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maio 12, 2006

Estabilidade

Imaginemos uma sociedade onde existam só pessoas que não saibam mentir. Esta sociedade não é estável no sentido comportamental. Se fosse 'infectada' por um mentiroso, este teria tantas vantagens que tenderia a disseminar o seu comportamento ao resto da sociedade. Até que ponto se extenderia essa infecção? Depende dos valores exactos: (a) de quanto se ganha pela cooperação entre dois indivíduos honestos, (b) do proveito que um mentiroso ganha explorando um honesto, (c) e do custo associado à falta de cooperação quando dois mentirosos interagem. Este género de questão é estudado pela Teoria dos Jogos, nomeadamente pelo conhecido Dilema do Prisioneiro Iterado. Uma população mista de honestos e mentirosos pode convergir para uma percentagem que garanta que invasões futuras de indivíduos com estratégias distintas e exploratórias não sejam lucrativas (designada por estratégia evolutiva estável).

Admitir que uma sociedade totalmente honesta é instável pode ser, para alguns, uma má notícia. Porém, não devemos esquecer a implicação simétrica deste facto: uma população de mentirosos também é instável. Ela pode ser também invadida, não por um só honesto (que seria rapidamente explorado), mas por um grupo de indivíduos honestos que, por cooperação mútua, são capazes de prosperar num ambiente de traição constante. Este raciocínio leva-nos (com alguma liberdade matemática) a outro evento relacionado: um regime totalitário, pela exigência artificial de uniformidade, é igualmente instável. Existe sempre a tendência, em qualquer grupo e de forma mais ou menos velada, de manter abertas outras opções que as dominantes. Uma cultura intolerante, da mesma forma que uma profundamente tolerante, é muito permeável à dissuasão. A pressão social de um Estado totalitário sobre os seus elementos, com o objectivo de manter coesa a ideologia dominante, é, ao mesmo tempo, causa e consequência desse desejo de homogeneidade. E quanto mais energia for gasta para manter uma população isenta de diferenças, mais fácil se tornará a conversão dos seus elementos a outras possibilidades. A notícia que esse esforço seja, mesmo que a longo prazo, inútil é uma verdadeira boa notícia.

março 23, 2004

Dissecação


O livro de jogos de Alfonso X (Rei de Castilha e Leão, 1221-1284) e um campeonato do mundo de xadrez no início deste milénio. A evolução de um jogo que acompanha a nossa História sobre um curioso azul de fundo. No século XIII o xadrez era um universo por explorar. Hoje é um quase deserto de descobertas, dissecado por gerações de génios e softwares especializados.

janeiro 12, 2004

Nomic

Peter Suber no seu livro "The Paradox of Self-Amendment"[1] refere num anexo as regras de um jogo muito curioso denominado NOMIC. Neste jogo, uma das regras é a possibilidade de alterar as próprias regras (!). Assim, apesar das regras iniciais informarem que o jogador que atingir 100 pontos ganha, isso pode ser alterado desde que uma maioria qualificada (consoante as regras do momento) assim esteja de acordo. Um outro modo de ganhar é se algum jogador detectar uma contradição do conjunto de regras actuais que o impeça de jogar (será possível mudar esta regra?). Uma interessante forma de misturar legislação, jurisprudência (o processo de acumulação histórica) e doutrina (a interpretação sobre os primeiros dois) num jogo para vários.

Existem diversas partidas a decorrer baseadas neste conceito. Um deles, Agora está activo desde 1993! Um outro exemplo é um dos jogos favoritos do Calvin e do Hobbes:

Calvinball
Que regra se troca hoje?

[1] O livro discute a capacidade - e as consequências daí decorrentes - de certas leis se puderem auto-alterar criando contradições críticas no sistema legal.