"Retrato em Preto e Branco" (3 CD), Chico Buarque.
Como muita gente da minha geração, cheguei à música brasileira através das telenovelas. E do Roberto Carlos. Lá em casa havia um single com “Emoções” no Lado A e “Cama e mesa” no Lado B. No leitor de cassetes do carro de família, rodava um best of com “Splish Splash”, “O Calhambeque”, “Quero que vá tudo pro Inferno”, essas coisas. Só mais tarde, em casa de um amigo, descobri o que haveria de prender-me para sempre à música brasileira. “Meus Caros Amigos” (1976), o LP da entretanto caída em desgraça “Mulheres de Atenas”, foi cartão-de-visita para o reportório de Chico Buarque, genial escritor de canções cuja pena fui redescobrindo ao longo dos anos em temas tais como “Pedro Pedreiro”, “Olé, Olá” ou “Funeral de um lavrador” (sobre poema de João Cabral de Mello Neto). Para mim a música brasileira confunde-se com a figura de Chico Buarque, com o samba de “Corrente”, com a bossa de “Retrato em branco e preto”, com a capacidade de enervar tanto a ditadura militar como os puristas da música popular brasileira. Estava aqui a ouvir a versão italiana de “A Banda”, gravada no exílio, e a pensar como é tão ignóbil este tempo de recrudescimento dos ódios que alimentam tiranias e transforma o povo em títeres manipulados pelas mãos de lideranças brutas. O povo é uma massa inconsistente, uma pessoa facilmente se deprime ao constatar tanta mediocridade medrando nas ruas.