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segunda-feira, 29 de julho de 2013

Fim do Silêncio: Outono-Inverno 2013/2015

Enquanto não vem a provação jesuítica lusa no Japão de Shuzaku Endo:

E este não se decide entre Verne e o Larsson, parte 2:




terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Um paliativo para a ressaca

Como um confesso viciado em DF, contento-me, por vezes, com uns fogachos diáfanos de espanto – pequenos fragmentos, insatisfatórios até, por onde passaram as mãos do mestre, numa época do ano em que se esbanjam elogios em folha de ouro, dedicados à obra menor e que acabam por dar relevo àquilo que realmente nos fere a alma pela sua manifesta mediania abroncada.
Em suma, adaptando as palavras do gigante literário oitocentista, a celebração do medíocre através da sua consagração pela nomenclatura do Santo Artifício Visual, em detrimento de outros técnica, estética e, até, eticamente mais habilitados na inovação e no progresso artísticos, é de um miserabilismo intolerável, não se vislumbrando um fim nos tempos mais próximos:
«(…) il y a un point où les infortunés et les infâmes se mêlent et se confondent dans un seul mot, mot fatal, les misérables (…)»*
Victor Hugo, Les Misérables, 1862 (Tome III, Livre huitième, Chapitre V).
Atenção: This not a film…



«We'll cleave you from the herd and watch you die in the wilderness.»

Como explicava há cerca de dois meses Forrest Wickman na Slate, e que os espectadores em geral já há muito compreenderam, hoje, nos Estados Unidos, a fronteira entre televisão e cinema tornou-se ainda mais difusa; fenómeno que, no caso em questão, se evidencia, não só pela primeira incursão de Fincher no mundo da televisão ou pelo surgimento de Spacey ao fim de 20 anos de ausência, mas pelos valores envolvidos na produção e pelo próprio trailer, bem ao estilo cinematográfico, longe dos habituais e insípidos spots televisivos.

A dor foi aplacada.

Nota: *Numa tradução livre (perante a ausência do livro nas nossas palavras no momento de redacção deste texto):
«existe um ponto em que os infelizes e os infames se misturam e se confundem numa só palavra, palavra fatal, os miseráveis».

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Fincheriana


13 episódios

David Fincher (co-produtor da série e realiza os dois primeiros episódios), seguem-se:
Joel Schumacher
Charles McDougall
Carl Franklin
Alan Coulter

Com o notável duo de actores bem conhecidos do Mestre de Denver:
Kevin Spacey // Robin Wright

domingo, 22 de janeiro de 2012

Obsessão (act.)

Pensei escrever qualquer coisa. Alinhavei umas quantas palavras. A obsessão pelo pormenor. A meticulosidade de um relojoeiro na evocação imagética. A mão perfeita de um artesão que usa a tecnologia sem que a pressintamos – para ele é mesmo um meio, e nunca um artifício estético. As mulheres, sempre as mulheres, não tão ostensivas como em Lars von Trier, maquinais e diabólicas como em Tarantino, austeras, frias e impiedosas como em Almodóvar, objecto de desejo que se emancipa perante o indício da corte pelo pavão como em Rohmer, ou eloquentes, por vezes doces receptoras da neurastenia projectada pelo criador, como em Woody Allen. São uma bruma perene, omnipresente, extática e hermética, portadoras – eis o ventre primordial – do código inacessível a um encadeamento lógico da razão. 
Fiz um historial da abordagem subliminar do lado feminino que joga um papel crucial em Fincher desde Se7en (1995) – excluí Sigourney “Ripley” Weaver, não tivesse sido ela de Ridley Scott, em primeiro lugar, e de James Cameron, em segundo – Paltrow (1995), Kara Unger (1997), Bonham Carter (1999), Foster (2002), Sevigny (2007), Blanchett (2008), e Mara por duas vezes (2010 e 2011), mas guardei o ficheiro na imensa pasta dos textos “não publicados”, talvez para maturação, muito provavelmente para as impenetráveis trevas do olvido. Decidi “me & myself” atirar Karen Ocujo grito seco ressoa no negro líquido viscoso (amniótico) para a fogueira daqueles que Odeiam as Mulheres:


«Salander não consegue mexer-se. Espera que a dor abrande – o que eventualmente acontece – mas apenas para ser substituída por um sentimento de abandono. Então aquele abranda, substituído por um semblante de indiferença.»
Steven Zaillian, The Girl with the Dragon Tattoo [screenplay], p. 165 (© 2011 Sony Pictures). Tradução livre: AMC.
Em jeito de nota final, o fim: é impossível ficar indiferente ao pathos que emana daquele olhar, que tudo apaga, de Rooney Mara.

