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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Rapsódia em Azul – Manhattan



Em degustação e por mais quatro anos…


Punch line: He’s done a great job on you. Your self-esteem is like a notch below Kafka’s.

sábado, 21 de maio de 2011

Novas Oportunidades

Pode-se maldizer o programa, porém é um facto, este país mudou. Pode ser leviano apontar-se-lhe a frivolidade na demanda pelo santo grau, mesmo que os cavaleiros oportunistas não alcancem o seu sentido prático, ou melhor, a sua exequibilidade na vida deteriorada de cada lar que recebe um papel em letra de forma para emoldurar junto à reprodução da ágape primordial do famoso fresco de Da Vinci. E o Menino da Lágrima não se lembrou… seria melhor não desprezar as suas qualidades de vedor de lençóis freáticos carregados de auto-elogio.
Prosseguindo. Como uma erupção magmática, ao Menino da Lágrima veio-lhe à ideia o fenomenal furo propagandístico, logo arrefecido pela recordação ressentida de velhas querelas em Verão quente: não há um único dia que o Público não esgote nos hipermercados Continente. Lemos mais, estamos mais cultos, já sabemos escrever Pisa sem dois “z’s”.
Perante pilhas de jornais Record, dois ou três exemplares de quatro ou cinco títulos, dei por mim a afagar o frio metal do escaparate, arrepiando-me pela confirmação da longa ausência do Público, hoje com Ípsilon. Esbocei um grito. Mas, de repente, fui assolado por um vórtice de emoções de sinais contrários difíceis de transcorrer para estas linhas em hipertexto – o profundo pesar pelo companheiro das sextas-feiras perdido e a indescritível exultação pela constatação de que nos tornámos num povo mais letrado, mesmo que seja para acender os fogareiros na Avenida da Liberdade da erudita Capital no megapiquenique com o Carreira (e o apelido até vem a propósito).
Eram duas as lágrimas: apenas ficou a invisível contrafeita activada pelo testemunho veemente e iracundo do torneiro mecânico pós-doutorado em quinze dias, ditando, sem vacilar, a narrativa do regime na barraca do Sr. Engenheiro, o nosso mestre das oportunidades.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O camelo e a agulha: os números finais e o júbilo socialista

Falou o profeta: «Nós juntamo-nos ao júbilo que há nos socialistas portugueses, nós os socialistas do mundo. Esse é o caminho…», e prosseguindo disse, «Esse é o caminho, o socialismo! África tem muito que apostar nisso, o socialismo africano, corrente muito forte que surgiu no século XX, que trataram de apagá-la mas que aí está, viva. Kadhafi é uma testemunha disso, da República Socialista da Líbia».
E terminou de forma messiânica, «o primeiro socialista foi Cristo, para nós, para mim que sou cristão. Alguém imagina Cristo capitalista? Ah!, Judas, que o vendeu por umas moedas. Esse é o capitalista, que vende até Cristo…», rematando com a parábola, narrada nos três Evangelhos sinópticos, vide título deste texto (cf. A Bíblia Sagrada: Mateus 19, 23-24; Marcos 10, 23-25; e Lucas 18, 24-25).



Eis um resumo comparativo do júbilo anticapitalista:



2009

2005

Diferenças

Crescimento

Votos

%

Dep.

Votos

%

Dep.

votos

dep.

%

p.p.

PS  

2.068.665

36,6%

96

2.573.406

45,0%

120

-504.741


-24


-24,4%


-8,5

PSD

1.646.097

29,1%

78

1.639.240

28,7%

72

6.857


6


0,4%


0,4

CDS-PP  

592.064

10,5%

21

414.922

7,3%

12

177.142


9


29,9%


3,2

BE

557.109

9,8%

16

364.407

6,4%

8

192.702


8


34,6%


3,5

PCP-PEV  

446.174

7,9%

15

432.000

7,6%

14

14.174


1


3,2%


0,3



5.310.109

93,8%

226

5.423.975

95,0%

226

-113.866













Inscritos

9.337.314

-



8.785.762

-


551.552




Votantes

5.658.808

60,6%



5.712.427

65,0%


-53.619




Abstenção

3.678.506

39,4%



3.073.335

35,0%


605.171



domingo, 27 de setembro de 2009

E depois da reflexão…

…o que faço aqui.



