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quarta-feira, 12 de maio de 2010

UMA VISITA SINGULAR AO MUSEU DOS COCHES


Anuindo ao pedido da princesa, Belém – Museu dos Coches.

Disfarço o riso quando a vejo tirar o bloco de apontamentos e a caneta da pequena sacola a tiracolo e atentamente percorrer os quadros dos nossos Ilustres Antepassados, apontando datas, detalhes, ficando por vezes parada a olhar porque daquele Rei, Rainha ou Princesa já falou nas aulas mas ainda não lhe sabia os contornos.

O ambiente do museu, já centenário, e o sussurro dos visitantes, maioritariamente estrangeiros, a meia-luz que dificilmente passa naquele labirinto de tons dourados e bordeaux, contribui para a aura de antiguidade, quase mistério, como se de repente tivéssemos sido todos transportados para, por exemplo: 1640! Mummy! A restauração da independência face aos “Filipes”, sabes por quem?

D. João IV, o Restaurador, respondi-lhe, deixando-a "furiosa".

Passa por nós uma funcionária do Museu, parando dois passos à frente e observando a conversa. Mira a princesa de apontamento em punho como se fosse desaparecer a preciosa informação a que estava a ter acesso e sorrindo, começa a acompanhar-nos o passo lento, relatando algumas particularidades que não estão no livro de História, numa verdadeira visita guiada aos detalhes de uma raiz que é nossa, deixando a minha filha encantada e tão absorta que o bloco voltou à sacola.

Tudo o que ali está exposto tem uma história, um uso, um autor e um utilizador, e é fácil, pelo ambiente recriado, imaginar os Infantes nas pequenas cadeiras com rodas inventadas em Itália, ou a Rainha acenando ao seu povo em agradável passeio na liteira ornada a vermelho e dourado.

Cada coche serviu um propósito, sendo o eleito o denominado “da Troca das Princesas” com direito a novo apontamento no precioso bloco dada a originalidade da situação. As pequenas caleches de passeio fizeram as delícias da miúda que, sem esforço, se imagina ali. O Coche dos Meninos da Palhavã pelo objectivo com que foi construído fê-la rir, perante o olhar ajuizado da nossa Guia. De facto, hoje em dia, como entender que os filhos Bastardos do Rei teriam um coche próprio e diferente dos outros?

Acolhidas à saída, por um sol brilhante que nos transporta de novo à realidade, fazendo piscar os olhos, deixámos no sossego da penumbra séculos de história, figuras graves retidas em telas, e um beijo repenicado à Ana Paula, pela sua amabilidade, conhecimento e disposição.

Se há por aqui quem faz o que gosta, ali há, sem dúvida alguma, quem gosta muito do que faz.

Obrigada!

Escrito por Catarina Price Galvão, do blog (Once)

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segunda-feira, 12 de abril de 2010

"A MINHA PÁSCOA DE...ONTEM"


Nos outros tempos pintávamos os ovos oportunamente esvaziados pela Beatriz, numa profusão de tintas pastel em pequenos recipientes. A mesa da cozinha, comprida e em madeira tosca, era coberta por um plástico grosso, sentavam-se os irmãos, os primos e os amigos que ao saberem-nos de férias na terra faziam, a partir das oito da manhã uma barulheira com o batente ou brincavam, até acordarmos, com as argolas de prender as montadas levantando-as e deixando-as cair em estrondo na pedra da entrada. Lembro-me da idêntica gritaria com que os acolhíamos numa saudade que a separação, desde o Natal passado, já tinha agudizado.

Os ovos pintados eram depois escondidos a coberto da vegetação, dependurados nas oliveiras, ou quase enterrados no sulco da terra que nesta altura ainda está húmida e cheirosa.
Domingo de Páscoa, após a Missa de Graças, as roupas de festa eram rapidamente despidas e arrumadas e em calça de ganga e alpergata partíamos à “caça ao tesouro” na tentativa de sermos o que mais ovos conseguia trazer, enquanto se ultimavam os preparativos para o almoço que reunia, igualmente toda a família.

A família é mais pequena agora.
Tantos são os que já partiram em viagem sem regresso a não ser o que a nossa lembrança permite, que quando olho para trás vejo muitos lugares à mesa postos... mas vazios.

Já não há oliveiras onde dependurar fios invisíveis com ovos coloridos e ninguém suja as unhas de terra num esconde-esconde propositado. Os ovos de caros que são, não se estragam em pinturas que levavam dias a secar. E as gemas e claras já não servem para os ovos moles ou delicias queimadas com que nos deleitávamos. Muito calórico, dizem.

Mas a família continua a gostar de se reunir a propósito de tudo e acima de tudo a propósito de nada. E é a esse ninho que regresso vezes sem conta, ainda que algumas vezes... em imaginação. Hoje, irmãos, irmãs, cunhados e cunhadas, filhos, sobrinhos, primos... uma outra mesa cheia, talvez não tão cheia é certo, mas sem lugares vazios.

Deixo-vos com as minhas memórias e com os votos de uma Santa Páscoa :)

Escrito por Catarina Price Galvão, do blog (Once)

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terça-feira, 16 de março de 2010

A BEIRA É TUA, PAI


A Beira é solidez, mulher vergada no campo,
homem fora o dia todo, atrás de rebanho.
Menina no rio lavada, trouxa de roupa à cabeça,
pé descalço no mato, arranhadela.

A Beira é terra bravia pintalgada de giesta
passeio de fim de dia,
cheiro a pinha e eucalipto.
Amora doce, silva que arranha os braços queimados do Sol.
Azeite dourado em lagar, vinho pisado em canção
calça arregaçada, trabalho árduo em brincadeira aliviado.

A Beira é a ovelha tresmalhada, preocupação de pastor, cão leal em palhota de céu de estrelas, penhasco, vereda, caminho de cabra.
É calor abrasador, frio de neve que greta a pele, samarra de pele curtida, contra a intempérie.

A Beira é seara madura, dourada do vento e terra em verde milho semeada.
Horta pequena, alface, couve e batata
Casinhoto de pedra, lareira acesa e queijo acabado de coalhar... ordenha, leite quente e saboroso, cheio de nata a boiar.

A Beira é recordação de infância, momentos partilhados, alguns sofridos, alguns zangados.
Mas hoje, e sempre a Beira é tua, Pai.

Escrito por Catarina Price Galvão, do blog (Once)

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