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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Blackout cerebral


Enquanto a Wikipedia na sua versão inglesa promoveu um blackout de 24 horas no acesso aos seus conteúdos em protesto pela discussão e eventual aprovação das sugestivas leis PIPA e SOPA pelo Congresso Americano (seguir a ligação para mais informação) – de certa forma, e por todas as razões, faz-me lembrar o Portugal de antanho, de tempos da outra senhora como se sói dizer: a pipa (ou o seu enchimento etilizado) que punha a sopa na mesa de um milhão de portugueses; hoje, nem isso nos põe o pão na mesa, dadas as políticas agrícolas que arruinaram o sector vitivinícola e conduziram à miséria milhares de lavradores, especialmente os durienses, descurando-se até (negligência desmedida) o forte poder anestésico do líquido que, decerto, viria em auxílio a nós luso-dependentes da tríade nebulosa que atribui mais notas que o Prof. Marcelo e em que um dos seus elementos, numa demonstração de um sarcasmo repugnante, se dá ao luxo de ter Poor na sua denominação, para esquecer as agruras a que quotidianamente nos submetem –, o véu negro e opaco que cobria a minha percepção para as coisas que se vão passando e têm interesse no mundo real não-murakamiano (esse é uma estranha amálgama também anestésica, ou melhor, de privação cerebral) foi desvelado:

A melhor série televisiva de comédia de todos os tempos – para não me apontarem a puerilidade do exagero, coloco-a a par do Flying Circus dos eternos Monty Python, ou da curta e fugaz série (doze episódios), também da BBC, Big Train, e sim, concedo, o próprio Seinfeld co-criado por aquele que levou o psicoterapeuta ao suicídio (ver imagem) –, mas, prosseguindo, dizia que a melhor série cómica de todos tempos, Calma, Larry (Curb Your Enthusiasm), está a ser transmitida pelo canal FX da ZON (e suponho que nos outros fornecedores do serviço de televisão paga; aliás quem me informou é assinante do serviço fedorento Meo). Estão em exibição, com várias repetições na grelha diária, as duas últimas temporadas, a 7.ª e a 8.ª da série. Infelizmente, pelo caminho, perdi a 6.ª, mas guardo religiosamente os DVD das anteriores e a eles volto com alguma regularidade, sem que se perca o gosto e o prazer de ver a histórias daquele ser com uma lógica torcida e retorcida, e me preocupe com a suspensão de juízo que, neurologicamente, uma boa gargalhada poderá implicar.
Bendita seja a alma de quem me alertou. Já está tudo programado para gravação dadas as restrições horárias para poder ver aquele judeu inimputável nos poucos momentos de paz e tranquilidade que ainda existem no meu buliçoso lar.
Centenas de canais, dezenas de euros mensais, para o Panda, o Nickelodeon, Disney e pouco mais – expropriação por acção filial, seria a razão mais cómoda para apontar, mas em boa verdade, cansei-me de ver televisão e, por vezes (nem sempre), uma pessoa farta-se de engolir tanto lixo – e só ontem fiquei a saber que aquela coisa inenarrável está num canal não descortinável para um telespectador impaciente e irascível como eu.
Será de mim? Como o outro do adágio, fui o último a saber? A espera e a deliciosa contradição dos aforismos portugueses: desespera ou sempre alcança?
Cito Vila-Matas que cita Bertrand Russell que cita uma absurda anciã russa:
«Sim, meus senhores. Faz mau tempo e estamos à espera que mude. Mas é melhor fazer mau tempo do que não fazer nenhum, e é melhor estarmos à espera do que não esperarmos nada.»

