Mostrando postagens com marcador cinema. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador cinema. Mostrar todas as postagens

27.11.11

Um krill gay no filme do pinguim

Os krills Will e Bill

Domingão de chuva, levei Mathilde ao cinema. Fomo ver um filme sobre pinguins, chamado Happy Feet 2, mais um título inexplicavelmente em inglês (o que há de errado com Pés Felizes, Pés Dançarinos eu não sei).

O filme não é realmente nada de mais, e a ação é até mais arrastada e sem ritmo do que costuma ser nesse tipo de produção. Tem o drama principal, dos pinguins imperadores que ficam presos num buraco gigante de gelo, tem muitos números musicais, tem a moral da história (ajude o próximo, a união faz a força etc.), e, como em todos esses filmes, tem os, digamos, núcleos cômicos. Neste caso, um dos núcleos cômicos são dois krills. Vocês sabem, krill é aquele bichinho que vive na água em gigantescos cardumes, se alimenta de plâncton e serve de comida para todos os peixes e seres do mar. Parece um camarãozinho e fica no final da cadeia alimentar.

Os krills do filme se chamam Will e Bill e... são gays. Pois é. São dois krills machos que ao longo do filme descobrem que se amam. Eu fiquei boquiaberta, mas não posso negar que gostei da surpresa. Porque vejam,Will e Bill não são bichas loucas, e nem mesmo são um casal. Muito ao contrário. Um deles (não sei qual) se rebela e quer ascender na cadeia alimentar. Então resolve ser um predador, "comer alguma coisa que tenha rosto". E o outro vai atrás, tentando demovê-lo da ideia descabida, mas sem abandoná-lo, por lealdade e porque não suporta a perspectiva de ficar longe. Então eles saem do cardume, saem da água, e vão viver suas aventuras. E, em meio a músicas que eles cantam do Queen e do George Michael (sério), rolam as DRs dos krills. O conformista da dupla quer viver uma vida pacata, ter filhos. Ao que o outro observa que ambos são machos. E ouve como resposta que isso não importa, "podemos adotar". Eles acabam se separando e depois se reencontrando, quando descobrem que de fato não podem viver um sem o outro. 

Nos EUA os krills foram dublados por Matt Demon e Brad Pitt, nomes que parecem querer reforçar a importância dos personagens, porque na verdade a parte deles é absolutamente dispensável para o desenvolvimento da trama dos pinguins. É como se os krills só estivessem ali, e dublados por dois dos maiores galãs de Hollywood, para tornar natural, num filme infantil, um relacionamento afetivo entre dois seres do mesmo sexo.

Só faltou cantar For the times, they are a-changing...

27.11.10

O Circo chegou


Vejo toda essa comoção em torno da ação da polícia na Vila Cruzeiro e Complexo do Alemão como um grande circo. Um espetáculo midiático como outros que já ocorreram por aqui. A diferença positiva desta vez é que todo o show vem a reboque de uma política de segurança já em implantação há alguns anos, as UPPs. Que têm problemas, claro, que têm de ser pensadas para além de sua implantação, que merecem um olhar crítico, mas que, daqui do minha pequena ilha da fantasia em Botafogo, me parece a melhor política de segurança que o Rio tem em décadas. E pelo simples motivo de ser uma ação contínua, e não pontual. Por isso é que o grande ataque desta semana, o "Dia D" (e que incrível cara de pau do jornal O Globo de colocar ontem no texto da primeira página uma comparação com o desembarque das tropas aliadas na Normandia!), não me comove. Os 450 policiais vão e vêm, bem como os 800 soldados do exército. Nada disso vai mudar a situação significativamente enquanto o Estado não for uma presença constante e rotineira na vida de todas as pessoas.
Mas que diabo, estou a falar obviedades.

