28.2.08

Salvando o orgulho alvinegro

Eu não ia falar sobre a vitória do Flamengo sobre o Botafogo no último domingo porque, vocês sabem, este assunto não cai bem aqui em casa. Mas aí li o post furibundo do grande Idelber, e a perfeita colocação da Frida Helê de que ele tem uma "sanha assassina contra o Mengão" (haha, genial!). Claro, afinal quem pode acreditar numa suposta isenção atleticana contra o mais-querido?
Enfim, foi Marido himself que me mostrou este texto ótimo, de um botafoguense, que gerou um comentário sensacional, um texto que desde já seleciono como um dos mais apaixonadamente memoráveis sobre futebol.

27.2.08

A canção infantil em debate (III)

Uma breve análise sobre o cancioneiro que embala nossas crianças

Estudo de caso: Pai Francisco entrou na roda

Pai Francisco entrou na roda
Tocando seu violão
Tá-ram-ram-tam-tão
E vem de lá seu delegado
Pai Francisco foi pra prisão

Como ele vem
Todo requebrado
Parece um boneco
Desengonçado

Um retrato da intolerância institucional e da violência policial em nosso país transmitida, sem censuras, às crianças.
Para começar, o personagem é "Pai" Francisco. É razoável, portanto, imaginar que se trata de um pai-de-santo, afinal, não sei de muitos outros casos em que as pessoas chamem as outras de "Pai" fulano. Depois, a única ação de Pai Francisco de que temos notícia é que ele entrou na roda tocando seu violão. E nada mais fez Pai Francisco para despertar a ira do delegado que, sem outro motivo, meteu-lhe na prisão. Foi porque ele era "Pai"? Porque ele tocava violão? Um caso clássico da associação do violão (e da música popular) com a vadiagem, a malandragem e, em última instância, o crime. Sim, senhores, o crime de Pai Francisco foi tocar seu violão! Tá-ram-ram-tam-tão!
Passemos à segunda estrofe, quando o ritmo da música se altera, ficando mais agitado. Nesse momento, Pai Francisco volta da prisão, e para nosso mudo espanto, volta todo requebrado, como um "boneco desengonçado". Pai Francisco apanhou, e muito, na prisão! Teve seus ossos quebrados, múltiplas fraturas, escoriações, e nós estamos cantando e dançando essa ode à violência aos nossos filhos!

Basta de clamares inocência, Free Pai Francisco Now!

O pai de Mathilde também toca violão para ela. Felizmente, até o momento, ainda não foi preso por causa disso.

25.2.08

1 mês, 3 semanas

Hoje levamos Mathilde a uma nova pediatra. Não gostei muito do outro a que estávamos indo antes, o cara passava a régua geral. As consultas duravam menos de dez minutos e eu sentia que ele praticamente nos expulsava do consultório. Mal olhava para a menina -- pesava, media, dizia que estava tudo bem, e... próximo!
A consulta de hoje, que foi a primeira com essa médica, demorou uma hora, e foi uma aula. Coisa rara, e valiosa. Mathilde, comportadésima, dormiu o sono dos justos na parte "teórica" (a conversa) e esbanjou sorrisos e simpatias na parte "prática" (os exames, pesagens, medições). Passou em tudo com louvor, está graaande (57cm) e pesada (4.660g), mas não é do tipo bebê-buda, aquelas coisas gordas. Ela é, hmm, esbelta, por assim dizer.
O curioso é que senti tanta confiança na médica, que me dei conta que relaxei um pouco na relação com a minha filha. De fato me convenci de que ela está tão bem, que eu posso deixá-la mais à vontade, sair para dar uma volta ou resolver coisas na rua com mais freqüência etc. Separar um cadinho mais. Eu até me acho uma mãe bem relax, sem frescuras, sem água fervida pra banho, sem problemas com quem quiser pegá-la no colo, sem paranóias. Mas agora cheguei em outro patamar de tranqüilidade.
Gostei muito quando a doutora disse: "Ela pensa que é mais velha do que é". Ha. Minha filha é tão madura.
Hoje montamos a cadeirinha de balanço dela. É o primeiro brinquedo que ela usa. Um sucesso, vejam só.


