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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Coisas que não se dizem em conferências finas sobre segurança (Diz, Mia. Diz!)



É verdade que o medo também tem as suas raras vantagens históricas. Afinal, foi o medo do comunismo que permitiu a construção do welfare state e umas décadas de mais justa distribuição da riqueza entre o capital e o trabalho.

Mas posto isto, se um dia juntarem o Mia e o Denis Duclos a falarem acerca do terrível perigo actual do medo (e da ideia de vivermos numa "sociedade do risco"), não se esqueçam de avisar.

domingo, 3 de abril de 2011

Japão no seu melhor

Esta auto-estrada, destruída no terramoto de dia 11, foi reparada em 6 dias.
(obrigado pela foto e informação, Último Nan Ban Jin)

sexta-feira, 11 de março de 2011

"Os mercados", essa coisa racional...

Por altura da abertura da Bolsa de Lisboa, viam-se nas televisões imagens de um depósito de gás de uma refinaria japonesa a arder, em consequência do enorme abalo sísmico ocorrido pouco antes.

As acções da Galp sofreram uma quebra.

Que "os mercados" não rimam com sensibilidade é, suponho, um facto assumido e consensual.
Mas espero que menos pessoas fiquem a acreditar que rimam com racionalidade.

Um abraço de solidariedade ao povo japonês


E os meus agradecimentos por, com a seriedade dos seus regulamentos de construção anti-sísmica e a preparação das pessoas para actuarem em situação de catástrofes, terem transformado uma tragédia que há 100 anos representava centenas de milhares de mortos em custos humanos incomparavelmente inferiores.

Estou certo de que um povo que, há séculos, conseguiu transformar algo de tão aterrador como uma onda gigante numa das suas obras de arte mais apreciadas sairá por cima desta desgraça.

Gostaria que alguma coisa fosse aprendida, com isto, na minha terra. Mas temo que tal não possa passar de um whishful thinking.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A Recusa de Ser Irrelevante, on-line


Para quem isso tenha passado depercebido no post anterior, aqui fica a prometida ligação para o meu artigo "A recusa de ser irrelevante", acerca dos protestos populares de 1 e 2 de Setembro em Maputo, e publicado no número de Outubro do Monde Diplomatique.

Aproveito para vos indicar dois outros textos acerca do assunto, da autoria de Luca Bussoti e de Marílio Wane.
(Obrigado ao Carlos Serra pela sua divulgação)

sábado, 2 de outubro de 2010

Frase do ano no Inimigo Público


«OCDE recomenda ao Governo aumentar impostos, fazer despedimentos em massa, baixar salários e cortar nos benefícios, caso contrário os portugueses vão sofrer tempos difíceis»

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Ainda a crise que nos crisa

É uma brilhante e divertida abordagem destas crises e das suas raízes (infelizmente sem legendas - alguém as sabe e quer fazer?), que vai bastante mais longe, fundo e largo do que a minha velha favorita como primeira aproximação ao tema.

Que, já agora, vos re-apresento.

sábado, 12 de junho de 2010

Receita popular para arranjar marido


Compre uma estatueta pequenina de Sto. António.

Sozinha em casa, apele para a ajuda do santinho (as palavras da reza não são muito importantes, pois o pobre homem já sabe o que o espera) e coloque a estatueta de cabeça para baixo, dentro de um copo escondido no seu armário.

Se ao fim de um mês não se verificarem mudanças significativas (ou seja, se o santo se está a armar em esquisito), ponha água no copo, de forma a que a cabeça dele fique debaixo de água.

Quando algum garboso representante do género masculino a pedir em casamento, retire a estatueta do copo, limpe-a cuidadosamente, ponha-a direita e agradeça.