Soberbo.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Fincherianismo


Ah, como gosto de ler João Lopes quando escreve sobre Cinema (a arte, assim grafada). Não vou fazer a apologia de todo o seu saber acumulado e da natural consequência de, com propriedade, usar e abusar do cinema comparado. É um fincheriano convicto e não adianta negá-lo (em boa verdade nunca o negou, embora nunca o tenha confirmado). E mesmo estando numa torturante contagem decrescente para ver Millennium 1: Os Homens que Odeiam as Mulheres (The Girl with the Dragon Tattoo, 2011), não posso deixar de concordar com a parte que remete para o todo (de outra forma não poderia ser, por via da razão avocada: ainda não o vi), o universo inebriante de Fincher, incluída neste extracto de um texto do eminente crítico nacional sobre Fincher no DN de quarta-feira, 18:
«Daí a estranha beleza de Millennium 1: por um lado, há nele uma urgência face ao concreto do nosso mundo que lhe confere a dimensão de parábola sobre a persistência do Mal e o fim de todos os romantismos; por outro lado, vivemos uma aventura tocada pela abstra[c]ção formal. É tempo de acreditarmos que Howard Hawks tem, finalmente, um herdeiro moderno.»
Mas esta é a velha questão do subtexto fincheriano, que muitos ou não vislumbram (limitação, é uma pena), ou vislumbrando não pretendem dar a conhecer por um velho apriorismo de que não se conseguem libertar (má-fé). Como entender, por exemplo, Clube de Combate (Fight Club, 1999) sem nos embrenharmos (apreender) na sua beleza subliminar, latente em cada fotograma, incrustada pelo realizador de Denver?

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Karen O, Reznor & Atticus Ross

Um fincheriano confessa-se (tão ao jeito do jogador da bola – a personalidade evanescente pela transpiração fragrante, como que transmigrada para um terceiro não presente –, sempre com a cabeça levantada para encarar o próximo desafio): aguarda com expectativa pela chegada do dia 19, mesmo considerando que Fincher não deveria ter cedido à pressão de Scott Rudin para tomar as rédeas de uma história de Stieg Larsson exaurida pelos fãs e já filmada no seu país natal (e com relativo sucesso), mesmo com um novo guião de Steven Zaillian. Mas sobre isso, o autor deste pasquim já falou: ao homem de Denver tudo se perdoa.
Para já, uma pequena amostra do que aí vem, neste videoclip reminiscente (um bom fincheriano passa no teste da evocação da obra passada), com a voz da portentosa Karen O, numa adaptação de Trent Reznor e Atticus Ross da icónica “Immigrant Song”, escrita pelos Srs. Oficial e Comendador do Império Britânico, respectivamente Jimmy Page e Robert Plant, estreada em 1970 no álbum Led Zeppelin III.
Eis o vídeo (fullscreen, please):

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Fincher 9

Eis o trailer aprovado para todas as audiências:




Nota: Apesar de ser francamente contra à nova mania hollywoodiana do abastardamento dos filmes de sucesso de outras línguas e latitudes – vide o sensacional Låt den rätte komma in de 2008 (Deixa-me Entrar) do realizador sueco Tomas Alfredson, tendo-me mesmo recusado a ver a versão americana de 2010 de Matt Reeves –, com Fincher abre-se sempre uma excepção e aqui, ao contrário, não vi a versão original de 2009 do dinamarquês Niels Arden Oplev, porque aquela já se fizera anunciar (diz-se que Noomi Rapace esteve simplesmente soberba, e que Fincher queria incluí-la na sua versão, mas Rapace recusou dada a “exaustão” de personagem). 

