É de todos sabido que as novas tecnologias da comunicação são um veículo fácil e não muito caro de divulgação das nossas terras, das nossas gentes e das nossas culturas, histórias e tradições. Em 2001, ainda o uso da internet estava a dar os primeiros passos no geral em Portugal e em particular no interior do País, criei um jornal na minha aldeia, Torroselo, Concelho de Seia, o qual baptizei de jornal “Torre do Selo”. Provavelmente foi dos poucos jornais que inicialmente começou na internet e posteriormente passou à edição em formato de papel, pois normalmente acontece o contrário. Este jornal era então a fonte de informação onde os nascidos e criados naquela aldeia agora a residirem em vários pontos do País e no estrangeiro nomeadamente a grande comunidade lusa nos Estados Unidos da América, mais propriamente em Newark, podiam ir beber as noticias da sua terra natal, o que ia acontecendo nas instituições locais, quem se casava, quem se baptizava, quem falecia, entre outras tantas noticias que de outra forma não as conseguiam saber a tempo e horas, o que causava algum distanciamento por parte destes torroselenses em relação à vida da terra que os viu nascer.
Do ponto de vista informativo foi um progresso para a minha aldeia, mas não só. Este projecto cresceu, as pessoas começaram a participar através do fórum e do envio de e-mails também a darem conta das festas e da vida de certas pessoas nessas comunidades. Na aldeia as pessoas mais idosas perguntavam-me pelos filhos, se tinham escrito para mim, se estavam bem, inclusivamente começaram a pedir moradas de outras pessoas e outras curiosidades. Passei a ser o “correio” da aldeia.
No entanto em 2001 a internet ainda não era tão utilizada como é hoje em dia. Pode dizer-se que 1 em cada 50 pessoas utilizavam a internet, hoje é ao contrário. Comecei então a receber o feedback de muita gente que me incentivou a criar o jornal “Torre do Selo” em formato de papel, até porque estava a acontecer uma situação caricata para época, ou seja, estávamos num ponto em que os emigrantes sabiam mais noticias da aldeia que propriamente os que lá moravam. Então criou-se o jornal em formato de papel ligado ao então Centro Social e Paroquial de Torroselo que mais tarde veio dar origem à Associação de Beneficência Social de Torroselo. Passados estes 9 anos da sua criação, o jornal continua firme a cumprir com o seu papel de informação mas também de aproximação entre todos os torroselenses estejam a residir onde estiverem.
Esta pequena introdução serve para dizer que todos nós temos sede de informação, sede de saber e sede de conhecer. É inato a qualquer ser humano. Este género de projectos contribui para a divulgação das nossas terras, das nossas gentes e das nossas culturas. Ainda que sejam duas ou três páginas de papel as pessoas lêem e colaboram com os seus artigos e com as suas noticias.
Hoje em dia a necessidade que tenho em intervir e divulgar as nossas gentes beirãs levou-me a produzir um documentário. Esse documentário levou 10 meses a realizar e permitiu-me ir ao fundo da questão de como vivem e viveram os nossos moleiros e moleiras que noutras épocas com os seus moinhos contribuíam para o fornecimento de farinha para as pessoas fazerem o pão do dia-a-dia, assim como para moerem cereais para os seus animais. O interior do país sempre viveu muito da agricultura. As vinhas, o azeite, a batata, os cereais sempre foram produzidos em grande escala na nossa região, no entanto neste caso dos moleiros esta arte está em vias de extinção. Existem centenas de moinhos abandonados pelo tempo, cobertos de silvas, destruídos, em toda a Serra da Estrela. Normalmente situam-se junto a ribeiras e rios onde as paisagens que podemos avistar são lindíssimas. Do ponto de vista turístico, este filme pretende chamar a atenção para a recuperação destes moinhos numa altura em que há cada vez mais adeptos do turismo de natureza. Esta é uma riqueza que temos e que não estamos a aproveitar. Estes moinhos sendo recuperados pelas autarquias ou até por particulares, podem ser transformados para restauração, para habitações de turismo rural, para museus, enfim para uma panóplia de situações que cativem quem nos visita.
“Os Últimos Moinhos”, nome que dei ao filme, já foi visto em mais de 7 salas de cinema de norte a sul do país e por mais de um milhar de pessoas. Também já passou em bibliotecas e museus, estando previsto passar em diversas entidades de ensino como forma de dar a conhecer às nossas crianças e aos nossos jovens alunos o que era esta profissão e o que era aproveitar de forma correcta os recursos ambientais, neste caso os eólicos e os hídricos.