A percentagem de sucesso desta receita é muito elevada.
Afinal, se uma mulher está suficientemente motivada e empenhada para fazer isto tudo, dificilmente deixará de conseguir os seus intentos.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Palestra de Philip Peek

"Twins in African Cultures and the African Diaspora"

6ª feira, 21 de Maio, 14 horas, ICS-UL
(Av. Prof. Aníbal Bettencourt 9, a Entre Campos)

E o resumo reza assim:

«Previously in African Studies twins have been understood to be either a biological or a cultural problem. Multiple births were said to be too “animalistic” for human society or too difficult for the mother to care for. Other analyses stressed the social structural problem of two beings in one social position. While some African societies follow these dictates, a more complete survey reveals many societies which cherish twin births and even among those who are ambivalent about twins positive attitudes prevail. Indeed, among Africans in the Americas, the healing and helpful qualities of twins are their main features. A broader comparison of African and European attitudes towards twins reveals intriguing differences between these culture areas.»

Adivinhação e Cura em moçambique

5ª feira, 20 de Maio, ICS-UL
(Av. Prof. Aníbal Bettencurt 9, a Entre Campos)

10 horas
Abertura

- José Manuel Rolo (Presidente da Assembleia do ICS-UL)
- Martins Kumanga (Primeiro-Secretário da Embaixada de Moçambique)

10h. 30m.
"Os Donos dos Segredos"

- Philip Peek (Drew Un., EUA)
"Special Modes of Communication in African Divination Systems"
- Paulo Granjo (ICS-UL)
"O que é que a adivinhação adivinha?"
- Debatedor: João Pina Cabral (ICS-UL)
Debate público

14 horas
"Curandeiros e Hospitais"

- Esmeralda Mariano (Un. Eduardo Mondlane, Moçambique)
"Processos de transmissão dos saberes na medicina tradicional: seu reconhecimento e aceitação"
- Brigitte Bagnol (Witswatersrand Un., África do Sul)
"Aetiology of diseases in central Mozambique with a special focus on HIV/AIDS"
- Cristiana Bastos (ICS-UL)
"Curandeiros e Hospitais: uma fronteira móvel"
- Debatedor: Paulo Granjo (ICS-UL)
Debate público

Infelizmente, Pedro Cossa, médico tradicional e dirigente da AMETRAMO que nos iria falar de "Médicos tradicionais e sistema de saúde oficial: problemas e necessidades", não poderá estar presente devido a doença. Tentarei transmitir algumas das suas preocupações no meu comentário à sessão.

Este seminário realiza-se no âmbito do projecto "Nyangas e Hospitais: conceitos e práticas curativas em Moçambique", financiado pela FCT.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Um perigoso buraco

Uma notícia recente, acerca do destino a dar ao Arquivo Histórico da Câmara de Lisboa parece confirmar aquilo que suspeitava quem passava pelo Vale de Stº António:

O enorme buraco que ali foi criado (com uma parede de betão a amparar o que resta de uma colina que, com ele, perdeu uma encosta) corresponde a um projecto abandonado.

Pedro Santana Lopes enterrou ali 3 milhões de euros e António Costa abandonou a ideia - dizem alguns que pelos seus custos faraónicos, sugerem outros que por existirem dúvidas acerca da segurança da contenção de terras.

A segunda hipótese é, claro, gravíssima no imediato.

Mas, mesmo que se dê o caso de tais dúvidas afinal não existirem, continua a estar ali um grave problema por resolver.

Apesar da impressionante quantidade de betão empregue para amparar a colina (cortada na vertical para escavar alicerces), uma coisa é a pressão das terras ser depois distribuída pela estrutura do prédio que se previa construir, outra é ter ali um paredão isolado, apenas sustentado em si próprio.

Mais a mais, o betão (como qualquer outro material) envelhece, degrada-se, cria zonas de fragilidade.
E mais depressa o faz quando foi empregue numa obra abandonada, que nunca merece a vigilância e manutenção de algo que está a ser utilizado.

Por outras palavras, os prédios que já estavam implantados na crista do que resta da colina estão, a prazo, ameaçados por aluimentos.

Que irá a Câmara de Lisboa fazer?
Repor as terras - o que também cria perigos e erosão e deslizamentos, imprevisíveis na forma que possam tomar?
Confiar que, com tanto betão ali metido, «não há de haver azar»?

Não sei.
Mas pelo menos que, desde já, se tenha consciência do problema e da necessidade de o solucionar.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Tardou uns dias, mas chegou

Confesso que já me estava a admirar com a demora.