Ai, ai. E meu coração se dilata dia a dia.

Jesus ensaia outras figuras de estilo

Continuando o momento bom humor, esse quadro do Gato Fedorento, a versão lusitana do Monty Python.

Recomendado para professores de português que precisam ensinar aos alunos a hipérbole, a anáfora, a onomatopéia, a aliteração, a ironia...



-- Ele tem razão, Senhor, por que sempre parábolas? Por que é que em vez não utilizais a alegoria, um outro recurso estilístico?
-- Sim, estamos fartos de parábolas, Senhor. Se continuais com esta mania, eu e Pedro vamos dar a bola.

A pulga -- Auf Wiedersehen

Não é mais um número de A canção infatil em debate, mas A Arca de Noé é mais um disco que voltei a ouvir bastante -- para minha alegria.

Agora, essa letra...

Um, dois, três
Quatro, cinco, seis
Com mais um pulinho
Estou na perna do freguês

Um, dois, três
Quatro, cinco, seis
Com mais uma mordidinha
Coitadinho do freguês

Um, dois, três
Quatro, cinco, seis
Tô de barriguinha cheia
Tchau, Good bye, Auf Wiedersehen

"Tchau, Good bye, Auf Wiedersehen"?!
Hahaha! Era um pândego esse Vinicius de Moraes!

13.2.08

Goyescas

La Maja Vestida

La Maja Desnuda

La Maja de Fraldas

12.2.08

Feminina

Mathilde já tem um disco favorito.


Por causa, claro, dessa fofura de música:

http://www.goear.com/listen.php?v=23dd20e

Eu gosto muito. Mas bom mesmo é dançar com ela no colo, todo dia de manhã, ao som desse samba muito bom:

http://www.goear.com/listen.php?v=07452d0


Bom gosto :-)

A canção infantil em debate (II)

Uma breve análise sobre o cancioneiro que embala nossas crianças

Estudo de caso: O Cravo Brigou com a Rosa

O Cravo brigou com a Rosa
Debaixo de uma sacada
O Cravo ficou ferido
E a Rosa despedaçada

O Cravo ficou doente
A Rosa foi visitar
O Cravo teve um desmaio
A Rosa pôs-se a chorar

Um verdadeiro desafio interpretativo!
Podemos inferir que se trata de uma briga de casal, mas não apenas uma discussão conjugal, e sim uma disputa física envolvendo violência. Por que isso deve ser cantado às crianças permanece carente de explicação. Depois culpam os videogames!
A localização espacial "debaixo de uma sacada" não ajuda em nada a compreensão da trama. Qual a relevância desta informação, que não volta a aparecer em nenhum momento posterior? Por que eles estariam debaixo de uma sacada? Estariam eles plantados em um jardim sob a sacada? Protegiam-se de condições climáticas adversas? Escondiam-se? De quê? De quem? Teriam o Cravo e a Rosa um amor proibido? Seria uma referência à famosa "cena do balcão" de Romeu & Julieta? São muitas as perguntas sem resposta...
Na segunda estrofe ficamos sabendo das conseqüências da briga. O Cravo decerto apresentou seqüelas depois da briga, e apresenta-se "doente" (sem maiores detalhes). Já para a Rosa a única conseqüência foi a culpa pelo que fez. Na tentativa de expiá-la, vai fazer uma visita que se revela quase fatal para o Cravo, que, acometido de forte emoção, desmaia, provocando uma crise de remorso na Rosa.
E mais não sabemos, e a situação fica nesse pé, completamente mal resolvida.

