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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Florbela Espanca in ENGLISH

I found,

by chance,

that Art Beats is cached in the web of Google's spiders when people search by

FLORBELA ESPANCA IN ENGLISH.

I perceived, that way, that are people interested in English versions of Florbela's poetry.

Am I right?
[DON'T WORRY! You DON'T need to answer me!]

Let see what I can do…

.
painting by VICTOR RIBEIRO

(placed in Lisboa - Restaurante Quinta do Marquês)

Florbela Espanca in ENGLISH #2

O NOSSO AMOR
(original Portuguese version)
Livro do meu amor, do teu amor.
Livro do nosso amor, do nosso peito...
Abre-lhe as folhas devagar, com jeito,
Como se fossem pétalas de flor.

Olha que eu outro já não sei compor
Mais santamente triste, mais perfeito.
Não esfolhes os lírios com que é feito
Que outros não tenho em meu jardim de dor!

Livro de mais ninguém! Só meu! Só teu!
Num sorriso tu dizes e digo eu:
Versos só nossos mas que lindos sois!

Ah! meu Amor! Mas quanta, quanta gente
Dirá, fechando o livro docemente:
"Versos só nossos, só de nós os dois!..."
.
(by Florbela Espanca in Livro de Soror Saudade, 1923)



OUR BOOK
(English version by Pedro Éme)
Book of my love, of your love.
Book of our love, of our heart…
Open their sheets slowly, with care,
As they were petals of a flower.

Look that another one I can not compose
More saintly sad, more perfect.
Do not strip the lilies that it is made of
For others I don't have in my garden of pain!

Book of no one else! Just mine! Just yours!
In a smile, you say and say I:
Verses just of ours, how beautiful you are!

Oh! My love! How many, many people
Shall say, closing the book sweetly:
"Verses just of ours, just of the two of us!..."
.
(by Florbela Espanca in Book of Sister Saudade*, 1923)

*saudade = the feeling one feels for departed love ones or moments or something we no longer posses.

Florbela Espanca in ENGLISH #3

O MEU ORGULHO
(original Portuguese version) 
Lembro-me o que fui dantes. Quem me dera
Não me lembrar! Em tardes dolorosas
Eu lembro-me que fui Primavera
Que em muros velhos fez nascer as rosas!

As minhas mãos, outrora carinhosas,
Pairavam como pombas... Quem soubera
Porque tudo passou e foi quimera,
E porque os muros velhos não dão rosas!

São sempre os que eu recordo que me esquecem...
Mas digo para mim: "Não me merecem..."
E já não fico abandonada!

Sinto que valho mais, mais pobrezinha:
Que também é orgulho ser sozinha,
E também é nobreza não ter nada.
(by Florbela Espanca in Livro de Soror Saudade, 1923)


MY PRIDE
(English version by Pedro Éme)
with Rudi's most kind correction
I recall what I used to be before. I whish
Not to remember! In painful afternoons
I recall I was  spring
That, in old walls, grew (made be born)(?) the roses!

My hands, once tender,
Used to hover as doves do… Who could know
Why everything is gone and was a chimera,
And why don't old walls give roses!?

There are, always, the ones I recall those who forget me…
But I say to myself: "They don't deserve me…"
And I don’t remain that abandoned anymore!

I feel I'm worth more, being poorer:
For there is also pride in being lonely,
And is also nobility not to have a thing!
(by Florbela Espanca in Book of Sister Saudade*, 1923)


*saudade = the feeling one feels for departed love ones or moments or something we no longer posses.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Only an EXPERT is able to say:



by LVIS VAZ DE CAMÕES
(an extract)

... O Soneto Completo AQUI : / ...The Complete Sonnet HERE:

Amor é fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem-querer;
É um andar solitário entra a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

sábado, 12 de junho de 2010

O Passeio de Santo António

de Augusto Gil:

O Passeio de Sant’António

Saíra Santo António do Convento
A dar o seu passeio costumado
E a decorar, num tom rezado e lento,
Um cândido sermão sobre o pecado.

Andando, andando sempre, repetia
O divino sermão, piedoso e brando,
E nem notou que a tarde esmorecia,
Que vinha a noite plácida baixando...

E andando, andando, viu-se num outeiro
Com árvores e casas espalhadas,
Que ficava distante do Mosteiro,
Uma légua das fartas, das puxadas.

Surpreendido por se ver tão longe,
E fraco por haver andado tanto,
Sentou-se a descansar – o bom do Monge
Com a resignação de quem é Santo...

