à frente dos nossos olhos", desabafa.

A Ecco não quis, ontem, prestar quaisquer declarações". 15.11.2011, p.23.

15 novembro 2011

A ideia certa. O tempo, sempre foi

"Não podem despejar uma ideia que chegou no tempo certo", diz o comunicado do Occupy Wall Street. "E a nossa ideia é que as nossas estruturas políticas servem-nos a nós o povo - todos nós e não apenas os que amealharam muito poder e dinheiro.
Para esta quinta-feira, quando se completam dois meses desde o início do acampamento, está marcada uma ação direta não-violenta de massas, que envolve uma manifestação e a ocupação do metro e da praça Foley. Para esta manhã foi convocada uma assembleia pós-despejo."

12 novembro 2011

Uma maioria, um governo, um presidente

Plano estratégico dos transportes - 2011-2015
Resolução do Conselho de Ministros de 10-11-2011


(...) Ao Estado importa assegurar a existência de uma oferta adequada de serviços de transporte, disponibilizada às populações e à economia, os quais deverão ser prestados da forma mais eficiente possível. Actualmente o Estado Português assegura directamente uma parte significativa da oferta de transportes através das empresas do sector empresarial do Estado de transportes públicos de passageiros. Porém, a experiência das últimas décadas mostra que os níveis de eficiência com que o faz se encontram abaixo do resto das empresas, resultando em desperdícios de recursos para a sociedade. É intenção do Governo que o conjunto de reformas a levar a cabo altere de forma estrutural o funcionamento da economia portuguesa, tornando-a mais eficiente e competitiva, o que passa por centrar a intervenção directa do Estado nas áreas que constituam o seu verdadeiro papel. Deste modo deverá ser aberto espaço à iniciativa privada, permitindo o desenvolvimento do tecido empresarial português, a criação de novas empresas, a promoção da inovação e a criação de emprego. A abertura à iniciativa privada da exploração dos serviços de operação de transportes públicos aprofundará os ganhos obtidos com a fusão das empresas do sector empresarial do Estado de transportes públicos em Lisboa e Porto, introduzirá uma maior focagem da gestão empresarial na contenção de custos e na atracção de novos clientes, com base em critérios racionais e independentes do poder e influências políticas. O Estado deverá assim transferir para a iniciativa privada a prestação dos serviços de transportes em que aquela se revele mais competente, o que constitui a segunda fase das reformas traçadas para atingir o equilíbrio operacional do sector dos transportes.

10 novembro 2011

"(...) La démocratie est née à Athènes quand Solon a annulé les dettes des pauvres envers les riches. Il ne faut pas autoriser aujourd’hui les banques à détruire la démocratie européenne, à extorquer les sommes gigantesques qu’elles ont elles-mêmes générées sous forme de dettes (...)

Mikis Theodorakis
28.10.11

08 novembro 2011

Festival Temps d`Images




Entre 14 e 18 de Novembro, no Auditório da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Entrada Livre.


31 outubro 2011

Esta direita não tem o apoio da comunidade católica

" (...) Não é difícil descortinar que, por detrás das medidas propostas, está uma opção ideológica pelo chamado "Estado mínimo", mas há que salientar que esta não foi validada democraticamente, embora configure uma alteração do modelo constitucional em matéria de direitos sociais.
A mesma ideologia inspira cortes acentuados em sectores onde a responsabilidade do Estado deveria ser inquestionável, como é o caso da saúde, educação, segurança social, sectores em que a preocupação maior deveria ser garantir o seu funcionamento eficiente


(...)


10. Em suma, nesta proposta do OE-2012, por razões ideológicas e não tanto por razões de inevitabilidade funcional, o Governo parece ter escolhido o caminho da facilidade, o de atacar o elo mais fraco, em vez de aproveitar a crise para afrontar interesses instalados e proceder a um definitivo saneamento das contas públicas e à necessária reforma do Estado.
É preocupante, por exemplo, que não se assista, ainda, a uma renegociação urgente das Parcerias Publico - Privadas (PPP), cujo impacto futuro nas contas públicas se anuncia como muito gravoso e insustentável.
Também não se vislumbra qualquer intenção de promover uma renegociação da dívida, de modo a expurgá-la da respectiva componente especulativa e reavaliá-la no quadro das reconhecidas disfuncionalidades da zona euro. Acreditamos que esta via deve ser equacionada como caminho para ultrapassar o actual estrangulamento financeiro que obstaculiza o desejável desenvolvimento económico e social do nosso País.

19 outubro 2011

Cidadania e Receitas. Luís Raposo, de novo

Vejo que o meu bom amigo João Neto concorda com o senhor SEC em acabar com as gratuitidades nos museus e palácios do IMC,IP, em três domingos de manhã. Percebe-se até que o mais correcto, do seu ponto de vista, seria acabar com todas as gratuitidades. Tudo o que tem custo, deve ser pago, a custos reais, a custos reduzidos ou até a custos simbólicos. Claro que existe um pequeno problema jurídico: a Lei-Quadro dos Museus Portugueses obriga os museus públicos a estabelecerem períodos de gratuitidade. A SEC entende agora que quatro horas por mês é suficiente para cumprir a Lei. O João Neto iria mais longe e proporia a alteração de uma Lei aprovada por unanimidade na Assembleia da República. Coisa de somenos. Legislação à parte, existe aqui sobretudo um problema social e político. Logo depois dos domingos de manhã, o João Neto talvez apoiasse o fim das gratuidades para as escolas. Depois ainda para os reformados, etc. etc.Pela mesma ordem de razões, também o acesso a arquivos e bibliotecas deveria ser pago. Como há tempos alguém dizia, já não me lembro onde, as bibliotecas então são especialmente injustas porque dão (a palavra “dar” incomoda, de facto) livros a ler aos leitores, e até os deixam levar para casa, em flagrante concorrência desleal com as livrarias, onde os mesmo livros têm de ser comprados.Estamos neste Mundo de formas diferentes, dir-se-á, porque lá onde o João Neto vê contradições, eu vejo cidadania. O curioso é que vejo eu e vêm os políticos, de esquerda ou de direita, e responsáveis de museus, públicos e privados, que por esse Mundo fora têm feito aumentar, e não diminuir, as práticas controladas da gratuitidade em museus. Fazem-no uns por motivação cívica, como eu próprio; fazem-no outros por estratégia de mercado. Mas fazem-no.Em todo o caso, nem sequer seria aqui preciso invocar grandes debates e opções, porque falamos apenas do mínimo dos mínimos – os domingos de manhã – e estava eu convencido que a disposição constante de Lei-Quadro dos Museus Portugueses colhia a unanimidade entre os profissionais de museus. Afinal há excepções. Quanto aos ganhos financeiros da medida, que mantenho serem residuais, é claro que eu me referi a eles globalmente porque precisamente as receitas de bilheteira sempre foram, e tanto quanto se pode vislumbrar, sempre serão arrecadadas e geridas centralmente. Ou seja, o apoio que o João Neto dá agora à SEC, contrapõe uma realidade concreta, a que temos, a um desejo algo piedoso de um futuro em que os museus arrecadem 60% das suas receitas – medida que deveria, aliás, ser muito mais profundamente amadurecida e que eu pessoalmente teria hesitações em defender. A questão da sustentabilidade financeira dos museus é demasiado complexa e deve ser estuda em detalhe – por isso o ICOM.PT vai organizar uma jornada sobre o assunto, em 7 de Novembro, no Museu Nacional de Soares dos Reis, com oradores que sabemos defenderem os mais díspares pontos de vista, mas desejavelmente todos ancorados na realidade concreta. Ora, todos sabemos como é sempre mais cómodo defender princípios etéreos, sem aplicação real no presente, aproveitando de passagem para dares ares de sensatez e espírito dialogante.[Incidentalmente, não posso deixar de assinalar como a SEC compreendeu e valorizou bem o oportuno apoio que recebeu, a ponto de apressadamente ter concedido à APOM uma audiência aguardada há meses, fazendo-o na véspera de audição parlamentar onde haveria o risco de se dizer que o senhor SEC, apesar de ter afirmado o contrário, não tinha ainda efectivamente recebido nenhuma associação de museus, como não recebeu de arqueologia, do património arquitectónico, etc.]Diz o João Neto que em alguns museus da SEC estas verbas dos domingos de manhã poderão constituir receitas expressivas. Com excepção do Museu Nacional dos Coches, pergunto-me em quais ? Em alguns Palácios Nacionais admito que venham a ser significativas e que não haja até decréscimo dramático de visitantes quando se introduzir o pagamento. A situação existente nesses Palácios em relação ao aproveitamento ilegítimo que as agências de turismo fazem da gratuitidade aos domingos de manhã justificaria, aliás, uma revisão dos termos concretos desta prática. Mas em todos os demais museus, essas receitas não serão assim tão significativas e conduzirão a importante diminuição de visitantes. Basta comparar os números actuais de visitantes durante as manhãs e durante as tardes de domingo para perceber a dimensão do decréscimo expectável.De resto, os cálculos estão feitos e ninguém os desmentiu. Com o número de visitantes actuais as receitas de três domingos de manhã poderão ser na ordem dos 700 a 800 mil euros. Com o decréscimo inevitável que vai ocorrer, poderão diminuir para metade, ou seja, 350 a 400 mil euros. Estes valores representam 2%, ou menos, do orçamento de funcionamento, do IMC,IP. Se tivermos em conta as verbas totais do investimento público nos museus da SEC (verbas nacionais e verbas europeias), então os valores indicados situam-se na ordem das décimas percentuais.Dito tudo isto, subsiste o mais importante: a questão das gratuitidades aos domingos de manhã é um assunto tão, tão secundário que nos não deveria mobilizar e eventualmente dividir. E não o fará, nem institucional, nem pessoalmente. No caso concreto das minhas momentâneas diferenças de opinião com o João Neto então, atentos os laços de amizade que temos desde há anos, já décadas, seria preciso muitíssimo mais para que tal sucedesse.