sábado, 8 de janeiro de 2011

Os prémios “highbrow” do cinema americano

Ou melhor, foram anunciados, depois de alguns adiamentos, os prémios de cinema atribuídos pela National Society of Film Critics (NSFC) – associação norte-americana de críticos cinematográficos –, constituída por um grupo de 61 intelectuais (entre eles, Ebert, Denby, McCarthy, Travers, Morgenstern, Hoberman ou Melissa Anderson) que se autodenomina como promotor de «A Verdade, uma vez a cada 12 meses». A NSFC foi fundada há mais de quatro décadas em Nova Iorque por Hollis Alpert, em conjunto com outros críticos de renome, como resposta ao exclusivismo da sua congénere New York Film Critics Circle.
Apesar de no ano passado os prémios da NSFC terem, de certo modo, coincidido com os filmes galardoados com os Óscares da Academia nas diversas categorias – e mais em concreto na categoria “Melhor Filme” para Estado de Guerra (The Hurt Locker), de Kathryn Bigelow, coincidência que, com esta, só ocorreu por cinco vezes* desde a sua fundação em 1966 –, estes galardões são normalmente conhecidos como os Anti-Óscares. Atente-se, por exemplo, nos realizadores que já viram filmes seus eleitos como os melhores do ano: Antonioni, Bergman (3 vezes), Costa-Gavras, Robert Altman (2 vezes), Rohmer, Buñuel, Truffaut, Louis Malle, Jarmusch, Kurosawa, David Lynch (2 vezes), Mike Leigh (2 vezes) ou P.T. Anderson. Apesar de haver filmes galardoados nesta categoria do calibre de Um Porquinho Chamado Babe (Babe, 1995, de Chris Noonan), Romance Perigoso (Out of Sight, 1998, de Steven Soderbergh), ou O Labirinto do Fauno (El laberinto del fauno, 2006, de Guillermo del Toro), para apenas nomear alguns, assaz medíocres (na minha íntima opinião) e de gosto bastante discutível.
Fincher soma e segue, com as três maiores votações do ano: 73, 66 e 61 votos, para o Argumento, Realizador e Filme, respectivamente.
Eis os vencedores, por categoria, dos NSFC Awards de 2010 (a 27 de Fevereiro verificaremos se foi ou não mais um ano – seria o 6.º – de coincidências com a Academia):
4 Prémios
A Rede Social (The Social Network), de David Fincher:
Melhor Filme
Melhor Realizador – David Fincher
Melhor Actor – Jesse Eisenberg
Melhor Argumento – Aaron Sorkin
Restantes filmes com 1 prémio cada (por ordem alfabética do título em português):
Carlos, de Olivier Assayas
Melhor Filme Estrangeiro
O Discurso do Rei (The King’s Speech), de Tom Hooper
Melhor Actor Secundário – Geoffrey Rush
O Escritor Fantasma (The Ghost Writer), de Roman Polanski
Melhor Actriz Secundária – Olivia Williams
Indomável (True Grit), de Joel e Ethan Coen
Melhor Fotografia – Roger Deakins
Vencer (Vincere), de Marco Bellocchio
Melhor Actriz – Giovanna Mezzogiorno
Notas: *Filmes que no mesmo ano venceram o Óscar e o NSFC Award na categoria “Melhor Filme” (desde 1966):
- 1977 – Annie Hall, de Woody Allen;
- 1992 – Imperdoável (Unforgiven), de Clint Eastwood;
- 1993 – A Lista de Schindler (Schindler’s List), de Steven Spielberg;
- 2004 – Million Dollar Baby – Sonhos Vencidos (Million Dollar Baby), de Clint Eastwood;
- 2009 – Estado de Guerra (The Hurt Locker), de Kathryn Bigelow.
**Em apenso aos prémios, os críticos NSFC emitiram dois comunicados em jeito de protesto: o primeiro sobre a esdrúxula classificação etária atribuída aos filmes nos Estados Unidos pela Classification & Ratings Administration, órgão da Motion Picture Association of América (MPAA); o segundo repudia as autoridades iranianas pelas recentes condenações dos cineastas Jafar Panahi e Mohammad Rasoulof por motivos estritamente políticos, sentenciados a 6 anos de prisão e as 20 de proibição do exercício da sua actividade.
***Fonte: indieWire.

sábado, 20 de novembro de 2010

O Armário e o Paquiderme*

Por vezes sou paquidérmico em relação a determinadas opiniões, que mais não são que pré-conceitos em estado latente prontos a serem arremessados para a arena de “olha que contra a corrente que eu sou”.
Não gosto mesmo nada de me citar, nem de fazer das minhas opiniões sentenças, até por razão de manter algum contacto com a realidade: ninguém lê este blogue – ou melhor, pedindo desculpa aos que me lêem, cerca de meia dúzia, tenho a consciência de que qualquer opinião que aqui emita jamais será considerada em qualquer microtertúlia em que se discuta cinema, literatura, ou qualquer outro tema que aqui desenvolvi. Não é falsa modéstia, é apenas a constatação da realidade: não distribuo empregos, nem abraço políticos, não sou dono de uma editora, não escrevo em jornais ou revistas, vivo (e espero continuar a viver) no Porto, sou apartidário, embora a minha condição de blogger dispensável se agrave por uma certa dextralidade política (o que é isso?), sou agnóstico, sempre dubitativo (e não dúbio), estou-me perfeitamente nas tintas para líderes e pseudo-líderes, para os tipos que se dizem éticos (esta é das melhores lidas ultimamente), chefes, autoridades (sobre qualquer matéria); nisso sou um anarca (não estender muito o conceito, por favor), libertário, anticonservador, cultor do meu pensamento livre (jamais constrangido), sem o fim último de insultar a diferença, embora por vezes uma boa provocação à laia de insulto sirva para aliviar um pouco desta minha idiossincrática carga emocional fortemente compressora.
Não preciso de sair do armário (pronto, já arrumei com o título), nem sinto a necessidade de me revelar, muito menos de encetar qualquer manobra de diversão que permita deixar-me mais confortável perante alguém.
A 2 de Outubro passado disse aqui:

«A primeira e, pelos vistos, frutuosa união Fincher & Sorkin chega cá no próximo dia 4 de Novembro, e tenho uma forte suspeita de que, por terras do primeiro-ministro filósofo (…), onde predominam as mentes preclaras, levará no mínimo com uma bola preta… Há quem culpe o realizador de Denver por haver realizado alguns telediscos, uma mácula jamais expurgável na carreira de um cineasta.»
E a bola preta veio de onde mais esperava: o algoz do realizador de videoclipes para Madonna, Paula Abdul, George Michael, Sting, entre outros, dificilmente reconhecerá qualquer mérito ao realizador de Denver, só se, por uma análise da crítica intracomparada, conseguir vencer um reaccionarismo, que o próprio julgará tratar-se de criatividade e de ambição cinematográfica, tal como proferia o polémico Ben Marcus nas artes literárias. Adaptando o texto à sétima arte, vem: aqueles que procuram assegurar que a cultura se afaste do progresso cinematográfico, aqueles que insistem que os sucessos fílmicos do passado devem ser solidificados, polidos e praticados pelas gerações mais jovens. Qualquer adaptação à realidade vigente é um sacrilégio. Logo, mais vale filmar de câmara ao ombro um bairro degradado de Manila e contratar uma dúzia de actores não profissionais e com uma fotografia deslavada, sem artifícios, contar uma história banal, para não se cair na malfeitoria do truque fácil de câmara, jogos de luz, filtros e montagem, e demais maquinaria associada – a profanação do cinema.
A concretização da profecia (mesmo antes de ter visto o filme, que, suponho, vi no dia a seguir à estreia – 5 de Novembro), levou-me, como já aqui disse, a suspender e arremessar para o arquivo de ficheiros “ponto doc” mortos a minha opinião mais elaborada sobre a última obra de Fincher**. Mas estarei sempre disponível para exteriorizar uma boa irritação, como se não bastasse, para não danificar ainda mais as paredes desta panela de pressão, já de si bastante combalida e com cicatrizes de repressões de antanho. O outing é a minha forma de vida. E já agora a de exibir algumas opiniões de quem muito respeito nesta matéria, apesar de discordâncias viscerais noutras ocasiões, o fio condutor no exercício da crítica jamais se cristalizou num conservadorismo bafiento:
«O filme de David Fincher possui não só a rara qualidade de ser tão inteligente como o seu brilhante herói, mas é-o da mesma forma. É arrogante, impaciente, frio, excitante e instintivamente arguto.
(…)
“A Rede Social” é um grande filme, não só devido ao seu estilo deslumbrante ou ao seu engenho visual, mas porque é admiravelmente bem-feito. Apesar das desconcertantes complicações da programação informática, da estratégia da Internet e da grande finança, o argumento de Aaron Sorkin torna tudo compreensível, e não seguimos com tanta força a história como somos puxados para detrás dela. Eu assisti ao filme rodeado por uma audiência que parecia absorta de uma forma invulgar: encontrava-se amplamente fascinada.»
Roger Ebert, “The Social Network”, Chicago Sun-Times, 29/09/2010.
Para terminar, e para um bom momento de descompressão, como seria A Rede Social se filmada por Wes Anderson, Michael Bay, Christopher Guest, Quentin Tarantino, Guillermo del Toro ou Frank Capra?