O luar, um luar claríssimo nasceu.
Num raio dessa linda claridade,
O Menino Jesus baixou do Céu
E pôs-Se a brincar com o capuz do Frade.

Perto, uma bica de água murmurante
Juntava o seu murmúrio ao dos pinhais...
Os rouxinóis ouviram-se distante,
O luar, mais alto, iluminava mais.

De braço dado, para a fonte, vinha
Um par de noivos todo satisfeito,
Ela trazia ao ombro a cantarinha,
Ele trazia... o coração no peito.

Sem suspeitarem de que alguém os visse,
Trocaram beijos ao luar tranquilo.
O Menino, porém, ouviu e disse:
– Ó Frei António, o que foi aquilo?...

O Santo erguendo a manga do burel
Para tapar o noivo e a namorada,
Mentiu numa voz doce como mel:
– Não sei que fosse. Eu cá não ouvi nada...

Uma risada límpida, sonora,
Vibrou em notas de oiro no caminho...
– Ouviste, Frei António? Ouviste agora?
– Ouvi, Senhor, ouvi. É um passarinho...

– Tu não estás com a cabeça boa!
Um passarinho a cantar assim!...
E o pobre Santo António de Lisboa
Calou-se embaraçado, mas por fim,

Corado como as vestes dos Cardeais,
Achou esta saída redentora:
– Se o Menino Jesus pergunta mais...
Queixo-me a Sua Mãe, Nossa Senhora!

Voltando-Lhe a carita contra a luz
E contra aquele amor sem casamento,
Pegou-Lhe ao colo e acrescentou: – Jesus, são horas!...

E abalaram pró Convento.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

*** . LVÍS . VAZ . DE . CAMÕES . *** (c. 1524 - 10 June 1580, in Lisboa)














*

The Poet of Lusitânia/Lusoland left us 430 years ago...
(quiçá numa
triste e leda madrugada,
cheia toda ela de mágoa e piedade...).
*
How much we need him back!

*

O Soneto completo:
*
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
*
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.
*
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, em mim, converte em choro o doce canto.
*
E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.
Luís Vaz de Camões

The very Poet's Poetry:



a SONNET by Luís Vaz de Camões, whitch I won't dare to even try a translation. I'm so sorry, but the enormous respect I have for the perfect Poetry of Camões won't allow me such a crime. A sin, I may say.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Vagabundo / Vagamundo


Graphic Design by [PMSCBA]
*
*
VAGABUNDO / VAGAMUNDO
(ca 1962)

por Luís Macedo,


Já disse adeus a tanta terra a tanta gente...
nunca senti meu coração tão magoado,
inquieto por saber que o tempo vai passar
e tu vais esquecer o nosso fado...

Partidas,
cada vez mais sombrias...
cansadas...
são nuvens negras em céu azul,
são ondas de naufrágio em mar fundo.
No meu deserto não vejo abrigo,
sem ter um amor neste Mundo.

Mas se eu voltar e, como penso, me esqueceste...
troco por outro, o coração amargurado...
Tentarei não fazer mais castelos no ar
e nunca mais viver um outro fado.

Partidas,
cada vez mais sombrias...
cansadas...
são nuvens negras em céu azul,
são ondas de naufrágio em mar fundo.
No meu deserto não vejo abrigo,
sem ter um amor neste Mundo.

(cantado por Amália, musicado por Alain Oulman e gravado no LP “Busto” de 1962)

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

One More Sonnet by FLORBELA ESPANCA

de FLORBELA ESPANCA

[ Portuguese original version ]
[ versión Portuguesa original ]
[ version Portugaise originel ]


In LIVRO DAS MÁGOAS, 1919


DESEJOS VÃOS

Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a Árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza...
As Árvores também, como quem reza,
Abrem, aos céus, os braços, como um crente!

E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras... essas... pisa-as toda a gente!...

*
*
By FLORBELA ESPANCA

[ English version by Pedro Éme ]


In BOOK OF SORROWS, 1919


VOID DESIRES

I wish I were the Sea of a haughty presence
That laughs and sings for his immense wideness!
I wish I were the Stone that have no prudence,
That stone of the pathway, rude and full of robustness!

I wish I were the Sun, that intense luminosity,
The blessing of those who are humble and luckless!
I wish I were the roughly and thick Tree
That laughs at the vain world and even at the death!

But the Sea either weeps for feeling grief...
The Trees, as well as those who have a belief
They raise to Heavens their arms, like a prayer!

