Foto do blog: Mario Lamoglia

terça-feira, 26 de abril de 2016

Cajuína

Quem somos além daquele que, intrigado, nos observa no espelho?

O que somos além daquilo que imaginamos que os outros esperam de nós?

(Ego
Bolha de sabão
- Pluft!)
Sylvia Araujo

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Foco, foco. Foco.

Ruína. Poeira, fumaça, spray de pimenta, dois corpos molhados sem vida, mosquitos sobrevoando a poça de lama, medo. Deserto. Pedaço, ausência, cavalos assustados, um braço, uma perna ao lado do muro, baratas e ratos sob os escombros, medo. Silêncio. Lamento, desamparo, coturno gasto desamarrado, rastro de lágrima no rosto descamado, cães esqueléticos revirando detritos, medo. Arame farpado, medo. Crianças famintas, medo. Bombas, dinheiro, ego, loucura, arranha-céus, veneno na raiz e no fruto, medo. Medo, medo. Medo.

Beleza. Melro, sorriso, nascente de rio, filhotes de gato espreguiçando ao sol, sombra comprida de um pescador na canoa, amor. Semente. Gesto, transparência, mão direita aberta estendida, terra vermelha úmida e fértil, menina correndo descalça na areia fina, amor. Leveza. Folha, poesia, cordas de violão, pincéis coloridos sobre o azulejo branco, cheiro de broto de manjericão florido, amor. Por do sol, amor. Brisa morna nas cortinas, amor. Geleia, alegria, vinil, lareira, vira-latas, café fresco no coador de pano, amor. Amor, amor. Amor.

Sylvia Araujo

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Viver intensamente uma realidade de projeções trágicas como se ela fosse a realidade presente nos faz esquecer e anular o infinito poder de criação do agora. Cada minuto é tempo de gerar um impulso, positivo ou negativo, que tem a força de interferir na consciência coletiva - todos somos como geradores de energia individuais interligados, frações inteiras que refletem o todo e responsáveis por ele. Adoecer, fisica ou psiquicamente, por causa de fatores externos nos torna vulneráveis a eles, uma luta que se luta fragilizado e doente se consolida em uma guerra perdida. Meditar, manter o controle sobre a mente, se alimentar e dormir bem, ouvir música, sorrir, estender a mão para os iguais que se pode alcançar, enxergar as belezas da vida e agradecer a tudo de grandioso que acontece a cada minuto, independente do caos sociopolítico em que o mundo se encontra, cria condições para que uma outra realidade se desenvolva e floresça. A luta, antes de tudo, é interna e depende dos passos de cada um de nós, de cada consciência desperta, os próximos passos da humanidade. O ódio e a revolta destituída de ação são como facas de dois gumes, bumerangues afiados. As leis imutáveis do universo não nos deixam esquecer a sua infalibilidade - tudo que vai, sempre volta em potência. Parece de importância secundária, besteira inútil no meio de tanto caos, mas cuidar e amar a si mesmo - e transbordar esse amor - é revolução.
Sylvia Araujo

terça-feira, 19 de abril de 2016

Caminho descalça sobre lava fervente
rasgo pântanos com os dentes

azulo.
Sylvia Araujo
As facas
ceguenferrujadas
apunhalam
golpeiam
fatiam
a própria sombra
o ar

(o azul
escaldado
não morre).
Sylvia Araujo

sábado, 9 de abril de 2016

Render-se à extasiante mágica do absurdo, soltar as rigidas rédeas dos instantes, permitir o derreter do agora entre o céu da boca e a ponta da língua, desvestir o não, experimentar o avesso, confiar no inexplicável, desconstruir, descontrair, não ser - nada nunca ninguém - e, então, inteirosúbito, florescer.

Sylvia Araujo

domingo, 3 de abril de 2016

Prenhe

Gesto o verbo como quem arranca eras de ferrugem de um cadeado à brutos golpes de faca cega. Tanto a dizer e  - ainda assim - nada que valha mais que o desejo imenso dos teus olhos vivos vivendo mudos dentro dos meus.

Sylvia Araujo