Luís RaposoPresidente do ICOM Portugal17.10.2011

17 outubro 2011

Gratuitidade dos museus ao domingo - Luís Raposo

Entrevista, DN, 13 Outubro 2011

É presidente do Comité Nacional Português do ICOM. Como vê a proposta do dim da gratuitidade dos museus tutelados pelo Instituto dos Museus e da Conservação ao domingos, avançada pelo secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas?
É uma medida periférica e residual, relativamente a uma política de museus dentro da Secretaria de Estado da Cultura. O seu impacto financeiro, e é essa a sua motivação, é de 2% ou 3% no funcionamento corrente dos museus. Gera 700 ou 800 mil euros (…). qualquer medidia que se tome tem de ter em conta custos e benefícios. E esta penaliza a classe média, média baixa e baixa. É financeiramenre irrelevante e é socialmente impactante. Não se ganhando em bilhetes pode ganhar-se com uma boa política de lojas e merchandising ou boas exposições temporárias pagas.

Pode contrapor-se que o cinema e o teatro são pagos.
Pois, mas as bibliotecas e os arquivos não. Também acho que as exposições temporárias dos museus podem ser pagas e também acho que existe a possibilidade de debate. (…) Defendo umas colecções permanentes gratuitas e temporárias pagas tal como o serviço de audioguias.

A sustentatibilidade dos museus depende de 80% de entradas pagas, disse Viegas.
Só podemos atingir os 80% de entradas pagas considerando que as escolas pagam e isso é uma situação sem paralelo. além disso, a esmagadora maioria dos museus, mesmo com 80% de pagantes, não são sustentáveis. A não ser que achemos que as escolas, as biblioretas e a Torre do Tombo têm de dar lucro, para que pagamos impostos? Não defendo a gratuitidade absoluta e acho que os museus devem fazer um esforço para gerar receitas, mas não se pode exigir a alguém que ande sem lhe dar os meios para andar.

Já falaram com o Secretário de Estado da Cultura?
Temos pedido audiências, já reiteramos o pedido e foi-nos dito que não era oportuno. (…) Além de que achamos que não faz parte da normalidade democrática sermos chamados depois das decisões tomadas.

Paga bilhete quanso visita museus?
Não pago porque tenho o cartão do ICOM que dá acesso a todos os museus do mundo, mas às vezes pago porque me esqueço de levar o cartão. Há de tudo, mas na maior parte da Europa paga-se. Tradicionalmente, nos países de natureza socialista, não se paga, na China ainda não se paga. Nos EUA, onde existem muitos museus privados. e quando não são privados têm uma gestão privada, em alguns paga-se, em outros não.




Entrevista retirada daqui


Actualização: João Neto, presidente da APOM (Associação Portuguesa de Museologia) diz que é favorável ao princípio do "utilizador pagador" nos museus

11 outubro 2011

Novo ataque à cultura

"Museus vão deixar de ser gratuitos aos domingos" diz o secretário de estado da Cultura F.J.Viegas. Nesta entevista à TSF consegue avançar a ideia estapafúrdia de que 80% das entradas dos museus deviam ser pagas para sustentabilidade do próprio museu (aqui até cabe perguntar por que razão então não são pagas as entradas na Fundação Berardo onde o Estado Português acabou de injectar a maior verba de todas dentro dos apoios do Fomento Cultural). Mas o que sabe sobre museus Francisco José Viegas? Ter-se-à perguntado porque é que subsiste ao longo dos anos a entrada gratuita aos domingos de manhã? Terão os agentes sido questionados sobre esta medida radical que implica, não só uma afronta a princípios constitucionais de acesso à cultura e ao património de todos (quem não tem dinheiro nenhum fica impossibilitado de entrar num museu), como é uma afronta à autonomia de um museu que se vê diminuido no objectivo de manter ou aumentar o número de visitantes, número indispensável à instituição para desenvolver projectos e obter apoios (não exclusivamente públicos, a lei do mecenato por exemplo).





Os domingos gratuitos permitem não só trazer visitantes novos (criação de novos públicos a que o programa deste ou de qualquer governo está obrigado pela lei de bases nacional para a cultura) como permitir a visitantes mais interessados em repetir a experiência da visita as vezes que entender. Há obras que não se vêm uma vez mas vêem-se a vida inteira. Fazer disto um luxo é acentuar aquilo que na nossa sociedade se vem tornado mais escandaloso e desavergonhado, o fosso entre os que podem e os que não podem. Uma manhã gratuita nos museus permite igualar no acesso situações tão escandalosamente díspares (garante de Igualdade como a escola pública que este governo tão diligentemente se ocupa também em desmantelar).







As receitas que um museu hoje gera estão ligadas muito mais a actividades protagonizadas na sequência da visita, ao serviço educativo, à oferta de hotelaria ou às recordações numa boa loja. Os museus sabem isto e devem ter apoios para poder investir nesta área onde podem ir financiar-se. A entrada do visitante é um fim-em-si de um Museu. Esta medida, como tantas outras (se não todas) do governo de Passos é demagógica e inútil porque favorece o decréscimo de visitantes do Museu (menos visitantes, menos pessoal necessário no museu, menos cultura, menos economia) não contribui em nada para aumentar receitas (menos visitantes conduz a cada vez menos visitantes, decréscimo de público, pagante e não pagante). Para além de inútil é perigosa, porque transporta este cheiro a júbilo pela oportunidade que FMI e troica deram a uma ideologia de avançar terreno ao ir insidiosamente destruindo o contrato que foi sendo possível construir entre cidadãos (o Estado) ao longo de séculos, para que fosse possível viver-se um pouco longe do salve-se quem puder.


Actualizações









08 outubro 2011

"Por egoísmo os homens são capazes de viver, mas pela ambição ideal são capazes de muito mais - são capazes de morrer e matar.
É por isso que o espírito liberal há-de necessariamente triunfar do espirito conservador: é que os homens acabam sempre por reconhecer que, à felicidade de viver e apodrecer em paz e passividade , é preferível a felicidade de lutar.
Já vê, pois, amigo, que é escusado dizer aos homens que para fazer cultura -é preciso sacrificar a felicidade. A felicidade que os homens sacrificam é uma felicidade inútil. Sempre.
Debruce-se sobre si mesmo e sonde o seu espírito e verá que a felicidade a que renunciou para saborear o fruto da ciência do bem e do mal, o fruto da verdade, era uma felicidade inútil e venenosa. V. é um espírito de luta: e, para um espírito sem paradoxo, a única paz possível -é a guerra. Eu, por mim, não trocava esta minha dolorosa infelicidade de saber alguma coisa e desejar saber mais ainda, pela felicidade estúpida de ignorar."

Carta de Manuel Laranjeira a Miguel de Unamuno, em 24 de Abril de 1909 in Cartas, de Manuel Laranjeira, Relógio de Água, 1990.