And the Sun, haughty and strong, in the end of each day,
Have tears of blood wile fades away!
And the Stones... those... are trodden by every player!...



[ Dear Florbela, I beg you:
Forgive me if I failed translating your Sonnet! I can swear I’ve made it the most respectfully I could!
Love
PM ]
*
*
de FLORBELA ESPANCA

[ versión Castellana por Pedro Éme ]


en LIBRO DE LAS DOLORES, 1919


VANOS DESEOS

¡Yo quisera ser el Mar de altivo porte
Que reí y canta, su vastedad inmensa!
¡Yo quisera ser la Piedra que no piensa,
la piedra del camino, rudo y fuerte!

¡Yo quisera ser el Sol, la luz intensa,
la fortuna de quién es humilde y no tien suerte!
¡You quisera ser el Árbol, de naturaleza tosca e densa
que reí de lo mundo vano y hasta mismo de la muerte!

Pero el Mar también llora de tristeza...
¡Los Árboles también, como quién reza,
erguen, a los cielos, los brazos, como un creyente!

¡Y el Sol altivo e fuerte, al fin de cada día,
tien lágrimas de sangre en su agonía!
¡Y las Piedras... essas... pisalas toda gente!...
*
*
d'après FLORBELA ESPANCA

[ version Française par Pedro Éme ]


dans LE LIVRE DE LA PEINE, 1919


VAINS DÉSIRS

Je voudrais bien être la Mer de tel hautain prestance
Que rit et que chante sa étendue immense!
Je voudrais bien être la Pierre qui n’y pense,
Celle du chemin lourd et puissant!

Je voudrais bien être le Soleil, la lumière intense,
L’avantage de celui qu’est humble et n’a pas de bonne chance!
Je voudrais bien être une Arbre en brut et épaisse
Que rit du monde vain et quand même de la mort.

Malgré cela, la Mer également pleure d’avoir tristesse...
Les Arbres, pareillement a ceux qui prient,
Ouvrent, aux cieux, leurs bras, ainsi qu’un croyant!

Et le Soleil, hautain et fort, à la fin de chaque journée,
Il a des larmes de sang dans l'acmé!
Et les Pierres... á celles-là... les foulent tout le monde!...

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

OUR BOOK of LOVE

a sonnet by Florbela Espanca, 1923 :
*
*
O NOSSO AMOR
*
Livro do meu amor, do teu amor.
Livro do nosso amor, do nosso peito...
Abre-lhe as folhas devagar, com jeito,
Como se fossem pétalas de flor.
*
Olha que eu outro já não sei compor
Mais santamente triste, mais perfeito.
Não esfolhes os lírios com que é feito
que outros não tenho em meu jardim de dor!
*
Livro de mais ninguém! Só meu! Só teu!
Num sorriso tu dizes e digo eu:
Versos só nossos mas que lindos sois!
*
Ah! meu Amor! Mas quanta, quanta gente
Dirá, fechando o livro docemente:
"Versos só nossos, só de nós os dois!..."
*

sábado, 21 de novembro de 2009

Eros & Psyche

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

[EROS e PSIQUE, by Fernando Pessoa, c. 1934]

domingo, 25 de outubro de 2009

My ironic smile, my friends!

by [PMSCBA],

c. 1996

(this is a sketch for an illustration I've made, years ago, for the next poem:)

.

POEMA DA MINHA ESPERANÇA

por Sebastião da Gama, 27 de Janeiro de 1947

.

.

Que bom ter o relógio adiantado!...

A gente assim, por saber

que tem sempre tempo a mais,

não se rala nem se apressa.

.

O meu sorriso de troça.

Amigos!,

quando vejo o meu relógio

com três quartos de hora a mais!...

.

Tic-tac... Tic-tac...

(Lá pensa ele

que é já o fim dos meus dias.)

.

Tic-tac...

(Como eu rio, cá p'ra dentro,

de esta coisa divertida:

ele a julgar que é já o resto

e eu a saber que tenho sempre mais

três quartos de hora de vida.)

.

English version (translation by António Guevare, from Lifstyle Warriors: lifestylewarriorsweekly.blogspot.com and Pedro Éme)

.

POEM OF MY HOPE

by Sebastião da Gama. 27 Jan 1945

.

How nice it is to have the clock forwarded!...

So, by knowing to have

more time than supposed,

one does not worry and one doesn't hurry.

.

My derisive grin.

My friends!,

when I watch my watch

advenced three quarters of an hour!