Notas: *este título não se inspirou em qualquer obra do realizador, tão cauterizado pela crítica em Portugal, Julian Schnabel.
**A minha indefectibilidade fincheriana será posta à prova no passo que o realizador do Colorado está prestes a dar. Trata-se de um remake de um filme sueco estreado no ano passado sobre o primeiro livro da trilogia-dos-títulos-em-comboio do escritor já desaparecido Stieg Larsson. Entretanto, continuo em aulas de mentalização para considerar uma obra-prima o terceiro filme da série Alien. Depois do 8.º Passageiro de Scott (o Ridley, o menos apimbalhado dos manos) e do Recontro Final de Cameron, e antes da Ressurreição do Jeunet, suponho que não necessitarei de uma sala fechada com grampos nas pálpebras para a Desforra de Fincher.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Biopic

«-noun
(informal) a film based on the life of a famous person, especially one giving a popular treatment
[from bio (graphical) + pic (ture)]»
Collins English Dictionary – Complete and Unabridged, 10th Edition.
Seguido de:
«You’re not an asshole, Mark. You just want to be.»
[Do argumento de Aaron Sorkin, The Social network, pág. 160 – última fala do filme, proferida pela assistente do advogado ("Sy") de Zuckerberg, "Marylin".]
q.e.d.
Sugestão de temas a desenvolver:

  • Facebook e o mundo.
  • A privacidade e o Facebook.
  • Facebook e a dependência afectiva.
  • O Facebook e a alienação da identidade.
  • Manuel Alegre: "Cavaco Silva serve-se do Facebook enquanto PR" – A instrumentalização capitalista de Cavaco patrão / Cavaco costureiro.
  • Beijei a fotografia do perfil do Facebook de Rui Santos (o tal do cabelo encaracolado), será que estou grávida?
  • O Facebook e a modernidade: a impossibilidade de dissociar estes conceitos, ou o emparelhamento inextinguível – estudo de críticas cinematográficas.
  • Fincher começa por F… acebook, o que faltou incluir no F… ilme para o transformar numa obra rivettiana, F… oda-se.

sábado, 13 de novembro de 2010

Desisto

Após esta leitura:

«Depois de “Se7en”, David Fincher nunca mais atingiu as mesmas alturas, talvez porque se tenha deixado deslumbrar pelo seu virtuosismo, mais interessado em explorar jogos de imagem e surpresas de peripécias em reviravoltas constantes.»
Breve crítica de Mário Jorge Torres, Público, CineCartaz e Ípsilon.
Desisto de postar aqui o texto que há uma semana vinha a congeminar nos intervalos da minha esgotante e, ultimamente, tumultuosa e angustiante actividade. Não sou crítico de nada, sou apenas, nestes domínios, um cinéfilo. Agarro nesta arte da projecção de ideias na grande tela com a paixão de um amante persistente não só da estética, mas também da técnica que a apurou. Preocupo-me menos com o corolário ético do «interrogar as manobras de poder e tocar nas contradições da modernidade», porque esse nunca foi o objectivo – faz-se a luz sobre um homem só, que aos dezanove anos começou do nada a erigir um império.
Não pretendo fazer a crítica da crítica ou dos críticos, embora esteja convicto de que todos nós, os que laboram nas mais diversas actividades cujo objectivo final é a exposição das nossas formas de pensar, sentir e/ou agir perante o mundo, jamais seremos possuidores do direito divino de proibir o seu escrutínio – negar esse exercício equivale a escrever entradas pueris num diário que se aferrolha ao fim de um dia de exaltações, tristezas, êxitos e frustrações, para mais tarde deitar fora a chave –, what lies beneath
Desisto, mas deixo ficar uma sugestão: o excelente texto escrito pelo Sérgio Lavos a propósito do último trabalho de Fincher, A Rede Social (The Social Network, 2010). O tal que agora terminava, iniciava-se com uma rememoração (regressão), porventura fetal, e partia da técnica para estética: a fabulosa cena inicial num bar de Harvard e a viagem ao som do mestre Reznor, “Hand Covers Bruise”, até à consumação do pecado original na construção do personagem (que é real), e que acompanha os créditos iniciais até à sua entrada na Kirkland House: «Universidade de Harvard Outono 2003» (Fincher pretendia filmá-la num só take com a, segundo dizem, intrincada RED One®, que pediu de empréstimo ao seu amigo Steve [Soderbergh]).
Desisto, mas não resisto em deixar aqui, para memória futura, o começo do que estava escrito (excerto de um texto bastante mais longo – até poupei tempo ao leitor e meio que teimosamente me visita):


Um silêncio invadiu a sala durante os primeiros dez minutos após o último anúncio. A memória, por vezes traiçoeira, porém associativa num movimento perpétuo de sinapses, conduziu-me à infância. A estância – a última antes da reprise – concebida por uma trupe londrina de quatro (por justaposição à de Liverpool que sublima o final), quando ainda o calor líquido do ventre materno me afagava e abafava os sons psicadélicos que se lhe uniram numa perfeição eloquente, de vibração, tremor, oscilação – Respira:

Corre, coelho corre
Cava esse buraco e esquece-te do sol
E quando enfim o trabalho terminar
Não descanses é tempo de voltares a cavar
Por muito que vivas e por mais alto que voes
A menos que sigas com a maré
E te equilibres na maior das ondas
Lanças-te rumo a uma morte prematura.
Pink Floyd, Breathe” (The Dark Side of the Moon, 1973; tradução livre: AMC, 2010)
Retomo ao silêncio embasbacado. Palavras proferidas em torno de uma mesa. Um diálogo frenético em tons pardacentos à mesa de um bar de Harvard. O fim, como revelação para a teia apocalíptica que se seguiria, envolvendo tudo e todos sem dó ou recuos perante a constatação do que se foi estilhaçando pelo caminho. Nove páginas do argumento de Sorkin equilibradas por um jogo de palavras que se entrecruzam sem se tangerem, que se esgotam com o murro no estômago:

«Ouve-me. Tu vais ser rico e ter imenso sucesso. Mas irás passar toda a tua vida a pensar que as raparigas não gostam de ti porque tu és um maníaco dos computadores. E eu só quero que saibas, do fundo do meu coração, que não irá ser esse o verdadeiro motivo. Será porque tu és uma besta.» [Do argumento de Aaron Sorkin, pág. 8; tradução livre: AMC]
[Textus interruptus]
Fincher 8 (obras-primas destacadas):
  • Alien 3 – A Desforra (Alien3, 1992)
  • Se7en – Sete Pecados Mortais (Se7en, 1995)
  • O Jogo (The Game, 1997)
  • Clube de Combate (Fight Club, 1999)
  • Sala de Pânico (Panic Room, 2002)
  • Zodiac (2007)
  • O Estranho Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button, 2008)
  • A Rede Social (The Social Network, 2010)

sábado, 2 de outubro de 2010

Mestre Fincher

Texto curto. Não vou falar da ansiedade doentia que me costuma assaltar nas imediações da projecção de um novo filme do meu realizador, na minha fanática maneira de ver e entender a coisa fílmica, o melhor cineasta da actualidade, e também o mais fleumático, íntegro e recatado – parece quase um contra-senso na era da pimbalhada arraialeira dos efeitos visuais (com ou sem 3D), sonoros e promocionais.
Estreou hoje [ontem] nos Estados Unidos – A Rede Social (The Social Network) – e conseguiu o quase impensável perante o manifestamente ininteligível zeitgeist contemporâneo: a unanimidade encomiástica dos críticos mais reputados do outro lado do Atlântico.
Para se ficar só com uma ideia do que acabo de escrever, é raríssimo ver estes 15 nomes (todos ligados a reputadas publicações) a convergir na opinião sobre o mesmo filme no exercício da crítica cinematográfica (ligação àqueles cujas críticas tenho mais em consideração, faltam A.O. Scott e Nathan Lane, por duplicação nas respectivas publicações): Roger Ebert (Chicago-Sun Times), Manohla Dargis (The New York Times), David Denby (The New Yorker), Andrew O’Hehir (Salon), J. Hoberman (Village Voice), Mark Harris (New York Magazine), Peter Howell (Toronto Star), Todd McCarthy (indieWIRE), Dana Stevens (Slate), Bob Mondello (National Public Radio), Mick LaSalle (San Francisco Chronicle), Joe Morgenstern (Wall Street Journal), Christopher Orr (The Atlantic), Richard Corliss (Time Magazine) e o truculento Peter Travers (Rolling Stone).
A primeira e, pelos vistos, frutuosa união Fincher & Sorkin chega cá no próximo dia 4 de Novembro, e tenho uma forte suspeita de que, por terras do primeiro-ministro filósofo (só mesmo de nome, porque de resto é redondo como um ovo, não tem ponta por onde se lhe pegue – acabei de plagiar VPV sobre Durão Barroso, muito antes de este último dispor do mínimo indício de que mais tarde iria assumir o grande tacho europeu), onde predominam as mentes preclaras, levará no mínimo com uma bola preta… Há quem culpe o realizador de Denver por haver realizado alguns telediscos, uma mácula jamais expurgável na carreira de um cineasta.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