Melhor então falar sobre os filmes que tenho visto em casa, durante esse meu período de resguardo. Nos últimos anos fui tão pouco ao cinema, e tenho tão pouco hábito de ver filmes em casa (seja no DVD, no computador ou na TV), que não falta filme para eu correr atrás. Nas últimas semanas vi Bastardos Inglórios, Gran Torino e até o filme sobre a criação do Facebook (A Rede Social), que me pareceu uma loucura total, porque acho surreal que uma bobagem como Facebook valha esse tipo de dinheiro. (Call me old fashioned, paciência.)

Mas, fazendo um paralelo com o primeiro parágrafo deste post, o que vi também na semana passada foi a trilogia O Poderoso Chefão.


(Parêntese para clamar pela desnaturalização desse título brasileiro, essa absurda tradução para The Godfather. O Poderoso Chefão é o tipo de título traduzido que achamos que existe em Portugal e damos gordas gargalhadas com a falta de noção reinante. Mas não. Lá o filme se chama O Padrinho, é claro! E aqui, O Poderoso Chefão. Chefão, amigos, prestem atenção, que aumentativo mais ridículo para um título de filme desse calibre!)

Mas tergiverso. Não sei bem por que resolvi pegar o filme, acho que li algo sobre como foi o único caso em que um filme e sua sequência ganharam ambos o Oscar de melhor filme. Já tinha visto a Parte I há muitos anos, mas não lembrava de nada, a não ser de algumas cenas isoladas, como a morte de Don Corleone na plantação de tomates. Então sentei com vontade para encarar as 3 horas de filme, e para mim não resta dúvida de que se há um filmaço na trilogia, é o primeiro. Lançado em 1972, com Marlon Brando roubando totalmente a cena como Don Vito Corleone. Na verdade, basta a primeira sequência do filme para te deixar boquiaberto. É uma tomada longa, em que um personagem secundário conta uma história triste para o Don Corleone e pede sua ajuda para fazer justiça. Tudo é carregado no chiaroscuro, e a câmera vai abrindo até aparecer a mão do Marlon Brando, e em seguida todo ele, visto de trás. Uma beleza.

Mesmo assim, tem umas partes que eu, na minha suprema ignorância cinematográfica, achei meio longas demais (como a temporada que o Al Pacino passa na Sicília, ou a terrível sequência do produtor de Hollywood com o Robert Duvall).

O Poderoso Chefão II, de 1974, sofre muito com a ausência de Marlon Brando. Confesso que, nas 3 horas e meia do filme, acabei me aborrecendo um pouco com o personagem principal (Al Pacino) e sua eterna angústia e rancor em relação ao mundo. A sorte é a parte em flashback, que conta um pouco da história do jovem Vito Corleone, interpretado por Robert DeNiro, um bálsamo. Sim, naturalmente é ótimo um filme que sugere mais do que mostra, e que te dá coisas para pensar depois que termina a projeção, mas quando o filme acabou fiquei cheia de perguntas por responder (afinal, qual era o grande lance da presença do irmão do Frank Pentangeli no julgamento do Michael? como o jovem Vito sobreviveu sozinho em Nova York com 9 anos de idade em 1901? e principalmente, como ele passou de jovem trabalhador de mercearia a capo? só fazendo pequenos roubos com o Clemenza?! Fantucci não trabalhava sozinho, como pode não ter havido reação a seu assassinato?). Achei este o mais cansativo dos três filmes.



O Poderoso Chefão III, de 1992, é quase uma paródia. A crítica incensa a parte 2 como obra de arte e essa parte 3 como desprezível, mas eu confesso que esta última me entreteve mais. Tem a participação da Sofia Coppola como atriz, que é tão ruim, mas tão ruim, que chega a ser divertido. Tem também o Andy Garcia, que é tão caricato que a gente até esquece do filme e se concentra só em observar como ele é bonito. E, claro, tem o Al Pacino, que em 1992 já era um ator pra lá de consagrado, e portanto interpreta, basicamente, seu papel de... Al Pacino.

