quinta-feira, 11 de junho de 2009

Sobre a vida por aqui: o BPP

Vale a pena ouvir as explicações do ministro das Finanças sobre a solução para o BPP.

Garantir as aplicações dos clientes do BPP em produtos de "retorno absoluto" era abrir uma caixa de Pandora. Todos quantos estão a perder dinheiro com as suas aplicações poderiam reivindicar exactamente o mesmo.

Quem trabalha na banca sabe bem o que tem tido de enfrentar. Clientes desesperados com a perda de valor das suas poupanças porque nunca compreenderam bem onde estava a colocar o dinheiro. Confiavam no "senhor do banco".

É o preço que estamos a pagar pelos excessos de desregulamentação em defesa da liberdade individual de escolha absoluta, mesmo quando sabemos que há pessoas a quem a sociedade não deu as ferramentas necessárias para fazer escolhas informadas. Como, neste caso, educação financeira.

Queremos, alguns, agora encontrar uns culpados. Quando na realidade todos fomos cúmplices com a classe política a liderar essa grande orientação de reduzir os poderes e os instrumentos dos reguladores que enfrentavam (e vão continuar a enfrentar) poderes sempre mais fortes e dissimulados que os seus.

A coesão do euro

A ler Barry Eichengreen no FMI sobre o tema tabu: a tentação de sair do euro





A probabilidade dada pelo "mercado" de um país sair do euro até 2010 pode ser vista aqui mais acualizada (está mais baixa).

A tentação de alguns países, mais afectados pela crise do que outros, de estarem fora do euro.

O que está a contecer prova que podem existir choques assimétricos na área do euro - aspecto recusado por muitos economistas na altura da estreia da moeda única. E expõe de novo o debate, no lançamento do euro, sobre "zonas monetárias óptimas".

A tentação é visível na pressão que estão a sentir nas taxas de juro que alguns, como a Irlanda e a Grécia, estão a pagar pela sua dívida pública. Não pagariam menos mas poderiam desvalorizar a moeda, melhorando a sua competitividade e, por essa via, evitando taxas de desemprego tão elevadas - como as da Irlanda e de Espanha.



Obviamente que se a Zona Euro tivesse - como devia ter - um orçamento para enfrentar estas crises -ajudando os mais violentamente afectados pela crise, como a Irlanda e a Espanha, não estaria com tantos problemas.


Como diz o FMI, esta crise é também um teste de coesão aos países da Zona Euro.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Em Belém mantém-se a sensatez

O Presidente da República não promulgou as alterações à lei do financiamento dos partidos.

Aquela lei meio aprovada à socapa por todos os partidos e que apenas mereceu criticas de um deputado, o socialista António José Seguro.

Um dos argumento do Presidente é obviamente o mundo em que queriam ficar os partidos: um modelo de financiamento "tendencialmente público" como tinha aprovado anteriormente, e aumentar significativamente a possibilidade de doações privadas sem se saber quem dava o quê.

O mal que o financiamento dos partidos está a fazer às democracias recomendava que a classe política fosse mais sensata e procurasse solução mais adequadas para um tema destes, tão debatido no mundo.

Por vezes parece que o maior inimigo dos partidos e da democracia são os próprios políticos.

A actuação do Presidente da República tem sido determinante para limitar os danos que se estão a fazer ao regime.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Constâncio e a irresponsabilidade dos políticos

Transformar Vítor Constâncio no culpado pelo que a banca fez é de uma demagogia e cobardia inacreditável. Mais uma vez a classe política a fugir às suas responsabilidades.

Quem fez as leis que o Banco de Portugal cumpre? Tal como as leis que todos os reguladores do mundo ocidental cumpriam tal como os meios que os governos lhes davam.

Portugal tal como os países ocidentais seguiram a linha da desregulamentação. A linha da libertinagem, confundindo mercado com selvajaria. Todos foram cúmplices.

E o PSD e PP não estão isentos dessa responsabilidade de desregulamentação sem qualquer educação financeira.

A classe política, pelas opções que escolheu para resolver as falhas de mercado, é a principal e única responsável pelo que se passou. Foram os parlamentos e governos que criaram e viabilizaram o enquadramento jurídico que permitiu que acontecesse o que aconteceu.