...mas ficará para a História


«A iminência da tempestade é um mecanismo supérfluo e excessivamente portentoso, uma vez que o Katrina traz à memória precisamente as duras misérias da vida real que o filme, no alcance do seu poder, fez tudo para evitar.
Esse poder, contudo, é algo que deve ser tomado em conta, e consiste no talento de Fincher em usar a sua admirável aptidão para transformar um inconcebível e rebuscado conceito numa história de amor plausível. O romance entre Daisy e Benjamin começa quando ambos são cronologicamente pré-adolescentes e Benjamin é, fisicamente, um velho estranho, no entanto o elemento inicial de uma atmosfera perturbadora pedófila na relação dá lugar a outras formas de embaraço. O amor de ambos é incomparavelmente perfeito e paciente. Em simultâneo, como qualquer outro amor – como qualquer filme – é ensombrado pelo desapontamento e destinado ao fim. No caso de “Benjamin Button” tive pena quando acabou e feliz por o haver presenciado.
»
A.O. Scott, It’s the Age of a Child Who Grows From a Man, in The New York Times (25/12/2008) [tradução: AMC]


«Algumas pessoas nascem para se sentarem à beira do rio.
Algumas são atingidas por raios.
Algumas têm ouvido para a música.
Algumas são artistas.
Algumas nadam.
Algumas percebem de botões.
Algumas conhecem Shakespeare.
Algumas... são mães.
E algumas pessoas... dançam.
»
Eric Roth, The Curious Case of Benjamin Button [retirado do guião; tradução AMC]

Prognosticando a derrota nos tais prémios de hoje à noite, talvez não importe nada. Fincher, assim a vida o permita, prosseguirá com o seu dom natural, criador de ilusões, a sua carreira no meu Olimpo cinematográfico.

Sem mais comentários.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O Estranho Caso do Underdog

Fincher, lucidamente e em face das contínuas coroações de Boyle e do seu SlumBastard, não se deixa deslumbrar pelas 13 nomeações para os Óscares no dia 22. Sabe que Benjamin Button é, neste momento e de forma curiosa, o underdog.
Fã de Milk, apreciador de Dúvida (Doubt), percebe-se um certo desencanto, de certa forma atenuado pela sua idiossincrasia: calmo, metódico e, sobretudo, um homem independente no seu sentido mais lato.



A partir de amanhã tentarei provar, segundo ouvi dizer, dessas histeria e agitação fílmicas boylianas.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Murmansk

(Agora, perdido na noite sem sono, depois de uma mais do que prematura cedência aos braços de Morfeu, um espantoso cansaço que se manifestou logo após o jantar, invento coisas para que o sono não se perca em definitivo nas brumas da aurora que não tarda em chegar.
A casa em silêncio, lembrei-me de Button, que perdura instalado em definitivo na minha memória, como um organismo vivo, mutável, como uma entidade estranha alojada na minha mente pronta a receber as emanações feéricas da sua arte.
Insónia. Assalta-me a mesma sensação de conforto por saber que as três mulheres que partilham a minha vida, a minha casa, dormem protegidas, apenas vulneráveis às investidas dos sonhos.)

Murmansk, 1941. Palácio de Inverno, hotel. Benjamin Button (Brad Pitt) conhece Elizabeth Abbott (Tilda Swinton), inglesa casada com um espião disfarçado de chefe da delegação de comércio britânica em Murmansk, União Soviética. Um dos momentos mais belos do filme de David Fincher (com a excelente direcção de fotografia a cargo de um tal de Claudio Miranda, será luso-descendente ou brasileiro?):


Brad Pitt e Tilda Swinton em O Estranho Caso de Benjamin Button

«[Na cozinha do hotel, a meio da noite]
Elizabeth: E de onde é?
Benjamin: Nova Orleães, Luisiana.
Elizabeth: Não sabia que existia outra.

E falou-me de todos os lugares onde tinha estado, o que tinha visto. E falávamos até ao amanhecer. Depois voltávamos para os nossos quartos, para as nossas vidas separadas. E todas as noites, encontrávamo-nos de novo naquele salão. Um hotel durante a noite pode ser um lugar mágico. Um rato a correr e a parar. Um radiador a sibilar. Uma cortina a esvoaçar. Há qualquer coisa de tranquilo, até de confortável, em saber que as pessoas que amamos estão a dormir nas suas camas, onde nada as pode magoar.
Ambos perdíamos o rasto da noite, até ao romper do dia.

Elizabeth: Creio que talvez lhe possa ter dado uma ideia errada.
Benjamin: O que disse?
Elizabeth: Bom, não é normal mulheres casadas ficarem sentadas durante a noite em hotéis a conversar com estranhos.
Benjamin: Eu não faço mínima ideia do que faz ou não faz uma mulher casada.
[Elizabeth levanta-se e abandona a cozinha]
Benjamin: Boa Noite!»