O curioso é ver como, ao longo da trilogia, a família Corleone vai se vendo obrigada a se atualizar em sua atuação mafiosa. Jogos, armas e putas, depois drogas, depois a política e a lavagem de dinheiro - e sempre a venda da proteção e a exigência da lealdade. Sim, os banhos de sangue se repetem em cada um dos três filmes (tem sempre um momento "acerto de contas", com vários assassinatos simultâneos), mas os métodos vão se sofisticando com o tempo.

E é justamente isso que parece não acontecer com a questão do tráfico no Rio de Janeiro. As milícias sugerem de fato uma "evolução" do crime mafioso, por não se prenderem a um só produto - ainda por cima ilegal - e por serem mais maleáveis, adaptáveis. Esse modus operandi dos traficantes, com bunkers e territórios demarcados, me parece cada vez mais inviável de sustentar, por ser caro, pesado, pouco prático. Imagino o que será a nova tendência.

23.10.10

Fotos de Oliver e Mathilde

Ha. Enganei vocês com este título. Mas a situação continua nesse pé. Oliver lá dentro, nós aqui fora, esperando. E fotos da barriga são como congelamento de cordão umbilical e livro do bebê: fez para o primeiro filho, tem de fazer para o segundo também. Não tenho irmãos, não sei bem como lidar e não quero começar logo com esses traumas de rivalidade fraterna. De modos que. Fizemos a sessão de fotos com minha madrinha fotógrafa.


No mais, não há muito mais. 39 semanas. A lua mudou e nada aconteceu. Andei bastante, fiquei muito em pé, e não adiantou nada. Próximo passo é comer comida apimentada, tomar chá de canela e gengibre. E sexo também, dizem que acelera, mas pelamordedeus, tem uns impedimentos anatômicos bem desconfortáveis.

Então tenho ficado em casa, e Mathilde está a-man-do ter a mãe e o pai por perto o tempo todo. Está tão alegre e fofa. Na sessão de fotos, revelou-se uma estrela nata. Inibição zero. Posou, tirou a roupa, acatou todas as instruções, um arraso. Tudo de Oliver já está pronto. Malas feitas, fraldas a postos, berço arrumado, bebê conforto montado.

O que me resta é ler e tentar arrumar meus livros na estante. Já li o novo Ken Follett, e embora não seja tão sensacional quanto Pilares da terra, é um livraço (em todos os sentidos, incluindo as mais de 900 páginas). Os últimos 30% do livro são a melhor parte, de modos que no finalzinho fiquei lendo até as 5 da manhã para terminar. Morri de pena de saber que o segundo volume da trilogia O século (sobre o séc. XX) só sai em 2012. Assim como em Pilares e Mundo sem fim, Follett escreve um novelão com diversos núcleos que vão se entrecruzando ao longo da história, alternando fatos e personagens reais aos fictícios. Neste Queta de gigantes, são 5 famílias (inglesa, americana, galesa, alemã e russa) vivendo as transformações dos anos 10 e 20 (Primeira Guerra Mundial, Revolução Russa, Entre-guerras. Fala bastante sobre a luta das sufragistas pelo direito de voto das mulheres, o que é um aspecto bem interessante. E, claro, sobre a luta de classes e a diplomacia internacional, como era de se esperar.) Não espere grandes sacadas literárias. É ficção comercial de alto nível, com um detalhamento de pesquisa história formidável.