A melodia ternária e anacrústica tem o mesmo padrão rítmico repetido em todas as frases, dando a impressão de círculo, o que nos remete a uma ciranda. É provável que tenha origem portuguesa, o que condiz ainda com expressões de caráter luso, tais como "teve um desmaio", "pôs-se a chorar", ou ainda a presença da sacada (localizar-se-ia a ação numa quinta, talvez?). E, claro, explicaria o completo ausência de sentido desta letra.

11.2.08

A canção infantil em debate (I)

Uma breve análise sobre o cancioneiro que embala nossas crianças
Estudo de caso: Boi da cara preta

Boi, boi, boi,
Boi da cara preta
Pega essa(e) menina(o)
Que tem medo de careta

A letra já indica que a canção vem de tempos imemoriais. Afinal, hoje em dia uma música dessas seria violentamente atacada pelos movimentos de, err, igualdade racial. Mas de fato o boi não precisava ser da cara preta. Só a imagem de uma cabeça bovina, seja branca, preta ou malhada, já é meio assustadora. (Talvez não para quem cresceu na fazenda, mas eu tenho medo de bois.) Escrevi "cabeça bovina", mas a escolha do termo "cara" parece dar um caráter ainda mais assustador. Como é a "cara" de um boi? Medo, medo.

O teor dessa canção é de puro terror. É uma ameça velada, e injusta. Porque medo de careta, convenhamos, todos nós temos. Qual o problema de ter medo de careta? Por que a pobre criança deve ser penalizada por ter medo de careta? Se fosse "pega essa menina que não quer dormir", "pega essa menina que está chorando", vá lá. Mas pegar a coitadinha porque ela tem medo de careta? O que nos leva a outra questão: quem estava fazendo careta para o bebê? Essa pessoa cruel e sem coração é que deveria ser pega pelo boi da cara preta.

A repetição da primeira nota em "Boi, boi, boi", numa região grave, acentua o caráter "bovino" da canção. A melodia é simples e funcional, em pequenos movimentos ascendentes e descendentes, que praticamente pedem a presença de uma segunda e até terceira voz harmonizando. Para pais e mães músicos. Ou então, chame os Swingle Singers ou o Take 6 para dar uma força.

9.2.08

Eleições num país estranho

Às vezes eu tenho a impressão de que a nossa imprensa dá mais atenção e dedica mais espaço às eleições americanas do que às brasileiras. Já tem um bom tempo que, na minha atual conjuntura caótica de leitura de jornais, me deparo com páginas e páginas sobre coisas estranhas, como primárias, delegados, superdelegados, super terça-feira, caucus etc.
Já desisti de tentar entender o sistema eleitoral americano. A cada quatro anos alguém me explica e eu até entendo, mas é tão complicado, tão cheio de regras loucas e nonsense, que quando vem a eleição seguinte eu já não me lembro mais direito.
E o pior é que, como os jornais e veículos de comunicação têm que ficar toda hora de certa forma explicando o que está acontecendo, praticamente não sobra tempo para falar sobre a plataforma e as propostas de cada candidato.
Ah, bom, mas enfim. Nas eleições americanas eu não voto.
Mas eu voto aqui. E fico muito, mas muito entristecida a cada vez que ouço mais uma vez alguém do governo dizendo que _________ (complete com o mais recente escândalo) já acontecia nos governos anteriores mas só agora está havendo transparência e divulgação dessas práticas. Como se isso fosse ótimo, uma grande notícia.
Como se eu não tivesse votado nesse governo duas vezes justamente para que o loteamento de cargos, os ministérios de porteira fechada, as mordomias parlamentares, os cartões corporativos, a proliferação de ministérios e secretarias, a nomeação de um zilhão de cargos de confiança etc. não acontecessem mais.

Que boba, eu.