Extraído do guião escrito por Eric Roth, baseado na versão original de 2002 de Robin Swicord e do conto O Estranho Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button, 1922) do escritor norte-americano F. Scott Fitzgerald. [tradução: AMC]

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Ainda (e sempre) sobre Benjamin Button


Se tiver oportunidade vê-lo-ei de novo ainda esta semana. Tal foi a marca de inquietação que, com uma persistência espantosa, não me larga o espírito.
Como desconstruir a hipótese existencial, em forma de prece divina, ambicionada por Mark Twain? O tal homem cujo destino ficou associado aos caprichos da circularidade de um cometa.
F. Scott Fitzgerald inspirou-se na biografia de Mark Twain, escrita e publicada em 1912 por Albert Bigelow Paine, onde leu uma curiosa citação:
«Seu eu houvesse ajudado o Todo-Poderoso quando Ele criou o homem, tê-Lo-ia persuadido a começar pelo outro extremo, pondo os seres humanos a nascer na velhice. Quão melhor seria nascer velho, com toda a amargura e a cegueira da idade dispostas no início! Ninguém se importaria se ansiássemos por uma juventude rejubilante. Pense na feliz perspectiva de rejuvenescer em vez de envelhecer! Pense na satisfação em esperar pelos dezoito anos em vez dos oitenta! Sim, o Todo-Poderoso nisso fez um mau trabalho. Quem me dera que Ele houvesse pedido o meu auxílio.» [tradução: AMC]
Na colectânea de contos de Scott Fitzgerald, Tales of the Jazz Age de 1922, Scott, na apresentação dos contos compilados refere o que se segue para “The Curious Case of Benjamin Button”:
«Esta história inspirou-se numa observação de Mark Twain, que propalava que era uma pena que a melhor parte da vida surgisse no seu início e a pior no seu fim. Ao efectuar a experiência em apenas um homem num mundo perfeitamente normal, dificilmente proporcionei à sua reflexão um julgamento justo.» [tradução: AMC]
Talvez tenham sido estas palavras introdutórias do criador que levaram Robin Swicord e Eric Roth (a primeira perseguia obsessivamente a concretização deste projecto em filme, e já dispunha de um guião escrito) à ampliação e trasladação histórica desta magistral alegoria sobre a morte como fim sombrio, angustiante, perceptível, inelutável e omnipresente em toda uma vida, quer haja ou não uma inversão do seu início. O sofrimento permanece, aproveitai os momentos.
Fincher alerta-nos para a beleza do preceito que, todavia, choca com princípios morais, na estrita medida em que se gera uma séria iniquidade, uma desarmonia existencial, jamais conjugável com, e potencialmente geradora de, uma felicidade perene e absoluta. Benjamin Button é uma parábola sobre essa dissonância insanável. Não é uma história de amor ou sobre o seu desencontro, é um hino ao não desperdício daquilo que a vida no traz no momento, saber vivê-lo, agarrá-lo com unhas e dentes, porque a única certeza, rejuvenescendo ou envelhecendo, é a transitoriedade para o vazio, que ultrapassa a dúvida paralisadora sobre a transcendência do fim.

Ainda sob a influência do espectro mágico do filme, que irei rever, revisitar e reexaminar, à procura dos famosos “ovos de Páscoa” – como gosta de chamar uma mente auto-iludida com a sua perspicácia – ou daquilo que aos meus olhos fugiu numa primeira exibição, não falarei, por enquanto, sobre os pormenores de realização, dos momentos memoráveis (o mais delicioso com Tilda Swinton no Hotel na cidade polar de Murmansk, no extremo noroeste da Rússia), a banda sonora, a fotografia e as interpretações (a soberba interpretação de Brad Pitt, que ao que tudo indica irá passar em branco).

Deixo apenas uma recomendação para a leitura deste excelente texto do Henrique e um excerto de um poema de Larkin (talvez a despropósito), que não me atrevo a traduzir:

I work all day, and get half drunk at night.
Waking at four to soundless dark, I stare.
In time the curtain edges will grow light.
Till then I see what's really always there:
Unresting death, a whole day nearer now,
Making all thought impossible but how
And where and when I shall myself die.
Arid interrogation: yet the dread
Of dying, and being dead,
Flashes afresh to hold and horrify.
Philip Larkin (1922-1985), 1.ª estrofe de “Aubade” (1977)

sábado, 17 de janeiro de 2009

Afecto


Um entre vários sentimentos que perpassam por um dos melhores filmes (americanos e não-americanos) dos últimos tempos.