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sábado, 3 de agosto de 2013

Canino

Não falarei, nestas breves palavras, de Lanthimos e do seu alegórico Kynodontas (2009), embora o burlesco sirva de alicerce à eleição da fidelidade como valor absoluto de uma sociedade iconoclasta, que, todavia, se verga e anula, embargando a razão, perante o adjectivo: fiel. Palavra que me atemoriza mais do que me deixa nauseado, no que ela tem – num crescendo na escala de sordidez – de constância, de obstinação e de irredutibilidade, em suma, de um reaccionarismo bacoco.
Gostaria de trazer Rio à colação. Esse homem de cuja minha cidade, enfim, se liberta: o deificado gerente/merceeiro municipal – e a categoria profissional já o beneficia – de uma fidelidade canina perante a imagem da sua eminência, da sua rara inteligência, reflectida no espelho da sua soberba. Falar sobre a sua colagem ao mediático, à corrente de opinião diariamente emitida por esta nova raça de lapidadores do século XXI chamada de politólogo – nas variantes de comentador laureado ou de especialista bem avençado –, concebida nos laboratórios das redacções, engajada, com fidelidade, no argumentum ad hominem dirigido ao mais vulnerável, àquele que foi submetido a uma inclemente e massiva saraivada de flechas envenenadas com o objectivo, seguindo a cartilha goebblesiana (talvez, pela actualização temporal, ficasse melhor: fundados na frutuosa fidelidade norte-coreana), de aniquilar o seu carácter por maquiavelismo, sadismo, ou ambos. Na falta de Relvas (que até teve a sua dose de merecimento), houve Álvaro. Esquecido Álvaro, há Maria Luís, mais o apaniguado Secretário de Estado. Quando esta passar, virá (bom, já veio, pela boca perdigotosa dos guardiões da moral nacional, quase todos barbudos e barrigudos) o Machete, corta cerce! Ah, a rasoira politóloga… a bem da Nação (leia-se dos seus bolsos engordados por linhas editoriais que, falando de mansinho como a Ana Lourenço, vão mexendo os peões no jogo sujo dos amamentados pelo Estado.)         
Mas a canino-fidelidade teve na semana passada um episódio mais triste, que só corrobora a necessidade de a relativizar, para que alguma sanidade volte às nossas vidas – e não se me revolvam as tripas sempre que abro o jornal ou tenho o azar de passar pelos canais-viveiro de fiéis politólogos, comentadores e guias espirituais, e o seu dictat venal. Aquela história do cão Zico/Mandela, que matou uma criança, é tão sórdida, tão descentrada da realidade, fiel representante de uma nova vaga de um radicalismo liberal – fundando no pseudo-cosmopolitismo libertário que chega a ver o seu extremo: a ditadura e a vileza do politicamente correcto –, que em mais não se consubstancia que num retrocesso civilizacional. A insanidade apoderou-se desta gente e corporiza-se no (santo) nome escolhido para o cão que abocanhou a cabeça de uma criança, matando-a.
Tudo isto enquanto a saloiada Espírito Santo brinca aos pobrezinhos na Comporta.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Do miasma

[breve interlúdio na sequência de textos ordenados em numeração romana]