8.2.08

O bolo

Da série: as coisas que a maternidade faz.
Mathilde completou um mês no domingo de carnaval. E eu resolvi fazer um bolo para comemorar o fato. Já posso colocar no meu livro do bebê: aos 31 anos, fez o seu primeiro bolo.
Na verdade, entrei numas de que "mães fazem bolos". (A minha nunca fez, but.) Pesquisei na internet uma receita de bolo simples, tradicional, branco. Começar do início, um passo de cada vez. Tive que pedir emprestada a batedeira, um item que foi limado da lista, com risinhos à esguelha, quando fizemos o nosso chá-de-panela, só três anos atrás. (Dica! Dica! Quem quiser me dar um presente...)
Chamamos a família e uns poucos amigos, a casa lotou, o evento durou quase dez horas. Mathilde se comportou bem, eu fiquei exausta, a casa, uma zona.
Mas o bolo, que eu singelamente constrangi todos a experimentarem (com sorvete, por garantia), ficou realmente muito bom.
No próximo mês eu faço outro (mas sem festinha), depois outro. De modo que, quando ela tiver idade suficiente para comer bolo, estarei a ponto de apresentar cascatas de damasco e riachos de chocolate, num bolo de cinco andares.

Com a mão na massa

Untando a forma com muita técnica

Tá- dááá!

1.2.08

Propaganda institucional

Picasso, "Maternidade"


É bom falar bem do serviço público quando há oportunidade. E estou muito bem impressionada com o Instituto Fernandes Figueira, ligado à Fiocruz, que por sua vez é ligado ao Ministério da Saúde. O IFF é um hospital pediátrico e centro de pesquisa sobre assuntos correlatos. É lá que funciona também o BHL - Banco de Leite Humano, onde estive duas vezes esta semana.

Enfim, andei tendo febre e um pouco de dor em um dos seios -- que estava cheio de leite, mas não chegou a empedrar. No domingo à noite, meu médico disse, pelo telefone, que devia ser mastite, e me mandou ir ao IFF na segunda para confirmar o diagnóstico. Lá fui, com Mathilde a tiracolo, debaixo de uma chuvinha chata. E fui muito bem atendida, com rapidez e eficiência, muito melhor do que em qualquer clínica particular. A enfermeira confirmou a mastite, me ensinou a massagear o seio, a tirar o excesso de leite (é isso que causa a mastite) manualmente ou com a bombinha, e me mandou voltar na quinta para acompanhamento. Eu voltei, e novamente tive um atendimento que só se pode qualificar como de primeiro mundo. Na primeira visita uma médica receitou antibióticos, que tirei, de graça, na farmácia do IFF.

A pequena continua mamando muito e sempre, e eu tiro o excesso de leite todo dia e guardo no congelador. Se não precisar para ela mesma, vou doar para o Banco de Leite. Eles vêm buscar em casa. Aliás, eles precisam de vidros para a coleta de leite. Segue o serviço:

Doação de vidros
O Banco de Leite Humano (BLH) do Instituto Fernandes Figueira (IFF) da Fiocruz está precisando de vidros vazios com tampa plástica para acondicionar leite humano. Os frascos mais utilizados são os de maionese e de café solúvel. Estes vidros são resistentes ao processo de esterilização. Além disso, a abertura dos recipientes facilita a ordenha do leit humano.
Quem você vai beneficiar com estes vidros?
O BHL do IFF atualmente recebe leite humano de mais de 300 doadoras no Rio de Janeiro. O leite fornecido por estas mulheres atende quase 60 crianças por dia -- a maioria, internadas em UTIs Neonatais das maternidades públicas da cidade. Estes recipientes, depois de passarem por um rigoroso processo de esterilização, são utilizados para transporte, processamento e estoque do produto. Doe vidros e ajude um recém-nascido a receber leite humano!
Postos de coleta
Você pode deixar sua doação de vidros nos seguintes locais:
Quartel do Corpo de Bombeiros próximo à sua residência
Banco de Leite Humano do Instituto Fernandes Figueira - Av. Rui Barbosa, 716, Flamengo
Tel: 0800-26-88-77

Quanto a mim, já estou ótima. Continuou no antibiótico por mais uns dias, e tirando sempre o excesso do leite. E Mathilde... bem, essa, acho que nem reparou que aconteceu alguma coisa.
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