Direito exercido, passava pouco da três e meia da tarde. Temperatura: 26ºC; humidade relativa: 60%.
E nada como citar Thoreau num dia como este, de canícula outonal, onde a força dos outros por vezes se sobrepõe mesmo à nossa vontade – bravo, participei no circo desta democracia.
«[…] o Estado nunca confronta intencionalmente o senso, intelectual ou moral, de um homem, mas apenas o seu corpo, os seus sentidos. Não é dotado de inteligência ou de honestidade superiores, mas apenas de superior força física. Eu não nasci para ser coagido. Quero respirar de acordo com a minha vontade. Veremos quem é mais forte. Que força tem uma multidão? Os únicos que me podem coagir são os que obedecem a uma lei superior à minha. Eles obrigam-me a ser como eles. Nunca ouvi falar de homens que tenham sido obrigados pelas massas a viver desta ou daquela forma. Que tipo de vida seria essa? Quando enfrento um governo que me diz “O dinheiro ou a vida!”, porque é que deveria apressar-me em lhe entregar o meu dinheiro? Ele talvez esteja a passar por um grande aperto, sem saber o que fazer. Não o posso ajudar. Ele deve cuidar de si mesmo; deve agir como eu ajo. Não vale a pena choramingar sobre o assunto. Não sou individualmente responsável pelo bom funcionamento da máquina da sociedade. Não sou o filho do maquinista. No meu modo de ver, quando uma bolota e uma castanha caem lado a lado, uma delas não se retrai para dar vez à outra; pelo contrário, cada uma obedece às suas próprias leis, e brotam, crescem e florescem da melhor maneira possível, até que uma, por acaso, acaba por vingar e destrói a outra. Se uma planta não pode viver de acordo com a sua natureza, então morre; o mesmo acontece com um homem.»
Henry David Thoreau, A Desobediência Civil
[Revisão da versão brasileira com apoio do texto original em inglês: AMC, 2009; obra original: Civil Disobedience, 1849]

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A alegoria electiva

A cinco horas de acabar a repugnante algazarra, nada melhor que deixar uma pequena alegoria enxadrezada para o curto período de reflexão que se avizinha (será que não podem perder todos? Ah, que grande domingo seria!)

«O rei é sempre o rei.» – D’Angelo (epígrafe do episódio)


D’ANGELO BARKSDALE: O que é que foi isso? A torre não se move assim. A torre só se move para cima e para baixo, e também para os lados em linha recta.

PRESTON “BODIE” BROADUS: Não, nós não estamos a jogar a isso.

WALLACE: Olha para o tabuleiro, nós estamos a jogar damas.

D’ANGELO: Damas?

WALLACE: Sim, damas.

D’ANGELO: Porque é que estão a jogar damas com peças de xadrez?

BODIE: O que tens a ver com essa merda? Meu, nós não temos damas.

D’ANGELO: Ok, mas o xadrez é um jogo melhor.

BODIE: E…

D’ANGELO: Não, esperem aí. Vocês não sabem jogar xadrez, pois não?

BODIE: E depois?

D’ANGELO: E depois nada, meu. Eu ensino-vos se vocês quiserem aprender.

BODIE: Vá lá, meu, deixa-te disso. Nós estamos a meio de um jogo.

WALLACE: Tem calma, eu quero ver isto.

D’ANGELO: Vocês não podem jogar damas num tabuleiro de xadrez.

BODIE: Ok, meu, está bem.

D’ANGELO: Vejam, estejam atentos, é simples. Estão a ver este? Este é o rei do bando. Este é o homem. Se apanhares o rei do outro gajo, ganhaste. Mas ele também vai tentar apanhar o vosso rei, por isso têm de o proteger. Agora, o rei pode andar uma casa na porra da direcção que entender, porque ele é o rei. Tipo assim, ou assim… ok? Mas ele não tem pressa nenhuma. Mas os restantes cabrões da equipa protegem-lhe as costas; e eles estão tão bem organizados, que ele não tem de fazer nada.

BODIE: É como o teu tio.

D’ANGELO: Pois, é como o meu tio… Estão a ver esta? Esta é a dama. Ela é esperta e agressiva. Ela pode andar em todas as direcções, até onde quiser. É ela que trata das merdas todas.

WALLACE: Faz-me lembrar o Stringer.

D’ANGELO: E esta aqui é a torre. Como o buraco onde o material… as drogas e a massa estão escondidas. Move-se assim e assim.

WALLACE: Não pá, o material não se mexe.

D’ANGELO: Anda, pensa. Quantas vezes é que tivemos de mudar de buraco esta semana? E sempre que mudas o material, tens de, pelo menos, mexer uns pêlos para o proteger.

BODIE: É verdade, tens razão. Ok. Então e o que são essas putinhas carecas aí?