Com uma catástrofe de tão grande dimensão no Haiti (país ligado ao estereotipo do vodu, por sua vez ligado ao estereotipo de culto demoníaco), mais tarde ou mais cedo tinha que aparecer um qualquer tele-evangelista estado-unidense a atribuir a tragédia a um castigo divino.
Foi o que fez Pat Robertson, com a criatividade suplementar de culpar todo um país e as suas «sucessivas maldições» por um «pacto com o diabo», feito pelos escravos durante a sua revolta vitoriosa contra os franceses.
Parece que o homem tentou depois emendar a mão, mas as declarações iniciais (e a fraseologia utilizada) não deixam margem para dúvidas.

A maldade quase demoníaca (de tão desumana) presente em tais declarações não me parece resultar de mera estupidez.

Decorre de uma visão do mundo partilhada pela igreja católica há poucos séculos atrás, e que ainda por aí anda entre muito bom padre.

Decorre, afinal, de uma contradição essencial em todos os movimentos que se reclamaram do cristianismo: do facto de as mensagens de Cristo (contraditórias elas próprias, é verdade) serem bem pouco compatíveis com a terrível divindade do Antigo Testamento.

E com o facto de os sucessos evangelizadores massivos (sejam eles mediáticos ou não) estarem ligados, não a deturpações, mas a interpretações legítimas daquilo que de pior nos ficou daqueles escritos mais antigos.
Parece que é mais fácil mobilizar seguidores para uma divindade interveniente, punidora e milagreira e para a responsabilização do diabo pelas nossas maldades e incapacidades, do que para a auto-responsabilização e a bondade.

Torna-se depois fácil ver, na assustadora senhora cuja foto abre este post, uma adoradora do diabo, portadora do pecado original dos seus revoltosos antepassados.
Sobretudo, se a tirarmos do enquadramento e do contexto - em que ela se torna uma assustada pessoa semi-soterrada em escombros e rodeada de cadáveres, talvez de familiares.



Livre-nos Deus, se existir, dos bem intencionados apóstolos da justiça divina!

domingo, 10 de janeiro de 2010

Saúde e Doença em Moçambique

Soube recentemente que o meu artigo "Saúde e Doença em Moçambique" (que passa pelas noções "locais" de doença, saúde e cura e pelas práticas curativas "tradicionais", mas também dá umas bicadas nos fossos pseudo-dialogantes que com elas mantém a biomedicina) já foi publicado na revista brasileira Saúde e Sociedade e está disponível aqui.

Críticas, opiniões e sugestões são, como sempre, bem-vindas.

(na foto, a concentração para o desfile do Dia Africano da Medicina Tradicional, em 2009)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Um pequeno sismo

Comparado com o de 1969, parece que o sismo de ontem não foi nada.

Pela minha parte, não me posso pronunciar.

Há 40 anos atrás, estava a dormir e a dormir fiquei.
Mas parece que houve um desfile de vizinhos na rua, aos gritos de pijama ou camisa de dormir - que, segundo um colega da escola, deu para espreitar uns pedaços de mamocas oriundas de casas alheias, em saltitante liberdade.

Desta vez, curiosamente, parece que abanou bem as traseiras da minha casa mas, na sala da frente, só dei por ele quando o espanta-espíritos começou a tocar sozinho.

O que me lembro bem, de há 40 anos, é que apareceram logo uns originais a atribuirem a culpa da coisa às viagens do homem à lua.

Será que, agora, aparecem outros a dizer que a culpa é do casamento entre pessoas do mesmo sexo?
Talvez não, já que, parece, o direito a adopção vai ficar de fora - como se a homossexualidade fosse uma doença contagiosa...

É assim a modos que um sismo pequenino, em que se acaba com uma desigualdade e se explicita outra.

(a capa do Século Ilustrado foi "roubada" ao Manuel Duran Clemente)

sábado, 28 de novembro de 2009

Quando um homem dorme na valeta...