É claro que antes de sair de férias e licença separei, no trabalho, alguns arquivos de manuscritos que quero ler (livros cujos direitos de tradução para o Brasil estão disponíveis). Um deles foi um livro de memórias do Rob Lowe, vejam vocês. Não que eu ache que devamos publicar no Brasil as memórias do senador McAllister de Brothers & Sisters, mas é que fui tão fã dele na minha adolescência, que quis conferir, por interesse pessoal. O manuscrito não está nem terminado, só foram disponibilizadas as primeiras 150 páginas, mas é muito acima da média desse tipo de livro. Não sei quem o auxiliou na redação, quem foi o ghost, mas é alguém muito bom. O trecho termina com as filmagens de Vidas Sem Rumo, primeiro filme de Lowe (aos 18 anos). Ele já começou como protagonista, e dirigido pelo Coppola. Nossa, foi um mega flashback, lembro muito desse filme. Apesar de ter sido lançado nos EUA em 1983, eu devo ter visto pelos idos de 1988, 89, por aí, no auge da minha fase tiete de Tom Cruise e Rob Lowe (pôsteres colados na parede e tudo). E Vidas Sem Rumo, além de Cruise e Lowe, tem mais uma penca de gatinhos: Patrick Swayze, Emilio Estevez (que é simplesmente a cara do pai, Martin Sheen, que por sua vez, pouco tempo antes quase tinha sucumbido durante das filmagens de Apocalipse Now, do mesmo Coppola*), Matt Dillon pré-Selvagem da Motocicleta (outro filme de Coppola), Ralph Macchio pré-Karate Kid e Thomas Howell. O resultado é que fiquei escarafunchando o YouTube vendo trechos do filme adolescente sobre as disputas entre os rebeldes e os mauricinhos de Tulsa, Oklahoma, nos anos 50. Outra madeleine.

Fora os livros, consegui ir ao cinema uma vez, numa quinta-feira às 14h, ver Tropa de Elite 2. Já tinha gostado do 1º filme (que vi grávida de Mathilde), e achei este ainda mais fantástico - menos violento, mas ainda mais brutal, pela complexidade do assunto. É daquelas obras que te fazem sentir vivendo num reino da fantasia, num mundinho à parte, totalmente descolado da realidade da sua própria cidade. Filmaço.
(Mais engraçado foi descobrir que uma colega de trabalho mora num prédio na Lagoa, cujo síndico é ninguém menos que Rodrigo Pimentel, o real Capitão Nascimento - e autor dos livros e roteirista dos filmes. Diz ela que depois que ele assumiu o cargo, o prédio ficou um brinco. Ninguém mais pára nas vagas erradas - que são poucas e costumava dar a maior briga entre os vizinhos -, ninguém mais faz barulho tarde da noite, ninguém mais prende o elevador etc. Achei a situação surreal e hilária.)



Então por enquanto é isso. Dicas de livros e filmes serão bem-vindas. Hoje é sábado, e domingo me parece um excelente dia para nascer, pois não? Já passamos pela segunda data cabalística do mês (depois de 10.10.10, foi 20.10.2010) e já perdemos a oportunidade de ter mais um libriano na família. (Não entendo nem acredito em horóscopo, mas confesso que ter um bicho peçonhento como escorpião à guisa de signo não me parece muito entusiasmante.)


Se der, volto a escrever aqui antes do nascimento, a respeito da frustrante experiência que passei para comprar um presente para Mathilde - o tal presente que o irmãozinho vai trazer, recomendado por tanta gente como forma de amenizar as tendências fratricidas.



20.5.10

Poliana madrugadora e o amor à arte

Continuo firme na hidroginástica às 6h40 às segundas, quartas e sextas. Resultado: não consigo mais passar das 22h. Em consequência: hoje é quinta e acordei às 6h, sem despertador, e sem conseguir mais dormir. Nunca pensei que isso fosse me acontecer.

A vantagem (hello, Poliana) é que, uau, venho ler e escrever no blogue enquanto ninguém mais acorda.

Então queria lhes contar que no final de semana vi no DVD um documentário sensacional, chamado The Rape of Europa, sobre o destino das obras de arte europeias durante a Segunda Guerra Mundial. Como se sabe, Hitler tentou ser pintor mas não foi aceito pela Academia de Artes de Viena (foi barrado no mesmo ano em que foram aceitos Egon Schiele e Oskar Kokoschka, aprendi vendo o filme). Há diversas teorias sobre as implicações psicológicas dessa rejeição. Mas o fato é que tinha o Führer um interesse especial pelo assunto, e por isso durante os anos da guerra os nazistas pilharam coleções e mais coleções de arte, públicas ou privadas, nos países invadidos. (Dê um Google em "Nazi plunder" e veja quanta coisa aparece.)