D’ANGELO: Estes aqui? Estes são os peões. São como os soldados. Eles movem-se para a frente uma casa de cada vez, excepto quando lutam. E então movem-se assim ou assim. E eles são a linha da frente. Estão cá fora, no terreno.

WALLACE: Então como é que tu podes ser o rei?

D’ANGELO: Isso, não é assim. O rei é sempre o rei, ok? Toda a gente continua a ser o que é, excepto os peões. Agora se um peão conseguir atravessar o tabuleiro e chegar ao lado do outro gajo, ele passa a ser dama. E como já disse, a dama não é nenhuma puta. Ela controla todos os movimentos.

BODIE: Ok, então, se eu chegar ao outro lado, eu ganho?

D’ANGELO: Se apanhares o rei do outro gajo e o conseguires encurralar, só aí é que ganhas.

BODIE: Ok, mas se eu chegar ao outro lado, passo a ser o grande chefe.

D’ANGELO: Não, não é assim, vê. No jogo, os peões são rapidamente comidos. Eles saem cedo do jogo.

BODIE: A não ser que sejam uns peões matreiros como o raio.

[diálogo extraído do 3.º episódio da 1.ª temporada, “As Compras”, da inigualável série televisiva norte-americana The Wire (HBO); tradução a partir do inglês, cautelosamente suavizada por AMC, 2009.]

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Deserto Vermelho


Há uns dias discutia com o Vítor Neves Fernandes sobre o Mestre Antonioni. Falávamos da impenetrabilidade de alguns dos seus filmes. Hoje recordei-me do singular (porque exclusivamente antoniniano) final de Il Deserto Rosso (último filme de uma tetralogia sobre o isolamento e desmoronamento emocional, sempre com a belíssima Monica Vitti como protagonista, que se inicia em 1960 com L'avventura, prossegue em 1961 com La Notte e em 1962 com L'eclisse):
Vitti (Giuliana), no centro da desolação de um campo pestilento da refinaria onde trabalha o seu marido, é confrontada por mais um dos sagazes dilemas do seu filho pequeno, quando este lhe pergunta porque é que as chaminés deitam fumo amarelo; ela responde que o fumo é daquela cor porque está carregado de veneno; o filho então retorque, alarmado, dizendo que os pássaros que por ali passarem irão morrer; Vitti remata (e cito de memória):

«Não, os pássaros já não passam mais por ali, eles já o sabem.»

Lembrei-me das eleições que se avizinham e já vislumbro o dealbar das guerras na blogosfera e nas redes sociais a roçar o insulto, a troça e a velhacaria; de uma coisa podem estar certos (também a quem interessa?) por esse deserto vermelho, ou rosa, ou laranja, nunca mais irei passar (em perfeita eponímia com este blogue) … Já senti no meu corpo os miasmas coloridos e perfidamente sedutores (o engodo corrupto) do poder.

domingo, 12 de julho de 2009

Divagação apartidária + John Berger

Porque é que deixamos que um grupo compacto, homogéneo na mediocridade dos seus elementos - meros veneradores de uma insígnia infame -, nos maltrate, humilhe e despedace até ao nível da indigência intelectual?
Despojos da prostituição do poder político. A ditadura dos partidos aniquilou de vez a hipótese de alcance de uma qualquer visão remota de Democracia. E eles que nos enchem os ouvidos com o "dever cívico"… votai!… dever cívico…
Mas existe "bem comum" para que possa considerar-se o voto como um gesto altruísta a favor do bem-estar da comunidade em que, sem voto, nos inseriram? Grupos de interesse… gentalha arrivista… chusma de necrófagos que se aproveita dos pedaços da alma que se vão extinguindo com a implacável voragem da desesperança que se assenhoreou de um povo exânime.
As leis por encomenda, por John Berger (título de minha autoria, convenientemente adequado ao ambiente político de podridão, cujo cheiro nos tolhe o discernimento):
«Por muito boa que seja uma lei, ela é invariavelmente inapta. É por isso que a sua aplicação deveria ser disputada ou questionada. E a prática de fazer isto corrige a sua inépcia e serve a justiça.
Existem leis más que legalizam a injustiça. Tais leis não são inaptas, porque elas reforçam, quando aplicadas, exactamente aquilo que se pretendia que reforçassem. E é preciso resistir-lhes, é preciso que sejam ignoradas, desafiadas. Mas é claro, compañeros, que o nosso desafio a elas é inapto!»
John Berger, De A para X. Cartas de Amor, pág. 36
[Porto: Civilização, Abril de 2009, 207 pp; tradução de Isabel Baptista; obra original: From A to X. A Story in Letters, 2008]