04 outubro 2011

Tapada das Necessidades

Um grupo de moradores e cidadãos está a dinamizar um abaixo-assinado online contra a construção de um restaurante de luxo e a favor do aproveitamento do mesmo espaço - sem adulterações arquitectónicas do mesmo - para usos socais da população. Num tempo em que a CM de Lisboa promove a votação do orçamento participativo e privilegia, com isso, o envolvimento da população, nas discussões sobre a sua cidade, importa dar atenção e divulgar as razões que se apresentam.










"A Cerca das Necessidades foi fundada por D.João V para jardim, pomar e horta do Convento das Necessidades. Durante o século XIX, D.Fernando II, introduziu alterações no Real Jardim com um desenho à inglesa e plantação de várias espécies florestais e mata mediterrânica. Entretanto foram construídos vários edifícios como a Estufa Circular, a Casa de Fresco, o Jardim Zoológico e o Picadeiro Real. No final do mesmo século, D.Carlos faz adaptar o Observatório Astronómico a Atelier de Pintura da Rainha, depois designado por Casa do Regalo.







No século XX, a Tapada das Necessidades passou a ser gerida pelo Ministério da Agricultura, com a instalação da Estação Florestal Nacional e a construção de edifícios de apoio dentro da Tapada. Em 1970, o Picadeiro Real foi totalmente destruído para aí edificar o Instituto de Defesa Nacional e um parque de estacionamento.
Já em pleno século XXI, a Casa do Regalo foi profundamente alterada para para gabinete do Dr.Jorge Sampaio, sendo construído ao lado um bloco em betão revestido a mármore.


Em 2008, o Ministério da Agricultura estabeleceu um protocolo com a Câmara Municipal de Lisboa, transferindo a Gestão, Reabilitação, Manutenção e Utilização da Tapada das Necessidades.


A Câmara acaba de lançar um concurso público para entrega da exploração de um restaurante, no espaço do Jardim Zoológico, com ampliação do edifício central para o triplo da área, e ocupação dos torreões históricos existentes, para arrumos e depósitos. Isto apesar de ter sido apresentada à CM de Lisboa uma proposta da Junta de Freguesia dos Prazeres de aproveitamento do referido espaço, sem lugar a construções adicionais, e com funções sociais, nomeadamente apoio a visitantes da tapada, biblioteca sobre assuntos relativos à tapada, ocupação de tempos livres para crianças, jovens e idosos.



Através de petição pública e recolha de assinaturas queremos demonstrar à Câmara Municipal de Lisboa que existem outras formas de actuar sem destruir o meio ambiente e o real equilíbrio ambiental da tapada das necessidades."



Cidadãos e Moradores pela Tapada das Necessidades
email: pelatapada@sapo.pt


30 setembro 2011

Dia mundial da música em Lisboa

A programação para este sábado pode ser
consultada aqui.
É toda uma tarde de música para gostos vários.
Depois do Outjazz nos jardins a cidade
continua a dar-nos música ( mas da boa, não é
a que ouve Rui Rio nem a que canta o governo)

09 setembro 2011

O reaccionário e facínora Paiva Couceiro



O director da Torre do Tombo convida todos para a assinatura do acordo entre a família do Militar, responsável por campanhas de pacificação e avassalamento em Angola e Moçambique e por incursões monárquicas contra a 1ª República (o único militar a bombardear os soldados revoltosos em Lisboa no dia 5 de Outubro de 1910) sobre o seu arquivo passar aos cuidados do Estado (interessa ver os termos do acordo de doação). Interessante é o convite, emitido por um Instituto Público referir um familiar de Paiva Couceiro como D.Miguel. Como se entre a missa realizada na Alameda da Universidade para abençoar fitas (?!) e estas nomenclaturas não tivessem corrido entretanto os tais 100 anos da República nem os 37 de democracia e laicização do Estado. Tenho esperança que a praça em Lisboa com o nome desta abominável figura mude de nome para homenagear, por exemplo, aqueles que ele perseguiu e matou quando combatiam pela autonomia e liberdade.

01 setembro 2011

Carta às Esquerdas, por Boaventura de Sousa Santos

Não ponho em causa que haja um futuro para as esquerdas mas o seu futuro não vai ser uma continuação linear do seu passado. Definir o que têm em comum equivale a responder à pergunta: o que é a esquerda? A esquerda é um conjunto de posições políticas que partilham o ideal de que os humanos têm todos o mesmo valor, e são o valor mais alto. Esse ideal é posto em causa sempre que há relações sociais de poder desigual, isto é, de dominação. Neste caso, alguns indivíduos ou grupos satisfazem algumas das suas necessidades, transformando outros indivíduos ou grupos em meios para os seus fins. O capitalismo não é a única fonte de dominação mas é uma fonte importante.








Os diferentes entendimentos deste ideal levaram a diferentes clivagens. As principais resultaram de respostas opostas às seguintes perguntas. Poderá o capitalismo ser reformado de modo a melhorar a sorte dos dominados, ou tal só é possível para além do capitalismo? A luta social deve ser conduzida por uma classe (a classe operária) ou por diferentes classes ou grupos sociais? Deve ser conduzida dentro das instituições democráticas ou fora delas? O Estado é, ele próprio, uma relação de dominação, ou pode ser mobilizado para combater as relações de dominação?

As respostas opostas as estas perguntas estiveram na origem de violentas clivagens. Em nome da esquerda cometeram-se atrocidades contra a esquerda; mas, no seu conjunto, as esquerdas dominaram o século XX (apesar do nazismo, do fascismo e do colonialismo) e o mundo tornou-se mais livre e mais igual graças a elas. Este curto século de todas as esquerdas terminou com a queda do Muro de Berlim. Os últimos trinta anos foram, por um lado, uma gestão de ruínas e de inércias e, por outro, a emergência de novas lutas contra a dominação, com outros actores e linguagens que as esquerdas não puderam entender.

Entretanto, livre das esquerdas, o capitalismo voltou a mostrar a sua vocação anti-social. Voltou a ser urgente reconstruir as esquerdas para evitar a barbárie. Como recomeçar? Pela aceitação das seguintes ideias.

Primeiro, o mundo diversificou-se e a diversidade instalou-se no interior de cada país. A compreensão do mundo é muito mais ampla que a compreensão ocidental do mundo; não há internacionalismo sem interculturalismo.

Segundo, o capitalismo concebe a democracia como um instrumento de acumulação; se for preciso, ele a reduz à irrelevância e, se encontrar outro instrumento mais eficiente, dispensa-a (o caso da China). A defesa da democracia de alta intensidade é a grande bandeira das esquerdas.

Terceiro, o capitalismo é amoral e não entende o conceito de dignidade humana; a defesa desta é uma luta contra o capitalismo e nunca com o capitalismo (no capitalismo, mesmo as esmolas só existem como relações públicas).

Quarto, a experiência do mundo mostra que há imensas realidades não capitalistas, guiadas pela reciprocidade e pelo cooperativismo, à espera de serem valorizadas como o futuro dentro do presente.

Quinto, o século passado revelou que a relação dos humanos com a natureza é uma relação de dominação contra a qual há que lutar; o crescimento económico não é infinito.
Sexto, a propriedade privada só é um bem social se for uma entre várias formas de propriedade e se todas forem protegidas; há bens comuns da humanidade (como a água e o ar).
Sétimo, o curto século das esquerdas foi suficiente para criar um espírito igualitário entre os humanos que sobressai em todos os inquéritos; este é um patrimônio das esquerdas que estas têm vindo a dilapidar.
Oitavo, o capitalismo precisa de outras formas de dominação para florescer, do racismo ao sexismo e à guerra e todas devem ser combatidas.
Nono, o Estado é um animal estranho, meio anjo meio monstro, mas, sem ele, muitos outros monstros andariam à solta, insaciáveis à cata de anjos indefesos. Melhor Estado, sempre; menos Estado, nunca.
Com estas ideias, vão continuar a ser várias as esquerdas, mas já não é provável que se matem umas às outras e é possível que se unam para travar a barbárie que se aproxima.

