Anuindo ao pedido da princesa, Belém – Museu dos Coches.
Disfarço o riso quando a vejo tirar o bloco de apontamentos e a caneta da pequena sacola a tiracolo e atentamente percorrer os quadros dos nossos Ilustres Antepassados, apontando datas, detalhes, ficando por vezes parada a olhar porque daquele Rei, Rainha ou Princesa já falou nas aulas mas ainda não lhe sabia os contornos.
O ambiente do museu, já centenário, e o sussurro dos visitantes, maioritariamente estrangeiros, a meia-luz que dificilmente passa naquele labirinto de tons dourados e bordeaux, contribui para a aura de antiguidade, quase mistério, como se de repente tivéssemos sido todos transportados para, por exemplo: 1640! Mummy! A restauração da independência face aos “Filipes”, sabes por quem?
D. João IV, o Restaurador, respondi-lhe, deixando-a "furiosa".
Passa por nós uma funcionária do Museu, parando dois passos à frente e observando a conversa. Mira a princesa de apontamento em punho como se fosse desaparecer a preciosa informação a que estava a ter acesso e sorrindo, começa a acompanhar-nos o passo lento, relatando algumas particularidades que não estão no livro de História, numa verdadeira visita guiada aos detalhes de uma raiz que é nossa, deixando a minha filha encantada e tão absorta que o bloco voltou à sacola.
Tudo o que ali está exposto tem uma história, um uso, um autor e um utilizador, e é fácil, pelo ambiente recriado, imaginar os Infantes nas pequenas cadeiras com rodas inventadas em Itália, ou a Rainha acenando ao seu povo em agradável passeio na liteira ornada a vermelho e dourado.
Cada coche serviu um propósito, sendo o eleito o denominado “da Troca das Princesas” com direito a novo apontamento no precioso bloco dada a originalidade da situação. As pequenas caleches de passeio fizeram as delícias da miúda que, sem esforço, se imagina ali. O Coche dos Meninos da Palhavã pelo objectivo com que foi construído fê-la rir, perante o olhar ajuizado da nossa Guia. De facto, hoje em dia, como entender que os filhos Bastardos do Rei teriam um coche próprio e diferente dos outros?
Acolhidas à saída, por um sol brilhante que nos transporta de novo à realidade, fazendo piscar os olhos, deixámos no sossego da penumbra séculos de história, figuras graves retidas em telas, e um beijo repenicado à Ana Paula, pela sua amabilidade, conhecimento e disposição.
Se há por aqui quem faz o que gosta, ali há, sem dúvida alguma, quem gosta muito do que faz.
Obrigada!
Escrito por Catarina Price Galvão, do blog (Once)
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