NÓS POSSUÍMOS AS FLORESTAS
Nunca tive uma árvore.
Nenhum dos meus
alguma vez teve uma árvore —
ainda que há séculos a história
da minha família serpenteie pelo azul cimeiro
da floresta.
Floresta em tempestade,
floresta serenada —
floresta, floresta, floresta,
ao longo dos anos.
A minha gente
foi sempre uma gente humilde.
Sempre.
Filhos de vidas
duras, noites férreas.
Estranhos possuem as árvores,
e o solo,
o solo atapetado de pedras
que o meu pai limpou
iluminado pela luz do luar.
Estranhos
com rostos polidos
e belas mãos
com os seus carros sempre à espera
fora da porta.
Nenhum dos meus
alguma vez possuiu uma árvore.
E no entanto possuímos as florestas
por direito do nosso sangue vermelho.
Homem rico,
tu com carro e caderneta
e acções na companhia Borregaard:
podes comprar mil hectares de floresta,
e ainda mais mil,
mas não podes comprar o pôr-do-sol
nem o murmúrio do vento
ou a alegria de regressar a casa
quando a urze floresce ao longo do caminho —
Não, somos nós os donos das
florestas,
tal como uma criança possui a sua mãe.
Hans Børli, in “We Own the
Forests and Other Poems”, tradução inglesa de Louis Muinze, Norvik Press, 2ª
edição, 2007. Hans Børli (1918-1989) nasceu em Eidskog , Noruega. De
origens humildes, filho de madeireiros, foi um leitor insaciável e começou a
escrever poesia no termo da jorna. À noite, enquanto os camaradas de
trabalho descansavam, Børli escrevia poemas. Muitos. A sua poesia reflecte com
clareza a influência quer do lugar geográfico que ocupa, quer da sua condição
social, resvalando por vezes para um tom crítico que acaba disfarçado pela
postura contemplativa. Os poemas de Børli coleccionam silêncios, as
melodias da floresta, o restolhar do vento e a dança das árvores à sua
passagem, descobrindo mensagens secretas na paisagem e sugerindo linguagens,
vozes, mistérios nos rios, na fauna, na flora, no ambiente natural dos bosques.
Nenhum dos meus
alguma vez teve uma árvore —
ainda que há séculos a história
da minha família serpenteie pelo azul cimeiro
da floresta.
floresta serenada —
floresta, floresta, floresta,
ao longo dos anos.
foi sempre uma gente humilde.
Sempre.
Filhos de vidas
duras, noites férreas.
e o solo,
o solo atapetado de pedras
que o meu pai limpou
iluminado pela luz do luar.
com rostos polidos
e belas mãos
com os seus carros sempre à espera
fora da porta.
alguma vez possuiu uma árvore.
E no entanto possuímos as florestas
por direito do nosso sangue vermelho.
tu com carro e caderneta
e acções na companhia Borregaard:
podes comprar mil hectares de floresta,
e ainda mais mil,
mas não podes comprar o pôr-do-sol
nem o murmúrio do vento
ou a alegria de regressar a casa
quando a urze floresce ao longo do caminho —
tal como uma criança possui a sua mãe.