in Revista Visão, 25-08-2011

30 agosto 2011

A Nato

"Peter já estava a trabalhar numa análise da Organização do Tratado do Atlântico Norte: uma aliança militar permanente de nações europeias ocidentais sob o controlo dos Estados Unidos. Esperava-se que isto fosse dissuasor da conhecida ambição de Estaline em conquistar a Terra - tão misteriosamente quanto Hitler -, mas na verdade era claro para Peter e Aeneas que a Nato não seria nada mais do que o sinal exterior e visível da anexação militar da Europa Ocidental pelos Estados Unidos na área sensível em que as bases americanas em muitos países intimidariam qualquer Governo ocidental de ir para a esquerda. O cérebro da Nato era a agência de serviços secretos central que tinha conseguido, de certa forma, ver o reconhecimento público pela derrota do Partido Comunista nas eleições italianas de Abril de 1948. "


Gore Vidal, A Idade do Ouro, Notícias Editorial, 2000, p.334

26 agosto 2011

Mr Buffet

"If you make money with money, as some of my super-rich friends do, your percentage may be a bit lower than mine. But if you earn money from a job, your percentage will surely exceed mine — most likely by a lot"


in NY Times, 14.08.11

18 agosto 2011

O multiculturalismo de David Cameron

José Biern Boyd Perfeito

Em 2007, David Cameron, ainda líder da oposicão pelo Partido Conservador (Tories), visitou a cidade de Birmingham, uma das maiores cidades do centro/norte de Inglaterra, muito conhecida pela industria automóvel das grandes marcas que nos habituamos a ver.




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A velha(nacionalizada) British Leyland, a Jaguar, a Land Rover, a DLV (DAF/Leyland), a Rover, todas elas se situam ou situavam numa cintura estratégica, entre Birmingham e Conventry tornando as áreas residencìais de Birmingham preferidas da grande massa de emigração nos anos 70 e 80.

A cidade cresceu, o comércio cresceu, a índustria imobilíaria expandiu-se e estava-se num caldeirão de culturas, identidades, nacionalidades, que habitavam lado a lado com uma classe trabalhadora Inglesa, muito classista, orgulhosa do seu passado e acima de tudo, lutadora dos seus direitos. Era uma área Trabalhista, dos clubes e centros comunitários, bairros dos Councils, etc.

Ainda antes de chegarmos a 2007 e a David Cameron, uma abrupta transformação nos anos 70, com a crise petrolífica de 73, a queda do Governo Trabalhista de Callaham, levou a que Margareth Thatcher, no seu primeiro governo em 1979, tivesse uma atenção especial á zona de Birmingham.

Por aí começou a privatização das índustrias automóveis, sendo a primeira a British Leyland, acabando por terminar no que acabou, como é do conhecimento geral; venda da Land Rover, falencia da Rover e da LDV, além de outras marcas não menos históricas que foram ficando pelo caminho.
Não foi porque Thatcher escolhesse ao acaso essa área geográfica, mas porque era uma das zonas onde a força de milhares de trabalhadores estava centralizada, em que a reenvidicação era uma das armas para lutar contra as politicas neo-liberais que se colocavam no futuro, e essa força tinha de ser, como no caso dos mineiros, partida, dividida, derrotada.
Nos finais dos anos 80, as politicas de reconversão e de re-adaptaço, continuavam a assegurar os empregos de uma forma geral, a mobilidade interna atenuou outros e tudo parecia controlado.

Mas nos anos 90 recomeçaram os problemas, com as restantes fábricas a fecharem, milhares de trabalhadores no desemprego e uma crise social pesadíssima. Já não havia reconversões para tantos trabalhadores ou re-adaptações.
Uma das maiores comunidades em Birmangham era e é a comunidade Muçulmana, muito presente em toda esta faixa do centro de Inglaterra, Luton, Beresford, Birmingham, Oxford ínclusive.
Como uma comunidade que demonstra taxas de crescimento acima da média, o seu nùmero aumentou exponencialmente em relação ao que era um nùmero de referência da própria comunidade Inglesa, original daquela área.
A maior parte dos trabalhadores da comunidade Muçulmana, ou trabalhava nas índustrias de automóveis ou possuía pequenos negócios familiares de comidas rápidas, com enorme concorrência entre eles e com ligação directa com o poder de compra da região.
Estavam integrados e interagiam com a restante população, não havendo problemas de maior, onde a cultura da classe trabalhadora, internacionalista e justa, absorvía todos os diferendos culturais.

As coisas, entretanto, mudaram, com os anos 90 e seguintes.
A maioría dos trabalhadores, agora no desemprego, maioritáriamente Emigrantes, vivia de benefícios socias, como o Housing Benefit (o Council paga a renda da casa) Income Support (quantia mínima de dinheiro que um cidadão precisa para sobreviver) Child care (ajuda para crianças) e outros. Esta situação afectava todas as comunidades, sem excepção, mas mais fortemente a comunidade Inglesa local, que como é evidente, tinha perdido os seus empregos também.
Os County Councils (governos locais) entraram em derrapagens orçamentais motivado pelo aumento de benefícios sociais, em crescendo a cada dia que passava.
Havia tensão social motivado pelo funcionamento do sistema que protege as familias numerosas, tradicionalmente Muçulmanas, com os benefícios sociais e formas de apoio.
Com os empregos a escassearem, também a tensão aumentava, ainda para mais, com grande impacto nos média que notíciava que havia milhões de libras a serem enviadas para países como o Paquistão, Polónia, Letónia, Bangladesh, India, etc, etc pelos emigrantes, que não eram gastos no Reino Unido.

Uma parte da classe média baixa, inicia movimentos nacionalistas, frontalmente opondo-se aos emigrantes, de uma forma geral.
Nasce duma já agonizante EDL(anos 60), o BNP (British National Party) (Partido Nacionalista Britanico) com Nick Griffin a liderar essa Classe média baixa.
O seu discurso de Emmigrants free, colheu aceitação na Classe trabalhadora, desempregada ou com dificuldades.
Nessa altura Tony Blair apresentava uma nova política de Emigração, com o Emmigrants act, no sentido de apertar mais as malhas nas licenças de trabalho e o controle fronteiríço.
Socialmente Blair definiu o Reino Unido como Multiculturalista, integralista de todas as culturas. Não se colocava nesta altura, muito em relevo a questão religiosa. Havia uma aceitação muito Britanica (mind your own business) nessa questão.

Agora voltamos então a Cameron em 2007.

Desde os atentados das Twin Towers e de Londres (2005) que a tolerancia das questões religiosas sofreu uma alteração vincada na relação com as comunidades Muçulmanas.

Tradicionalmente reservados e pouco interventivos na sociedade, com poucos conhecimentos de Inglês, o discurso do integralismo começou a mudar os termos. Crescia, nas classes médias e baixas Inglêsas, uma silenciosa revolta, impulsionada por vários sectores da sociedade, conservadores e nacionalistas.

Mas, para os très princípais partidos Inglêses, o Partido Trabalhista, o Partido Conservador e os Liberais- Democratas, a politica a seguir seria sempre o integralismo mas com multiculturalismo, ou seja, inclusão na sociedade Inglêsa, mas reconhecendo as identidades culturais de cada cidadão. A questão do véu Islamico nao teve sequer discussão, foi adaptada nas escolas. Foram criados grupos de trabalhos escolares para planificar matérias pedagógicas para cada tipo de cultura ou religião.
Um dos casos judíciais, em fase deste clima, foi a tentativa de prova de uma determinada tradição de uma religião como cultura e identidade, capaz de criar um regime legal de excepção.
Em 2007, Cameron visita então Birmingham, com grande aparato de média atrás, interagindo principalmente com a comunidade Muçulmana.
Dormiu inclusíve, numa casa de uma familia Muçulmana e fêz um discurso francamente humano sobre as diferenças culturais.
Disse na altura que, "não se podia forçar ninguém a ser Inglês" "que havia uma comunidade jovem e intelígente capaz de se adaptar e "trazer o melhor da sua cultura para a nossa cultura".
Falou-se novamente na política dos anos 60, a assimilação pelo povo Inglês das comunidades de culturas diferentes, das suas linguas e tradições, fossem populares ou religiosas.
Jack Straw, Home Secretary (Ministro do Interior) do governo Trabalhista de Blair, vinha, na mesma altura (estavamos em campanha eleitoral) a público reforçar a ídeia do Multiculturalismo e da total inclusão dos Emigrantes na sociedade Inglêsa, com as suas próprias culturas.

Foi sol de pouca dura.

Aqui entra a minha propria experiência como Officer do T&G e depois UNITE.