Hoje é um dia triste, e não se julgue que a causa, por via imediata, esteve na infeliz circunstância de o meu Porto haver sofrido por terras do Visconde a segunda derrota no campeonato – ganhou em atitude, segundo o filósofo Prof. Jesualdo, e com atitude pagarei a minhas quotas se o espectáculo de falhanços clamorosos, com ou sem Xistra, se repetir.
Como já referi sou um sofredor pelas mágoas do mundo, pela dor que comigo se cruza diariamente nos passeios da vida – cenhos franzidos, corpos mirrados, uma criança sozinha, indiferente, que ignora a pomba que a seu lado voa levando no bico o ramo de oliveira da paz entre os homens –, em suma, pela miséria ou infortúnio de se ser português. Porém, hoje, quando acordei para mais uma jornada, decerto pungente, neste vale de lágrimas, senti na boca o gosto a ferro da ressaca por um par de dias dos mais negros deste ainda imberbe 2008. Pensei em Pacheco Pereira, triste, isolado a um canto escuro e bafiento onde apenas se escutam as gotas de humidade a embater em solo duro e, no entanto, alagadiço e viscoso, carpindo, lamentando a derrota que o seu indisfarçável portismo agudizou – JPP é portista, não sabiam? O seu amor pelo Porto (todas as acepções permitidas) é inesgotável, da sua casa no antigo Carlton (agora Pestana)… ah, é um hotel… adiante.
Enquanto o seu grande amigo, o Querido Líder da Invicta, dá
sinais evidentes de que, em breve, se mudará a contragosto de malas e bagagens para Lisboa (Deus, ou alguém ou algo por Ele, o guarde aí em baixo por muitos anos) a pedido da imprensa e da blogosfera da Capital, atente-se nos seus hossanas diários, Pacheco Pereira anda distraído a brincar ao “São João Baptista” (até porque é o padroeiro da sua tão amada e inesquecível cidade), com a Cofina, Pinhão & Botelho, Carolina e com a elite fozeira Veiga e Aguiar Branco, abrindo os caminhos para a triunfal chegada do senhor, pondo de lado a “Teoria do Milieu” – ambiente miasmático em que tudo se passa – e o seu principal arquitecto JNPC, depois dos homicídios de Rio de Mouro e dos gangues que, a fazer fé nos relatos de residentes com identidade protegida, todos os dias aterrorizam a população, ou das facadas em Guimarães e dos anódinos very lights.
JPP pôs literalmente as barbas de molho, a vice-presidência chegará em breve, entretanto toca a “botar faladura” (como se sói dizer cá por cima) nos inúmeros meios de comunicação que lhe dão voz – ad nauseam.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Alívio

Nove milhões de portugueses sentem que se aproxima, enfim, o momento da libertação do miasma centralista – infelizmente em tese ou, pelo menos, naquilo que os olhos vêem.
Foram meses em que se não era a Ota, era a Câmara, e se não era a Câmara, era Berardo e o Benfica, o Berardo e o Museu Berardo e depois o Mega… chega!
Todavia, enquanto essa libertação, puramente ilusória, não puder ser gozada em toda a sua plenitude, os telejornais e os canais de televisão ditos generalistas vão-nos matraqueando com inúmeros rescaldos. As máquinas partidárias tiram as suas ilações para o todo nacional: vão rolar cabeças... Por aqui vai-se aguardando, em ansiosa esperança, por uma exportação laranja em 2009. A bem da Nação. O Porto perderá o seu filho dilecto, conjuntamente o mais amado pelos lisboetas que, em seis anos de exortações laudatórias, o poriam em cada esquina da Capital.
Os nove milhões continuarão, apesar de tudo, a viver as suas vidas. Desses, três milhões ainda respiram saúde pelo sorvedouro de recursos luso-centralista. Os restantes lutam por manter um nível de vida apenas equiparado ao das regiões mais pobres da Europa a 27.
Cá em cima, o Querido Líder promove uma competição automobilística na zona mais rica da cidade, bem longe do São João de Deus (à Areosa) onde ainda se trafica droga às claras. Quis o destino que as ruas da Alegria, D. João IV, Santa Catarina, do Bonjardim ou toda a zona do Bonfim e de Campanhã se houvessem assestado no extremo oposto da cidade: degradado e degradante; o local com maior incidência de casos de tuberculose do país, doença que, como se sabe, vem sempre associada à miséria extrema.
O Querido Líder faz uma declaração única ao seu blogue… à página da
Web da Câmara que escapou ao país: «uma das marcas mais fortes da cidade do Porto». As corridas de automóveis, a sua grande paixão, para promover a marca Porto. O desporto promove a cidade! É caso para dizer: o que eu lutei para aqui chegar...
«O Porto possui esta marca muito forte, que temos de prestigiar cada vez mais, evitando, na medida do possível, cometer também cada vez menos erros e falhas.»

Mas:
Estamos todos felizes. De anestesia em anestesia, o país rejubila. Sócrates saiu incólume. Lisboa tem Presidente!

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Правда

7.º Passo: Por favor, livrai-nos de todas as imperfeições!
(seguindo os passos até ao São João)

A 9 de Maio de 2006 disse isto. A 27 de Julho do mesmo ano acrescentei isto.
Mas a imprensa da Capital do Império, assim como alguns bloggers lisboetas elevaram-no à condição divina. Um Rio em cada esquina, seria até uma medida parcimoniosa... Os meus incontáveis apelos, de uma exasperação angustiante, à exportação do xerife cá do burgo foram em vão! Os que por ele clamavam não passaram aos actos.
Bom, já passa das 2 da manhã. O cansaço e a náusea que me provocam as arbitrariedades de gentalha desta estirpe levam-me apenas ao acto quase reflexo de anunciar este novo blogue, à laia de ode ao nosso Querido Líder.