Nesta minha intervenção decidi falar sobre o filme porque está a ser uma experiência fascinante do ponto de vista da divulgação dos moinhos na região da Serra da Estrela que, de outra forma não cativava tanta curiosidade. A importância do cinema documental actualmente para divulgação das nossas gentes, das nossas terras e das nossas culturas é hoje fundamental para cativar o interesse desta “nova” sociedade, a sociedade da informação, a sociedade do turismo ambiental, a sociedade dos novos descobrimentos.
Para terem uma ideia, o filme foi seleccionado de entre mais de 600 participações de todo o mundo, para o Festival de Cinema Ambiental, Cine´Eco, realizado em 2009, tendo recebido uma menção honrosa por parte do júri da Lusofonia. A partir daí desdobrei-me em entrevistas para várias rádios das quais destaco a Radio Renascença e a Antena 1, vários jornais distritais e nacionais. Passou um pequeno trailler na RTPn no programa Fotograma e está hoje aqui presente neste evento em Trancoso organizado pela empresa Olho de Turista. Vai estar presente em Julho no 1.º Festival de música popular em Arraiolos que tem como tema a importância dos moinhos na economia local e vai estar no festival internacional de filmes de turismo em Odemira no próximo mês de Outubro.
Por falta de financiamento para a legendagem em inglês não esteve presente no festival de cinema ambiental em Riga, Letónia, apesar de ter contactado as autarquias retratadas no filme para contribuírem com algum apoio para esse fim, as quais não responderam.
Portanto nestas “coisas” da defesa dos nossos valores, das nossas culturas e das nossas regiões penso que funciona tudo ainda muito à base da carolice de cada um de nós, porque, apesar do Sr. Presidente da República no seu discurso do 25 de Abril ter apelado a um maior investimento na cultura, parece que algumas autarquias e alguns autarcas não estão ainda muito sensibilizados para essa necessidade.
Seja através do cinema, através dos blogues na internet ou de outra forma, a cultura como veículo de difusão das nossas terras trás turismo e com o turismo vem o investimento tão necessário para as nossas regiões.
Mais uma vez saúdo esta grande iniciativa da empresa “Olho de Turista” e agradeço o facto de me terem convidado.
Bem-haja a todos.
Escrito por Luís Silva, do blog Oceano de Palavras
No Encontro de Bloggers do dia 10/06
Amiga Helena.
ResponderEliminarPassei por aqui, para retribuir o seu carinho na Interação de Amigos. Curiosa vai te esperar. Um grande abraço,
Sandra
Voltarei com mais tempo para ler tudo..
vamos torcer juntas amanhã.
um grande abraço Helena
Ora, viva!
ResponderEliminarDocumentários, curtas metragens,
tudo muito bem documentado,
não são mais do que imagens
que amanhã serão já passado.
Apesar do muito sentimento
nos retratar a vida, pura,
é necessário investimento,
e só assim haverá cultura.
Mas, não vale a pena desistir!
A cultura não é diferente,
pois que, a clamar e a carpir
já há por aí muita gente!
Assim, há é que trabalhar!
Lutar apesar da “chatice”,
porque o que está a dar
sempre foi a “carolice”!
Abraço,
João Celorico
Olá Luís!
ResponderEliminarEstive a reler o seu texto aqui postado, e percebi o quanto é importante, a nossa dedicação à informação e divulgação das nossas terras beirãs
Prova aqui que as coisas que ás vezes fazemos, mesmo parecendo de menos interesse têm uma grande importância, na divulgação das tradições, das nossas aldeias, dos costumes das nossas gentes, da vida árdua, que sempre tiveram, fazendo assim com que muitas aldeias do interior continuem a ter vida. Tendo em conta que o nosso poder central pouco faz por estas terras e as suas gentes. Impedindo-as de sair do obscurantismo para que à muito foram atiradas.
E de louvar a sua grande dedicação à divulgação das nossas actuais e ancestrais tradições, à vivência das nossas gentes. Contribuindo assim para uma melhoria na vida destas lindas terras de um Portugal beirão.
Parabéns pelo excelente trabalho
Um abraço
Acácio Moreira
Excelente o seu trabalho de divulgação, Luís !
ResponderEliminarE os moinhos são construções tão lindas que dá pena vê-las ir ao chão. Bem disse você, que elas podem ser uma grande atração turística !
Eu moro numa pequena cidade turística e sei bem que o visitante das grandes cidades fica encantado com as tradições, construções e história desses recantos tão diferentes das cidades onde eles vivem.
Parabéns pelo seu trabalho !