Estávamos no ínicio de 2008 e o T&G (sindicato que representa transportes e trabalhadores gerais) funde-se com o Amicus e formam o maior sindicato Britanico. Dois Homens ficam á frente deste sindicato, Dereck Simpson e Tony Woosley.
Numa refínaria da Total Francesa na Escócia, em 2008, foi efectuado um despedimento colectivo, de trabalhadores locais. Cerca de 300.
Nas semanas seguíntes, agências de trabalho temporário, recrutam trabalhadores emigrantes, Italianos, Polácos e alguns Portuguêses.
Foi passada nas televisões internacionais, as muito célebres imagens dos trabalhadores Italianos a entrárem para o turno e a mostrarem o dedo do meio para as camaras, o que foi apresentado pelos média, como uma afronta ao povo Inglês. O circo estava montado.
Marca-se uma manifestação para o exterior da refínaria e num palanque improvisado, Dereck Simpson, um dos meus secretários gerais da altura, deu o mote para o ínicio do clima que se vive hoje. Sim, vindo de um Secretário geral de um sindicato.

A frase British Jobs for British people, (Empregos Inglesês para os Inglêses) foi atirada ao ar, como um rastilho de pólvora que pegou e não mais parou, pelo Dereck, num dos seus mais tristes momentos. E teve vários.
O alvo eram os Emigrantes como já o tinham sido anteriormente um pouco mais silenciosamente. Agora gritava-se nas ruas, nas manifestações sindicais, apesar de por parte da maioria de nós, ter-mos feito o impossível para desmontar essa falácia racista.
No pior dos cenários, coloquei em causa a minha continuidade no Unite, mas fizeram-me reconhecer que saindo se estava a dar mais espaço a quem pensa dessa forma.
Numa reunião em Cardiff, na Transport House, eu e o Andy Richards, exigímos a Dereck uma retratação pública e o reconhecimento do erro e da enormidade que tinha cometido entre outros erros que surgiram e muitos mais que vieram a sugir.

Nunca se retratou nem sequer alguma vez explicou a frase, mantendo um clima de nevoeiro que muitos foram aproveitando para o seu próprio benefício.
Gordon Brown sabia e sempre soube aproveitar estes pontas de lança do partido trabalhista.
Dos sete Portugueses que lá estavam a trabalhar, todos se sindicalizaram e mantive algum contacto com eles, por mais algum tempo.
Motivados por esse tipo de afirmações racistas, os partidos de direita nacionalistas, agarraram na coisa e como atacar emigrantes só por si, não dava os resultados previstos, passou-se a um acrescento.

Emigrantes e a sua cultura, os seus hábitos sociais e religiosos, foram o alvo seguinte.
Alvo princípal, os Muçulmanos outra vez.
Em 2009, a EDL (English Defense League) reascendia o ódio pelos Muçulmanos, uma campanha de manipulação corre nos tabloides ligados a Rupert Murdoch.
Frases como "estão a alterar a nossa terra como se fosse deles" ou "qualquer dia já se fala a lingua deles aqui" ou " querem doutrinar o mundo no Islão" eram parandongas dos jornais diários.
No entanto e depois de tudo isto, o povo Inglês, acalmava, regressava como sempre, á sua boa vizinhança, ao espírito de solidariedade e houve um reprovar frontal ás agitações racistas, apesar de as manifestações anti-Muçulmanos serem recorrentes, mas pouco participadas.

Os povos não são racistas, são as classes opressoras que radicalizam a sociedade á medida das suas necessidades.

Havia sido criado, no entanto um clima de tensão que aos poucos se fazia sentir por entre os Inglêses no geral, fosse em termos dos desempregados, fosse em termos de aceitação da força de trabalho emigrante e as suas culturas próprias. Nas eleições Europeias, O BNP (Partido Nacional Britanico) teve resultados surpreendentes em zonas tradicionalmente Trabalhistas e o UKIP (Independente, nacionalista e Euro-céptico) conseguiu eleger um deputado para o parlamento Europeu, o que já por si, á uma contradição da sua própria base ideológica.

(Em 2009, uma serie de reuniões do meu Partido Político, O SWP e do Unite Against Fascism, em que participei, em Swansea, foram feitas em locais secretos, com a polícia a patrulhar a zona, devido ás ameaças que tinhamos recebido de membros da extrema direita).

Mas em 2010 estava já tudo mais calmo, até porque a eleição de Nick Clegg dos Liberais Democratas, para o governo Inglês em coligação com o Partido Conservador, deu alguma esperança ás políticas sociais porque Nick Clegg é casado com uma Espanhola e esse facto foi de certa forma levado como bandeira de uma certa abertura e desanuviamento a questão da emigração.
Convém também ressalvar que Boris Johnson ocupava então já o cargo de Mayor de Londres e iniciava uma política concertada com a polícia metropolitana, sobre alvos a incidir, no sentido de controlar a criminalidade. Alvos esses, assentes na ídeia que a criminalidade nasce nos bairros sociais mais pobres e em zonas de minorias étnicas, o que fez disparar as acções de controle a determinadas zonas em que a maioria dos residentes era de cor ou de etnia diferente.
Também durante as eleições para o Parlamento, os nùmeros de votos dos Partidos de direita, desceram aos seus valores habituais, perdendo algum do protagonismo e legitimidade das eleições anteriores.

Chegados que somos a 2011, uma cimeira sobre segurança Europeia realiza-se em Munique, patrocinada pela sempre Virgem Chanceler Alemã, Angela Merkel nos dias 3 e 4 de Fevereiro.
David Cameron faz então, nessa cimeira em consonância com Angela Merkel, declarações surprendentes e aterradoras.
Afirmou publicamente que o Multiculturalismo tinha falhado no Reino Unido!!

Que os Jovens Muçulmanos, nao queriam integrar-se na cultura Inglêsa, que estavam radicalizados e eram foco de violência. Que nao aceitavam o modo de vida Inglês, que viviam em segregação cultural, motivada por separatismos culturais e religiosos.
Falou num liberalismo muscular.
Este discurso de um racismo extremo e ignorante, acabou por trazer ao de cima, a verdadeira cor desta coligação. E de David Cameron que em 4 anos alterou de forma radical, ele sim, a sua opinião publica que andou a vender para ganhar eleições. Mas o pior de tudo, está na ajuda que deu á extrema direita e nacionalista, com o seu discurso, dois dias antes de uma manifestação anti-Muçulmanos marcada para Luton. (Fev/2011)

Claro que os lideres racistas e fascistas, apanharam as palavras de Cameron e deram vivas que o Governo estava a dar-lhes razão.
Sao em média 7 milhões de Emigrantes no Reino Unido, aproximadamente 10% da sua população total.
Ha 2,7% de Muçulmanos na população total. (8th October2009 PEW Reserch center Report).
Este discurso irresponsável vai criar mais ódio e confrontos por entre as populações, um clima que para o governo Inglês, trás uma maravilhosa desculpa para criar mais repressão e controle da população.
-Há que controlar as manifestações e protestos da sociedade Inglêsa e para isso é preciso construir uma base de repressão que se possa justificar aos olhos do povo.

Os Muçulmanos são, mais uma vez, o bode expiatório para o que aí vem.
Como se pode declarar o falhanço de uma politica social, de direitos humanos, de respeito pelas culturas e religiões, baseado em percentagens de populacao de 2,7% , plenamente intregrada e envolvida na sociedade.
Como se pode falar em radicalização quando a comunidade Muçulmana vive o seu dia a dia, sem rebentar bombas ou dar tiros e matar inocentes, coisas que os exércitos ocidentais sao conhecidos por fazer nos países Muçulmanos?
Como pode um Homem que afirmou em 2007 que não se podia forçar ninguém a ser inglês, agora vir dizer que todos tem de o ser, á força, senão por motivos estratégicos de interesses políticos e financeiros.
Como pode um Primeiro-Ministro fazer declarações de uma tal irresponsabilidade, antes de uma manifestação neo-nazi e racista, senão para lhe dar protagonismo?

Uma coisa é certa, o discurso de Cameron sobre o Multiculturalismo, deixa mais pessoas revoltadas, porque sabem que num país, todos contam, todos fazem parte.
Todos nós conhecemos um Mohammed, um Sadiq, um Sahid etc etc. São nossos amigos, colegas, vizinhos. Não são Terroristas nem radicais furiosos. São apenas pessoas, trabalhadores.

Como nós...