Retrato de Adele Bloch-Bauer, de Klimt -- um dos quadros roubados (e depois recuperados) cuja posse permanece controversa

Sabendo do que já havia acontecido na Áustria e na Polônia, países como a França e a União Soviética fizeram evacuações preventivas de seus acervos. Essa história é uma das mais bacanas do filme. Esvaziaram o Louvre. Não sei quantos milhares de peças, de todos os tipos e tamanhos, despachados para residências e castelos no sul do país. É lindo quando contam como foi difícil remover a Vitória de Samotrácia, que fica no alto de uma enorme escadaria. Afinal, apesar de pesar umas tantas toneladas, a estátua é frágil, composta de milhares de pedacinhos colados. Então colocaram num carrinho que desceu deslizando pela escada. E segundo um dos funcionários presentes (muitos voluntários nessa operação, lembrando que boa parte do staff do museu estava no front), durante todo o processo o silêncio era aterrador, de tanta tensão. Já a Monalisa foi a única obra que teve um carro só para si: foi transportada numa ambulância que reproduzia as condições ideais de conservação -- umidade, temperatura etc. -- e depois de muitas horas de viagem o curador que ia junto dentro da ambulância chegou desmaiado, mas o quadro estava em perfeito estado (sorrindo, hehe).

Vitória de Samotrácia, no Louvre

No Museu Jeu de Pomme, uma curadora foi a heroína. Rose Valland, que era uma funcionária de segundo ou terceiro escalão, falava alemão, mas os alemães não sabiam disso. Então ela continuou trabalhando no museu depois que ele foi tomado pelos nazistas (o Jeu de Pomme funcionava como uma espécie de centro de triagem das obras roubadas), passando despercebida de todos, circulando por ali como quem não está fazendo nada além de seu trabalho burocrático. E quando chegava em casa, fazia um diário minucioso registrando quais obras estavam indo para quais lugares. Foi graças a essa listagem que muitas obras foram recuperadas.

As obras de arte roubadas eram estocadas nos lugares mais diversos. Uma enorme quantidade no castelo de Neuschwanstein, na Baviera. Outras milhares de obras numa mina de sal (!). Na casa de campo de Göeringer. E ainda, as joias da coroa do sacro império romano-germânico, juntamente de muitas outras obras, num bunker sob o castelo de Nuremberg (neste, segundo o especialista inglês que primeiro chegou ao local, a tecnologia para conservação das obras era tal que elas estavam mais bem acondicionadas ali do que seria possível no British Museum).

Esses especialistas em arte são outra atração especial do filme. Eram homens que tinham se alistado, mas sem qualquer experiência de combate, e que eram mandadas para esses lugares para identificar as coleções de arte, distinguir o que era valioso e o que não era, e lutar para a sua preservação. Inclusive, lutar para preservar obras e monumentos de seu próprio exército, num momento em que oficiais e soldados não estavam assim tão preocupados com quadros ou afrescos. Como os pobres historiadores da arte que foram mandados para a Itália com essa missão. Tremendo problema. Os Aliados tendo que bombardear justamente o país que abriga tantos monumentos, estátuas e quadros de valor inestimável.

O Campo Santo, em Pisa, bombardeado pelos Aliados. O mural, destruído pelo fogo, vem sendo restaurado, a partir de zilhões de fragmentos, desde o final da guerra. Até hoje ainda não foi terminado.