.

Tic-tac... Tic-tac...

(Wondering

the end of my days is about to be.)

.

Tic-tac...

(How am I laughing

about this amusing thing:

while he feels it's the dead of the day

I am spending my

saved three quarters of an hour away.)

" O Tempo, esse bandido clandestino ! " [" The time, that clandestine bandit ! "]



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Art by Roy Lichtenstein
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(o tempo tem) MAIS OLHOS QUE BARRIGA
by Susana Felix
.
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O tempo, esse bandido clandestino
salteador de estradas e memórias
mistura numa névoa, libertino,
o passado e o futuro das histórias.
.
O tempo de dizer: a vida é breve.
O tempo de viver, há quem o diga,
só espera pelo diabo que o leve ...
.
O tempo tem mais olhos que barriga!
.
Insinuo os dedos de rameira
remexendo em tudo, muito embora,
seja sem prazer que tudo queira...
trinco e deixo a meio e deito fora.
.
O tempo de dizer: a vida é breve.
O tempo de viver, há quem o diga,
só espera o diabo que o leve...
.
O tempo tem mais olhos que barriga!
.
O tempo que se esconde de emboscada...
O tempo que te foge a sete pés...
O tempo que, no fim, não vale nada.
.
(I'll try to put those words in English later)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

" As tatters, to drag my bleeding feet ... "


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CÂNTICO NEGO
by José Régio
(original version)
.
.
.
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "Vem por aqui" !
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali ...
.
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe.
.
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos ...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Porque me repetis: "Vem por aqui" ?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí ...
.
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada !
O mais que faço não vale nada.
.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos ?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil !
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
.
Ide ! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios ...
.
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções !
Ninguém me peça definições !
Ninguém me diga: "Vem por aqui" !
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou ...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
- Sei que não vou por aí !
BLACK CANTICLE (Black Song)
by José Régio
(translation by Pedro Éme)



“Come this way” – tell me a few with sweet eyes
Stretching me their arms and (quite) sure
That it would be good if I listening to them
When they say to me: “Come this way”!
I (do) look at them with weary eyes
(There’s in my eyes ironies and lassitudes)
And I fold my arms,
And I never go that way...

That one is my glory:
To create inhumanity!
Do not accompany no one.
- For I live with the same non-will
I had when I tore my Mother’s venter.

No, I’m not going that way! I shall go but
Where my own steps take me to...
If, when I go for knowing, none of you answer me,
Why do you repeat to me: “Come this way”?
I prefer to slip in the muddy alleys,
To whirl by the winds,
As tatters, to drag my bleeding feet,
Than go that way...

If I came to the world, it was
Just to deflorate virgin forests
And draw my own feet in the unexplored sand!
The more I do is no worth.

How, so (then), will be you
(Who’ll set me going) Who’ll give me impulses, tools and bravery
For me to knock down my own snags?...
In your veins flows an old blood from grandparents
And you love what is easy!
I do love the Farther and the Looming,
I love the abysms, the torrents, the deserts...

Go! You have roadways,
Have gardens, have garden-plots,
Have motherlands, you have ceilings,
And you have rules, and treatises, and philosophers, and
......................................................................sapient men.
I have my own Madness!
I lift it up as a burning torch in the dark evening,
And I feel foam, and blood, and canticles in my leaps...

God and the Devil are the ones who guide me, no one else.
Everyone had a father, everyone had a mother;
But me, who never begins nor ends,
I’ve born from the love that exists between God and the
...............................................................................Devil.

Oh! That no one give me pious intentions!
No one ask me for definitions!
No one tell me: “Come this way”!
My life is a windstorm that got free.
It’s a wave that rose up.
It’s one more atom that became animated...
I don’t know by where shall go,
Don’t know to where I’ll go,
- I know I’m not going that way!

domingo, 13 de setembro de 2009

ADAMASTOR [Portuguese glazed tile wall panel]


O MOSTRENGO
.
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes
Voou três vezes a chiar,
E disse, "Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?"
E o homem do leme disse, tremendo,
"El-Rei D. João Segundo!"
.
"De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?"
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
"Quem vem poder o que só eu posso,
Que morro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?"
E o homem do leme tremeu, e disse,
"El-Rei D. João Segundo!"
.
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes,
"Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou o Povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!"
by Fernado Pessoa
in MENSAGEM - 1935
[I couldn't be able to translate those words faithfully.
What a pity!]
Glazed Tile Wall Panel by Jorge Colaço [1868-1942]