Oxford, 4th July 2011

Jose Biern Boyd Perfeito

Escrevi este texto na data acima anotada. Nessa altura, não me passou pela cabeça que os protestos pudessem ser tão próximos no tempo.
Não sendo somente a questão multicultural, ela representa sem dúvida parte do ignante que levou á inflamação desta ultima semana. Tal como a repressão que se segue.

David Cameron está a preparar o seu próprio caldo, para nele ser cozido.

Criar um clima de repressão social num clima de repressão económica, é o reagente para uma reacção não só quantitativa, mas também, qualitativa




17 agosto 2011

Manobras no Porto em Setembro

Final de Setembro

5 dias de acontecimentos com formatos e protagonistas diversos, concentrados no Centro Histórico, e daí propagados para a cidade e para o seu exterior. Em 2011 este período acontecerá de 28 de Setembro a 2 de Outubro.
Concertos, intervenções em espaço público, exposições, caminhadas, percursos, conferências, refeições, feiras, filmes, documentários, exibições, todos tendentes a estabelecer novos interesses, participações e espaços de fruição.
Esta programação está em definição durante a Primavera e Verão, articulando os projectos e parcerias em curso com as propostas provenientes da Convocatória Aberta já lançada (...)

28 julho 2011

Eis como as dívidas aumentam e como se morre de fome na Somália


Bank stocks crash! Click here to view our video on how to profit.


Just in the last 11 trading days, the shares of UniCredit, one of the largest banks in Europe, have crashed by 31%, precipitating sharp declines in bank stocks all over the world.
For most people, this is frightening.
But to others, it's a tremendous profit opportunity:
If the shares in major U.S. banks fall by a similar amount, simple investments you can use to profit from these declines would be up at least 282% and as much as 645% -- just in the last 11 days.
Already, with a relatively moderate decline in major U.S. bank stocks, these investments surged as much as 60.8% in only two days (Friday of last week and Monday of this week).
Capture just half of those profits, and you can make a lot of money.
And this is just one of the opportunities we talk about in our video --American Apocalypse.
We also give you a preview of what to expect as this great debt crisis continues to unfold ... along with other specific investments that can soar as the housing market craters again and stocks plummet anew!
Watching American Apocalypse is free but we think it could save you, or make you, a king's ransom in the weeks and months ahead.
Just click this link, and it will begin playing immediately.
Best wishes,
The Weiss Research Team

27 julho 2011

Às urtigas com ela diz Ana Gomes




Oh, amigos alemães:
que mal fizemos nós todos, no resto da Europa, para termos de aguentar com a vossa embotada Merkel, que se obstina em refrear o Conselho Europeu, já repleto de abundantes "nerds", encartados em enterrar a Grécia e a Europa por junto!
É que cada dia que Dona Merkel abre a boca, mais se afunda também o resto dos "PIGS" na chafurdice dos merdosos estratagemas que o Conselho Europeu cozinha, com Dona Merkel a aprimorar-se como Chefe.
Com a agravante de que, se este Conselho de "nerds" não cozinhar nada de decisivo e alimentarmente eficaz, amanhã - como agoirou ontem a Chefe Merkel - não estará apenas a mandar Euro e Europa às malvas, pegando fogo à Espanha, Itália e "tutti quanti". Poderá estar a precipitar a humanidade num caldeirão de crise global de incontroláveis consequências.
Merkel fora da cozinha europeia. Às mércolas com ela, rapidamente e em força!

24 julho 2011

Uns e Outros

"A luta contra a carência desgasta e exaure a parte maior dos homen a ponto de não lhes restar força para a nova e mais árdua luta contra o engano. Satisfeito de escapar, ele mesmo, à canseira azeda da reflexão, o indivíduo concede, prazenteiro aos outros, a tutela sobre os seus conceitos, e caso aconteça manifestarem-se necessidades mais altas, agarra-se com fé sedenta às fórmulas que Estado e sacerdotes têm reservadas para tais casos. Se estes homens infelizes merecem nossa compaixão, nosso justo desprezo atinge aqueles outros que, libertos do jugo da necessidade por um destino melhor, a ele se curvaram por sua própria escolha.



Estes preferem, aos raios da verdade que escorraçam a ilusão agradável de seus sonhos, o crepúsculo dos conceitos obscuros, em que o sentimento é mais vivo e a fantasia arbitrária cria formas confortáveis. Como fundassem todo o edifício de sua felicidade sobre estas mesmas ilusões que a luz hostil do conhecimento deverá destruir, não poderiam desejar uma verdade tão custosa, que começa por tomar-lhes tudo o que para eles possui valor. Seria preciso que já fossem sábios para que amassem a sabedoria:uma verdade que já sentiu aquele que deu à flosofia o seu nome."



Shiller, Cartas sobre a Educação Estética da Humanidade, Editora Pedagógica e Universitária Lda, São Paulo, 1991, p.62

08 julho 2011

Daqui a diante será sempre às arrecuas

"Se abandonarmos os caminhos-de-ferro, ou os entregarmos ao sector privado, evitando a responsabilidade colectiva pelo seu destino, teremos perdido um bem prático valioso cuja substituição ou recuperação seria intoleravelmente cara. Se deitarmos fora as estações ferroviárias -como começámos a fazer nas décadas de 50 e 60 com a destruição vândala da Euston Station, da Gare de Montparnasse e, sobretudo, da grande Pennsylvania Railroad Station of Manhattan- estaremos a deitar fora a nossa memória de como viver uma vida cívica confiante. Não é por acaso que Margaret Thatcher fazia questão de nunca viajar de comboio.
Se não conseguirmos perceber a vantagem de despender os nossos recursos colectivos em comboios, não será só por termos todos aderido a comunidades muradas e já só precisarmos de carros para circular entre elas. Será por nos termos tornado indivíduos murados que não sabem partilhar o espaço público para vantaem comum. As implicações de uma perda dessas transcenderiam de longe o declínio ou a extinção de um sistema de transportes entre outros. Significaria que tinhamos acabado com a vida moderna".

Tony Judt, Um Tratado Sobre os Nossos Actuais Descontentamentos, Edições 70, 2011, p.202

24 junho 2011

15 de Maio, aqui cabemos todos

"(...) Pero también, la ciudadania que se moviliza puede caer en el error de ponerse a la defensiva, de creer que cualquier “político” que se acerque a las movilizaciones les va a robar su espacio, que cualquier “político” que asista a una movilización viene a hacerse la foto, viene a intentar representarlos sin que nadie se lo pida y pueden reaccionar de mala manera ante el temor de contaminarse por el simple contacto.

Ambos errores son casi lógicos, casi naturales, casi entendibles, pero debemos hacer el esfuerzo de superar “el casi” para derribar tabiques, debemos estar dispuestos a contaminarnos, a escucharnos, a innovar formas de movilización y de organización de la protesta, etc. y a aceptar el reto de dar valor a la coherencia de los hechos, por encima de los discursos huecos

No podemos pretender representar a nadie que no nos lo ha pedido, porque de lo que se trata no es de representar, sino de ser parte de una movilización con la que compartimos objetivos y, eso, no solo nadie nos lo puede impedir, sino que tenemos que defenderlo sin complejos, defendiendo con lealtad al resto de participantes en las asambleas, nuestras ideas y nuestras propuestas,

De lo que se trata, es de avanzar juntos con mucha más gente, un camino desde el desarrollo de instrumentos de participación colectiva que construyan una nueva forma de hacer política, en el más amplio sentido de esta palabra, el que le devuelve la dignidad, desde la construcción de una democracia participativa en la que los pueblos sean los protagonistas de la historia y no meros actores secundarios del gran teatro de la vida social y política (...)"




José Luis Centella Gómez, Secretario General del PCE, o texto completo pode ser lido aqui.

18 junho 2011

Tirar coelhos da cartola






Não é curioso ver os comentadores oficiais do regime (rtp noticiário Hoje) assumirem pastas num governo ultra-liberal, depois de debitarem semanalmente as suas opiniões sobre um futuro não menos desastroso que o presente económico do país? É quase tão engraçado ver os super-administradores -aqueles que acumulam cargos e ordenados em empresas subsidiárias do estado (Aguiar Branco?) recomendarem dimuição salarial para a imensa classe média pagadora de impostos. Ou ainda quase tão engraçado ver pessoas, um pouco por todo o lado, muito indignadas contra quem vive à conta dos rendimentos mínimos, ou quem está desempregado por não ter iniciativa pessoal, esquecendo, nestes momentos ou para sempre, como o seu próprio emprego lhes foi garantido, lhes foi posto no colo, por um padrinho, uma tia, pela empresa do pai. Será que nesta operação de esquecimento está um ego disposto a acreditar que o seu mérito foi adivinhado à priori (no caso da empresa do pai,mesmo antes de nascer)?