E aí entra a parte emocionante, como a luta dos moradores de Florença para proteger os afrescos dos palácios, construindo uma espécie de estojo de madeira e colocando por cima, uma estrutura super precária, e por isso mesmo tão comovente. É outro momento especial do filme, esse de Florença. Porque a cidade, além de ser depositária de inúmeras joias do renascimento italiano, é também um grande centro de integração ferroviária -- e como tal, primordial alvo militar. Então, meia dúzia dos melhores aviadores americanos foram destacados para esta missão: bombardear a estação ferroviária de Florença, mas sem poder atingir nenhum outro ponto da cidade, nem mesmo o prédio ao lado da estação. (Ah, e como em todo bom filme americano, eles conseguem, é claro).

Milhares de obras foram recuperadas. Em relação a muitas delas até hoje ocorrem disputas sobre a quem pertencem. Outras milhares nunca foram encontradas, como um Rafael roubado de Cracóvia.

Este quadro de Rafael nunca foi recuperado. (Se você vir, avise as autoridades!)

Enfim, as histórias são muitas. Mas o que fica é o sentimento de amor à arte, a compreensão da importância que um quadro, uma estátua, um altar ou uma ponte podem ter para todo um povo.
Se esse assunto lhe for caro, tente ver o filme.
.

2.1.08

Ano novo e tudo igual

Continuamos por aqui, sem novidades.
O réveillon, passei dormindo, bom que só.
Minha teoria é que Mathilde percebeu que está mais fresquinho dentro da barriga do que aqui fora. Amiga-irmã-que-pretende-engravidar-e-mora-no-Rio: muita atenção com a época do ano. Planeje-se. 39 semanas em janeiro não tem graça. (Mas pior mesmo deve ser quem tem filho em março, porque passa dezembro, janeiro e fevereiro barriguda. Assim falou Pollyanna.)
Por sorte eu posso ficar em casa direto, alternando entre os ventiladores e os ar-condicionados, ao lado do SuperMarido que faz tudo pra mim. E os amigos toda hora vêm visitar, já que quase não saio mais. Resultado está sendo um número inusitado de micro festinhas informais aqui em casa.
E aí também resolvemos ir ao cinema, coisa que pouco fizemos em 2007. E em uma semana vimos três filmes ótimos. A Vida dos Outros, A Culpa É do Fidel e Jogo de Cena. Muito bons, todos três, sendo que o primeiro é espetacular. Um filme que me emocionou muitíssimo. E que não apela hora nenhuma para a emoção, sabe? Para não perder. E o Jogo de Cena do Eduardo Coutinho acabei de ver agora, é incrível também, e para mim o mais impressionante foi ver como a dor e a delícia das mulheres, as grandes emoções de suas vidas, passam sempre pela maternidade, pelos filhos, por essa relação tão... tão. Ah, lágrimas, hormônios, uma confusão.
Bom, anyway. Mentalizem aí para que ela tome coragem e chegue ainda esta semana, sim? Tipo sábado, ou domingo, seria ótimo. Se não vou adotar a sugestão da Carrie, e passar a gritar "Pede pra sair!" todo dia de manhã.
.

7.8.07

Mostra Bergman

Cenas de Vergonha (Skammen no original)


Houve uma época em que eu quase pude me considerar cinéfila. "Quase" porque eu estava sempre cercada de pessoas que eram realmente cinéfilas, e na comparação faziam com que eu me pusesse no meu devido lugar. Hoje passo longe disso, muito longe. Procuro ver os filmes brasileiros, sempre um novo almodóvar ou woodyallen quando há, e é isso. Lamentável, mas é verdade.