Hoje foi, simultaneamente, o Dia Sem Compras e o início da habitual campanha do Banco Alimentar Contra a Fome, para recolha de produtos nos supermercados.

Mais de que uma coincidência, acaba por ser uma desconfortável metáfora de um modelo de sociedade que faz ombrear a fome com o estímulo ao consumo excessivo e desnecessário, ainda encarando isso com naturalidade.
E quando escrevo «excessivo e desnecessário», não penso apenas nos sempre discutíveis e mutáveis critérios éticos (que nem por o serem se tornam menos importantes), mas também no mais elementar bom-senso acerca da sua sustentabilidade energética, hídrica, sanitária e ecológica.

Cruzaram-se hoje nos títulos dos jornais - tal como todos os dias se cruzam à nossa volta, de forma subreptícia e inquestionada - a maior capacidade de produção e consumo (incluindo de muito lixo) da história humana, a aparência da promessa de riquezas sem limite, e a naturalidade e rapidez com que se condenam à exclusão e fome massas de serem humanos, no próprio centro dessa abastança.
Sem sequer precisarmos de olhar para o lado para não vermos. Porque essas pessoas (que facilmente poderíamos e poderemos ser nós próprios) se nos tornam invisíveis.

No percurso dos seres humanos pela terra, houve e há comunidades inteiras a morrerem de fome devido a catástrofes naturais e/ou asneiras humanas.
Houve e há desigualdades capazes de lançar na morte partes de sociedades, em alturas de particular escassez.
Mas até os senhores de escravos os alimentavam de acordo com o humanamente necessário, desde que houvesse comida.
E não conheço antecedentes históricos, fora do quadro do capitalismo, para a paulatina fome de parte da comunidade, em tempos de abastança.
Nem antecedentes, com crises ou sem elas, para tanta abastança.

Tenho para mim que impedir a fome, havendo comida, é uma responsabilidade do Estado. Mas não o faz. E a fome existe.
Tenho também para mim que, no quadro societal em que vivemos, a caridade cara-a-cara é degradante para quem a dá e para quem a recebe. Mas é de solidariedade e de decência humana que se trata. E a fome existe.
Um mundo diferente só pode ser possível. Mas temos muito que andar e que fazer. E a fome existe. Hoje.

A meia dúzia de coisas e de euros que nos permitem encher o saco que entregamos ao Banco Alimentar não mudam o mundo. Não mudam sequer a vida de quem tem fome. Mas permitem a alguns comer.

Penso que vale a pena.
Desde que não nos sintamos, com isso, aliviados.
Desde que isso também contribua um pouco para que essas pessoas deixem de ser invisíveis aos nossos olhos. Não como situações, mas como pessoas.

E, já agora, desde que isso nos lembre de quando era inaceitável e insultuoso, para cada um(a) de nós, que um outro ser humano dormisse na valeta.

Pois a naturalização da valeta, da caixa de cartão, da fome, não é apenas uma mutilação de quem somos.
É, também, uma condição para que tudo assim continue.

domingo, 11 de outubro de 2009

No último do Luís Sepúlveda

«Se na queda o gira-discos não tivesse encontrado outra resistência além do ar húmido de uma noite invernosa, a pancada teria sido muito mais feroz e a estrutura geométrica desenhada pelos engenheiros alemães, nem adequada nem desenhada para suportar semelhantes choques, após um estremecimento atómico, a traição da cola, o divórcio dos encaixes e a fuga dos pregos sem cabeça que a suportavam, não passaria de um monte de estilhaços disseminados pelo passeio molhado. Mas o gira-discos foi travado pela cabeça de um sujeito que, tendo toda a cidade para se mover, escolheu aquela rua, aquela noite de chuva e aquele instante de fatalidade vertical.»

(in A sombra do que fomos, p.22)

Quando o leitor usa sistematicamente, nas suas aulas sobre o absurdo da incerteza e a domesticação do aleatório, o exemplo de um piano de cauda que cai de um sétimo andar em cima de um pobre transeunte que não tem nada a ver com o assunto, como não se sentir identificado com o autor?

Ainda vou na página 59.
Mas o livro está óptimo.