Uma pessoa evita andar a comentar o novo e o velho governo e ir procuar o governos das coisas que (nos) interessam na realidade mas....há cartolas e coelhos que não deixam de nos espantar.

09 junho 2011

First Manifesto of the Rossio Square



The protesters, assembled in the Rossio Square, conscious that what is set in march is an act of resistance, hereby agree to state the following:


We, citizens, women and men, workers, migrants, students, unemployed and retired people, united by our indignation in front of a stifling social and political situation that we refuse to accept as inevitable, have taken our streets. We thus join those that around the world today fight for their rights against the constant oppression of the ruling economical-financial system.


From Reykjavik to Cairo, from Wisconsin to Madrid, a popular wave sweeps the world. This wave is silenced and twisted with disinformation by the media, the same media that doesn't question the permanent injustices in every country, only proclaiming the inevitability of austerity, the end of rights, the funeral of democracy.

Real democracy will never exist as long as the world is managed by a financial dictatorship. The ransom signed behind our backs with the IMF and the EU has abducted democracy and our lives. The countries in which the IMF intervenes see a brutal drop in the average live expectancy. The IMF kills! We can only reject it. We refuse to have our wages, our pensions and social supports cut, while simultaneously the culprits for this crisis are spared and recapitalized. Why do we have to choose between unemployment and precarious labour? Why do they want to take away our public services, stealing us, through privatizations, of what we payed for all our lives? Our answer is no. We defend the withdrawal of the troika plan. Following the example of many other countries around the world, such as Iceland, we will not accept to bury our present and our past for a debt that isn't ours.


We refuse to accept the theft of our future. We intend to assume control of our lives and intervene effectively in each and every process of political, social and economical life. We are doing it, today, in the popular assemblies gathered all around. We appeal to all the people to join, in the streets, in the squares, in each corner, under the shade of every statue so that, united, we may change once and for all the rules of this crooked game.


This is just the beginning. The streets are ours.
Lisbon, 22nd of May 2011

03 junho 2011





Está um grande mural. Bem feito. E é uma força política a dizer o que pensa sobe o ensino superior. Provavelmente a AAC está mais necessitada de uma limpeza que as escadas ou os muros da Universidade.

19 maio 2011

Manifesto das Portas do Sol - 18.V.11



Los reunidos en la Puerta del Sol en la noche del miércoles redactaron un acuerdo "plural" en el que sientan las bases de sus reclamaciones.

Autodefinidos como "un grupo de ciudadanos de diferentes edades y extractos sociales" afirman sentirse "cabreados" ante su falta de representación y "las traiciones que se llevan a cabo con el nombre de la democracia". Abogan por una reforma de la Ley electoral "que devuelva a la Democracia su verdadero sentido: un gobierno de los ciudadanos. Una democracia participativa".

"No estamos aquí para reclamar sencillamente el acceso a hipotecas o para protestar por las insuficiencias del mercado laboral", aclaran para advertir de que el movimiento nace "de la rabia", sentimiento que genera "imaginación, fuerza, poder ciudadano".

"La Democracia Real se opone al descrédito paulatino de las instituciones que dicen representarlos, convertidas en meros agentes de administración y gestión, al servicio de las fuerzas del poder financiero internacional", subrayan, al tiempo que sostienen que la democracia actual emana de "corruptos aparatos burocráticos" que impiden la participación ciudadana.

"Es preciso construir un discurso político capaz de reconstruir el tejido social, sistemáticamente vulnerado por años de mentiras y corrupción. Los ciudadanos hemos perdido el respeto a los partidos políticos mayoritarios, pero ello no equivale a perder nuestro sentido crítico. Antes bien, no tememos a la política. Tomar la palabra es política. Buscar alternativas de participación ciudadana es Política", añaden.

El manifiesto señala los culpables de la situación actual, aquellos que con su labor contribuyen al descrédito de la política y al rechazo y hastío de la sociedad: el FMI, la OTAN, la UE, las agencias de calificación y, ya en España, partidos como PP y PSOE.

"No llamamos a la abstención, pedimos la necesidad de que nuestro voto tenga una influencia real en nuestra vida", zanjan.

03 maio 2011

O fracasso Obama

KILLER



"(...)Mas ouvindo as declarações de Bush e de Obama, tal como a generalidade dos líderes mundiais, este assassinato é entendido como o coroar da estratégia que considera ter fracassado.
Naturalmente, eles continuam a não querer admitir. Acabei de ouvir agora o Benjamin Netanyahu afirmar que esta operação “é uma vitória retumbante da justiça” e eu gostaria de lhe perguntar o que seria um fracasso. Já deveriam ter aprendido com o passado e abandonado o triunfalismo. A propaganda de Obama vai fazer deste fracasso uma vitória, como fez com os levantamentos em curso em vários países do Médio Oriente, mas isso não muda a realidade. Os serviços secretos norte-americanos não foram capazes de prevenir os acontecimentos do 11 de Setembro e agora não foram capazes de capturar e julgar aquele que foi o seu responsável. Só seria um sucesso se fossem capazes de o levar à justiça. (...)"

Entrevista a Robert Fisk no 5dias

13 abril 2011

E quando não houver mais nada para vender?

" (.....)

Não deixa de me surpreender o apetite que as empresas ainda estatais em Portugal geram nos grupos económicos. Nem a forma como os políticos aceitam ser o suporte governamental a esse assalto aos bens, que supostamente deveriam ser e estar ao serviço de todos os cidadãos. Já agora, expliquem qual o interesse de privatizar o sector da saúde e segurador da CGD, ou seja, empresas como o Hospital dos Lusíadas e os seguros de saúde Multicare, que não seja possibilitar que os seus lucros sejam auferidos pelos privados que as adquirirem? E para quê privatizar mais uma parcela do sector das águas? Para mais quando se sabe que a água potável é um recurso natural em desaparecimento. Será que, além de prosseguir na missão de entrega dos bens públicos a privados, Passos não tem outras propostas para o país? Aguardemos pelo fim do programa eleitoral para aferir se Passos é um candidato a primeiro-ministro com dimensão nacional ou apenas um chefe de partido que une os militantes na voragem do assalto aos cargos e aos empregos da administração e à venda de bens públicos. Por agora, só mais uma pergunta: e quando não houver nada para vender? Qual o projecto de Passos para além de se comportar perante o Estado português como um gestor de empresa em fase de liquidação? "


São José Almeida, "E quando não houver mais nada para vender?", Público, 2.04.11

26 março 2011

23 março 2011

"A precariedade e o PREC, começando pelas mesmas quatro letras, designam duas conjunturas iguais em tudo menos num ponto: o PREC trouxe insegurança e instabilidade para os patrões, a precariedade traz insegurança e instabilidade para os trabalhadores. O PREC nacionalizazou certas empresas e a banca, a precariedade nacionaliza o salários dos trabalhadores para acudir às necessidades de certas empresas e da banca. Quem percebe de finanças na televisão garante que a primeira conjuntura é péssima para a economia, enquanto a seguda é excelente. A primeira é intolerável, a segunda deseja-se. Esta gente é que não é parva".

Ricardo Araújo Pereira, Da parvoíce, Revista Visão, 10.16 de Março

16 março 2011

Ao Cair da Noite

Em Ao cair da Noite, Nova Iorque parece lamber as feridas pós-11 de Setembro.
O 11 de Setembro está muito presente no romance e na cidade. Os nova-iorquinos estão mais amáveis uns com os outros, dão menos cotoveladas no metro. Nova Iorque, tal como a América, julgava-se indestrutível, inexpugnável...Mas tivemos duas tragédias: o ataque em si e a guerra lançada por Bush ao Iraque em resposta. Isto cimentou a reputação da América como um país perigoso.