Enrique Vila-Matas, Perder Teorias, pág. 26 [Porto: Afrontamento (Teodolito), 1.ª edição, Setembro de 2011, 88 pp.; tradução de Jorge Fallorca; obra original: Perder teorías, 2010.]

sábado, 9 de outubro de 2010

Há um manicómio a alguns quarteirões

A história conta-se em duas penadas, e vem aqui descrita com mais uns quantos pormenores que me dispenso a descrever: Katherina Wagner, bisneta do compositor Richard Wagner (1813-1883), actualmente co-directora do há muito centenário Festival de Bayreuth no estado alemão da Baviera – aquela é a cidade onde, desde 1874, são interpretadas obras do compositor de Leipzig – convidou a Israel Chamber Orchestra para a abrir a edição do próximo festival. Como é óbvio seguiu-se o habitual arraial de recriminações, indignações insensatas e impropérios por parte de alguns sectores da comunidade judaica.
O Passado Não Perdoa (The Unforgiven) é o título em português de um famoso western realizado por John Huston em 1960, que acorre à minha memória sempre que, nos buliçosos dias de hoje, sou confrontando com situações com este matiz: de ódio e de intolerância, adquiridos como se tratasse de um direito ao rancor perpétuo. Vítimas de um passado bárbaro, atroz e inumano que, ao invés de empreenderem um processo de cura que permita a cicatrização das suas feridas profundas através da assunção de que o horror teve data marcada e há muito foi ultrapassado, prevenindo, em simultâneo, que jamais regresse o tempo da barbárie, optam pela vitimização que se eterniza, que não só macula as suas gerações vindouras através do ódio, meramente louco porque se encontram já puídos e difusos os fios da História, como instiga à transmissão de um saudosismo criminoso aos filhos e enteados dos verdugos de antanho.
Recordo-me bem. O filme marcou-me profundamente quando, na minha infância, o vi transmitido pela televisão pública em casa dos meus avós: consternou-me pelo forte sentimento de injustiça e pela percebida irreparabilidade do dano causado pelas crueldade e voracidade humanas – nunca mais o voltei a ver, embora subsista na minha memória um dos maiores apelos à tolerância materializado em celulóide em toda a história do cinema, levado à tela pelas mãos do mestre Huston e do argumentista Ben Maddow (que também colaborou com Huston no icónico Quando a Cidade Dorme, The Asphalt Jungle, de 1950), baseado no romance homónimo de Alan Le May.
Mas neste caso em particular, o admirável, genial e impiedoso judeu norte-americano Larry David consegue, levando-nos às lágrimas pelo riso, transmitir todo o tipo de mensagens que, por vontade própria, ainda estigmatizam a comunidade judaica. Veja-se, por exemplo e bem a propósito deste infeliz incidente na vida real, este excerto do 3.º episódio, “Trick or Treat”, da 2.ª temporada (2001) de Curb Your Enthusiasm – a melhor série cómica de sempre, logo após o Flying Circus dos Monty Python, e imediatamente antes de Seinfeld –, onde o trautear da obra orquestral Siegfried-Idyll (1870) de Richard Wagner, leva Larry a recomendar o internamento no manicómio de um judeu intrépido que o interpela e que, logo a seguir descobre, é seu vizinho, não sem antes lhe haver sugerido que lhe examinasse o pénis para verificar se era ou não judeu:
 
É verdadeiramente descoroçoante verificar que, com episódios destes, os esforços de judeus moderados como Daniel Barenboim (citado neste caso), Amos Oz ou David Grossman, entre tantos outros, não produzem os frutos pretendidos: que se afaste de uma vez por todas o sofrimento que ainda assola as mentes de uma comunidade, sem que, porém, seja apagada a História de um genocídio para ensinamento futuro.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

A não perder...

...os 10 episódios da 4.ª temporada de Curb Your Enthusiasm (Calma Larry, em Portugal) em reposição na RTP2 durante esta semana (dois episódios por dia).


E tudo... for a fuckin' five iron!