Mas o tal tempo em que eu era uma quase cinéfila foi lá pelos idos de 1995, 1996, por aí, por total influência da faculdade de comunicação (aí incluídas tanto as aulas quanto as amizades). E uma das experiências mais marcantes desse período foi a Mostra Bergman, que passou uma quantidade imensa de filmes nos cinemas do grupo Estação, que ficavam perto da faculdade. Foi lá que eu vi "Persona", que me impressionou muitíssimo, "Sonata de Outono", "Gritos e Sussurros", "O Ovo da Serpente", "O Sétimo Selo", "Fanny e Alexander". Lembro até de me despencar para o MAM num fim de semana chuvoso para ver o primeiro filme dele, "Crise", que na época não achei assim nada de mais se comparado a esses outros. E foi nessa Mostra também que eu vi o filme que me deixou paralisada, e sobre o qual nunca vejo ninguém falando: "Vergonha". Esse foi, mais que todos, uma enorme porrada. O filme que me deixou muda o resto da noite, e bucólica o resto da semana. No fundo acho que o filme me fez mal, eu saí do cinema literalmente com náuseas, mas, mais que qualquer outro, me fez perceber o poder das imagens na película. Como disse muito bem o Milton Ribeiro "o cinema pode ser algo mais interessante do que tu pensas". Foi exatamente assim que me senti (sem essa segunda pessoa do singular, claro).


(Para os que não viram (eu não sei exatamente se recomendo, dado o abalo que me provocou -- tanto que nunca quis rever), "Vergonha" é sobre dois músicos que vivem no interior e o efeito da guerra na vida deles.)

São filmes como esse que passam essa coisa meio estranha de se sentir humano demais, de se identificar com uns personagens que falam sueco e vivem no meio de uma escandinávia rural num tempo indeterminado, vivendo coisas que eu nunca vi nem senti nem vivenciei, mas que mesmo assim me falam tão perto, tão na alma.

Arte, talvez?

26.2.07

God Save the Queen


Não há como sair de A Rainha sem pensar como os personagens ali retratados, todos vivos e reais (com trocadilho), terão reagido. Se nós, meros plebeus habitantes deste distante país tropical, lembramos tão nitidamente da morte da Lady Di, eles, que estavam no centro da ação, certamente lembram com detalhes o que passaram naqueles dias turbulentos em que, de uma forma ou de outra, tudo mudou na Inglaterra. E esse é logo um dos primeiros trunfos do filme: contar uma história que todo mundo viveu, de que todos se lembram, e que é muito recente.
Outro trunfo, não poderia deixar de ser, é a linguagem. Há o delicioso sotaque britânico, coalhado de expressões tão surreais quanto anacrônicas, como "The Royals" (a família real), ser ou não "HRH" (Her Royal Highness -- I suppose...), que é música para os ouvidos (muito melhor do que o sotaque feioso daqueles operários dos filmes --sensacionais-- no Mike Leigh). E há ainda a circunspecção e o estoicismo que ficaram marcados como sendo a famosa fleuma britânica, e que são demonstrados pela linguagem, pelos não-ditos, pelas metáforas, pelos eufemismos, pelo gestual. Por isso tudo já vale a pena ver o filme.
Mas mais que tudo, vale pela personagem da Rainha. E aí, eu que não sou especialista, não sei dizer o quanto o mérito é da atriz, o quanto é do diretor, o quanto é do texto. Mas no conjunto, funciona. A bem da verdade, a Rainha é o único personagem verdadeiramente complexo do filme. Ela é uma incógnita, ela é muitas, ela é fascinante.
Os outros personagens me incomodaram bastante, porque todos podem ser resumidos em uma só palavra, e nada mais cansativo do que personagens "fáceis". O príncipe Philip é mau (muito mau, um vilão, totalmente sem noção de nada). Charles não se pode definir com outra palavra que não seja "fraco". E Tony Blair sai como um herói. Como todo herói, passa pelo seu momento de transformação, e, sábio que é, consegue enxergar o lado daquela que antes era sua antagonista. O truque é que, quando Blair "se apaixona" pela Rainha (como bem diz sua mulher Cherie), todos nós nos apaixonamos também, e adoramos mais ainda o prime-minister por aquele misto de admiração e compaixão que nos envolveu a todos. E esse esquematismo dos personagens é o ponto baixo do filme.

(Pra quem já viu o filme) E tem aquela coisa com o veado -- no sentido de cervo --, que na hora eu impliquei porque achei uma metáfora muito óbvia. Mas depois concluí que era implicância boba, porque é bonito mesmo.