Parece-lhe que a era Obama mudou essa percepção?
Foi muito visível a atitude antiamericana nos recentes levantamentos do Egipto. É um sentimento sempre em alta no Médio Oriente, porque a América sustentou estes ditadores ao longo dos anos. Esteve, não do lado dos rebeldes mas do lado de quem controla os cidadãos e mantém o petróleo a correr.
(...)

em entrevista a Michael Cunningham por Sílvia Souto Cunha, Revista Visão, Março de 2011

23 fevereiro 2011

Parados No Tempo Que Não Pára

Quando a crise cresce
nada cresce.
Quando a crise cresce
meninos e meninas continuam a crescer.

e os senhores da crise andam por aí... e os senhores da crise andam por aí ...

Quando a crise cresce
nada cresce.
quando a crise cresce,
meninos e meninas continuam a crescer.

e os senhores da crise andam por aí ...

nas telenovelas, não há crise:
sexo sem crise, dia após dia.
quando nada cresce,

para a crise, sexo sem crise,
pelo menos nas telenovelas paradas no tempo que não pára.
refresco para os desempredos,
resfresco para os parados na
crise que nao pára num tempo abandonado,
crise para uns, sexo para outros



Frederico Patasca
Porto, 14 de Fevereiro de 2011

16 fevereiro 2011

De Uganda a Cantanhede

Apesar do assassinato de Carlos de Castro ter sido tema explorado ab nauseam pelos piores motivos, penso que não será tarefa infrutífera deixarmos de pensar na dimensão do filão social que alimenta (e se alimenta) o sensacionalismo rasteiro. Se alguém andasse distraído com os juros da dívida soberana ou se por momentos esquecesse que país existe para eleger Cavaco Silva, a homofobia que veio à tona, espreitou ousada e criminosamente, à conta das notícias do assassinato em Nova Iorque, devia fazer-nos não só estremecer mas acordar e combatê-la em cada canto. Como disse Angélica Liddell, dramaturga presente em Portugal nas últimas semanas, o extermínio dos judeus na Alemanha não começou nos campos de concentração, começou nas anedotas de judeus nos salões das festas daquele país.


No dia 26 de Janeiro David Kato, um activista dos direitos LGBT no Uganda, foi assassinado. Estava envovido na denúncia do ódio destilado por um órgão de comunicação social daquele país contra os homossexuais, jornal que tinha iniciado uma rubrica de título "Enforquem-nos", rubrica onde se publicava a cara e o nome de homoessexuais no país.
Em Janeiro tive também o desprazer de conhecer um texto de um professor de Direiro da Faculdade Nova de Lisboa. Publico-o na íntegra, bem como os e-mailes que trocámos entretanto.



Um caso sórdido ao gosto de uma informação reles
Destaque: Que raio se ensina nos cursos de comunicação e de jornalismo?



Não se lhe conhecia qualquer actividade social, intelectual, científica, artística u política meritória ou, sequer, relevante. Era um personagem medíocre, de cujo perfil apenas pude recolher dois traços, que alguma comunicação social considerou merecedores de referência: era homossexual e era "cronista social". O primeiro traço deveria ser completamente irrelevante, já que emerge da
liberdade de orientação sexual, que apenas a cada um diz respeito. Todavia, considerada alguma prosa que a ocasião suscitou, terá tornado a vítima mais digna de dó – vá-se lá saber porquê!
O segundo, considero-o pouco menos que desprezível: significa que a criatura “ganhava” a “vida”a escrevinhar coscuvilhices e a debitar maledicências, chafurdando nos dejectos dos socialites. A viagem que o levou a Nova Iorque tinha um óbvio móbil “romântico”, que a
comunicação social preferiu apenas insinuar, não por pudor, mas porque a insinuação
vende melhor do que a afirmação: tratava-se, simplesmente, de seduzir um jovem de 21 anos.
Quanto a este, também os seus motivos parecem evidentes: “pendurou-se” no
idoso para, explorando as suas “inclinações”, beneficiar dos seus supostos contactos internacionais, iniciando uma carreira no mundo da moda.
Estavam, pois, bem um para o outro. Nada me interessam os pormenores abjectos que rodearam o assassinato. Deixo-os aos media, lambendo os beiços com a sordidez da história, muito melhor do que o criador de qualquer reality show poderia inventar.
O que não posso deixar de lastimar é a falta de vergonha da nossa comunicação social, com destaque para as televisões: há uma semana que os noticiários das 8 abrem com dez ou quinze minutos da "tragédia". Não as imagens horríveis das cheias no Brasil – que ficaram sempre para depois – mas as imagens ridículas dos correspondentes em Nova Iorque, repetindo à exaustão o detalhe dos testículos cortados e a agressão com um televisor (?) – que deve ser um crime especialmente hediondo, aos olhos de quem trabalha para uma cadeia de televisão – e entrevistando em prime time advogados de sotaque extravagante e peritos forenses, para prognosticarem a acusação que irá ser feita ao homicida, ou recebendo no aeroporto os amigos, de ar compungido, do morto.

É para isto que serve a informação televisiva, incluindo a do canal público que
ós pagamos: para preencher o espaço deixado vago pelo desaparecimento do jornal O crime.
Desculpem o desabafo: a informação televisiva tem mesmo de ser esta espécie de teledifusor de lixo? Que raio se ensina nos cursos de comunicação e de jornalismo? E desculpem o excesso de aspas: servem para eu resistir à tentação do vernáculo menos próprio, chamando às coisas os nomes que às coisas são.

Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa – Campus de Campolide – 1099-032 LISBOA
Tel: 213847400 Fax: 213847471 e-mail jc@fd.unl.pt



Exmo Professor João Caupers

Tendo lido o texto que colocou a circular publicamente na internert não consigo deixar de lhe devolver esta resposta como protesto de indignação e repulsa.
Qualquer pessoa com o mínimo de senso e conhecimento compreende o popularismo e a forma como os media têm vindo a descer os seus níveis de qualidade e rigor, em especial as televisões (as de sinal aberto particularmente). Isso não é surpresa, o que surpreende é um professor catedrático descobrir esse facto em Dezembro de 2010. Onde andou estes últimos anos? Não o preocupou até aqui o tabloide na informação? Estranho esta surpresa e como o seu texto indignatório começa por chamar medíocre a alguém que acaba de morrer - facto de natureza subjectiva e irrelevante para o conteúdo das suas acusações (se a pessoa fosse o nobel da literatura podiamos dar mais atenção à sua morte? penso que não é isso que a sua disciplina ensina) como afirma coisas que não são verdade - era uma relação consumada e pública segundo todos os amigos que privavam com o casal - ninguém foi levado para ser seduzido, só posso concluir que o seu texto não é movido pela indignação em como a comunicação social não dá a devida atenção às coisas mais importantes, mas que isso lhe serve de pretexto para dirimir os seus preconceitos e ódios pessoais.
Carlos Castro não era só homossexual, foi um activista dos direitos dos homossexuais, porque foi -num país atávico e homofóbico -tomo o seu texto como um exemplo - alguém que deu a cara e assumiu a sua diferença num período em que raros ou muito poucos o faziam. Isso faz dele alguém de uma enorme coragem, coragem essa que a homofobia presente no seu texto e na comunicação social reles não apagará.

Melhores cumprimentos


O Professor Caupers teve a amabilidade de me responder. Aproveitou para me dizer que tinha recebido e-mailes de apoio ao seu texto e manda-me um de exemplo (um rico exemplo).


Exma. Senhora,

Recebi o seu texto, que me mereceu a melhor atenção, pese embora discordar de tudo quanto nele se escreve.
Rectifico apenas um ponto: não pus o texto a circular na internet. Foi escrito para uma coluna de opinião mantida pela página da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa e destinada a provocar debate e polémica com os estudantes e outros membros da comunidade académica.
Terá sido posto a circular, provavelmente, por uma das pessoas – mais de uma dezena – que não conheço e que me escreveram a felicitar. Envio-lhe um texto bem mais violento do que o meu.
Com os meus cumprimentos
.

Apoio na íntegra o texto.
O cronista social foi Fernão Lopes: Aquele a quem se refere, foi cronista marginal. Só uma franja da sociedade, muita estreita e marginal rastejava pelos seus textos infectos.
Não tenho pejo em revelar que, no dia que se soube da sua morte, tive a sensação de que a sociedade ficou mais limpa.
Pouco me importa se isto é bonito e correcto ou não; foi o que senti e sinto.
Quanto à outra parte – a das TV e especialmente a publica – deve-nos desculpas e pedidos de reparação por inundar as nossas vidas, vezes sem conta, com banhos de porcaria em que eles próprios se comprazem.
Parabéns
Cruz Fernandes