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Algum Abandono

Capítulo I
Ando arredio. Por vezes, este exercício catártico a que se convencionou chamar de blogosfera – quiçá por disfuncionalidade anatómica ou por dislexia orgânica, nunca a vi como “extensão da pila” (deixemo-nos de pruridos penianos) – deixa-me prostrado, sem ânimo, o cursor a pulsar sobre a folha branca antes do copy & paste, as ideias formigam na minha cabeça, seguem num curso definido e delimitado, mas frequentemente acabam por desembocar num delta, gigantesco, pantanoso… assalta-me um sentimento de vazio: não têm ponta por onde se lhes pegue.

Capítulo II
Livros. Não me sinto capaz de encontrar um simples fio que me conduza à materialização das emoções que se me afloraram durante a sua leitura num texto estruturado. O livro de Palahniuk, que terminei há 5 dias, é medonhamente mau, é pura e simplesmente literatura rasca. Escrevi um monte de parágrafos e não os consigo encaixar num todo conexo que seja capaz de exprimir o meu sentimento de desagrado... repousa para amadurecimento. O mesmo se passa com Aqui Nos Econtramos de John Berger, embora com alguns sentimentos misturados, um belíssima primeira parte e um final um pouco fastidioso. Terminei-o há dois dias, atribuir-lhe-ia talvez 4 estrelas – Bom – mas não consigo encontrar as palavras. Cansam-me as remissões ao texto escrito, tenho preguiça de as procurar. Já para nem falar nalguma frase tipicamente de literatura comparada que, em certas ocasiões, aponho nos meus textos curtos de avaliação pessoal de uma obra. Pensei em Vertigens. Impressões de Sebald, Berger fez-me recordá-lo, porém não vislumbro as palavras que permitam consubstanciar a suposta semelhança entre as duas obras.

Capítulo III
Depois… Depois há a hora habitual do exercício da escrita na blogosfera. Aproveito o silêncio que prepondera no intervalo de tempo em que o trio fantástico de pares de cromossomas X inicia a sua peregrinação ao mundo dos sonhos, e eu, um insone por excelência, ainda vagueio pela casa inventando coisas – a ler, a comer, a ver televisão ou DVD, mais um iogurte com cereais, mais um livro, a escrever no blogue, and so on – antes de me deitar e dormir 4 ou 5 horas... OK, é pouco e eu não sou o Marcelo Rebelo de Sousa, recupero-as (refiro-me às horas de sono perdido) aos fins-de-semana.

Capítulo IV
Não é justo!, assevero com uma estranha indignação. A RTP2 anda a passar o Curb Your EnthusiasmCalma, Larry em Portugal – do genial argumentista e produtor de Seinfeld Larry David. A 1.ª temporada foi exibida na íntegra na semana passada – dois episódios por dia, nos dias úteis. Esta semana iniciou-se a 2.ª temporada – que ainda não havia visto. Há pouco mais de 1 hora acabei de ver os 3.º e 4.º episódios. Talvez se recordem: (3.º ep.) “Trick or Treat”, as meninas adolescentes que vão à porta da casa de Larry para o costumeiro “trick or treat?” na noite de halloween e que são corridas por este pela bitola idade e a qualificação de “vagamente disfarçadas”, mas também é o episódio do assobio do arranjo orquestral Idílio de Siegfried de Richard Wagner que o compôs para oferecer à sua mulher, Cosima, no dia do seu aniversário… a propósito Cheryl faz anos; (4.º ep.) “The Shrimp Incident” lembrem-se dos camarões que faziam parte do prato encomendado por Larry e que, alegadamente, o patrão da HBO comeu, por uma infeliz troca de encomendas, mais tarde remediada porém desfalcada de 8 dos precisosos bichos… É o episódio onde Larry é acusado de violência doméstica e de misoginia pelo uso da palavra “cunt” numa mesa de póquer. Alguém sai do armário…

Epílogo
A hora do silêncio é agora ocupada por Larry David
Para os 7 (e estou a ser generoso) que me lêem com atenção, as minhas desculpas. Queixem-se à HBO e especialmente à RTP2, cada vez melhor na sua criteriosa programação.

Rebuçado