Parece ser o que Ricardo Dias de Sousa alega neste artigo no Observador, "Agora somos todos fascistas".
A mim parece-me que ele está simplesmente usando "fascismo" quase como uma palavra genérica para dirigismo estatal (ou pelo menos, para dirigismo estatal mantendo a propriedade privada dos meios de produção), o que, a ser assim, se calhar tornaria "fascistas" a maioria das sociedades existentes nos últimos milhares de anos, com um hiato no século XIX e princípios do XX (bem, excluindo, a ter existido, o "modo de produção asiático", já que aí o estado também era suposto ser o proprietário das terras; mas o chamado "MPA" provavelmente nunca foi mais do que a mesma coisa que o feudalismo europeu visto por um prisma "orientalista").
Um aparte (que não tem diretamente a ver com o texto de Ricardo Das de Sousa, mas acho que acaba por ter indiretamente): porque é que, quando se fala de Mussolini, cita-se muito mais vezes o "tudo no estado, nada contra o estado, nada fora do estado" do que o "abaixo o estado em todas as suas formas e encarnações: o estado de ontem, o de hoje e o de amanhã; o estado burguês e o estado socialista" ou "Nós somos liberais em economia mas não somos liberais em política"? Se se dizer que é porque a primeira (de 1925) é posterior à segunda (de 1920) ou à terceira (de 1921), isso não impede muita gente de ir buscar coisas ainda mais antigas (como o programa dos "Fascios" de 1918 ou a sua militância socialista até 1915) para fazer a exegese do fascismo....
O texto de Ricardo Dias de Sousa parece conter duas teses: a primeira é de que a planificação europeia no pós-guerra teria sido, na sua essência, "fascista"; a segunda é que no final dos anos 60 terá aparecido um novo tipo de marxistas, e que na sua rejeição do marxismo ortodoxo e do establishment do pós-guerra, acabar por, à sua maneira, ser também "fascistas".
Vamos então por partes analisar isso.
A respeito dos estados sociais do pós-guerra:
- Somos e fomos todos fascistas? (2.1)
- Somos e fomos todos fascistas? (2.2)
- Somos e fomos todos fascistas? (2.3)
- Somos e fomos todos fascistas? (2.4)
- Somos e fomos todos fascistas? (2.5)
A respeito da nova esquerda surgida no final dos anos 60:
- Somos e fomos todos fascistas? (3.1)
- Somos e fomos todos fascistas? (3.2)
- Somos e fomos todos fascistas? (3.3)
- Somos e fomos todos fascistas? (3.4) - na sequência dos "3.x", este é o principal; o resto são divagações que podem evitar se não tiverem tempo ou paciência
Apontamento final:
- Somos e fomos todos fascistas? (4)
Diga-se que isto acabou por ser algo muito maior do que inicialmente pensava - a ideia era inicialmente fazer um post, depois dois, e quanto mais os ia desdobrando ia-me lembrando de mais coisas para escrever - se inicialmente soubesse que ia escrever onze posts, para serem publicados quase um mês e meio depois do artigo original, possivelmente nem me teria metido nisto.
[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]
Tuesday, October 06, 2020
Somos e fomos todos fascistas? (1)
Publicada por Miguel Madeira em 18:10
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1 comment:
Acabei de ler seu post e achei interessante comentar, belo post.
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