15.12.06

Volver


Na seqüência de abertura, um cemitério. Muitas mulheres, com roupas antigas, lenços no cabelo, limpando freneticamente as tumbas. Botam flores, passam panos, lustram metais. São muitas. Mulheres e tumbas. Flores e lápides. O vento espalha a poeira e a terra. Os letreiros vão passando, a música ao fundo. Tem uns filmes que te pegam logo no primeiro minuto.

14.8.06

A estranha família Angel

Fui ver o filme da Zuzu Angel, afinal. É um filme ok, mas, como todos os filmes brasileiros sobre episódios históricos, sem espaço para muita complexidade. Tem uns personagens que são super bons, antogonizando outros que são super maus. Sem maiores sutilezas. Pra ficar bem fácil tomar partido. Mas ok, sem entrar nesse mérito, vamos dar o crédito que o filme não estraga uma história que é muito boa -- a da Zuzu Angel em sua cruzada por justiça, uma história bonita mesmo. Não é piegas o filme, e isso é uma grande coisa numa história como essa.
Mas aí surge a questão Hildegard Angel. Assim: como foi que ela virou o que virou? Porque o irmão dela morreu como um idealista, alguém que decidiu "não fechar os olhos para a injustiça do mundo". Aí a morte bárbara dele fez a mãe pirar, e ela virou uma paladina da justiça, uma mãe desafiando a ditadura, tanto que deram cabo dela. O pai americano, que muito cedo se separou da mãe, foi morar no interior de Minas, onde abriu um orfanato. Bem. Aí, com um histórico desses, Hildezinha, irmã de Stuart, pirou também, mas para o lado oposto, e dedica sua vida ao... colunismo social! Há anos a vida dessa senhora se resume a tecer comentários e futricas sobre a vida alheia -- a vida de pessoas absolutamente fúteis, diga-se de passagem.
Stuart e Zuzu devem se revirar no túmulo.
Para ilustrar, seguem excertos da coluna de Hilde hoje no JB:
O buxixo em Mônaco é grande. Rumores dão conta que o príncipe Alberto não está sozinho em seu castelo. A namorada Charlene estaria instalada no pedaço, em temporada de verão. Os parapazzi rodeiam o château enlouquecidos. Há quem jure que viu a campeã olímpica boiando na piscina de Fontvieille, depois de treinar boas braçadas. E mais: na semana passada ela esteve fulgurante em todos os eventos da saison. Juntos, os dois irradiam felicidade e cumplicidade, provocando especulações de que estariam prestes a ficar noivos...
***
Seguindo a tendência mudial de se usar tecidos de roupa em estofados (só deu isso na Feira de Milão), a arquiteta Risoleta Medrado baixou na Casa Simão para comprar, por apenas R$ 24 o metro, o tecido que revestirá a poltrona de seu living na mostra Morar Mais por Menos, que abre no dia 5 de setembro...

11.8.06

Zuzu

Eu até estava com vontade de ir ao cinema ver o filme da Zuzu Angel. Mas aí a Cora Rónai decidiu encurtar as férias e antecipar em uma semana a sua volta às colunas de quinta-feira do Segundo Caderno do Globo só porque gostou tanto do filme que queria falar sobre ele. Ela não se conteve! E eu não agüento essa senhora que se acha a super cronista. Só por isso já perdi um pouco da disposição para o filme.
Mas no fundo eu vou acabar vendo, porque gosto da Patricia Pillar. Reparem como ela fez tão bem, nos papéis que interpretou, a transição de idades: de jovenzinha (na primeira versão da Sinhá Moça), para casa-dos-20-ou-30 (O Quatrilho), para mulher madura, mãe de adultos (atual Sinhá Moça e Zuzu Angel). Sempre lindíssima, e simples, e com classe -- e, a bem da verdade, com a mesma cara.
Ah, bem, é verdade, ela casou com o Ciro Gomes, o que eu não deixo de achar meio estranho.