Crise e escolhas

O que pode significar a Europa virar ainda mais à direita com o que todos dizem ser uma crise do capitalismo?

quarta-feira, 3 de junho de 2009

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O BPN tornou-se um buraco negro por onde vai sendo sugada a nossa democracia.
Fernando Sobral

O Presidente a explicar as poupanças

O BCE, a inflação e a crise

As criticas de Angela Merkel ao BCE - que se prepara para concretizar a compra de 'covered bonds' para influenciar as taxas de juro de longo prazo - são bem vistas pelo FT como a violação de uma regra que a Alemanha impôs de alguma forma a todos os parceiros do Euro.
Os franceses foram sempre os campeões das criticas ao BCE - porque, na sua visão, a política monetária era demasiado restritiva.
Os alemães falam agora porque, na sua visão, a política monetária é demasiado expansionista.
A Alemanha é obcecada com a inflação. As eleições impõem o ataque ao BCE. Por este ter entrado, ainda que de forma tímida, pela via das "medidas não convencionais" de combate à crise como já fizeram os seus parceiros da Reserva Federal e do Banco de Inglaterra.
Se a inflação estiver aí a chegar - a zona euro terá de escolher entre ir com a onda de inflação dos Estados Unidos ou viver mais tempo em recessão ou mesmo deflação por causa da valorização do euro - provocada pela busca de protecção por parte dos investidores.
O mundo é mesmo global - para o que se acha bem e para o que se acha mal. E é global com uma potência - América/dólar.
No início dos anos 90 a Alemanha lançou a Europa na recessão porque o efeito inflacionista da unificação alemã (com o marco a um por um) foi paga com taxas de juro mais elevadas.
Nesta crise não consegue impôr a sua preferência de "antes crise e desemprego que inflação".
Os americanos escolheram inflação e é isso que se vai ter - caso a economia comece a recuperar a curto prazo.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Cavaco e o investimento

A notícia do Expresso sobre a compra e posterior venda de acções da SLN por parte de Cavaco Silva foi escrita com todo o cuidado e até justificada.
Só é notícia porque o Presidente fez um comunicado sobre o caso BPN e não revelou essa operação - e esse é o único erro que se pode apontar ao Presidente -um erro de comunicação.

As análises e opiniões que se seguiram à notícia do Expresso é que são inacreditáveis, irresponsáveis, marcadas pela ignorância ou até reveladoras de uma moral anti-investimento e lucro.

Vejamos os factos:
1. Aníbal Cavaco Silva, cidadão, investiu poupanças num grupo - a SLN - que tinha (e parcialmente ainda tem) no seu património, além do BPN, o British Hospital, a IMI - Imagens Médicas Integradas, a Real Seguros, o Hotel do Caramulo, a Murganheira, a Tapada de Chaves...

2. Investir numa empresa - para o caso de andarmos esquecidos - é dotá-la de capital para que ela possa criar valor - produzir mais, criar empregos, acrescentar valor .... Não é jogar - pode parecer pelas brincadeiras que têm sido notícia, mas não é. Quando investimos numa empresa estamos a investir num negócio.

3. Qualquer investimento tem como objectivo criar valor que se concretiza na distribuição de lucros ou na valorização do investimento - caso em que vendemos as participações com mais valias como aconteceu com Cavaco Silva.

4. Não é ilegal - todos reconhecem - nem ética e moralmente condenável investir empresas e daí retirar mais dinheiro do que se investiu - esse "mais dinheiro" corresponde ao valor criado. Pelo contrário, quem nos dera que mais pessoas investissem em empresas e mais pessoas as gerissem de forma a criarem valor - não seríamos tão pobres.

5. Um último ponto para dizer que no caso do investimento de Cavaco Silva, como o grupo não está cotado em bolsa, estamos perante um negócio entre privados.

É lamentável que se tenha chegado a este ponto.
Será necessário sujar toda a gente?
Alguém tem dúvidas que Aníbal Cavaco Silva é um político sério e que defende os interesses do País?
Foi dez anos primeiro-ministro e regressou à sua anterior profissão de professor.
Se não há dúvidas, onde queremos chegar? À auto-destruição?

Tenhamos juízo. Um dia, este sujar toda a gente, em vinganças contra moinhos de vento ou manobras de diversão, dá mau resultado.